sábado, 28 de novembro de 2015

TÉCNICAS DE SOBREVIVÊNCIA EM APS – A DRA. CONCEIÇÃO



Dona Conceição,  acaba de ser promovida a perita médica do INSS e isso sem ter que passar por aquelas medonhas aulas de anatomia, ser precisar remexer  indigentes e fedorentas entranhas, sem saber para que servem aqueles remédios de nome  esquisito,  nem queimar as pestanas por longos anos de graduação ou fazer residência em hospital público e sem saber distinguir um músculo de um nervo, tudo graças a uma nova resolução do INSS. Então, do alto de seu novo e elevado posto, muito orgulhosa de seu jaleco branco sobre burca preta, parecendo um pinguim com as cores invertidas, resolveu brindar seus colegas igualmente promovidos, com algumas dicas pertinentes ao exercício da nobre atividade de fazer perícias sem entender absolutamente nada de medicina.
A primeira dica é não se precipitar e ir dando de cara  para o segurado mais do que um dia de licença de cada vez. Assim o perito-administrativo não incorrerá em erro e o segurado terá que apresentar diariamente um novo laudo a fim de manter o benefício por mais tempo. Esse expediente tem diversas vantagens, evidentemente, nenhuma para o segurado. A primeira é que ele logo se cansará de suas idas e vindas à agência, e retornará mais brevemente ao trabalho, resultando em boa economia para o Estado, ajudando a equilibrar as contas da Previdência. Outra vantagem é o segurado valorizar os verdadeiros peritos médicos reconhecendo que pelo menos eles não eram tão assim tão mãos-de-vaca como achavam antes, pois costumavam lhes dar um licença um pouca mais longa do que as diárias atuais. Outra vantagem é aquele  segurado revoltado querer resolver tudo judicialmente, o que aliviará a demanda da APS.
Outra dica importante é não aceitar laudo que contenha alguma palavra incompreensível no meio daqueles garranchos habituais, o que inviabilizará a conclusão 98% das perícias. Também devem ser rejeitados todos os laudos cujo significado seja incompreensível por escrito no indecifrável dialeto médico; deve-se exigir que seja traduzido para o idioma dos leigos ou rejeitados peremptoriamente. A segunda alternativa é a mais recomendada porque resultará na redução de 100%  das solicitações.
É interessante também manter à vista das vítimas, ou melhor, dos segurados, uma seringa de grosso calibre e bem comprida agulha para desestimular o interesse na prorrogação do beneficio. Uma mordaça e uma camisa de força também são eficientes objetos para acalmar os solicitantes mais exaltados.
Por fim, uma vez que os peritos ficaram aliviados dessa tarefa, devemos negociar a troca da análise e concessão das aposentadorias. Aos peritos-administrativos caberão as aposentadorias por invalidez enquanto os médicos peritos ficarão encarregados das aposentadorias por idade e por tempo de contribuição, inclusive as dos próprios colegas de profissão, cheias de vínculos e múltiplas atividades.