Um dos
pontos mais críticos da reforma da previdência que pretende levar a
aposentadoria para a todos os felizardos cidadãos que alcançaram a provecta
idade de 85 anos, é o que fazer com a massa inútil e privilegiada dos
servidores do INSS que ficarão, mais do que já estão, sem utilidade alguma, já
que quase não terão processos a analisar, tampouco segurados a atender, uma vez
que a foice da morte surpreenderá muitos dos jovens da quarta idade antes mesmo
de eles se candidatarem ao benefício.
É certo
que, com o fim da mamata, os servidores federais também irão se aposentar na
mesma idade, e aí surgirá a dificuldade de relacionamento entre servidor e
segurado, acometidos, ambos, com as doenças resultantes da idade avançada; um surdo e o outro com demência senil; um de
andador e o outro com fraldas geriátricas. Imaginemos um servidor, de 84 anos, prestes
a se aposentar, com Parkinson em estado avançado, recebendo repetidamente o
mesmo pedido de habilitação de pensão de um advogado de 103 anos, com Alzheimer.
É praticamente um atendimento para o resto da vida.
Evidentemente
o socorro virá de jovens estagiários de quarenta e poucos anos, iniciando sua promissora
carreira, sem pressa alguma, já que não haverá motivos para muita correria. Caberá
a eles fazer a prova de vida dos segurados que os bancos, gentilmente, estão delegando
para as APS. Logicamente não será de bom alvitre, depois de esperar pelo
atendimento durante algumas horas, enviar o ancião para a fila do banco. Por
isso, o INSS também começará a pagar os pecados, ou melhor, os benefícios previdenciários.
Porém, na busca de uma previdência superavitária, o dinheiro não pode só sair,
deverá ter uma contrapartida. É então que passaremos a receber o pagamento dos
carnês de contribuição. Já com a mão na massa, por que não fazer um extra,
recebendo contas de luz, gás, água, telefone, IPTU, IPVA, taxa de incêndio, contas
de TV e internet, carnês da casas Bahia? Além disso, será instituída a loteria
previdenciária, onde o cidadão poderá escolher cinco números, de 80 a 120. O sortudo
que acertar todos os números, será contemplado com a diminuição de 5 anos na
idade mínima para a aposentadoria.
Outra fonte
de renda para suprir as necessidades superavitárias, vai ser a instalação, em
cada APS, de uma lan house própria, onde os segurados poderão emitir o CNIS e
demais extratos, por 25 reais a página. Precinho camarada para arrasar a
concorrência.
Logicamente, com tanta dificuldade para se
aposentar por idade, o segurado vai tentar a via da aposentadoria por
invalidez. Nem sempre honestamente, como já ocorre nos dias atuais. Para impedir
um prejuízo maior, cada agência do INSS contará com uma loja de produtos
hospitalares, onde o segurado poderá comprar ou alugar, no setor de
transportes, bengalas, muletas, andadores, cadeiras de rodas e macas. Além, evidentemente,
de apetrechos para curativos, como bandagens, gaze, gesso, imobilizadores em
geral e tudo o mais que seja necessário para uma convincente mise-en-scène. Quem quiser um trabalho
mais elaborado e para pessoas de estômago forte, serão oferecidos pedaços de
carne putrefata para simular uma ferida incurável. Os mais sofisticados poderão
utilizar o atelier de tatuagem de onde o segurado emergirá com uma expressiva gangrena.
Todos os produtos, evidentemente, superfaturados, para compensar o possível prejuízo
de um longo auxílio doença.
E o que fazer por aquela
senhorinha arrependida que recebe um BPC que agora pretende trocar pela pensão
do marido recém-falecido? Nada melhor do que um confessionário virtual que ouve
a confissão da pecadora, dá a penitência, emite o boleto de pagamento e faz a
remissão dos pecados, tudo em menos de 15 minutos.
Depois de todas essas
novidades chegamos à conclusão do quão bom era quando a reforma da previdência
ocorria só quando o teto desabava ou quando uma parede caía. Mas, como diria Dona
Conceição: “Tudo na vida muda, menos o nosso contracheque.”