quinta-feira, 23 de agosto de 2012

TÉCNICAS DE SOBREVIVÊNCIA EM APS – MISTÉRIOS E MILAGRES



 "Há mais mistérios entre o segurado e o INSS do que   sonha nossa vã filosofia" 
                                                                  Dona Conceição



Como sabiamente filosofou nossa emérita representante acima citada, em nossa ilustre instituição ocorrem fatos muito estranhos e inexplicáveis. E não nos referimos àqueles processos sujeitos a teletransporte que somem de uma mesa e aparecem em outra, ou que se tornam invisíveis por um determinado período de tempo e depois, magicamente, reaparecem no lugar em que deveriam estar, em ambos os casos, sem que ninguém neles tivesse tocado. Falamos aqui de acontecimentos que envolvem o cidadão-segurado, tão cientificamente improváveis que ser servidor do INSS é quase um ofício religioso, repleto de dogmas de fé, nós quais devemos acreditar sem suspeição ou dúvida, em prol da presunção de boa-fé que devemos ter em relação à nossa clientela. Vejamos alguns exemplos:
Mistério da conservação do papel: Quem já não deparou com uma solicitante de pensão por morte que apresentou uma cópia, unicamente da parte da frente da certidão de casamento, e alega não ter como apresentar o documento original uma vez que este se perdeu há mais de vinte anos? É interessante notar que esta reprodução, embora tão antiga, não possua sequer um amassadinho, mancha de mofo ou cheiro de guardado, parecendo ter sido tirada naquele mesmo dia. Entretanto, sem descrer da veracidade da informação, somos obrigados a solicitar uma segunda via do documento ou a apresentação do original. Aí, muitas vezes, outro mistério se acumula ao primeiro; de tanto revirar sua bolsa, a viúva apresenta, um tanto amassado, o original da certidão, não sem fazer uma cara de susto diante da descoberta, já que o documento que julgava estar perdido estava todo esse tempo em sua bolsa. Também se espanta o servidor ao ver que o papel provém de uma bolsa que não aparenta ter, de modo algum, duas décadas de confecção. Outro mais secreto acontecimento se dá quando se lê, no verso da certidão, uma averbação de divórcio, coisa que, segundo a esposa, nunca ocorreu e que, de forma alguma, poderia estar ali gravado.
Mistério da dissolução familiar: Uma situação infeliz e estranhamente recorrente acontece nos Benefícios Assistenciais. Muitas senhorinhas idosas, de uma hora para outra, são abandonadas pelos seus maridos aposentados e pelos seus filhos solteiros e acabam por ir morar de favor em uma casa cedida por pessoas que mal a conhecem. E todo esse infortúnio ocorre no espaço de mais ou menos um mês, entre um pedido de LOAS e outro. Felizmente, tal situação de exílio não é definitiva como comprovam requerimentos de pensão por morte destas mesmas senhoras, reintegradas aos seus lares para o amparo de desvalidos e arrependidos cônjuges que, em seus abnegados braços, soltam seus últimos lamuriosos suspiros.
Milagre do CNIS redentor: Quantos não são os segurados que, tendo perdido todos os carnês, apegam-se às informações do CNIS para conseguirem se aposentar? Infelizmente, trágica coincidência, alguns deles perdem os carnês dias depois de todos os dados terem sido inseridos no sistema. Porque não estavam lá antes, não se sabe, é um enigma. Porque tais documentos foram perdidos na enchente em época de estiagem, é outro.
Para todos os casos acima citados, por mais complexos que possam ser, a solução é uma só: uma bem elaborada cartinha de exigência para que os futuros beneficiários providenciem, lá com seus santos, a complementação de seus feitos extraordinários a fim de levar a bom termo seus requerimentos.
Outro caso especialíssimo embora não totalmente incomum é a cura pela aposentadoria. Acontece quando aquele segurado, depois de perpetuar-se no auxílio doença com a ajuda de laudos médicos cada vez mais dramáticos, é contemplado com uma aposentadoria por invalidez, digamos, pelo conjunto da obra. Esse momento tão ansiosamente esperado traz-lhe tão grandes benefícios que sua coluna se desentorta, suas veias se desentopem, a depressão acaba, todos os sentidos são amplamente recuperados e, em breve já se pode ver, esses renascidos senhores ou senhoras, muito bem dispostos, fazendo aqui e acolá alguns trabalhinhos, senão propriamente filantrópicos, que lhes engrandeçam o espírito, pelo menos suficientemente rentáveis para lhes estimular os rendimentos.

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

TÉCNICAS DE SOBREVIVÊNCIA EM APS – OS INDICADORES

Hoje nós iremos estudar as novas estratégias que serão implementadas pelos servidores do INSS que, além de fazer uma maratona de serviços para cumprir as metas institucionais e individuais para garantir o IMA, têm ainda que lidar com uma série de indicadores de desempenho.É necessária uma preparação olímpica para alcançar esses índices dificílimos de se conquistar e que não podem ser vencidos apenas pelo esforço individual. É importante uma equipe bem treinada e afinada para que o trabalho em conjunto chegue a resultado satisfatório.
Evidentemente não se pode responsabilizar apenas o servidor pelo TMEA (tempo médio de espera de atendimento) já que os segurados levam, em média, cinco minutos para encontrar a mesa onde será atendido. Também se deve levar em conta da demora do atendimento, que resulta em mais espera para os atendimentos seguintes, ao atraso do segurado em apresentar seu documento de identidade ou de expor o motivo de sua presença. Ora, se em um serviço que deve durar dez minutos, gasta-se cinco para se obter a identidade do cidadão e outros dez para se inteirar do assunto, evidentemente extrapola-se o prazo de execução.
É para melhorar o desempenho do segurado e aumentar seu índice de resolutividade (IRES) que todas as APS irão ser municiadas de um treinador de segurados designado pela Escola da Previdência, escalado especialmente para orientar os cidadãos nos procedimentos básicos como, por exemplo, reconhecimento da senha no painel de chamada (RSPC), a localização das mesas e o caminho mais curto e com menos obstáculos para alcançá-la, que reduzirá consideravelmente o TDS (tempo de deslocamento do segurado) e a apresentação da identificação concomitantemente à exposição oral de sua vontade.
Fica subentendido que apenas o conjunto segurado/servidor não é o suficiente para assegurar o bom desempenho do atendimento já que não se pode ignorar a necessidade do conveniente funcionamento dos sistemas da Dataprev. A orientação é para tentar abrir o CNIS apenas três vezes por atendimento e, se ele refugar em todas as tentativas, que se dê por finalizado o mesmo. Por tais faltas o CNIS poderá ser punido com a obrigação de permanecer em funcionamento por cinco minutos consecutivos sob pena de ser desclassificado.
Também haverá um curso preparatório para que o servidor incorpore o IRES em amplo aspecto melhorando seu índice de resolutividade no banheiro, no fumódromo e na cozinha, eliminando gestos supérfluos de desperdício de tempo. No primeiro quesito levam os homens total vantagem sobre a equipe feminina, uma vez que, quando muito, lavam a mão após o uso do sanitário, enquanto as mulheres aproveitam a oportunidade para arrumar os cabelos, passar batom, pintar as unhas e pôr cílios postiços, tudo para bem impressionar a assistência masculina, composta, sobretudo, de sedutores segurados. O servidor aprenderá também a consumir um cigarro inteiro com uma única tragada de forma a atingir seus níveis  de nicotina em tempo cada vez menor. Aprenderá igualmente a tomar café sem açúcar para evitar perda de tempo na colocação e dissolução do produto e não fazer biquinho para esfriar a bebida.  Como estímulo, dentre aqueles que aprimorarem a execução das tarefas acima, será selecionado o recordista do mês que será agraciado com uma medalha de honra ao mérito.