Hoje
falaremos sobre o tema polêmico e tristemente dinâmico que é o conjunto de metas a que estamos submetidos no interesse
de conservar o salário intacto e o turno estendido em vigor e, de quebra,
manter a inssanidade em níveis
administráveis.
Também
conhecidas sugestivamente como “mertas”, uma composição do nome original com
algo que não cheira nada bem, compreendem uma reunião de objetivos mais ou menos inalcançáveis que tendem a se
tornar cada vez mais rígidas, até a
total inacessibilidade.
A finalidade
declarada de todo esse procedimento é a melhoria do atendimento à população, pois
as agências passaram a ficar abertas durante mais tempo, embora tendo como
contraponto a duração da jornada de trabalho dos servidores que foi reduzida em
duas horas. Um pouco ortodoxo cálculo matemático cujo resultado prático mais
visível é o fato de que o segurado passou a ter que acordar uma hora mais cedo para
ser o primeiro da fila que se forma à espera da abertura da APS, prazer este reservado
a muitos aposentados que fazem de sua ida ao INSS um dos preferidos exercícios
matinais.
Sabe-se,
entretanto, que tais metas têm como objetivo primordial a impossibilidade de
serem atingidas e costumam ser elaboradas em sádicos grupos de trabalho
especialmente formados para este fim. Primeiramente criam parâmetros
aleatoriamente e se exige que deles se aproxime a produção das agências.
Alcançado, com grande esforço, o efeito
desejado, já se mudam os padrões e aumentam as exigências, de modo que o
servidor sinta-se sempre esmagado por um
torniquete virtual, a fim de produzir cada vez mais, a despeito de todas as
dificuldades.
O que, a princípio, parece ilógico é fruto, no
entanto, de um aprofundado e requintado estudo da alma humana e que pretende
avaliar o grau de submissão a que pode chegar um inssano, até que ponto ele se resigna a fazer qualquer coisa para
manter o salário que lhe é devido e a carga horária reduzida que antes de lhe
ser tomada, lhe era de direito e que, ao ser parcialmente devolvida, vive sob constante
ameaça.
O principal
braço operacional desta permanente tortura é a Dataprev com seus inconstantes,
inoperantes e cada vez mais numerosos sistemas que nos trazem uma nostalgia dos
tempos anteriores à informatização, já que não era possível manipular
remotamente uma caneta.
Um dos divertimentos
prediletos da maquiavélica instituição acima citada consiste na alternância de
funcionamento de sistemas; quando uns funcionam, outros estão instáveis, ou, em
linguagem clara e direta, inoperantes. Quando alguns voltam a funcionar, os
outros caem. Essa é uma excelente forma de inviabilizar ou, pelo menos,
retardar bastante, o atendimento dos agendamentos de benefícios e levar o
servidor ao desespero por ver o cumprimento das metas perigando, pois,
evidentemente, atrasos e deficiências alheios à vontade e à competência do
trabalhador não são levados em consideração. Outra estratégia muito divertida
são aqueles variados erros no processamento da folha de pagamento que fazem
triplicar a demanda espontânea normal da agência.
Só resta ao
servidor, portanto, já que não tem como acompanhar a evolução alucinante das
metas, tentar agilizar, como pode, o atendimento e estabelecer procedimentos criativos de modo a
diminuir a demanda. Aconselha-se o uso da hipnose condicionativa para convencer
o segurado de que ele não precisa retornar à agência para pegar o ‘papel pra
viagem’ nos próximos dez anos a menos que, de fato, vá ele viajar. Um bom
resultado também se obtém com o uso de pó-de-mico concentrado que, polvilhado
diariamente nas cadeiras, diminui muito o número de segurados na agência uma
vez que muitas pessoas passam a ter necessidades mais prementes do que esperar pelo
atendimento.
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para informar que não endossamos o uso da Solução Sono Eterno dos Laboratórios
Conceição & Co., utilizável na água do bebedouro, devido a seus efeitos
colaterais irreversíveis.