Vamos agora contar a história de Fulana para ilustrar a tese de que se pode viver sem quase ter que trabalhar para se sustentar, inteiramente às expensas da Previdência Social, essa mãe que a ninguém desampara.
Nosso exemplo de hoje começou uma promissora carreira trabalhista, logo abortada, como verão, em uma loja de lingerie. Pode parecer fácil a tarefa de expor pequenas peças de roupas para uma potencial compradora, porém, trabalhar oito horas diárias era um esforço demasiado para Fulana. Logo começaram as dores lombares, a coceira no nariz, os espirros e o mal-estar, todo um quadro alérgico...ao trabalho, evidentemente. Passados doze meses ela não suportou mais as penas do emprego e começou a faltar com tanta freqüência que, por fim, foi demitida.
Desempregada, tinha diante de si um ano de qualidade de segurado o qual não queria desperdiçar sem ao menos conseguir um auxilio doença. Para tanto, marcou uma consulta a fim de conseguir um laudo médico. Entretanto, pouco experiente em assuntos clínicos, no consultório entrou mancando e saiu tossindo, tão só com uma receita de xarope na mão e nada de laudo. Foi-se, então, aconselhar-se com uma prima, profunda conhecedora dos meandros previdenciários e que já conseguira conquistar uma dezena de benefícios assistenciais para a família. Bem orientada, agendou outra consulta médica, agora com um especialista em doenças de causas ocultas, ideal para quem tem uma doença inexistente. Foi lá, queixou-se de dores por todo o corpo, privação momentânea de movimentos, cegueira noturna, falta de ar e de apetite. Lamentou-se tanto que conseguiu do médico um laudo substancioso, antes mesmo da realização de exames para a averiguação do mal que a possuía. No INSS impressionou o perito ao chegar de olhos semicerrados, respirando com dificuldade, com muito esforço andando amparada por duas pessoas de semblantes preocupados. Conseguiu dois meses de beneficio e só não conseguiu mais porque o perito, diante de tão louvável encenação, não acreditava que ela sobrevivesse além esse tempo.
Entretanto, dois meses passam muito rápido para quem recebe sem trabalhar. Retornou ao médico que lhe concedera o generoso passaporte para o auxilio doença para repetir o feito. Porém, um tanto mais lúcido na ocasião, diagnosticou-lhe apenas uma bronquite o que lhe rendeu tão somente uma semana de repouso remunerado. Ao fim do prazo retornou à perícia em uma maca, envolta da cabeça aos pés em ataduras, como se tivesse sido subtraída a uma tumba egípcia. O perito, que nunca antes presenciara uma bronquite evoluir com tamanha rapidez e malignidade, desconfiou; como resultado, indeferiu o pedido de prorrogação.
Fulana ainda tentou, sem sucesso, mais umas cinco ou seis perícias até que sua prima, expert em benefícios previdenciários, lhe sugeriu uma gravidez urgente, antes que findasse o período de graça, o que lhe proporcionaria quatro meses de salário maternidade. Dito e feito, engravidou e acabou por se casar com Beltrano, açougueiro do bairro e pai da criança. Ele era um bom homem, não fosse ciumento; ela, uma boa esposa, não fosse assanhada. Uma combinação da qual, convenhamos, não se espera bons frutos. Passado algum tempo, o salário maternidade prestes a findar, aconteceu o que se supunha inevitável quando o marido descobriu que a mulher tinha um caso: o amante perfurado no chão e Beltrano atrás das grades.
Mas nem tudo estava perdido para Fulana que recebeu auxílio reclusão durante todos os anos em que o marido esteve encarcerado. Pouco pensava nele e só o visitava de três em três meses, quando ia à penitenciária pegar a declaração do cárcere para manter ativo o benefício. O mesmo, contudo, não acontecia ao sentenciado que, tão logo se viu livre da prisão, retornou ao lar e ao seu emprego de açougueiro, perturbando, sem o saber, a terceira união mais ou menos estável de sua esposa, então amasiada com o irmão de seu assassinado amante. O rapaz, entre o temor de perder a mulher e o desejo de vingança pela morte do irmão, justiçou o infeliz matando Beltrano. Esta situação rodrigueana, ao fim e ao cabo, não resultou de todo má para Fulana, ao contrário, a partir de então não precisou mais mendigar benefícios temporários à Previdência Social uma vez que, após tanto sacrifício, fora, enfim, premiada com um benefício permanente - a pensão por morte.
Fenomenal sou seu fã!!!
ResponderExcluirDois lados da mesma moeda :
http://www.odiarionews.net/wordpress/geral/petroleiro-acidentado-denuncia-inss/
Sugestão: tu podia ter colocado o filho do falecido pra receber a pensão e ela ainda ia receber de quebra o auxilio-reclusão do companheiro assasino. Ela ia ser só a REPRES. ehehehehehehehe.
ResponderExcluirMuito fantasioso no que tange em conseguir o benefício de auxílio-doença. Não é simples assim, só quem não tem conhecimento acha que é fácil. Tem muito segurado comprovadamente incapacitados que tem seu benefício negado sumariamente, éssa que é a verdade.
ResponderExcluirescrevendo "éssa" o robin hood mostrou que têm GRANDE CONHECIMENTO.
ResponderExcluirO blog é sensacional!
Muito bem escrito, impossível não terminar de ler! Parabéns!!!
ResponderExcluirIncapacitados periciados por incapacitados!!!!!
ResponderExcluirTeus textos são demais! Parabéns, cara!
ResponderExcluirMuito engraçado!
pimenta no c. do outro é refresco
ResponderExcluirSempre tem o lado positivo, depois de esperar 15min para o CNIS funcionar a gente só precisaria corrigir um ou dois vínculos extemporâneos!
ResponderExcluirAdorei a história.
ResponderExcluirconte uma que é muito comum:
segurado incapaz que consegue se empregar na prefeitura sem exame admissional com conchavo de algum vereador para uma função totalmente impossivel para a sua patologia e depois de completar a carência de um ano vai ao inss, e tem seu ponto (registro de frequênica completo) ...
Hobin Hood conhece muito bem "éssa" instituição! Será que ele também conhece a técnica de ir ao INSS com gesso na perna "quebrada", muletas, feliz e saltitante pedalando em sua bicicleta para se "encostar"??? Enfim, isso foi verdade e a estradinha que a tal figura percorria era a mesma em que os sevidores e peritos utilizavam para chegar a APS... Só um Hobin Hood para conseguir tal proeza!!!! Brilhante atuação, dígna dos mais belos espetáculos shakespirianos! BRAVO!!!!!
ResponderExcluirProfissão segurado! Entre já na carreira.
ResponderExcluirSensacional e verdadeiro.
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