sexta-feira, 12 de abril de 2019

TÉCNICAS DE SOBREVIVÊNCIA EM APS – A REFORMA DA PREVIDÊNCIA


Um dos pontos mais críticos da reforma da previdência que pretende levar a aposentadoria para a todos os felizardos cidadãos que alcançaram a provecta idade de 85 anos, é o que fazer com a massa inútil e privilegiada dos servidores do INSS que ficarão, mais do que já estão, sem utilidade alguma, já que quase não terão processos a analisar, tampouco segurados a atender, uma vez que a foice da morte surpreenderá muitos dos jovens da quarta idade antes mesmo de eles se candidatarem ao benefício.
É certo que, com o fim da mamata, os servidores federais também irão se aposentar na mesma idade, e aí surgirá a dificuldade de relacionamento entre servidor e segurado, acometidos, ambos, com as doenças resultantes da idade avançada;  um surdo e o outro com demência senil; um de andador e o outro com fraldas geriátricas. Imaginemos um servidor, de 84 anos, prestes a se aposentar, com Parkinson em estado avançado, recebendo repetidamente o mesmo pedido de habilitação de pensão de um advogado de 103 anos, com Alzheimer. É praticamente um atendimento para o resto da vida.
Evidentemente o socorro virá de jovens estagiários de quarenta e poucos anos, iniciando sua promissora carreira, sem pressa alguma, já que não haverá motivos para muita correria. Caberá a eles fazer a prova de vida dos segurados que os bancos, gentilmente, estão delegando para as APS. Logicamente não será de bom alvitre, depois de esperar pelo atendimento durante algumas horas, enviar o ancião para a fila do banco. Por isso, o INSS também começará a pagar os pecados, ou melhor, os benefícios previdenciários. Porém, na busca de uma previdência superavitária, o dinheiro não pode só sair, deverá ter uma contrapartida. É então que passaremos a receber o pagamento dos carnês de contribuição. Já com a mão na massa, por que não fazer um extra, recebendo contas de luz, gás, água, telefone, IPTU, IPVA, taxa de incêndio, contas de TV e internet, carnês da casas Bahia? Além disso, será instituída a loteria previdenciária, onde o cidadão poderá escolher cinco números, de 80 a 120. O sortudo que acertar todos os números, será contemplado com a diminuição de 5 anos na idade mínima para a aposentadoria.
Outra fonte de renda para suprir as necessidades superavitárias, vai ser a instalação, em cada APS, de uma lan house própria, onde os segurados poderão emitir o CNIS e demais extratos, por 25 reais a página. Precinho camarada para arrasar a concorrência.
Logicamente, com tanta dificuldade para se aposentar por idade, o segurado vai tentar a via da aposentadoria por invalidez. Nem sempre honestamente, como já ocorre nos dias atuais. Para impedir um prejuízo maior, cada agência do INSS contará com uma loja de produtos hospitalares, onde o segurado poderá comprar ou alugar, no setor de transportes, bengalas, muletas, andadores, cadeiras de rodas e macas. Além, evidentemente, de apetrechos para curativos, como bandagens, gaze, gesso, imobilizadores em geral e tudo o mais que seja necessário para uma convincente mise-en-scène. Quem quiser um trabalho mais elaborado e para pessoas de estômago forte, serão oferecidos pedaços de carne putrefata para simular uma ferida incurável. Os mais sofisticados poderão utilizar o atelier de tatuagem de onde o segurado emergirá com uma expressiva gangrena. Todos os produtos, evidentemente, superfaturados, para compensar o possível prejuízo de um longo auxílio doença.
E o que fazer por aquela senhorinha arrependida que recebe um BPC que agora pretende trocar pela pensão do marido recém-falecido? Nada melhor do que um confessionário virtual que ouve a confissão da pecadora, dá a penitência, emite o boleto de pagamento e faz a remissão dos pecados, tudo em menos de 15 minutos.
Depois de todas essas novidades chegamos à conclusão do quão bom era quando a reforma da previdência ocorria só quando o teto desabava ou quando uma parede caía. Mas, como diria Dona Conceição: “Tudo na vida muda, menos o nosso contracheque.”