quinta-feira, 31 de março de 2011

TÉCNICAS DE SOBREVIVÊNCIA EM APS – O PONTO ELETRÔNICO


Inaugurado em 2009, o sistema prisional SISREF (SIStema de Repressão a Escapulidas e Fugas), possui dois tipos de regime: o semi-aberto, para aqueles que  podem ir para casa para dormir, e o regime totalmente aberto, para o que podem cumprir pena em total liberdade.
O primeiro tipo é também conhecido como SIStema Reforçado de Encarceramento Feroz, do qual daremos o como exemplo, altamente ilustrativo,  um dia de trabalho da vítima desta espécie de cativeiro:
Oito horas. Chega bufando o colega servidor, marca o ponto, a porta se abre, segue-se a invasão dos segurados, mal tem tempo de se abanar e recuperar o fôlego, chama o primeiro, Auxílio Reclusão, que coincidência, pensa estar falando com um dependente de seu colega de infortúnio, - Quem está preso? – Eu! - Como assim, fugiu da cadeia? – Estou de Habeas Corpus – O Auxilio Reclusão é um benefício apenas para os dependentes do encarcerado, se o senhor retornar à prisão, sua esposa e filhos menores podem requerer o benefício, caso o senhor possua qualidade de segurado. – Não tenho família – Ok, então também não terá também beneficiários – Tudo bem, mas, e os atrasados? – Que atrasados? – Do tempo em que estive preso; não pude trabalhar nesse período... Próximo. Pensão por morte, a pobre viúva vem na excelente companhia de uma prima em terceiro grau que fica o tempo todo fazendo perguntas sobre aposentadoria, quanto tempo um homem precisa para se aposentar, e uma mulher, e a proporcional, como é que é isso, e por idade, quanto tempo, quantos anos, e o camarada ali, corrigindo cadastro, colhendo informações, habilitando uma aposentadoria, aposentadoria? Titica! Vai ter que começar tudo outra vez ou vai acabar aposentando a prima de terceiro grau que veio acompanhar a viúva em seu pedido de pensão. Próximo, Salário Maternidade, o filho nasceu há três anos, quando a requerente estava empregada e na época  recebeu o benefício pela empresa, requer outro agora, pois ouviu dizer que. como desempregada, teria direito também...próximo, próximo, próximo... o estômago badala as doze horas, São SISREF dos Encarcerados (Santo dos Injustiçados, Sofredores, Reprimidos, Excluídos e Famintos) lhe concede a graça de sessenta minutos de liberdade vigiada. Ele corre para o restaurante a quilo, três metros de fila para se encontrar com a  comida, quinze minutos de espera, quarenta e cinco lhe restam de liberdade, engole o almoço, fila do banco, fila da farmácia, SISREF. Senta pensando em formatar aqueles processos da manhã mas pedem para ajudar a distribuir senhas pois a fila está maior que a do restaurante, banco e farmácia juntos. Próximo, próximo, aproxima-se um cadeirante: - Me dá uma senha de prioridade pois não posso ficar muito tempo sentado. - !!!! Próximo - Você me deu uma senha errada, eu não sou aposentada, sou pensionista! – Como assim, errada?  - Olha aqui na senha, APS – aposentada – Não, senhora, APS significa Agência da Previdência Social !!!!. próximo, próximo, fecha a agência, finalmente! Vai descansar? Que nada, ainda tem 50 segurados à espera de um atendimento, próximo, próximo,  - Aqui vende pino de geladeira? - !!!! próximo, próximo, dezessete horas, enfim, liberdade! Ainda que condicional.
Se o leitor, após acompanhar a árdua empreitada diária de um peão da previdência,  ainda não estiver exausto para prosseguir, poderá conhecer o outro tipo de regime oferecido pelo SISREF (SIStema de Reuniões, Encontros e Festejos ), muito apreciado pelos apenados de  alta hierarquia...ou de andares mais altos...
 Oito horas, excepcionalmente, pára o carro em fila dupla, marca o ponto, volta para o carro, procura estacionamento, faz compras no supermercado, vai tomar café na padaria, encontra os colegas de trabalho batendo papo, participa, nove e trinta ainda, compra o jornal, encontra um colega que deu uma fujidinha para fumar mas tem que comprar primeiro o cigarro, acompanha-o de volta à padaria, a hora não passa, resolve ir trabalhar, senta à mesa, abre o jornal, inteira-se das notícias, são sempre as mesmas, boceja, pestaneja, ZZZZZZZZZZZZZZZZZZ, onze e quarenta e cinco, quase perde a hora do almoço, encontra a patroa, almoça feijoada, entra em lojas, carrega sacolas e embrulhos, coloca tudo no carro, duas e meia, volta ao trabalho com a soneca nas pálpebras, marca a saída para o almoço, senta diante de um processo ZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZ acorda sobressaltado, parabéns pra você, a colega faz aniversário, quase perde a hora, marca a volta do almoço, come bolo, três e quarenta e cinco, tem dentista às quatro, encarrega um colega de marcar para ele o fim do expediente e se manda pois já está quase na hora da consulta.
O leitor leigo, ao fim da narrativa, evidentemente estará curioso por saber qual o motivo ou os motivos que levam a tão disparatada diferença entre os castigos impostos. Quanto a isso, deixamos que os leitores mais informados e experientes confrontem suas conclusões contribuindo com comentários para o sucesso  deste capítulo interativo.

quinta-feira, 24 de março de 2011

TÉCNICAS DE SOBREVIVÊNCIA EM APS – A APS

As agências da Previdência Social, semelhantes aos presídios nacionais, costumam receber gente muito além de sua capacidade, tornando o ambiente desagradável e improdutivo. Enquanto um servidor atende um segurado, outros três o ficam atazanando, um resmungando que passaram na frente dele, outro que está há cinco horas esperando para ser atendido, um terceiro, que reclama ainda não serviram a sopa, entre outras queixas mais. É quase que impossível raciocinar no meio dessa balbúrdia toda. Por isso, hoje nós vamos apresentar um projeto para diminuir, senão acabar, com intenso afluxo populacional em local que deveria ter silêncio e tranqüilidade para o atendimento ao público. Nada mais de crianças berrando, celulares tocando aquelas musiquinhas irritantes e o falatório sem fim.
A estratégia, simples  e de aplicação quase que imediata, dependente apenas de pequenos avanços tecnológicos, baseia-se em três pilares básicos: o desestímulo, o impedimento e a evacuação.
O desestímulo consiste na substituição da central de tele-atendimento 135 por uma secretária virtual semelhante à das operadoras de telefonia. Quem já passou pela experiência sabe como ela facilita vida das pessoas...
“Bom dia, eu sou a secretária virtual da Previdência Social. Se deseja agendar uma aposentadoria por idade digite 4918374657; se deseja agendar uma aposentadoria por tempo de contribuição, digite 8374658823; se deseja agendar uma pensão por morte, digite 7467385738..........para falar com um de nossos atendentes, digite Pi elevado a oitava potência vezes a raiz quadrada de 574 dividido por 11....para reclamações, digite 6785 elevado ao cubo mais 6482950924857 somados ao quadrado de um número qualquer....”
O leitor, com razão, irá alegar que isso terá efeito negativo e atrairá ainda mais pessoas para os postos do INSS uma vez que terão certa dificuldade em fazer os agendamentos. Aí é que entra a fase seguinte, a do impedimento. Para entrar nas APS o segurado será submetido a uma espécie de  self-service de senha, onde ele terá que explicar direitinho o que deseja fazer para conseguir retirar um número que fará a porta, magicamente, abrir-se para ele.
Ilustremos com um exemplo simples, para melhor compreensão:
O segurado aproxima-se do aparelho e diz: “Quero um papel pra viagem”, algo muito simples que qualquer servidor, de recursos bem mais limitados que um computador, logo reconhece com sendo um extrato de pagamento de benefício. Mas a máquina, sem economia de informações, interpretará de maneira mais ampla, oferecendo inúmeras opções para que o segurado confirme uma apertando um botão. “Selecione o tipo de papel desejado: acetinado, couchê, jornal, higiênico, kraft.......” Se nenhuma espécie for selecionada, automaticamente o mecanismo passa para o segundo item do pedido e enumera tipos de viagem, tais como, intermunicipal, interestadual, internacional, de ônibus, de trem, de avião... Se o cidadão, tentando trapacear, apertar o botão aceitando qualquer oferta, a máquina rejeitará o comando pois a Previdência Social não soma aos seus serviços o oferecimento de papel de qualquer tipo nem vende espécie alguma de bilhete de viagem e a operação é reiniciada.
            Evidentemente aparecerão aqueles espertinhos que conseguem  dar um jeitinho de burlar o sistema e interromper a paz reinante na APS. Para eles está reservada a evacuação. Coloque um despertador daqueles antigos em algum lugar oculto, porém, próximo de suas vítimas, acerque-se delas com uma expressão um tanto transtornada e fale bem baixinho: “Não há motivo para pânico mas recebi um telefonema avisando que há uma bomba aqui no salão..” Eles farão um instante de silêncio, nesse meio tempo ouvirão o tic-tac do relógio e pronto, está feito...Felizmente, para eles, não será necessário o uso de senha para se evadirem e a agência retomará a tão necessária tranquilidade. Entretanto, sempre é bom plantar umas minas do lado de fora para evitar reincidências.

quinta-feira, 17 de março de 2011

TÉCNICAS DE SOBREVIVÊNCIA EM APS – SÓ ELOGIOS


Nossa aula de hoje se limitará a uma justa homenagem àquela peça fundamental do mecanismo previdenciário, uma valorosa e altruística personagem, um servidor público autônomo que desenvolve seus trabalhos humanitários no seio das agências do INSS – o despachante e seus correlatos.
Essa figura ímpar que ameniza  áspero contato entre servidor e segurado, está sempre visando o bem-estar de sua clientela e o bom termo de suas ações antes de qualquer interesse pessoal ou vantagem pecuniária. É uma pessoa de caráter íntegro, infinita boa vontade, uma natural simpatia e arraigado sentimento de amizade pelos seus representados. Que outro profissional desfrutaria de tanta intimidade com o seu cliente a ponto de lhe fazer perguntas pessoais e até mesmo sem propósito como: “O seu esposo melhorou da tosse?”, “O ramster de sua netinha ainda gira naquela rodinha?”, “Ainda se vê aquela montanha bonita através da janela da sala?”. Esses mimos verbais alcançam respostas bem além de um simples “As violetas começaram a florir.” Não, elas ultrapassam a superfície das palavras e atingem o coração do segurado. Não é um intermediário que se contrata mas um amigo que se encontra. Uma pessoa com a qual ele poderá contar para o resto de sua vida, alguém que intercederá por ele em todos os momentos de dificuldades. E cobrando razoavelmente pouco por  tudo isso...
Que outra pessoa, além de certos representantes do panteão católico, se dedicaria com tanto afinco a causas impossíveis  como, por exemplo, tentar fazer com que se aposente alguém com apenas um ano de contribuição? Qualquer um desistiria diante da intransigente lei previdenciária mas não ele, o devotado servidor das causas sociais. Por pequenas taxas mensais,  ele há de se dedicar ano após ano a protocolar sucessivas vezes o beneficio desejado, acompanhar o andamento dos processos e interpor recursos. Entretanto, comumente o servidor julga como malícia e interesse aquilo que é apenas o resultado dos restritos recursos intelectuais deste abnegado batalhador que costuma fazer cálculos matemáticos um tanto equivocados de onde se conclui que as contribuições aumentam em progressão geométrica, multiplicando-se vertiginosamente e que, de uma hora para outra, surgirá a possibilidade da concessão do benefício.
Quem mais ficaria ao lado da inconsolável viúva de um centenário senhor falecido prematura e repentinamente antes de efetuar as provas de união estável? Nenhum servidor do INSS lhe colocaria a mão sobre o ombro em sinal de apoio e esperança. Contudo ele está lá, mão na espádua, pronto para lutar contra a injustiça da lei e a má vontade do servidor que, cheio de preconceito vê, na diferença de idade de oitenta anos, um motivo de desconfiança em relação a sinceridade dos sentimentos da jovem viúva e a legitimidade de seu direito à pensão.
Quem, senão ele, o diletante servidor,  que a todos diz que trabalha no INSS, logicamente sem nenhuma intenção de falsear sua atividade, levaria uma senhora de idade provecta a ocultar sua verdadeira condição matrimonial a fim de minimizar a renda familiar e obter um benefício assistencial?
Como conseqüência de sua habilidade no trato com as pessoas, seu senso de justiça, sua devoção aos nobres interesses e sua idoneidade de caráter é natural que tente ampliar sua esfera de ação  adentrando a vida pública por  via da política, candidatando-se a vereador. Infelizmente nem todos são bem sucedidos com o que permanecem na labuta ordinária e o teremos ali, para sempre junto a nós, sozinho ou acompanhado de algum infeliz segurado, este já bem informado sobre as barbáries que nós, servidores,  cometemos, aqueles, cheio de boas intenções, esbanjando simpatia e sinceridade em suas obras de benemerência...



Este capítulo é parte integrante do Manual do INSSano e não pode ser vendido separadamente (Nota do Editor).

quinta-feira, 10 de março de 2011

COMO SE DAR BEM SEM FAZER ESFORÇO – PROFISSÃO : SEGURADO


Vamos agora contar a história de Fulana para ilustrar a tese de que se pode viver sem quase ter que trabalhar para se sustentar, inteiramente às expensas da Previdência Social, essa mãe que a ninguém desampara.
Nosso exemplo de hoje começou uma promissora carreira trabalhista, logo abortada, como verão, em uma loja de lingerie. Pode parecer fácil a tarefa de expor pequenas peças de roupas para uma potencial compradora, porém, trabalhar oito horas diárias era um esforço demasiado para Fulana. Logo começaram as dores lombares, a coceira no nariz, os espirros e o mal-estar, todo um quadro alérgico...ao trabalho, evidentemente. Passados doze meses ela não suportou mais as penas do emprego e começou a faltar com tanta freqüência que, por fim, foi demitida.
Desempregada, tinha diante de si um ano de qualidade de segurado o qual não queria desperdiçar sem ao menos conseguir um auxilio doença. Para tanto, marcou uma  consulta a fim de conseguir um laudo médico. Entretanto, pouco experiente em assuntos clínicos, no consultório entrou mancando e saiu tossindo, tão só com uma receita de xarope na mão e nada de laudo. Foi-se, então,  aconselhar-se com uma prima, profunda conhecedora dos meandros previdenciários e que já conseguira conquistar uma dezena de benefícios assistenciais para a família. Bem orientada, agendou outra consulta médica, agora com um especialista em doenças de causas ocultas, ideal para quem tem uma doença inexistente. Foi lá, queixou-se de dores por todo o corpo, privação momentânea de movimentos, cegueira noturna, falta de ar e de apetite. Lamentou-se tanto que conseguiu do médico um laudo substancioso, antes mesmo da realização de exames para a averiguação do mal que a possuía. No INSS impressionou o perito ao chegar de olhos semicerrados, respirando com dificuldade, com muito esforço andando amparada por duas pessoas de semblantes preocupados. Conseguiu dois meses de beneficio e só não conseguiu mais porque o perito, diante de tão louvável encenação, não acreditava que ela sobrevivesse além esse tempo.
Entretanto, dois meses passam muito rápido para quem recebe sem trabalhar. Retornou ao médico que lhe concedera o generoso passaporte para o auxilio doença para repetir o feito. Porém, um tanto mais lúcido na ocasião, diagnosticou-lhe apenas uma bronquite o que lhe rendeu tão somente uma semana de repouso remunerado. Ao fim do prazo retornou à perícia em uma maca, envolta da cabeça aos pés em ataduras, como se tivesse sido subtraída a uma tumba egípcia. O perito, que nunca antes presenciara uma bronquite evoluir com tamanha rapidez e malignidade, desconfiou; como resultado, indeferiu o pedido de prorrogação.
Fulana ainda tentou, sem sucesso, mais umas cinco ou seis perícias até que sua prima, expert em benefícios previdenciários, lhe sugeriu uma gravidez urgente, antes que findasse o período de graça, o que lhe proporcionaria quatro meses de salário maternidade. Dito e feito, engravidou e acabou por se casar com Beltrano, açougueiro do bairro e pai da criança. Ele era um bom homem, não fosse  ciumento; ela, uma boa esposa, não fosse  assanhada. Uma combinação da qual, convenhamos, não se espera bons frutos. Passado algum tempo, o salário maternidade prestes a findar, aconteceu o que se supunha inevitável quando o marido descobriu que a mulher tinha um caso: o amante perfurado no chão e Beltrano atrás das grades.
Mas nem tudo estava perdido para Fulana que recebeu auxílio reclusão durante todos os anos em que o marido esteve encarcerado. Pouco pensava nele e só o visitava de três em três meses, quando ia à penitenciária pegar a declaração do cárcere para manter ativo o benefício. O mesmo, contudo, não acontecia ao sentenciado que, tão logo se viu livre da prisão, retornou ao lar e ao seu emprego de açougueiro, perturbando, sem o saber, a terceira união mais ou menos estável de sua esposa, então amasiada com o irmão de seu assassinado amante. O rapaz, entre o temor de perder a mulher e o desejo de vingança pela morte do irmão, justiçou o infeliz matando Beltrano. Esta situação rodrigueana, ao fim e ao cabo, não resultou de todo má para Fulana, ao contrário, a partir de então não precisou mais mendigar benefícios temporários à Previdência Social uma vez que, após tanto sacrifício, fora, enfim, premiada com um benefício permanente - a pensão por morte.

quinta-feira, 3 de março de 2011

TÉCNICAS DE SOBREVIVÊNCIA EM APS – A CHEFIA


Partamos da premissa “todo chefe é chato” e fiquemos satisfeitos pela equação não ser o seu oposto - “todo chato é chefe” -  com o que teríamos bem mais para nos incomodar e concluamos que, apesar de tudo, estamos em maioria.
Agora analisemos detidamente: para ser chefe é necessário o pré-requisito da chatice ou isso é um adendo que acompanha a função? Lembre-se do tempo em que seu chefe era apenas um simples colega de trabalho, sem graduação nenhuma, remoendo, mal-humorado, as ordens e cobranças provenientes de seus superiores. E, então, como movido pelo destino, quando surge a expectativa de vacância de poder, há uma inusitada aproximação do chefe com o aspirante à vaga, e tudo magicamente se transforma. De opositor muda-se em partidário, de crítico, passa a  defensor; onde só  via defeitos, enxerga qualidades inusitadas. Ao observar tais alterações humorais, é hora de abrir o olho e censurar as palavras, pois, o seu colega está prestes a deixar de o ser e se metamorfosear em algo que nunca chegará totalmente a ser. Isso porque um chefe de APS, apesar de toda a pompa do título e dos arroubos de vaidade, está sujeito às ordens superiores, à rebeldia e desobediência dos subordinados e, muitas vezes, não passa do guardião da chave do armário de material de trabalho, manietando com absoluto poder o destino dos grampeadores e almofadas de carimbo.
Quando um chefe assume seu posto, ganha alguns centímetros na altura e outros tantos na largura; o pescoço se eleva à altura do seu cargo, o peito se expande para acomodar o orgulho, o queixo se atira à frente anunciando ordens ainda não imaginadas mas já sugeridas, tudo isso para compor uma fisionomia de altiva superioridade. Tremei, canetas e colchetes!
Como você é um servidor público, o chefe não é seu patrão  e  não pode usar a única ameaça que realmente assusta um trabalhador – a demissão. Com isso suas ordens perdem noventa por cento de peso e ele é obedecido mais por complacência do subordinado do que por influência de seu cargo de chefia.
O chefe, conhecedor de seus parcos poderes dedica-se então à mesquinharia genérica que inclui itens como verificar se alguém chegou cinco minutos atrasado ou saiu mais cedo, se vai muito ao banheiro, quanto tempo gasta para tomar café e outras pequenezas do gênero. São coisas miúdas e bobas mas não devem ficar sem resposta e, portanto, a seguir daremos algumas sugestões de como neutralizar a arrogância de seu superior.
Quando acontecer de você atender aquele segurado insuportável, provocador e irritante, ou seja, com as mesmas características de seu chefe, ouça-o em silencio e com um sorrisinho enigmático, entre o deboche e a simpatia, para deixá-lo bastante irritado. Quando ele estiver totalmente furioso e a agressão for iminente, diga-lhe que vai chamar o seu chefe para conversar com ele. Contudo, não se apresse, tome um cafezinho primeiro, troque idéias com um colega, vá ao banheiro e assim, depois de uns quinze minutos, tempo suficiente para o segurado alcançar o total descontrole, convide seu superior para acompanhá-lo até sua mesa. E, enquanto ele tenta acalmar o ser enfurecido, permaneça a seu lado com aquele mesmo sorriso irônico para manter alto o nível de irritabilidade do cidadão e não dar vida fácil a seu comandante. Aprecie o embate e veja como ele se safa.
Outra técnica bastante eficiente é não apresentar um problema de cada vez para que a chefia o resolva. Ao contrário, junte uma meia dúzia de processos problemáticos e os entregue todos de uma só vez para que ele encontre uma solução para você. Junto a isso, lembre-o que o sistema caiu, a impressora está com defeito, o fulano faltou e que você está passando mal. Observe sua reação, veja se ele dá um soco na mesa ou um suspiro desolado. Qualquer coisa entre esses dois extremos é um bom sinal. Depois disso é só adentrar as vias psicológicas, repetindo, diariamente, que ele está com aparência de cansado, pálido e abatido, que precisa tirar umas férias antes que fique doente. Ao fim de um tempo, se ele tiver bom senso, depois de avaliar bem os prós e os contras, vai acabar desistindo do permanecer no cargo.
Evidentemente, depois deles, outros chefes, igualmente chatos virão. Siga a fórmula com todos, derrube-os um a um até chegar a sua vez na linha sucessória. Aí você vê se se mantém firme em seus propósitos iniciais ou se sucumbe à tentação de chefiar...