sexta-feira, 29 de junho de 2012

TÉCNICAS DE SOBREVIVÊNCIA EM APS – O SUPERVISOR


       Não existe, nos tempos atuais, servidor mais infeliz que o supervisor de APS. Essa pobre criatura, além de ter de trabalhar quarenta horas semanais, a despeito de seus colegas subordinados fazerem apenas trinta, ganha uma gratificação de função que, se fosse paga em moedas, mal encheria um modesto e diminuto porta-níqueis e, ainda por cima, tem as atribuições mais penosas de toda a agência, como aturar os segurados  mal-humorados e fazer trabalhar os colegas preguiçosos.
Essa primeira e árdua tarefa listada, acalmar um segurado enfurecido, é a mais assustadora das incumbências de um supervisor. Este cidadão, que já passou por dois ou mais servidores, não contente com as respostas recebidas, ou por sua excessiva semelhança, que não lhe é benéfica ou, por outro, por disparatadas diferenças, que o deixa, com razão, cada vez mais desinformado, resolve, enfim, falar com o chefe, neste caso aqui, o infeliz supervisor.
- O senhor aí  - sempre tem um colega dedo-duro a apontá-lo - diz o cidadão irritado,  encaminhando-se para o supervisor que, disfarçadamente, olha para os lados, tentando achar outro senhor que o substitua em tão penoso momento. Não encontrando ninguém avança um relutante passo na direção de seu suplício:
- Pois não...
Eis chegado o instante de ouvir estóica e cerimoniosamente a indignação do segurado. Notemos que intensidade e o tempo levado na desairosa narrativa é o resultado de uma fórmula bem simples como a do fator previdenciário. É a soma do TEA (tempo de espera do atendimento) como o NVA (número de vezes que o segurado já foi atendido sem obter o resultado esperado) e o MHC (mau-humor congênito) dividido por CPS (cara de panaca do supervisor) multiplicado por PSL (paciência sem limites). Este delicado momento costuma durar de dois a cinco minutos de acordo com as variáveis envolvidas, quando o segurado ainda não está preparado para ouvir qualquer explicação, precisando apenas aliviar sua revolta, seja ela justa ou não.
Duas pequenas técnicas de distração voluntária podem ser usadas pelo supervisor para que esse lapso de tempo passe sem muito dano à sua configuração mental, já de si avariada pelos longos dos anos de trabalho. Uma delas é relembrar cantigas infantis, não mais cantadas desde tenra idade, como esta,  da formiguinha:

“Um, dois, três, saco de farinha,
Quatro, cinco, seis, saco de feijão,
Trabalhando, Dona Formiguinha,
Vai enchendo, aos poucos, seu porão,
E o saco da Dona Conceição”

Não, não, este último verso não pertence à canção; tenha-se em conta de um ato falho.
Outra peculiar arte de ouvir bronca sem reclamar, esta mais sofisticada e interativa, é a da tradução simultânea, quando o servidor vai vertendo para o idioma que melhor domine, a reclamatória do segurado, permitindo-lhe inteirar-se dos fatos ao mesmo tempo que deles se mantém à segura distância. Se o discurso se alongar em repetições, poderá experimentar idiomas alternativos, traduzindo uma ou outra palavra para uma língua de incipiente conhecimento, arriscando-se entre o árabe, o  hebraico e o mandarim.
Passados esses trágicos minutos do preâmbulo catártico, o cidadão mais tranqüilo e o supervisor mais relaxado, pois, enquanto um disse o que quis, o outro, apesar do silêncio monástico, se distraiu a valer, a comunicação tende a ser mais produtiva e eficiente.
Entretanto, mais difícil ainda que enfrentar, esporadicamente, um segurado nervoso, é ter que aturar, no dia a dia, aqueles colegas que, por um motivo ou outro, todos escusos, não querem nada com o trabalho, apenas se beneficiando do esforço alheio para o cumprimento das metas institucionais. Esses servidores, sejam eles, relapsos, folgados ou que se fazem de incompreendidos, sofrem de incapacidade laborativa perene e necessitam passar por uma séria reabilitação profissional. Uma boa solução é a cadeira elétrica interativa. É um confortável mimo para o seu coleguinha molenga, que gasta meia hora para entregar um  extrato de pagamento para o segurado. Acionada automaticamente, assim que o servidor ultrapassa o tempo determinado pela senha, começa a levar um sequencia de choques no traseiro, que vão aumentando de intensidade à medida que o tempo passa.  Em pouco dias o colega estará mais ativo e ágil  e sempre que finalizar o atendimento no prazo, a cadeira liberará um amendoim torradinho em suas próprias dependências elétricas para o servidor bem sucedido. Esse sistema de castigo e recompensa contribui bastante para o bom êxito do adestramento dos colegas pouco comprometidos com o trabalho.
Para facilitar a difícil empreitada do supervisor, Dona Conceição elaborou uma fórmula especial, o chá do santo dai-me paciência que, por seus poderosos componentes, não deve ser tomado em quantidade superior a dez xícaras diárias evitando, assim, tornar-se tão moleirão e relaxado quantos os servidores que pretende curar.

sexta-feira, 15 de junho de 2012




            INSS


FORMA FARMACÊUTICA E APRESENTAÇÃO
É oferecido em  embalagens proporcionais  de um servidor para cinquenta      segurados ou de um servidor para vinte processos represados.

USO ADULTO
Quanto mais tardio for o início de sua utilização, menor o risco de ocorrência de                      inssanidade prematura.

USO TÓPICO
            Deve ser estritamente utilizado no local de trabalho e mediante a apresentação de senhas.

INFORMAÇÕES AO PACIENTE
Conservar a temperatura ambiente entre 19° e 22°, caso o ar condicionado esteja funcionando.
Não pedir exoneração antes de encontrar um novo emprego.
Prazo de validade da sanidade mental: 6 meses
Siga as orientações de seu psiquiatra.


INDICAÇÕES
Desempregados em estado avançado de penúria.


COMPOSIÇÃO:
Cada porção contém:
10 % de servidores estressados e trabalhadores.
5%    de servidores tranquilos, sorridentes e moleirões
3% de sistemas de informatização que não funcionam
a contento
0% de sistemas de informatização que funcionam 
perfeitamente
80% de segurados aguardando há mais de duas horas
2% de chefes que tudo olham e nada veem

INFORMAÇÕES AO PACIENTE:
 Aconselha-se o uso concomitante de pastilhas alienantes e chá de camomila (fórmulas de Dona Conceição) para neutralizar efeitos deletérios.

CONTRAINDICAÇÕES:
Pacientes com histórico de hipersensibilidade a cobranças; níveis reduzidos de    tolerância aos segurados; taxas elevadas de preguiça e sonolência; tendência à acomodação e lentidão operacional; impaciência crônica com o CNIS.

PRECAUÇÕES
Deve-se ter sempre um novo concurso público em vista.

INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS
O uso concomitante de sistemas ineficientes, segurados malcriados e chefes intolerantes pode provocar apatia  ou acessos de fúria, de acordo com a natureza do servidor.

REAÇÕES ADVERSAS
O atendimento ao público geralmente não é bem tolerado por períodos superiores a seis meses, o que pode acarretar os seguintes efeitos colaterais: mau-humor; cefaleia crônica; estresse pós-traumático; depressão; síndrome do pânico e aposentadoria precoce.

POSOLOGIA
Aconselha-se o uso de, no máximo, seis horas diárias para o bom gerenciamento mental do servidor.


SUPERDOSE
O uso obrigatório e contínuo de jornada de oito horas para supervisores pode causar danos irreversíveis ao turno estendido.


sexta-feira, 8 de junho de 2012

                            INSSaNewsTV
        
   Os   semi-inssanos perguntam

  Apresentador: No programa “Dona Conceição responde” de hoje, Dona Conceição irá responder às perguntas formuladas pelos nossos futuros colegas, também conhecidos como semi-inssanos.
 
Semi-inssano: A senhora poderia nos falar um pouco sobre o curso de capacitação de servidores, esclarecer sobre como aprenderemos o trabalho?

Dona Conceição: Bom, o curso não é exatamente de capacitação mas de ambientação. Funciona assim: depois de algumas semanas que o servidor está penando para aprender na marra suas árduas tarefas, já totalmente adaptado na sua APS, eis que surge o curso de ambientação que, ironicamente, é realizado longe do ambiente de trabalho. Lá ele irá se confraternizar com colegas que, possivelmente, nunca mais tornará a ver, ouvirá  palestras edificantes, participará de animados jogos educativos e aprenderá a teoria daquilo que na prática já pusera em execução.  Ao final deste período sabático,  terá esquecido metade  dos conhecimentos realmente importantes que andou aprendendo antes da divertida  interrupção e, em troca, terá a cabeça cheia de bons preceitos, grande parte dos quais sem nenhuma serventia.


Semi-inssano: O que a senhora poderia dizer sobre a promissora carreira dos servidores do INSS?

Dona Conceição: É realmente uma carreira muito promissora. Promete isso, promete aquilo, entra um dinheirinho por um lado, sai pelo outro. Bom mesmo é remuneração da progressão que é feita a cada 18 meses; dá uns 80 reais, sem os descontos. E os tais 18 meses não começam a contar necessariamente a partir da data em que entra em exercício. Utiliza-se, para esse fim,  uma aritmética meio confusa e retardatária que ninguém entende mas que cumpre, com louvor, sua finalidade econômica. Também costuma haver alguns entraves burocráticos que postergam o procedimento mas os atrasados um dia serão recebidos, evidentemente, até para justificar nome, com bastante atraso. Principalmente se não for pago dentro do mesmo ano, caindo em exercício anterior, ficando na dependência de disponibilidade de verba do  Planejamento. Enfim, anos   depois,   quando   chega     a 
autorização para o pagamento, corre-se o risco de não se receber por dois sérios motivos: ou o RH esqueceu de fazer a solicitação ou não se lembrou de fazê-la. Motivos altamente justificados pelo acúmulo de serviço de nossos   colegas de RH, que estão sempre dando um duro danado enquanto você fica de papo furado com os segurados.
   

E, em primeira mão, posso afirmar que, muito em breve, a exemplo de grandes empresas, o servidor do INSS passará a receber participação nos lucros da Previdência, o que, no momento, estando o órgão deficitário, significa que haverá de participar com uma doação mensal de parte de seu salário até que se equilibrem as contas.

Semi-inssano: Dona Conceição, fico preocupado com o que leio aqui sobre os sistemas da Dataprev...

Dona Conceição: Não se preocupe, meu amiguinho, o SIBE vem aí para por ordem na casa. Não deve demorar muito mais, pois há 10 anos ouço dizer que ele, a qualquer momento, surgirá, magicamente, na tela dos computadores, belo e formoso, resolvendo todos os nossos problemas de comunicação e acessibilidade. Deve ser mesmo um sistema perfeito, como o seu quase homônimo, SABI, visto o seu longo período de desenvolvimento e maturação.

Semi-inssano: Existe alguma estratégia especial para atender os segurados em geral?

Dona Conceição: Sim; chama-se adivinhação investigatória. Trata-se de se descobrir o que o segurado deseja a partir de indícios insignificantes de sua vontade, o que vem a substituir qualquer protocolo que ele deveria apresentar e que deixou em casa ou qualquer palavra consistente que ele deveria dizer e não sabe qual é.

Semi-inssano: Dona Conceição, estou aflita! Sou uma pessoa sem paciência, tenho medo de perder a compostura diante de um segurado grosseiro ou provocador. O que a senhora me recomenda?

Dona Conceição: Uma colherinha (daquelas de servir arroz) do Xarope Auditivo de Dona Conceição, durante o atendimento conflituoso. De ação imediata, ele provoca um estado de debilidade lingual que impede qualquer resposta por parte do servidor que passa a ouvir todos os desaforos calado, evitando, assim, desnecessários embates com o segurado. A seguir, tome duas xícaras do chazinho de camomila reforçado para relaxar.