sexta-feira, 30 de agosto de 2013

TÉCNICAS DE SOBREVIVÊNCIA EM APS - O CONTRACHEQUE


No capítulo de hoje nós vamos falar sobre um assunto que muito angustia os servidores da nobre Instituição, mormente a polêmica do possível fim da insalubridade de  quem ainda a recebe. É importante frisar que o término desse benefício não visa a uma economia para os cofres públicos, mas tem  uma finalidade psicológica de amplo espectro. O objetivo é evitar servidor sinta-se trabalhando em um ambiente pouco saudável e que possa adquirir alguma ziquizira a qualquer momento. Essa situação de insegurança psicológica tem o poder de realmente materializar-se em alguma doença e afastar o trabalhador de suas atividades ou, mesmo se mantendo aquartelada em seu ambiente mental, pode gerar temores vãos nada edificantes, atitudes compulsivas de desinfecção das mãos e outros mais desconfortos que façam com que o servidor perca tempo de trabalho em higienes desnecessárias e, em desdobramento, achar que o segurado possa lhe transmitir alguma espécie de mal gerando algum tipo de preconceito com relação às mazelas apresentadas pelo cliente. Portanto o que está aqui em jogo não é o valor da insalubridade, mas, sim, a sua necessária e completa exclusão do local de trabalho; removendo o adicional monetário, excluem-se também suas causas e seus efeitos.
Outro ponto em permanente discussão é quanto ao auxílio alimentação, também conhecido como vale-coxinha-sem-catupiry, para o qual se deseja equiparação com os valores percebidos pelos servidores do Judiciário e do Legislativo, com a mera alegação de que temos o direito de comer tanto quanto eles. Injusta reinvindicação, pois  é  visando a saúde do trabalhador, que deve se manter fino e elegante, em espartano regime,  os homens, com barriga de tanquinho e as mulheres,  com cinturinha de vespa,  que fomos agraciados com tão diminuto e econômico adicional alimentício. Afinal, coxinhas de galinha, sejam elas com ou sem catupiry, e outros mais acepipes calóricos, engordam e deformam a silhueta. A boa notícia que temos a dar é que  o servidor que estiver com uns quilinhos sobrando verá minguar ainda mais o seu econômico vale-alimentação a fim de se adequar à tabela de massa corporal ideal elaborada por nutricionistas especialmente contratados.
Também por motivo de saúde deverá ser excluído o auxílio-transporte para que o servidor possa iniciar e finalizar o seu dia com aprazíveis caminhadas ou longas pedaladas, resultando em abdômen definido, gordura zero e taxa de serotonina nas alturas. Todos esses cuidados, minuciosamente arquitetados pelo plano superior, gerarão enriquecimento da qualidade de vida dos servidores. Da mesma forma, com a saúde perfeita, não será necessário o recebimento dos valores da rubrica  saúde complementar pois ninguém mais vai precisar ter um plano de saúde ainda mais agora que o SUS encontra-se abastecido de médicos importados de notório saber e inquestionável  capacidade.
Outra questão muito importante é incorporação da GDASS ao vencimento básico. Vejamos um desdobramento nefasto que isso poderia ocasionar: o aumento absurdo da GAE que corresponde a 160% do valor salário base. Para atender ao desejo do servidor e contornar a dificuldade esta última gratificação sofrerá uma alteração de nomenclatura  e passará a se chamar Garantia Adicional de Estabilidade e mudará da coluna de créditos para a de débitos. Explica-se a vantagem desta aparente discrepância: o servidor passará a gozar de uma estabilidade inalienável, ou seja, mesmo que queira não poderá se livrar deste excepcional benefício; não será exonerado nem a pedido, estará vinculado ao INSS até a aposentadoria compulsória, aos 85 anos de idade.
            E agora, com um contracheque higienizado e enxuto, onde os débitos se sobrepõem aos créditos, deverá o servidor utilizar-se do exemplo de desapego altruísta dos médicos cubanos e ficar muito satisfeito com as mudanças ocorridas. Afinal, em meio a tanta gente desempregada por aí, você que tem um empregão estável como este, ainda vai querer salário?

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

INSSaNews

DICAS E CONSELHOS DE DONA CONCEIÇÃO

        

Meus amiguinhos, hoje eu vou dar umas dicas e receitar para vocês alguns remedinhos para diminuir a carga de trabalho e aliviar o estresse.
        Todos nós sabemos que não adianta falar com o chefe que não você não foi talhado para a sublime ocupação que é o atendimento ao público.  Gerentes costumam ser muito solidários com nossas dificuldades, lamentam nossa sorte, porém, nunca se sentem na condição de alterá-la dando, em troca de nossas solicitações de remoção  e lamentos, inúteis sorrisos complacentes.
        Também é de conhecimento geral que não podemos nem devemos tratar mal um segurado, precisamos ser sempre gentis e polidos ainda que a recíproca não seja equivalente.
        Igualmente, não há a possibilidade de restringir o número de atendimentos de uma agência, dificultar a entrada de pessoas, solicitar silencio ou esperar ser respeitado pela integridade dos segurados. Uma APS, como todos sabem, é a casa da mãe Joana, onde todos, menos os servidores, fazem o que bem entendem.
        E quanto mais se atende mais se sujeita à irritação e ao cansaço e, portanto, devemos buscar por nós mesmos soluções para nossos problemas cotidianos.
         Vou apresentar aqui três alternativas, por assim dizer, orgânicas para nos livrar do atendimento não por nosso interesse ou por demonstração de má vontade ou de falta de educação com relação ao segurado, mas por iniciativa do mesmo.
         Por apenas R$ 99,99 você pode adquirir um par de Luvas Verrugosas de minha fabricação. São luvas extra suaves, de agradável contato e invisível aparência, onde sobressaem grandes, avermelhadas e peludas verrugas, dando um aspecto bastante repulsivo e evitando aquele aperto de mão muito comum a certos ‘devogados’ que lhe perguntam o nome e lhe tomam a mão a fim de estreitar os laços de amizade que não possuem nem nunca possuirão com você. Os modelos femininos são acompanhados de um kit de unhas pintadas em cores modernas para dar um ar asqueroso fashion à sua nova aparência. E não é só isso, na compra de dois pares das Luvas Verrugosas você leva, inteiramente grátis, adesivos verrugosos para o nariz e o queixo. Esse item é muito importante também porque mexe com o  imaginário infantil não só das crianças mas também dos adultos pois o remete às histórias de bruxa que o aterrorizam na infância. E assim que o segurado, com experiência anterior, ver que foi chamado, por renovação de um azar,  por sua mesa, vai disfarçar, fingir que não é com ele, dar uma voltinha, pedir  outra senha e torcer para que não novamente chamado por você.
        Para servidores arrojados, Tia Conceição indica a Simulação Vomitória que consiste em, como bem explicita o termo, expelir substâncias alimentares na presença de algum segurado. Funciona assim: o colega deve ter junto a si um copo com sopa que  será levada à boca, discretamente, no momento da aproximação de sua vítima (escolha o “consultor previdenciário” de sua preferência) e quando ela se aproximar, puááááá, vomite tudo sobre a mesa ou, em atitude ainda mais temerária, sobre a própria pessoa. Indicamos o uso da sopa Minestrone por conter pedaços de legumes e macarrão que darão um aspecto bastante indigesto, para o caso de o cliente ter curiosidade de admirar o resultado de seu esforço. Sopa creme de cebola, com aqueles pedacinhos da erva bulbosa, costumam ter também um ar bastante autêntico. Depois o servidor poderá ainda se aproveitar desse seu mal-estar e tirar um ou dois dias de licença para tratamento de sua saúde estomacal.
            Outro meio muito eficaz de afastar segurados e, por conseguinte, livrar-se do atendimento por desistência do próprio é o uso dos Tabletes Arrotivos Dona Conceição. Nossos tabletes, feitos com matéria prima importada, provocam gases pútridos que, expelidos, exalam um ar nauseabundo, em cuja área de atuação abre uma clareira na agência lotada, deixando lugares vagos onde ninguém mais há de querer sentar. Imagine, então, aproximar-se da mesa exalante. Cada arroto garante uma sequência de quinze senhas ‘não compareceu’. Um método infalível de esvaziar a APS. O único efeito colateral é que o servidor usuário e seus colegas da vizinhança também serão atingidos pelo aroma asfixiante, mas não deixa de ser um pequeno incômodo que evita outro maior. Os Tabletes Arrotivos são oferecidos em três exclusivas fragrâncias: carniça, esgoto e chorume. Peça já o seu.           



sexta-feira, 2 de agosto de 2013

INSSaNews
Entrevista Exclusiva com o novo Ministro


O INSSaNews tem a grata satisfação de entrevistar em primeira mão o ocupante do mais  recente ministério criado para resolver os problemas nacionais. O norte-coreano Nu Sen Sunga, importado especialmente para ocupar o cargo de Ministro de Importação de Recursos Humanos, através de seu intérprete iraniano, gentilmente respondeu aos questionamentos deste jornal.
INSSaNews: Quanto à vinda dos médicos cubanos para atuarem no Brasil, o senhor não teme que eles, quem têm em seus cursos de medicina mais aulas teóricas do que práticas, não estejam suficientemente preparados para o trabalho aqui no país?
Nu Sen Sunga: Os médicos não precisam estar preparados; quem tem que se preparar é o povo...
INSSaNews: É verdade que os médicos cubanos irão atuar também como peritos do INSS?
Nu Sen Sunga: Vão substituir todos eles... Esse bando de gente má que nega benefício só porque paralítico anda e cego enxerga.
INSSaNews: Então esse tipo de artifício não é inadmissível?
Nu Sen Sunga: Devemos sempre avaliar o contexto da situação; ninguém pede um benefício sem ter necessidade dele, mesmo que essa necessidade não seja explicitada de modo ortodoxo. Às vezes o segurado tem trabalhado muito e necessita de um descanso extra, outras vezes sofre de preguiça crônica, males estes que não devem ser desprezados, como frequentemente acontece.
INSSaNews: Compreendo... Mas, o que farão os peritos desalojados do seu cargo?
O Ministro Nu Sen Sunga


Nu Sen Sunga: Revalidarão seus diplomas após um extenso curso de espanhol. De agora em diante, todas as consultas médicas deverão ser feitas na língua de Fidel.
INSSaNews: Não seria mais fácil o contrário, que os cubanos, estando em minoria, aprendessem o português?
Nu Sen Sunga: De modo algum. Não admitiremos discriminação idiomática de espécie alguma.
INSSaNews: O senhor não teme que a barreira linguística assuste a clientela que poderá deixar de procurar ajuda médica com temor de não conseguir se fazer entender nem de compreender o que lhe for dito?
Nu Sen Sunga: O importante é darmos conta da demanda; se ela diminuir, tanto melhor.
INSSaNews:  Além da saúde que outras áreas  poderão se beneficiar da importação de recursos humanos?
Nu Sen Sunga: Iremos importar dez mil professores primários vanuatenses
a fim de incrementar o “Programa Segunda Língua”, já que as crianças brasileiras, ainda não se descobriu o porquê, têm dificuldade de ser alfabetizadas. E achamos de extrema importância dar uma alternativa idiomática relevante e de fácil aprendizagem como o ensino do bislama.
Com relação aos transportes, iremos importar três milhões de condutores de riquixá indianos. É o melhor meio de transporte para as cidades grandes, não poluente, muscularmente saudável, muito eficiente e reconhecidamente  econômico.
INSSaNews: O senhor poderia resumir, em uma frase, a importância de sua pasta?
Nu Sen Sunga: “Importar é o que importa; não importa o quê nem para  quê”.