Grupo INSSena
apresenta
Um
LOAS com Dona
Conceição
TRAGICOMÉDIA
EM UM ATO
Personagens:
Catipapi, catadora de papel, perdão, consultora
previdenciária.
Emengarda, a requerente
Dona Conceição, que dispensa apresentação.
Dona Conceição (pensando alto ao ver a senha
que chamou) : Titica, um LOAS!
Emengarda e Catipapi vêm se
aproximando, a segunda empurrando a cadeira de rodas da primeira que, além de
tudo, carrega uma bengala. Essa estranha conjunção de elementos excludentes
diante do olho clínico de Dona Conceição a faz erguer a sobrancelha esquerda em
sinal de suspeição.
Dona Conceição: Bom dia, Dona
Emengarda, a senhora veio dar entrada no LOAS?
Catipapi: Ela veio. Tá aqui o
formulário. Nós gostaríamos também de cadastrar uma procuração para eu receber
por ela.
Dona Conceição: Isso só depois
que o benefício for concedido. E vai precisar também de uma declaração do
médico dizendo que ela está lúcida e com dificuldade de locomoção.
Catipapi: Ah, ela tem muita
dificuldade.
Dona Conceição: Não duvido.
Precisa até de bengala para andar de cadeira de rodas. Dona Emengarda, me
empreste sua identidade e CPF.
Catipapi: Dá a identidade e o
CPF pra moça.
Dona Conceição (olhando o
formulário de grupo familiar): A senhora mora sozinha?
Catipapi: Ela mora, coitadinha. Por isso é que eu estou ajudando. Não vou
cobrar nada por isso.
Dona Conceição (levemente
irônica): A senhora tem um coração de ouro.
Catipapi (reforçando a boa
imagem): Faço o que posso; estou sempre ajudando os mais necessitados.
Dona Conceição: Sei... Bem,
Dona Emengarda, preciso de sua certidão de nascimento.
Catipapi: Dá a certidão pra
moça. (para Dona Conceição): Ela é casada, mas está separada do marido há mais
de 30 anos. Ele foi embora e largou a coitadinha sozinha. Tá aqui a declaração
de que ela não sabe o paradeiro dele.
Dona Emengarda entrega a certidão e permanece quase em
silêncio, o único som que emite é o estalar contínuo dos lábios, como se
estivesse ruminando a língua.
Dona Conceição: Agora preciso
do comprovante de residência.
Catipapi: Ah, a coitadinha não
tem. Ela mora por favor num quartinho emprestado.
Dona Conceição: Casa de
parente?
Catipapi: Não! É gente que ela
nem a conhece. Só ficaram com pena dela e a deixaram morar lá.
Dona Conceição (irônica): O
povo brasileiro é um exemplo de altruísmo. A senhora sabe, Dona
Catipapi, que quase todo mundo que vem dar entrada no LOAS mora num quartinho
emprestado por pessoas que mal conhecem? Mas, de qualquer maneira, vou precisar
da conta de luz do dono do terreno que cedeu o cômodo.
Catipapi: Ela não tem, a
pobrezinha.
Dona Emengarda (abandonando o
silêncio com uma vozinha fraca e rouca): Conta de luz?
Dona Conceição: É.
Catipapi: Ela não tem.
Dona Emengarda: Tenho, sim. (tirando
da bolsa): tenho esta, ó, tenho esta,
tenho esta...
Catipapi: Não, não precisa
mostrar todas. A moça só precisa de uma.
Dona Conceição (desconfiada):
Não, eu faço questão de ver todas... (se
apressa em recolhê-las a medida que são postas na mesa )
Dona Emengarda: Tenho esta,
tenho esta, tenho esta... acho que é só...
Dona Conceição: Hum... está
aqui está no nome do marido da senhora...
Dona Emengarda: O Boanerges...
Dona Conceição: e esta aqui, e
esta, e esta, e esta e esta. Todas no nome do Seu Boanerges, mas com endereços
diferentes.
Catipapi (fazendo cara de
espanto): Mesmo?
Dona Conceição: Mesmo. Dona
Emengarda, o Seu Boanerges tem seis casas?
Dona Emengarda: Temos oito, mas
eu só trouxe conta de luz de seis. Não sei onde pus as outras.
Dona Conceição: Então a senhora
mora com o Seu Boanerges?
Dona Emengarda: Há mais de 60
anos que eu aguento aquele velho rabugento, minha filha. Desde que se aposentou
não sai mais de casa. Um traste!
Catipapi (gaguejando): A
senhora não disse que ele tinha ido embora?
Dona Emengarda: Eu?
Catipapi: A senhora disse que
não sabia onde ele se encontrava.
Dona Emengarda: Que isso! Ele
me avisa até quando vai ao banheiro.
Catipapi (girando o indicador
em torno da orelha para demonstrar que a sua cliente não ia bem das ideias).
Dona Emengarda (vendo o gesto):
Eu não estou gagá!
Catipapi: Não, Dona Emengarda,
eu só estava limpando o ouvido, me deu uma coceira repentina.
Dona Emengarda (dando um golpe
com a bengala na catadora de pa, digo, consultora previdenciária) Não me trate
como se eu fosse uma velha coroca!
Catipapi: Ai, ai, para! Isso dói!
.
Dona Emengarda (levantando-se): E vai doer muito mais.
(correndo atrás de Catipapi e lhe dando umas bengaladas): Me tirou de casa à
toa, me fez andar de cadeira de rodas e ainda diz que sou uma velha gagá. Bem
que a Mariinha me disse que você só quer se aproveitar da boa vontade dos
outros. E toma outra!
Catipapi (correndo e tentando
proteger a cabeça com as mãos): Ai, ai, para, para!
Dona Conceição (segurando o
riso): Hum, que interessante... Não é
que estou começando a gostar de LOAS?
Pensei que fosse ler um texto cômico e vejo um roteiro de documentário...
ResponderExcluir...baseado numa história (quase) real...
Excluirrsrssrsrs
Dá-lhe Dona Conceição!
ResponderExcluirFoi um LOAS autodestrutivo, assim não dá trabalho pra ninguém.
Olá!! alguem sabe dizer em quanto tempo um técnico pode deferir sozinho uma aposentadoria rural?
ResponderExcluirIsso é bem variável.... sozinha msmo, sem ninguem ajudando, fui fazer so la pelo 3º mes. E c;/ confiança, so lá pelo 4º kkkkkkkkkkk mas eu sou lenta kkkkkkk
ExcluirMe livre disso logo meu Deus!
ResponderExcluirEu nunca gostei do LOAS, mas depois q o SIBE chgou an area passei a detestá-lo kkkk e como o povo mente, né Dona Con... Comedia!
ResponderExcluir