sábado, 25 de junho de 2011

TÉCNICAS DE SOBREVIVÊNCIA EM APS – LIGUE JÁ!


Cansado de ser o responsável por manter os 80 pontos da GDASS de toda a gerência? Cansado de levar bronca para produzir cada vez mais com sistemas cada vez mais instáveis? Cansado de fazer pajelança para que o computador funcione? Seus problemas acabaram! Para isso foi criado o PAB (Programa de Aceleração de Benefícios), um sistema cooperativo entre servidor e segurado.
Conheça o PAB: Trata-se de um método bastante simples e muito eficiente para a habilitação e concessão dos variados benefícios oferecidos pela autarquia e contará com a participação de todos aqueles segurados a partir da terceira tentativa frustrada de obtenção de um benefício.
Veja como funciona: Para fazer mais uma insensata e inútil tentativa, o segurado deverá matricular-se no Curso de Habilitação e Formatação de Benefícios com duração de dois meses, com carga horária de 40 horas semanais, acumulando excepcional conhecimento que enriquecerá sobremaneira o seu currículo previdenciário. Ao fim do curso ele receberá, inteiramente grátis, o título honorário de segurado-padrão. E não é só isso, além do título honorário ele  será agraciado com o prêmio Servidor por um dia. E não é só isso, além de receber título honorário  e o prêmio de Servidor por um dia, ele receberá também, inteiramente grátis, uma senha para aplicar os conhecimentos adquiridos ao longo do curso. Ele poderá passar um dia inteiro fazendo CNISVR em processos de aposentadoria represados e habilitar e indeferir o próprio benefício e poderá repetir isso quantas vezes desejar, bastando apenas, reinscrever-se no curso.
Também podem participar os consultores previdenciários, evidentemente, passando por todo o processo acima descrito para cada benefício que deseje habilitar.
Basta ligar para 135 e agendar o seu Curso de Habilitação e Formatação de Benefícios. Seja um de nossos colaboradores. Não espere mais! Não perca essa incrível oportunidade! Ligue já!

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sexta-feira, 17 de junho de 2011

TÉCNICAS DE SOBREVIVÊNCIA EM APS – A SOBRANCELHA


Em meio a uma alta densidade demográfica de segurados que aguardavam atendimento, a voz mais elevada se destacava gritando repetidamente “só matano mermo mermão!”. Dona Conceição, que acabara de retornar do almoço, olhou para a multidão tentando descobrir o autor da aliterada oração, aqui no sentido gramatical e não no devocional, a fim de facilitar o entendimento daquelas três últimas palavras da frase de quatro, e que não constavam de seu ultrapassado léxico, porém, que já devem estar presentes nas atualíssimas cartilhas do MEC.
Ainda sem entender o significado da locução, chamou o próximo, com uma inquietante intuição de que seria brindada com a aquela vociferante prenda. Não deu outra. Seu Jorge, já grande e pesado por natureza, se aproximava imprimindo agressividade a cada passo, fazendo tremer o mouse que, desta forma, parecia assustado por tão ameaçadora presença. Ele, para se sentar, puxou a cadeira com tamanha violência que ela balançou para trás, com o impulso,  quase atingindo um cidadão que estava sentado nas proximidades. Dona Conceição não estava gostando nem um pouco desse  violento preâmbulo mas afivelou sou mais cordial sorriso amarelo, e disse, quase amável:
- Boa tarde, Seu Jorge, o senhor veio dar entrada na sua aposentadoria?
- Vim, dona, e, dessa vez, eu me aposento de qualquer maneira, senão a coisa vai ficar muito feia pro seu lado.
A sobrancelha esquerda de Dona Conceição ergueu-se interrogativamente. É necessário que se faça aqui um parêntese para explicar o funcionamento da sobrancelha esquerda de Dona Conceição. Calejada por décadas de atendimento, a servidora adquirira uma expressão facial neutra que não deixava transparecer sentimentos que ela julgava que poderiam ser prejudicais à sua tarefa, como desagrado, desaprovação, tensão ou medo. Ou era espontaneamente gentil e simpática, ou, em casos extremos, como o de agora, mantinha-se indiferente. O único senão era a indomável sobrancelha que parecia ter personalidade própria, erguendo-se a cada sobressalto, feito um marcador de nível.
- Ah, o senhor já deu entrada antes?
- Três vezes!
Três vezes só este ano, confirmou Dona Conceição ao ver o histórico do cidadão. E ainda estamos em junho. Mais duas vezes ano passado, mais outra no anterior, num total de seis tentativas. Tinha razão em estar revoltado. A menos que não tivesse tempo de contribuição suficiente para se aposentar, como, por coincidência, era o caso, conforme se certificou ao examinar o último pedido negado. O segurado tinha 49 anos de idade, 25 de contribuição e uma dúzia de PPPs não enquadrados. Precisava de 35 anos redondinhos de contribuição já que não tinha idade para a proporcional. Dona Conceição respirou fundo e começou a explicar que os PPPs não tinham sido enquadrados, que ele precisava....foi interrompida...
- Dona, eu trabalho desde os onze anos, dou duro há mais de quarenta  ( há aí um erro de cálculo,  pensou Dona Conceição) e agora vocês vêm me dizer que eu não tenho direito de me aposentar?! – começou a esmurrar a mesa, com aparente intenção de socar algo mais macio, como, por exemplo, as rechonchudas bochechas de Dona Conceição. A sobrancelha esquerda sinalizou o temor erguendo-se mais um pouco. Ela se calou e pôs-se a habilitar o benefício. Ele continuou a falar em voz alta e ameaçadora, respingando perdigotos sobre a mesa.
- Eca! Que nojo! – e a sobrancelha elevou-se mais um pouco.
O silêncio e a aparente tranqüilidade da servidora apenas serviram para alterar ainda mais o irritado requerente.
-896=fhc a dona aí não vai falar nada? Vai ficar com essa  eiagçcb
de cara de  eiagçcb - gritava ainda  quando  se levantou, arrancou o monitor da frente de Dona Conceição e o lançou ao chão.
A sobrancelha de Dona Conceição alcançou um patamar nunca antes atingido, subiu tanto que levou consigo o olho e entortou a boca, fazendo seu rosto lembrar uma obra de arte cubista e ela, em total silêncio, erigiu  impropérios e citou todos os palavrões conhecidos e os ainda por inventar, por minutos odiou aquele ser com toda a liberdade de seu espírito e recompensada o viu ser levado para longe de sua presença. Depois teve um momento de arrependimento durante o qual se perguntou se tinha infringido algum artigo do Código de Ética do Servidor Público com as suas palavras, com o seu silêncio ou com o conjunto de sua atitude. Tranqüilizou-se ao certificar-se que não e que os seus sentimentos, provocados pelo procedimento do segurado, embora negativos  eram naturais e permitidos, pois, a dita legislação, que normatiza a conduta do servidor, determina apenas como ele deve agir e não regulamenta suas emoções e sensações pontuais. Aliviada, deixou escapar um alto e sonoro palavrão que, por sorte, ninguém prestou atenção e ficou a cismar se não era já tempo de se elaborar um Código de Ética do Cidadão Segurado...

sexta-feira, 10 de junho de 2011

TÉCNICAS DE SOBREVIVÊNCIA EM APS – SEGUNDA-FEIRA

Para Dona Conceição, bem como para a maioria dos trabalhadores, a semana se divide em quatro aborrecidas segundas-feiras e uma auspiciosa sexta-feira, prenúncio de um promissor fim de semana. E foi numa segunda-feira de muita chuva que Dona Conceição, sonhando em comprar um carro, tentava achar uma vaga para estacionar o seu velho fusca. Pegar ônibus num dia desses, nem pensar, e lá vai ela, procurando uma vaguinha para economizar no estacionamento. E lá vai ela, vai indo, atenta ao trânsito, cada vez mais distante de seu objetivo principal. Pronto, finalmente, encontra um espaço que, com boa vontade e um tanto de perícia, pode ser considerado uma vaga; esbarra no carro da frente, bate no de trás, enfim, estacionada!
- Onde estou? - perguntou-se ela, olhando para todos os lados, tentando se orientar em meio a tantos guarda-chuvas. Em que direção ficava a APS?
- Ó céus! – gritou quando se deu conta de onde se encontrava. Olhou o relógio e correu para o ponto de ônibus mais próximo. Estava a uns quinze quilômetros de seu local de trabalho. Vir de carro acabou por não a livrar de tomar um ônibus. Lotado, claro.
Depois de quarenta e cinco minutos de aperto, quando tentava marcar o ponto sem ser notada, o chefe, que tudo vê, pois é essa a sua função e não outra, assim a cumprimentou, sem disfarçar a ironia:
- Boa tarde, Dona Conceição – e não eram nem dez horas de manhã...
- Engraçado - pensou ela – quando fico até mais tarde trabalhando ou detida por alguma reunião de última hora, ninguém me dá boa noite...
A pontualidade tem dessas inconvenientes sutilezas.
                                       
                                                         
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 - Bom dia, Dona Felicidade! A senhora veio dar entrada na aposentadoria?
 - Não sei. – respondeu Dona Felicidade, com voz lamuriosa.
 - Foi isso que a senhora agendou. Ou a senhora quer saber apenas quanto tempo de contribuição tem?
 - É, vê pra mim... eu ando tão cansada, acho que estou doente, deve ser  a idade. – lamentou-se ela, enquanto colocava sobre a mesa umas carteiras profissionais antigas e uma meia dúzia de carnês recentes. Dona Conceição analisou aquele material antigo, uma dúzia de vínculos  a serem incluídos no sistema, avaliou que talvez tivesse tempo suficiente para aposentá-la.
- Vamos dar entrada, quem sabe se a senhora já tem tempo para se aposentar.
- A senhora não tem certeza?
- No momento, não, mas, à tarde, eu vou poder ver isso com calma.
- Ah! – suspirou a infeliz Dona Felicidade - E eu vou ter que continuar pagando o carnê?
- A senhora espera a resposta que talvez não precise pagar mais. Já pagou esse mês, pode aguardar até dia 15 do próximo mês. Até lá a senhora já vai ter a resposta.
- Eu gosto de deixar para pagar no último dia. Eu tenho medo de ficar doente e não pagar. – E começou a desfiar um rosário de mazelas e infortúnios.
Dona Conceição, que já estava ficando deprimida de tanto ouvir as lamúrias da segurada, decidiu finalizar o processo durante o atendimento, apesar de já ter outros agendamentos à espera. Queria minimizar a distância entre o nome e o ânimo de Dona Felicidade. Enquanto a outra lastimava excessivos e provavelmente inexistentes dramas, ela analisou detidamente a carteira, incluiu os vínculos no sistema, conferiu as datas, conferiu novamente, conferiu a contagem do tempo, não confiava muito nas informações do Prisma, deu tempo! Concedido!
- Dona Felicidade, a senhora está aposentada! – disse Dona Conceição satisfeita em dar a boa notícia.
- Estou? – perguntou incrédula e um tanto decepcionada Dona Felicidade.
- Está! – respondeu Dona Conceição, confusa com o desânimo da segurada. Estaria em estado de choque?  Que mulher complicada. O que mais poderia fazer para contentá-la? – pensava a servidora.
 – Bom, agora vou fazer uma cópia de suas carteiras e já volto.
Ao voltar encontrou a segurada ainda mais angustiada que antes.
- Eu vou perder a minha pensão?
- Ah, é isso que está preocupando a senhora? Claro que não. Fique tranqüila.
- Tenho que continuar pagando o carnê?
- Também, não. Agora a senhora está aposentada. Nada de pagar mais, agora é só aproveitar o que a senhora batalhou para conseguir.
- Mas se eu parar de pagar e ficar doente, vou poder ficar de auxílio doença?
- A senhora, estando aposentada, não faz mais jus ao auxilio doença, nem mesmo continuando a contribuir para a Previdência. – esclareceu Dona Conceição.
- Então eu acho que vou esperar mais um pouco para me aposentar, posso?
- Pode, Dona Felicidade, pode. Basta fazer, por escrito, um pedido de cancelamento do seu benefício – respondeu aborrecida, Dona Conceição. Tanto trabalho para nada!
- Então, me arranja um pedaço de papel?
Dona Conceição levantou-se para pegar o papel. Era ainda a primeira segunda-feira da semana, chovia, seu fusquinha estava a quinze quilômetros de distância e ela ainda tinha que agüentar as desventuras de Dona Felicidade.


sexta-feira, 3 de junho de 2011

TÉCNICAS DE SOBREVIVÊNCIA EM APS – OS DISFARCES DE DONA CONCEIÇÃO


Foi no verão que Dona Conceição começou a usar um chapéu de palha com abas enormes e imensos óculos escuros ao sair para almoçar e ao voltar para casa, ao fim do expediente. Andava pelas ruas com o chapéu enterrado na cabeça, como um mexicano fazendo a siesta. Quase não enxergava o quem lhe vinha de encontro nem o que ao de encontro ia; mais de uma vez dera cabeçada em poste, chutara lata de lixo e pisara em rabo de cachorro que dormia na calçada. Tinha hematomas a lhe atestarem a dificuldades de comunicação entre os pés e o caminho mas não abandonava os acessórios. Só quando vieram o inverno e a chuva é que os colegas de Dona Conceição começaram a se preocupar com aquele excesso de proteção solar. Interpelada, ela explicou que era por causa de Seu Sebastião, cuja aposentadoria por idade fora por ela indeferida e, ele, que não se conformava com o fato, entrara com recurso e agora vinha todos os dias à agência a exigir uma resposta que não dependia dela e a cobrar direitos que não possuía.
Não suportando mais tanto assédio Dona Conceição passou, a cada dia, a sugerir que ele direcionasse sua reclamação a um setor diferente; que se dirigisse diretamente à Junta de Recursos ou que fizesse uma queixa na Ouvidoria, finalmente opinou que ele devia se lamentar com a assistente social,  do que imediatamente se arrependeu.
Dona Lúcia, a assistente social, não era má pessoa, tinha real interesse em ajudar os segurados embora sua tarefa fosse  ajudar aqueles que não eram segurados do INSS pois seus trabalho dizia respeito aos benefícios assistenciais e não ao previdenciários; entretanto, tinha ela uma certa dificuldade de discernimento e fazia confusão entre ambos. Quando Dona Conceição a viu aproximar-se, cenho carregado e punho fechado, tentou colocar seu disfarce praiano, porém, foi pega com o chapéu na mão.
- Dona Conceição, como pôde a senhora fazer o que fez com o Seu Sebastião, um homem tão necessitado, idoso e, ainda por cima, muito doente – cobrou em voz alta e pouco social, a assistente social, levantando o punho cerrado na direção da servidora.
Dona Conceição tentou explicar que o senhor em questão tinha usufruído  18 anos de um auxílio doença que fora, findo este tempo, cessado por irregularidade e que viera agora, ao completar 65 anos, requerer a aposentadoria por idade e... Dona Lúcia a interrompeu: - Em 18 anos e ninguém regularizou o beneficiou desse pobre homem? É um total desleixo, uma incompetência imperdoável, permitir que uma pessoa tão necessitada fique à míngua por um erro de um servidor, isso é um crime.....  E ia ela continuar seu discurso sem sentido se Dona Conceição não a interrompesse bruscamente: - Irregularidade, neste caso, senhora Dona Lúcia, significa fraude. E agora o Seu Sebastião, depois de receber ilicitamente um benefício durante 18 anos, quer aproveitar esse mesmo tempo para conseguir uma aposentadoria. Porém, lícito ou não, o tempo de auxilio doença não conta para carência*, portanto o Seu Sebastião não pode se aposentar porque não tem carência.
- Como não tem carência? Uma pessoa a quem falta tudo, não é carente? Que esteve doente durante 18 anos, que nunca pôde trabalhar, que tem como sobreviver e a senhora me diz que não tem carência?
Dona Lúcia, vítima de sinuosas e erráticas conexões neuronais, ou não entendia nada  do que se dizia ou entendia tudo ao pé da letra, que é a outra forma de não entender nada.
- Mas não se preocupe, Dona Lúcia, que ele já entrou com recurso – tranqüilizou Dona Conceição, tentando encerrar a conversa.
- Recurso? E que recursos a senhora acha que ele tem para a senhora o extorquir desse jeito? A senhora ainda vai acabar na cadeia!
Dona Conceição não disse mais nada, saiu correndo e se enfurnou no banheiro. No dia seguinte estreou um disfarce diferente; subitamente convertida ao islamismo em sua vertente mais conservadora, tornou-se adepta do talibã e a passou a usar burca. Dona Lúcia, depois de alguns dias, vendo-a ali acomodada em sua mesa habitual, coberta dos pés à cabeça por aquele traje azul, olhos semi-ocultos por trás de uma tela, sentou-se ao seu lado e perguntou o seu nome. – Maria, respondeu Dona Conceição, disfarçando a voz.
- Então, Dona Maria, a senhora tem visto a Dona Conceição?
- Não- respondeu a voz adulterada.
               - Pois não é que ela sumiu? A senhora, muito provavelmente, não imagina o que a Dona Conceição tem feito a essas pobres pessoas que aqui freqüentam... – e ficou meia hora a discursar lamentos nos ouvidos de Dona Conceição.
Certo dia, Dona Conceição, estando abafada por baixo de todo aquele pano, foi para a retaguarda refrescar-se um pouco. Mal levantou a burca e entrou a insistente assistente social,  que lhe gritou:
- Finalmente a senhora resolveu aparecer! Pois saiba que,  enquanto a senhora passeia por aí, o Seu Sebastião morre de fome... – e tanto falou que Dona Conceição nem se animou a responder. Irritada, vestiu outra vez a sua burca e voltou para sua mesa. Mal sentou e lá veio Dona Lúcia, que lhe disse, em voz baixa e lamentosa:
- É, Dona Maria, a senhora é a única por aqui que me compreende...
Enquanto isso o Seu Sebastião, percorria, com olhar frustrado, os quatro cantos da agência tentando encontrar a Dona Conceição...

*não contava........blog defasado.................