Inaugurado em 2009, o sistema prisional SISREF (SIStema de Repressão a Escapulidas e Fugas), possui dois tipos de regime: o semi-aberto, para aqueles que podem ir para casa para dormir, e o regime totalmente aberto, para o que podem cumprir pena em total liberdade.
O primeiro tipo é também conhecido como SIStema Reforçado de Encarceramento Feroz, do qual daremos o como exemplo, altamente ilustrativo, um dia de trabalho da vítima desta espécie de cativeiro:
Oito horas. Chega bufando o colega servidor, marca o ponto, a porta se abre, segue-se a invasão dos segurados, mal tem tempo de se abanar e recuperar o fôlego, chama o primeiro, Auxílio Reclusão, que coincidência, pensa estar falando com um dependente de seu colega de infortúnio, - Quem está preso? – Eu! - Como assim, fugiu da cadeia? – Estou de Habeas Corpus – O Auxilio Reclusão é um benefício apenas para os dependentes do encarcerado, se o senhor retornar à prisão, sua esposa e filhos menores podem requerer o benefício, caso o senhor possua qualidade de segurado. – Não tenho família – Ok, então também não terá também beneficiários – Tudo bem, mas, e os atrasados? – Que atrasados? – Do tempo em que estive preso; não pude trabalhar nesse período... Próximo. Pensão por morte, a pobre viúva vem na excelente companhia de uma prima em terceiro grau que fica o tempo todo fazendo perguntas sobre aposentadoria, quanto tempo um homem precisa para se aposentar, e uma mulher, e a proporcional, como é que é isso, e por idade, quanto tempo, quantos anos, e o camarada ali, corrigindo cadastro, colhendo informações, habilitando uma aposentadoria, aposentadoria? Titica! Vai ter que começar tudo outra vez ou vai acabar aposentando a prima de terceiro grau que veio acompanhar a viúva em seu pedido de pensão. Próximo, Salário Maternidade, o filho nasceu há três anos, quando a requerente estava empregada e na época recebeu o benefício pela empresa, requer outro agora, pois ouviu dizer que. como desempregada, teria direito também...próximo, próximo, próximo... o estômago badala as doze horas, São SISREF dos Encarcerados (Santo dos Injustiçados, Sofredores, Reprimidos, Excluídos e Famintos) lhe concede a graça de sessenta minutos de liberdade vigiada. Ele corre para o restaurante a quilo, três metros de fila para se encontrar com a comida, quinze minutos de espera, quarenta e cinco lhe restam de liberdade, engole o almoço, fila do banco, fila da farmácia, SISREF. Senta pensando em formatar aqueles processos da manhã mas pedem para ajudar a distribuir senhas pois a fila está maior que a do restaurante, banco e farmácia juntos. Próximo, próximo, aproxima-se um cadeirante: - Me dá uma senha de prioridade pois não posso ficar muito tempo sentado. - !!!! Próximo - Você me deu uma senha errada, eu não sou aposentada, sou pensionista! – Como assim, errada? - Olha aqui na senha, APS – aposentada – Não, senhora, APS significa Agência da Previdência Social !!!!. próximo, próximo, fecha a agência, finalmente! Vai descansar? Que nada, ainda tem 50 segurados à espera de um atendimento, próximo, próximo, - Aqui vende pino de geladeira? - !!!! próximo, próximo, dezessete horas, enfim, liberdade! Ainda que condicional.
Se o leitor, após acompanhar a árdua empreitada diária de um peão da previdência, ainda não estiver exausto para prosseguir, poderá conhecer o outro tipo de regime oferecido pelo SISREF (SIStema de Reuniões, Encontros e Festejos ), muito apreciado pelos apenados de alta hierarquia...ou de andares mais altos...
Oito horas, excepcionalmente, pára o carro em fila dupla, marca o ponto, volta para o carro, procura estacionamento, faz compras no supermercado, vai tomar café na padaria, encontra os colegas de trabalho batendo papo, participa, nove e trinta ainda, compra o jornal, encontra um colega que deu uma fujidinha para fumar mas tem que comprar primeiro o cigarro, acompanha-o de volta à padaria, a hora não passa, resolve ir trabalhar, senta à mesa, abre o jornal, inteira-se das notícias, são sempre as mesmas, boceja, pestaneja, ZZZZZZZZZZZZZZZZZZ, onze e quarenta e cinco, quase perde a hora do almoço, encontra a patroa, almoça feijoada, entra em lojas, carrega sacolas e embrulhos, coloca tudo no carro, duas e meia, volta ao trabalho com a soneca nas pálpebras, marca a saída para o almoço, senta diante de um processo ZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZ acorda sobressaltado, parabéns pra você, a colega faz aniversário, quase perde a hora, marca a volta do almoço, come bolo, três e quarenta e cinco, tem dentista às quatro, encarrega um colega de marcar para ele o fim do expediente e se manda pois já está quase na hora da consulta.
O leitor leigo, ao fim da narrativa, evidentemente estará curioso por saber qual o motivo ou os motivos que levam a tão disparatada diferença entre os castigos impostos. Quanto a isso, deixamos que os leitores mais informados e experientes confrontem suas conclusões contribuindo com comentários para o sucesso deste capítulo interativo.