sexta-feira, 2 de setembro de 2011

TÉCNICAS DE SOBREVIVÊNCIA EM APS – O CONCURSEIRO FELIZ



O felizardo concurseiro do INSS que percorreu, não sem ansiedade, o longo caminho que vai do edital até a nomeação tem toda a razão de estar em estado de graça em seus primeiros dias de trabalho, principalmente por ter se livrado, pelo menos momentaneamente, do incômodo neologismo que, em vários casos, o relacionava diretamente ao desemprego. Esse maravilhoso período se resume em uma exagerada boa vontade em relação a todo ser vivente que  circule pelo ambiente de trabalho seja ele colega, segurado ou mesmo o auto-denominado “consultor previdenciário” e dura, normalmente, até o recebimento do tão esperado primeiro salário, impiedosamente gasto em poucos dias,  momento em que ele percebe que os honorários não são assim tão bons quanto ele imaginava, não tanto pelo valor como pelo seu alto custo, constituindo esse  o seu primeiro choque com a realidade.
A partir de então, já acostumado com a rotina diária, mas ainda mantendo a alegria de servir, de onde se origina o substantivo de sua profissão, o neófito já consegue fazer certas distinções entre os colegas, a reconhecer os segurados mais assíduos e a achar um tanto cansativa a presença insistente dos tais “assessores previdenciários”, os quais já denomina, mentalmente, com adjetivos menos elaborados e não muito lisonjeiros. 
Bem sabemos que ninguém nasce com a vocação para servidor público desde as priscas eras em que o mesmo era representado em sua repartição apenas por um paletó  envolvendo o encosto da cadeira, que podia lá ficar por dias sem que se desse pela ausência de seu proprietário. Bons tempos aqueles... Hoje  os funcionários públicos, com invejáveis exceções, trabalham. E os servidores do INSS lotados nas agências trabalham em dobro uma vez que não podem ser divididos ao meio sem considerável perda de sua capacidade laborativa, o que facilitaria em muito a alocação do mesmo em mais de um setor de atendimento.
Depois de um semestre de luta contra os sistemas rebeldes que só funcionam quando e como  desejam  acrescidos às dificuldades de se lidar com uma clientela de variada complexidade e uma legislação em constante mutação, o servidor já está achando que precisa de um aumento – salarial, que o de trabalho é constante. Esse é o início da crise dos seis meses também conhecida como “as ilusões perdidas”. É nessa etapa de vida laboral que o servidor tem que se precaver para não se tornar um desiludido trabalhador e se identificar com os colegas mais antigos. Aconselha-se, então, a começar imediatamente um trabalho de recuperação da estima profissional enfrentando, com honra e galhardia, os problemas diários. Nessa fase inicial da crise abstenha-se de remédios controlados, use apenas,  e até quando for possível, calmantes fitoterápicos.
Se, ao completar um ano de serviços prestados à valorosa autarquia, ao invés de cederem, as tentações de esmurrar o computador ou, caso crítico, um segurado ou o seu equivalente representante, tenham quase se tornado irresistíveis, está na hora de procurar ajuda em algum comprimido mais eficaz. Não o arsênico, não cheguemos a tanto. Essa fase se denomina “as ilusões irremediavelmente perdidas”. É um período que se pode considerar definitivo na vida de um servidor do INSS. Ela se caracteriza, inicialmente, por consulta aos jornais de concursos públicos ou uma intensa vontade de tentar algo novo como, por exemplo,  virar camelô ou vendedor de amendoim em ponto de ônibus. Segue-se, então, um período de revolta, em que nenhum aumento salarial, nenhuma promessa amaina e o desejo de fuga e liberdade  o persegue constantemente como a um presidiário. E é esse significativo momento, em que ele passa a concordar com todos os detalhes descritos no presente manual,  o mais apropriado para dar uma reviravolta em seu destino.
Passada essa terrível fase, caso não tenha sucumbido à tentação de abandonar tudo,  o servidor já terá alcançado a estabilidade após os três anos de estágio probatório, e adentra a fase do desânimo, onde ainda se questiona, mas já com menos desespero, se vale mesmo a pena fazer outro concurso e talvez encontrar iguais dificuldades e frustrações e se teria forças para pedir uma exoneração e se aventurar por profissões mais lucrativas embora arriscadas. O servidor permanece nesta etapa por variável período de tempo, em permanente crise existencial, até passar à fase definitiva, a do marasmo absoluto, onde concorda com tudo, não discute, não questiona e não reclama tendo como objetivo unicamente a aposentadoria  e a liberdade que a acompanhará. 

31 comentários:

  1. Perfeito!!!! Excelente retrato da realidado dos INSSanos.

    Ainda estou na fase “as ilusões irremediavelmente perdidas” mas caminho rapidamente para a fase do desânimo.

    Ainda mais com a pespectiva de um 2012 sem aumento salarial e com inflação elevada.


    Ainda bem que existe este blog para alegrar minha sexta, me dando a ilusão de um fim de semana mais longo...

    Parabéns!!!

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  2. será que nao existe nenhuma vantagem em trabalhar no INSS? nenhum ponto positivo?

    quanto terrorismo

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  3. Nuss, eu to passando por issso, mas com uma remuneração infinitamente menor. Lascando-me aki de estudar pra passar nesse concurso, não nasci pra correr riscos :(((

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  4. Caros colegas INSSanos isso tudo é muito verdade eu já estou na fase de desânimo, pois já passei por todas as outras só estou aguardando o pouco tempo que me falta p aposentar e a tão esperadaa .... se é que vem ....incorporação da GDASS para os aposentados.......

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  5. 1 - A capacidade e sensibilidade do INSSano ao descrever com muita propriedade o retrato comportamental dos servidores, em cada uma das etapas de adaptação à autarquia é impressionante.

    2 - Só penso duas vezes ao optar pela venda de amendoins pois seria atividade de filiação obrigatória e estaria novamente dependendo do NS. Já pensou, ter que passar o dia na fila apenas para calcular o mês "repassado" que esqueci de pagar? É muita "democracia" só pra pagar um dia atrasado ou tentar me "incostá" ou até mesmo pegar um "quinizo".

    3 - Deprimente perceber a quanto tempo já estou na fase do marasmo absoluto e o quanto estou próxima daqueles servidores que eu nunca desejaria ser no período do encanto. :(

    4 - Se eu não voltar, cortei o pulso com um colchete novo, já que são de qualidade e possuem ponta cirurgicamente afiada. Caso a logística tenha esquecido de comprá-los e estejam em falta, afoguei-me no balde que retem a agua de uma das goteiras do salão da APS...

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  6. Ao Anônimo de 2 de setembro de 2011 19:23.
    Há evidentemente a satisfação em ajudar pessoas necessitadas, garantir o sustento de famílias com os benefícios concedidos e aposentar trabalhadores após uma vida laboral longa e ardua.
    Entretanto, se eu quisesse viver de satisfação em ajudar ao próximo, eu teria escolhido ser monja, freira ou qualquer outra atividade com voto de pobreza apenas pelo prazer de servir. Entretanto, escolhi ser servidora pública e desejo minimamente condições "próximas" das adequadas para tal, quais sejam, remuneração compatível, material para trabalhar, saúde mental, ausência de TERRORISMO para cumprimento de metas impossíveis que garantem a minha remuneração, etc, etc, etc...

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  7. Para que está estudando, eu gosto sim de trabalhar no inss e principalmente ter estabilidade no emprego. Mas sem querer desanimar, o que é postado neste blog, e tudo verdade...so que está nas APS para saber...
    Seria cômigo (apesar de ser rsrsr) se nao fosse trágico

    Alem de colchetes afiados cirurgicamente (res adorei), tem tambem, canetas que nao escrevem, corretivos e açúcar (qdo tem) vencidos, borrachas (incrivel) que não apagam!!! serio na minha APS tem...... entre outras coisitas rsrsrs......

    Mas o que mais odeio são os sistemas.

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    1. Ok... desde q a Bic passou por uma decadencia no fim dos anos 90, nunca mais na historia deste país se encontrou em uma repartiçao publica uma caneta q funcionasse ate o fim.... Exceçao, talvez, deva-se fazer àqueles dos politicos e ministros q ganham/compram canetas chic a mais de mil reais cada.

      Fora isso, recomendo: comprem suas proprias canetas, corretivos e borracha e afins.... coloquem seu nome neles (c/akela caneta de cd q nao sai), como faziam no ensino fundamental e qnd 1 nobre colega pegar algo emprestado, vc podera recuperá-los

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  8. Dona Conceição, quanto a vender amendoins no ponto do ônibus, não precisa se preocupar em pagar o NS pois o termo "segurado obrigatório" é licença poética...venda seus amendoins com tranquilidade (serei assídua cliente pois adoro amendoim) e depois, aos 65 anos, peça um LOAS, evidentemente escamoteando algum membro indesejável do grupo familiar...

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  9. ganhar mais de r$4.000 por mes trabalhando meio turno tá ruim pra voces? é pouco essa remuneração? é só nao gastar mais do que ganha, simplles // a verdade é que o ser humano nunca está satisfeito com nada, quando forem pra outro emprego vão falar a mesma coisa, sempre achar defeitos, joguem as maos p/ céu por vcs estarem onde está
    vcs estão muito mal acostumados, o trabalho é como alergia pra vcs

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    1. Pra começar, imposto de renda e previdencia levam boa parte deste dinheiro.

      Se vc considerar q há outros cargos, especialmente em tribunais, onde a pressao é menor e o salario superior p/ cargos q exigem a msma qualificaçao; nao o salario nao será pouco, só nao sera bom de verdade.

      A questao anao é gostar de trabalhar ou nao. sao as condiçoes. Por exemplo, em uma mepresa, vc tem sim muito mais pressao, mas ha chance de promoçao.

      No sistema publico, vc sofre pressao, assedio moral, exigem mais e mais de vc, mas os beneficios ou reconhecimentos de esforço sao minimos ou inexistentes.

      A unica vantagem do serviço publico é realmente a 'estabilidade' e nada mais. Pq o salario hj nao é pouco, mas só Deus sabe qnd aumentarao de novo e se vai acompanhar a peste da inflaçao.

      Qm está de fora, nao sabe como é ruim. Pq eu gosto das pessoas, o q eu nao suporto é o tal do publico! kkkkk

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  10. Dona Conceição, faltou a "carta do PISo"...rsrsrs... E, no meu caso, se não voltasse seria pq literalmente o teto desabou sobre minha cabeça (em minha APS em reforma, o teto está caindo e quase atingiu a nossa faxineira).
    Quanto ao texto, colega INSSana, me fez recordar meu primeiro ano de casa. Empolgada, levava a IN para casa e lia toda noite, de verdade; imprimia memo, siscon e até fiz uma pasta organizada por assuntos com isso tudo. Ai, ai... Agora estou na fase de sonhar em passar em outro concurso, mesmo sem nem estudar para isso. Sou como aquelas pessoas que querem ganhar na loteria sem jogar...rssrr....

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  11. seu blog é fantastico, estou seguindo me siga tbm.
    estou com dois sorteios no meu blog.

    bjussss

    http://acimadasmedidas.blogspot.com/

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  12. eu sou novo na casa, e isso explica a fase em que me encontro: “as ilusões perdidas”

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  13. Estudos epidemiologicos recentes parecem indicar que essas etapas deletérias ao pensamento humano são devidas aos ataques maciços, constantes e de alto potencial virulento, emanados dos intergalacticos, aqueles mesmos que teriam sequestrado a D. Conceição !! ;-))

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  14. trabalalhando meio turno aonde?????
    fazemos 8h querido....

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  15. E é aí que eu sempre me pergunto: fogo ou frigideira?

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  16. Quem trabalhoa meio turno no INSS????

    Todo mundo fazendo 8 horas com SISREF draconiano!

    Existem duas felicidades ligadas ao INSS: a sua nomeação e posse e quando vc é aprovado em outro concurso e cai fora da APS, ou seja, sua exoneraçao a pedido!

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  17. Parece que vcs servidores não conhecem a realidade aqui fora "É melhor vender amendoim" é um absurdo, Vcs nunca passaram necessidade na vida e se passaram já esqueceram a muito tempo, vcs têm um ótimo emprego e não dão nehum valor a isso! Querem sair é fácil pedem exoneração, ops ningem tem coragem....Sera que vendendo amendoim da para compra um carro... concertesa não amigos.....vcs sao ridiculos.... Brasileiros... sempre reclamando, vem mora aqui em alagoas corta cana 12 horas por dia e ganha R$ 400 reais.

    E melhor que trabalhar no INSS!

    Vergonha......................

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  18. Será que isso ocorre em todas as APS do Brasil? Ou é so nos grandes centros? Aqui na minha cidade é tranquilo, pelo menos é o que um amigo servidor me disse. Ele trabalha la ha 15 anos.

    Tentam o concurso da receita...la eles ganham 14000 e são subordinados a todo momento, fora as ameças que recebem por parte de empresarios.

    Vcs tão chorando de barriga cheia...bando de mercenarioss

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  19. vcs tão cuspindo no prato que come
    todo lugar tem as suas vantagens e desvantagens, brasileiro é assim, só está bem quando não está fazendo nada, reclama de tudo, vão vender amendoim então, e deixem a vagas para os que querem entrar, ai vcs vão ver o que é realmente sofrimento!!!

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  20. A única diferença entre o segurado, o servidor e o assessor previdenciário, é que o assessor fica na APS por aproximadamente duas horas e ganha neste curto espaço de tempo o que o servidor leva um mês para ganhar e o segurado uns quatro meses de benefício....rsrsrs, esta deve ser a raiva e frustação que os servidores tem dos tais "assessores"

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  21. Pessoal, trabalhei muito tempo em uma multinacional com salário, consideravelmente, acima da média e posso afirmar que os problemas são os mesmos.
    Até em empresas privadas, não temos sistemas tão bons, temos problemas iguais a estes, porém com uma desvantagem: o perigo constante de dormir empregada e acordar desempregada.

    Todos sabemos que as dificuldades existem e não é apenas no serviço público. Tenham certeza de que, de alguma forma, a situação de vocês comparada a dos outros_trabalhadores da iniciativa privada_ é sem dúvidas um pouco melhor.

    Não percam as esperanças e se por ventura não estiverem bom no INSS, corram atrás de outro concurso. Sempre há tempo e sempre haverá um lugar melhor. Agora, uma coisa é certa, não pensem que a iniciativa privada pode proporcionar melhores condições de trabalho ou melhor rendimento.
    Boa sorte!

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  22. Trabalhar com atendimento ao público ininterruptamente, como numa APS, é muito estressante; não dá tempo para mais nada. Isso é o que mais prejudica o ambiente de trabalho, sem qualquer descontração, interação. A pessoa que trabalha ao sol utilizando de força física, chega em casa, descansa e no outro dia dá para recomeçar (além de se manter em forma). O esgotamento mental não se recupera facilmente. Só sabe quem já trabalhou com a pressão de longas filas se formando.

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  23. Tenho como meta entrar no INSS neste proximo concurso. Claro que a rotina e a pouca possibilidade de ascensão desanimam ao longo do tempo, mas acreditem poderia ser pior.

    Atualmete sou fucionario do Banco do Brasil e passo por cobranças de clientes e gerentes, metas abusivas e problemas com sistemas informatizados muito piores do que imagino passarem no INSS pela metade do salario de tecnico e 1/3 do salario do analista.

    Não concorda? Comente

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  24. Vou comentar...
    Vejam bem, concurseiros, eu também estudei muito para entrar no INSS e acho que vcs devem batalhar muito para conseguir uma vaga. Afinal, fazemos um concurso público por dois motivos: salário e estabilidade. O salário do INSS, neste momento, está muito bom, não reclamo disso. Só exponho aqui as dificuldades do dia a dia e, podem procurar no blog, nunca falei mal do salário. Também não escrevo aqui para desanimar nenhum futuro colega, escrevo apenas para me aliviar da tensão que é trabalhar lá. É desesperante, sim, aguentar o CNIS. É complicado aguentar certos segurados mas são relativamente poucos os agressivos, a maior parte é gente boa, tranquila e educada, não importando o seu nível social. A minha chefia é bacana e me dou bem com todos os meus chefes. Enfim, é um trabalho como outro qualquer, com seus pontos positivos - dois - e os negativos - melhor não enumerar....huhuauauhau (isso foi só pra acabar fazendo gracinha pra não fugir do espirito do blog...)

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    1. Esse povo nao entende a palavra SARCASMO, Inssano!

      Eles acham q só pq temos estabilidade e bom salario temos de viarar robos e agradecer td o tempo esta bençao.


      Ja disse alguem: Nem td sao flores.

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  25. INSSano continue fazendo gracinhas!! elas alegram o dia de quem passa pela rotina torturante da APS! apesar de haver alguns que não entendam (não adianta explicar somente vivendo é que se sabe), com certeza que está nesta luta entendem perfeitamente suas colocaçoes inteligentes e cómicas! obrigada!

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  26. Trabalhei no Banco do Brasil e concordo com o coleguinha Joao...o BB eh osso.....rs

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  27. Vender amendoins para pessoas tão difíceis quanto alguns dos anônimos daqui, não seria tarefa muito mais complicada que explicar o motivo de um indeferimento 793 vezes e ainda receber um "gracejo" na ouvidoria pela impaciência.
    Seria opção oferecer a estes uma caixa de colchetes novos e duas duzias de processos a capear? rs

    Por incrível que pareça há ser no planeta com o hábito de responder "BOM DIA POR QUÊ?".

    Um dia sem rir é um dia desperdiçado.
    (Charles Chaplin)

    Essa é a idéia do BLOG...

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    1. I love D. Conceiçao! E o CHaplin tb! kkkkkkkkkkkkk

      Nao liguem. Esse povo nao sabe mais o q é curtir um momento. Fazer da tragedia uma comedia!

      Parabens! Este é o melhor site clandestino da Uniao kkkkkkkkkkkkkkkkkkk!

      PS: ainda nao sou servidora =p

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