sábado, 29 de outubro de 2011

TÉCNICAS DE SOBREVIVÊNCIA EM APS – A JORNADA DE TRABALHO



Evidentemente, a esta altura, os servidores do INSS situam-se entre o desânimo e o desespero diante da possibilidade do tão anunciado retorno das 30 horas semanais não acontecer. Se o fim de semana, prolongado pela ansiedade, resultar em frustração, isso irá causar grande alvoroço nas agências, com as mais diversas manifestações de desagravo e revolta. Não aconselhamos a destruição do patrimônio público nem  atividades de cunho revanchista, pelo menos não de modo ostensivo. O revoltoso deve ser sutil e discreto, persistente e constante. Não deve ser dado a arroubos passageiros mas deve ser silencioso e metódico.
Se você, colega, quiser exercitar este tipo de comportamento rebelde, daremos aqui umas dicas de como proceder sem chamar a atenção da chefia, de modo que você permaneça as oito horas regulamentares  na agência e trabalhe apenas as seis desejadas. Listaremos, a seguir, alguns passatempos que podem ser praticados isoladamente ou em duplas, não mais que isso, pois então já se configura atitude subversiva.
Pode o servidor pensar que é impossível passar o tempo sem dispor de internet, sentado ali na frente dos segurados, sob a mira de dezenas de olhos críticos acompanhando a sua atividade ou a falta dela, sempre dispostos a resmungar qualquer impropério em sua direção.
A melhor proteção que se pode ter dos olhares dos chefes e dos segurados é ter um ou mais processos diante de seu nariz, sendo que um deles deve permanecer aberto o tempo todo, sendo folheado de vez em quando. Uma pilha de processos faz uma barricada intransponível entre o servidor e os semblantes acusadores já que demonstra uma séria disposição ao trabalho. Complete a mise-en-scène espalhando carnês e carteiras profissionais sobre a mesa.
Uma boa diversão é experimentar novas combinações de cores da tela do Prisma, fugindo do tradicional azul e amarelo. Ensaie usar as cores do seu time ou de sua escola de samba preferida, intercalando com um aparentemente atento exame de uma carteira profissional. Escreva, para seu exclusivo deleite, mensagens desaforadas no protetor de tela, mas não se esqueça de apagá-las em seguida para que não comprometam sua imagem diante de seus superiores.
Outro agradável entretenimento é colecionar nomes de segurados classificando-os conforme sejam esquisitos, raros ou de gosto duvidoso. Pode-se também gastar bastante tempo criando denominações esclarecedoras para as siglas dos sistemas como, por exemplo, o CNIS - Castigo Nefasto Imposto ao Servidor.
Se o amigo estiver cansado de sua solitária diversão, poderá pegar um processo e, à guisa de pedir ajuda para análise do mesmo, aproximar-se de seu vizinho de mesa e, tendo posto uma folha de papel em branco sobre o volume aberto, jogar forca e ter o prazer de eliminar, ainda que apenas na imaginação, um a um, todos aqueles que você considera responsáveis por sua desdita profissional.
Discretamente é possível afastar as cutículas com um colchete, adiantando o trabalho da manicure; fazer confete com o furador de papel e acumular uma boa quantidade para o carnaval ou elaborar bloquinhos de papel reciclado. Agora, se você possui pretensões artísticas poderá aproveitar o tempo para fazer caricatura de algum segurado ou mesmo escrever textos virulentos sobre sua árdua experiência diária para, posteriormente, publicá-los num blog a fim de serem lidos por seus colegas de infortúnio.* ** ***



* Qualquer semelhança com este manual é mera coincidência. Ou não. Sei lá. (nota do editor).
** Cuidado com as suas observações, editor! Tenho uma reputação a zelar (nota do autor).
*** Então é assim, seu malandro? Espera só para ver a nota que vou te dar na avaliação. (nota do chefe do autor).

sábado, 22 de outubro de 2011

COMO SE DAR BEM SEM FAZER ESFORÇO – BENEFÍCIOS ASSISTENCIAIS



Como bem se sabe, grande parte daqueles que se candidatam a um benefício assistencial – LOAS – não é realmente necessitado do amparo do governo, entretanto,  como dinheiro nunca é demais, algumas pessoas acham que valem alguns sacrifícios para o acréscimo de um salário mínimo aos seus rendimentos. Caso o leitor deseje também participar dessa boquinha e faturar um troco, vamos aqui dar umas dicas.
               O primeiro passo para impressionar o servidor é chegar mancando e fazendo cara de pobre coitado, mesmo que você esteja longe de ser pobre ou coitado. Ao sentar, dê um suspiro sofrido, daqueles que guardam anos de dor e abatimento. Igualmente ajuda  ir acompanhado de uma muleta ou alguém que se passe por parente para dar a impressão de que você não pode andar por aí sozinho. Apresentar sintomas de desequilíbrio mental também é bastante convincente nesta primeira fase do processo. Certas frases podem ser repetidas várias vezes para reforçar seu estado psicológico: “Eu não estou bem hoje, não” ou “E tenho problema de cabeça”, porém, é bom prestar bastante atenção à fisionomia do atendente, pois ele  pode sofrer de verdadeiros distúrbios mentais causados por mau funcionamento do CNIS e não estar bem naquele dia e, influenciado por sua atuação,  acabar tendo um ataque por mimetismo e abandonar o atendimento pela metade caso não jogue o monitor contra a parede ou, pior ainda, contra você.
             Na avaliação social, algumas lágrimas costumam bastar para sensibilizar o receptivo coração da assistente social. O mais importante, contudo, é adequar a conduta ao falso atestado médico para ver se consegue se sair bem na perícia.
              De qualquer modo, o sistema SABI, sempre generoso, colabora muito com o requerente, fingindo não ver, por exemplo, os recolhimentos anteriores a dois meses, daquele contribuinte individual, caído repentinamente em desgraça, que deixou de recolher há pouquíssimo tempo, mesmo que o tenha feito por anos a fio e no teto. Esse é o chamado  LOASCombo, em que o cidadão pode combinar o fato de ser um pobre coitado e segurado da Previdência Social ao mesmo tempo. E ainda poderá usar o valor integral do benefício para pagar uma contribuição bem elevada e futuramente se aposentar com uma boa renda. Inclusive, a Previdência, que as estas alturas já se chamará Providência Social, estuda criar um benefício assistencial compatível com a renda  daqueles contribuintes que sempre tiveram recolhimentos altos devidos a cargos comissionados conquistados aqui e ali entre políticos amigos e que, ao final de seus dispendiosos mandatos, vêem-se desempregados e sem ânimo para prosseguir em qualquer ramo de atividade laboral. Esses nobres cidadãos, evidentemente, não poderiam manter sua qualidade de vida recebendo apenas um salário mínimo. Em reconhecimento aos serviços prestados será implantado o LOAS-Teto, cujo valor, conforme anuncia o nome, alcança o valor máximo  pago pela Previdência.
              Mas, atenção, pois nem sempre se obtém o resultado esperado, como recentemente aconteceu em uma APS em certa cidade litorânea de Goiás. O infeliz cidadão, que não possuía os dois braços, vitima de mordida dupla de tubarão, narrou sua trágica história com tamanha riqueza de detalhes, com tal envolvimento emocional que levou às lágrimas a servidora que o atendia. Ela, de tanta emoção, não se deu conta de que o rapaz, em tal estado, não teria como assinar o requerimento e lhe ofereceu o papel e caneta. Ele, tão empolgado estava por sua envolvente representação, que tirou os braços, subitamente regenerados, de dentro do paletó e com uma mão apoiou o papel na mesa e com a outra assinou o requerimento. Depois, sorriu, meio sem graça, disse um “ih, foi mal”, levantou-se e saiu, sem nem mesmo mancar...

sábado, 15 de outubro de 2011

                                        INSSaNews

Dataprev anuncia concurso
para 100.000 vagas










    Depois da trágica experiência vivida por uma equipe de servidores da Dataprev em uma APS foram tomadas providências para a melhoria dos sistemas da Previdência Social.
   Após várias reuniões com o senhor ministro que, estranhamente, só tinha ouvido falar em CNIS no batizado de um sobrinho que recebera esse nome, disseram-lhe, em sua homenagem  e que nossa reportagem apurou, posteriormente, ser a criança assim  chamada por ter nascido durante o atendimento do salário maternidade enquanto o servidor que  atendia a mãe tentava, em vão, colher informações do dito sistema a fim de habilitar o benefício. Justa, portanto, a homenagem ainda que não muito lisonjeira a sua intenção. Aliás, Knis, Quinis, Kinispefe e outras mais variações são tudo efeito da mesma causa elevando o inédito nome ao top 10 dos mais usados pelos recém-nascidos atualmente.
    Na verdade, a tal sigla anda tão em voga  que os mais modernos já não morrem na fila do INSS preferindo morrer na fila do CNIS, de acordo com as manchetes dos jornais que mudam os detalhes, porém,  não as notícias.
   Posto a par da situação, esclarecido sobre as dificuldades encontradas no trato dos benefícios, o senhor ministro transmitiu as recentíssimas informações para os andares de cima da administração com a recomendação expressa de que se tratava de salvar a reputação da Dataprev, cujos sistemas de informatização incompatíveis com a informática, iam se transformando em meros padrinhos de bebês de nomes esquisitos.

  Em poucas semanas criou-se uma verdadeira força tarefa para salvaguardar a empresa e foi anunciado um mega concurso que ofereceria 10.000 vagas para especialistas em informática.
   Informados de que não era só a instituição que corria perigo mas também o CNIS, filho dileto do órgão e outras crias mais novas, foi acrescentado mais um zero à cifra anterior e agora serão oferecidas 100.000 vagas para contratação imediata.
   Para bancar o custo da portentosa operação em época de séria contenção de despesas e pela urgência e relevância do tema, foi emitida uma medida provisória criando mais um imposto para a captação dos recursos necessários. Trata-se ISDVP (Imposto Sobre Desvio de Verbas Públicas) que consistirá no desconto 1% de todo o montante surrupiado aos cofres públicos, desde o dinheiro circulante em cuecas  até os valores mais higienicamente  escamoteados; de simples propinas ao superfaturamento de obras públicas, o que nos leva a acreditar que a Dataprev muito lucrará com os grandiosos futuros eventos esportivos e, em poucas décadas, o CNIS poderá vir a ser tão eficiente quanto o Google.
   Preocupado com os rumos da democracia e, diz um comentário maldoso, com os próprios bolsos, o Congresso se reuniu para debater a atitude presidencial. Um cientista político que presenciou a urgentissima reunião, oculto por trás de uma cortina, resumiu o fato em uma significativa parábola: “Barbas e bigodes se contorcem para sair desta saia justa sem cair do salto.” Aguardemos o desenrolar dos fatos...

         


domingo, 9 de outubro de 2011



         INSSaNews

Servidores da DATAPREV enfrentam o CNIS

    Após inesperado surto de  reclamações a respeito dos considerados eficientes serviços prestados pela DATAPREV à Previdência Social,  servidores daquele órgão foram designados para observar de perto o resultado de seus esforços informáticos participando, durante uma semana, da rotina de uma agência do INSS. Logo no primeiro dia da experiência, um deles ficou tão horrorizado com o que presenciou que saiu correndo do perímetro de teste e,  desnorteado, não prestou atenção ao trânsito e foi atropelado, tendo morte instantânea. Rezemos por sua alma.
  
    Os que não tiveram a sorte de deixar este mundo em momento tão crítico sofreram o tormento de enfrentar a sua criação, esse aglomerado de  sistemas  mal rejuntados, de interação conflituosa e comunicação hesitante, uma obra digna de um Dr. Frankenstein cibernético.
    
  Umas vezes mudos, outras, calados, sempre estupefatos, eles testemunharam as vãs tentativas dos servidores de utilizar seu mais famoso sistema, aquele que atende pelo nome de CNIS Cidadão e o resto de sua família, todos igualmente dotados da qualidade de levar ao desespero a totalidade de seus usuários, comprovando, a cada instante, a sua obsolescência e ineficácia.
   
  Finda a semana de tortura, os sobreviventes deixaram suas opiniões e sugestões a respeito da supliciosa experiência. Um deles, que não quis se identificar – e, curiosamente, ninguém o fez – disse que o CNIS, sendo um sistema relativamente novo, não tendo ainda nem 20 anos, precisa de uns pequenos ajustes para se tornar funcional e solicitou, para isso, um prazo de uns poucos anos. Aguardemos com fé.

  Outro, aparentemente mais lúcido e sensato, concordou que o CNIS é aquilo mesmo que os servidores acham que é, porém,  por respeito aos leitores, vamos nos resguardar  de citar o pouco delicado vocábulo.

   Um terceiro que se pronunciou falou sobre a possibilidade de se criar um programa de milhagem em que os servidores iriam acumulando pontos a cada tentativa frustrada de utilização do CNIS e que seriam trocados por dias de folga, o que os levariam a suplantar as dificuldades do dia a dia com mais boa vontade.

  O último entrevistado, não se sabe se em sinal de camaradagem com os sofridos servidores da APS ou em defesa do fruto de seu trabalho, alinhou-se àqueles que desejam o retorno das 30 horas e declarou: - Não são necessárias oito horas para se fazer uma consulta ou uma atualização em nossos sistemas; seis horas são suficientes. Esperemos que, em breve, ele esteja certo.
                       

domingo, 2 de outubro de 2011

MOMENTO POÉTICO - ODE AO CNIS (ou ODEIO O CNIS)



Oh! Meu odiado inimigo CNIS
Por que você faz com que eu tenha
De digitar tanta informação
Como a matrícula, a senha
E o nome do cidadão
Para então negar-se a trabalhar?
Desta vez foi por um triz,
Já ia em meio a minha pesquisa...
E lá vou eu ter de novo de digitar
Toda aquela infortunada sequencia...
Por que não dá um sinal, não avisa
Vive a testar a minha paciência
E repito de novo e de novo
Todos aqueles dados
E já se aglomera o povo,
Ansioso e apressado
E olha o que você me fez
Acabou de me deixar na mão,
Vou ter que começar tudo outra vez...
CNIS, meu terrível tormento
Que transforma num suplício
Uma simples habilitação.
Quando chegará o momento
De eu conceder esse benefício
Que dizem que sai em meia hora,
Se você teima em não funcionar?
Já tem segurado indo embora
Porque não agüenta mais esperar,
E você não está nem aí para isso...
Vê se funciona, seu desgraçado,
Não me atrapalhe mais o serviço!
Filhote maldito da Dataprev  -
Outra vez você caiu!
Eu xingo o monitor e soco o teclado -
Para nada você serve !
Eu dou  gritos, alucinada,
Sistema miserável e vil!
Você quieto, não reage,
Sorte que não sou desbocada,
Se usasse a linguagem de Bocage,
A rima seria bem menos sutil...