sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

TÉCNICAS DE SOBREVIVÊNCIA EM APS – O ACOMPANHANTE


Hoje iremos tecer algumas considerações sobre aquele espécime supérfluo que contribui para o acúmulo desnecessário de pessoas nas agências da Previdência Social que é o acompanhante do verdadeiro interessado. Vamos, portanto, desvendar o mistério da multiplicação de segurados numa APS.
1 - Existem dois tipos de acompanhantes: o sem fins lucrativos, representado por maridos, esposas, filhos, amigos e vizinhos  e o profissional, também autodenominado “assessor previdenciário”, mais conhecido como catador de papel e que sempre ouve o tilintar de cifrões diante de um possível freguês.
2 – Enquanto os segundos comparecem ao atendimento de seu cliente apenas para marcar presença e garantir o próprio lucro, os primeiros se esmeram em orientar os pupilos. Ambos se dedicam a traduzir o que o servidor diz em palavras mais simples de modo a facilitar o diálogo entre as partes. Por exemplo, quando o servidor diz: “Dona Maria, me empresta sua identidade e seu CPF” o acompanhante intervém e fala: “Dona Maria, empresta a identidade e o CPF para o moço”, evitando, assim, qualquer possível mal-entendido.
3 – O acompanhante sempre chega ao destino antes do real interessado. Como um desbravador ele percorre a agência em busca da mesa que chamou a senha  conduzindo com segurança o seu protegido até o lugar indicado. Uma vez ali, responde à todas perguntas feitas ao segurado antes mesmo que ele possa esboçar um início de resposta; acompanha, passo a passo o atendimento, oferecendo esclarecimentos absolutamente desnecessários; questiona a legislação por julgá-la injusta  e, ao final, dá permissão ao seu tutelado para assinar documentos, após análise e aprovação do texto, não sem antes pôr em dúvida algum detalhe do mesmo. Ao ir embora, dá um sorriso de triunfo imaginando que nada daquilo teria acontecido em sua ausência.
4 – Engana-se aquele que  imagina que a pessoa em questão é convidada pelo requerente a fazer-lhe companhia. Pelo contrário, ao saber que o parente, amigo do parente ou vizinho do amigo do parente vai até o INSS em busca de um benefício, ele se propõe a ajudá-lo com o magnânimo propósito de protegê-lo dos maus-tratos a que provavelmente será submetido pelos servidores da malvada autarquia que nega uma aposentadoria até mesmo para aquele que, segundo seus cálculos, já tem mais de 150 anos de contribuição.
5 – Os acompanhantes também podem vir em grupos distintos e que se classificam em  escolta e  filharada. A primeira composta, costumeiramente, de dois a cinco integrantes, acompanha um requerente que não tem direito ao benefício e o faz com a sutil intenção de intimidar o servidor a fim que ele olhe a realidade por outro ângulo nem que para isso tenha que levar um direto no queixo. O lado masculino do aparato costuma se postar à volta do cidadão, de braços cruzados sobre o peito e com cara de ‘te pego lá fora’, As mulheres, mais comunicativas, utilizam-se de uma interpretação livre da lei  adequando-a aos interesses do requerente, nem sempre no tom de voz considerado apropriado ou com vocabulário elegante.

6 -  Muitas mães, ansiosas por um benefício assistencial que provenha a si e  à prole, levam a escadinha toda entre 6 meses e 13 anos, em média, onze degraus, com a finalidade de comover o atendente. Enquanto o colega cadastra aquele monte de crianças, uns correm, outros pulam, todos gritam e o menorzinho, sem poder participar da brincadeira, expressa-se fisiologicamente, enchendo a fralda e empesteando o ambiente. Consultando o CNIS verifica-se que a requerente não teve outro trabalho a não ser o do parto mas honras lhe sejam feitas porque não é pouca coisa colaborar com tal vigor para o crescimento populacional.
7 – Para que o servidor sobreviva a todos esses contratempos é bom que ele também tenha lá um acompanhante ou uma comitiva, conforme o caso, que possa neutralizar o ataque  alheio. Sempre é bem-vindo aquele colega que se posta ao lado do companheiro e, caneta e papel na mão, começa a fazer uma sutil e insistente entrevista, perguntando o motivo de sua vinda, grau de parentesco com o segurado, o objetivo de tantas perguntas e pedindo os seus documentos para uma posterior averiguação, de forma a reverter a pressão exercida a principio pelo outro lado. Se, com essas providências  o  camarada não ir embora alegando alguma urgência, pelo menos ficará menos agitado.



8 comentários:

  1. Parabéns novamente.

    O que mais eu odeio quando chamo um pingin (senha) é vim dois ou mais, eu chamei UMA pessoa e não mais de uma.
    Na minha APS é proibido o acompanhante ficar no guichê então tenho que pedir educadamente para o cidadão aguardar sentado entre os demais que estão esperando. Isso porque fingiram não ler os 3 cartazes que avisam.
    Enfim, são mais meliantes que acompanhantes. Sempre em busca do $$$ do requerente.
    Isso só vai acabar o dia que for cobrado uma taxa bem grande $$$ para qualquer requerimento.
    A gente paga para tudo (tirar documento, CNH, IPVA, IPTU, custas processuais) mas aqui continua como uma "puta velha" dando até para quem nem pediu.
    Passa a cobrar que diminui 50% da demanda.

    Seu texto está ótimo, desculpe o desabafo.

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  2. Putz pior que é assim mesmo...é um saco quando isso acontece, odeio quando to tentando acessar o cnis pela nésima vez e o que fica com braço cruzado em encarando...saco...

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  3. É legal proibir o acompanhante ficar ao lado do segurado durante o atendimento?

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  4. Como o próprío texto diz, existem tipos de acompanhantes, incluindo aqueles que ajudam, então porque generalizar? O segurado vai olhar pra onde, para o chão esperando o seu chamado, de "agora pode me olhar"? Porque tanta impaciência? O INSS deveria dar gratificação para quem fica na linha de frente, só então os servidor iria passar a se colocar na posição do segurado, imaginar que está atendento a sua própria mãe....é triste isso:(

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  5. Não é proibido a presença do acompanhante só que, na maioria das vezes, eles são inconvenientes pois causam mais tumulto do que ajudam, ficam batendo papo com o segurado atrapalhando o nosso serviço que exige muita atenção. Por isso solicita-se a presença de apenas uma pessoa durante o atendimento.
    Evidentemente que há situações em que o acompanhante é muito útil como, por exemplo, em pensão por morte. Muitas vezes o requerente é bastante idoso, tem dificuldade de entender os procedimentos, além de estar fragilizado pela morte de uma pessoa com o qual viveu toda a vida e um filho ou parente pode ajudar no processo. Essas pessoas, tanto o requerente como seu acompanhante merecem todo o respeito, paciência do servidor e até serem tratados como a própria mãe, sem a necessidade de aditivos pecuniários.
    Mas por serem dignos de tanto respeito e empatia não são motivo de piada nem crítica, por isso não frequentam as páginas deste blog.

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  6. parabéns para a resposta do INSSano de 07/02 01.46. ótimo como todos os textos que ela elabora.... essa INSSANA é fodona mesmo!!!! sou tua fã!!! ainda mais depois de descobrir que ela ama gatos kkkkkk eu adoro muito tbém.

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  7. Eu fiz o comentário Feb 3, 2012 04:56 PM.

    O sujeito "Anônimo Feb 7, 2012 05:07 AM" deveria lembrar que geralmente as mães não cobram 1244 reais para fazer uma simulação de tempo de contribuição (disponível gratuitamente no site do INSS), também não cobram 622 reais para tirar meia dúzia de cópias e requerer um benefício precedido. As mães também costumam ensinar os filhos a serem educados com os atendentes, sejam eles do INSS, do banco, do supermercado ou de um escritório de contabilidade.

    Infelizmente a ignorância da população brasileira favorece a atuação destes intermediários. É por isso que o INSS mantém uma campanha de comunicação contra os intermediários.

    OBS: Entendo que este blog seja um espaço pautado principalmente no humor, quem quiser fazer discursos puritanos pode procurar um convento ou seminário, ou quem sabe uma igreja neopentecostal (só tome cuidado com seu $$$).

    INSSANO vc é 10. Ótimo espaço, ótimo textos, vc é um orgulho para todos os INSSanos que diariamente labutam neste purgatório.

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    1. Concordo plenamente! Se as pessoas são educadas, não há problemas. Reclamamos é dos mal educados, que se acham no direito de nos agredir por coisas que sequer temos culpa! Gentileza gera gentileza!

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