sexta-feira, 13 de maio de 2011

TÉCNICAS DE SOBREVIVÊNCIA EM APS – A INSALUBRIDADE


Além do contato com tantas pessoas, muitas delas doentes, da pestilência de certas carteiras profissionais e carnês, da falta de uma adequada ventilação do ambiente, notórios entraves à saúde do servidor da APS, enumeramos a seguir outros itens do nosso insalubre dia-a-dia:

O celular: Você tem dois minutos para consultar os seus alfarrábios mentais e responder a uma pergunta bastante simples: Quem inventou o celular?
Aposto que o primeiro nome que lhe veio à mente foi Graham Bell e, os seguintes Thomas Edison, Bill Gates, Steve Jobs... Mas este senhor ilustre, o Graham Bell pós-moderno, que atende pelo nome de Martin Cooper, não lhe ocorreu. Não lhe parece estranha  tão pouca notoriedade para o criador de um aparelho tão cobiçado, utilizado no mundo todo e por representantes de todas as classes sociais? Logicamente há um motivo para que esse grande inventor de idade provecta manter-se melhor escondido até mesmo que Bin Laden, que este já encontrou o seu destino. Então, para descobrir o segredo que envolve este pequeno instrumento é só trabalhar no INSS e ficar o dia inteiro ouvindo os mais variados e irritantes sons do infinito repertório proporcionado por esse cada vez mais eclético objeto. Não se passam cinco minutos sem que um deles dê o ar de sua graça numa aguerrida competição onde é difícil escolher o toque mais insuportável. E para que mais serve um celular numa APS? Para jogar uns games bobocas e sempre em elevada sonoridade enquanto se aguarda a senha ser chamada (Plim plim poin poin tóin tin friiiir);  para fazer críticas e reclamações em particular ouvidoria (Isso aqui é um inferno, essa gente é um bando de vagabundo, eu vim com o fulano porque sabia que ia dá pobrema e outras mais delicadezas direcionadas indistintamente a todos os servidores); para blefar (Eu estou aqui na agência ....... e a mocinha que me atendeu parece não ter gostado muito de ouvir umas verdades que eu lhe disse e agora  está  lá dentro, há mais de meia hora, me dando um chá de cadeira. Tome logo as providências cabíveis...); para filmar e fotografar os servidores que, na opinião do segurado, estão batendo papo quando, estão resolvendo assuntos de trabalho (Vou botar no Youtube, vou levar pro jornal esse bando de vagabundo). Por tudo isso se percebe o que não faria um servidor da Previdência Social se um dia se encontrasse com o responsável de tamanha violência auditiva e se compreenderá porque se esforça ele por se manter em quase total anonimato.


O banheiro: Os banheiros das APS costumam ser pouco espaçosos e carentes de janelas ou ventilação. Por sorte, a queda de alguma placa de rebaixamento do teto, o que não é raro de acontecer, dado o estado de conservação da maioria das agências, propicia um melhor arejamento do ambiente que se abre para um espaço mais amplo, como uma janela para a escuridão.
              Vejamos uma situação: Tenta o colega, entre um atendimento e outro, usar o banheiro. Na primeira tentativa ocorre encontrar o mesmo em fase de limpeza sendo impedido de entrar por uma barricada erigida por baldes, panos de chão, vassouras, escovas, garrafas de desinfetante e volta outra vez para o balcão para habilitar mais outro benefício, reprimindo uma justificável necessidade. Uns quarenta minutos depois, evidentemente muito mais necessitado, retorna ao banheiro, abre a porta, e suas narinas são mortalmente atingidas por eflúvios  putrefatos que emanam daquele depositário do resultado final de uma feijoada mal digerida; atordoado por tal agressão olfativa, chega a perder a noção do que ali viera fazer, dá uma meia volta em busca da direção precisa e retorna para habilitar mais um outro benefício, sabe-se lá agora em que condições fisiológicas e até mesmo psicológicas, esperando, quase alucinado, o momento de uma terceira tentativa. Oremos por ele.


O colega chato: Pior que o mais ranzinza dos segurados é o colega chato pois nenhum segurado permanece o dia inteiro na agência atazanando o servidor. O chato tem diversas graduações que vão do enjoadinho ao insuportável. Tem aquele que irrita por falar muito alto para todos ouvirem e aquele que usa um tom confidencial suspirado, de qual não se entende nada, e você, que não está interessado em saber do que se trata ainda tem que pedir para a pessoa repetir o que disse ou então dar aquele risinho amarelo para que ela se afaste logo. E, assim, você ainda fica sem saber do que riu. Tem aquele que se acha muito espirituoso e dá longas gargalhadas quando conta uma piada sem graça ou faz um trocadilho igualmente inócuo. E o outro que não lhe dá escapatória, gosta de muita proximidade e vai avançando em sua direção até o encostar contra a parede. Normalmente, para piorar, este costuma sofrer de halitose. Agora, o mais desagradável de todos é aquele a quem você pretende deixar bem claro que o acha um   container de amolação, diz-lhe isso na cara dele e o ilustre ainda fica arranjando desculpa para o seu procedimento, sugerindo que você está nervoso por algum motivo pois esse nada modesto cidadão se acha tão interessante e sedutor que não imagina que o outro possa ter opinião diversa.
Obs: Não foi considerado, neste item, em respeito à uma desejável integridade física, o colega de categoria superior, também conhecido como gerente e a quem não se deve, de modo algum, provocar (ainda tenho um olho roxo...).


sexta-feira, 6 de maio de 2011

TÉCNICAS DE SOBREVIVÊNCIA EM APS – PROCEDIMENTOS BÁSICOS


Neste capítulo vamos tratar de três assuntos que nos afligem em nosso dia-a-dia.
O primeiro diz respeito àquela simpática velhinha que vem em busca de um benefício assistencial e que você constata que não se enquadra na condição de penúria necessária para ser merecedora de tal regalia pecuniária. Após uma rápida análise de sua aparência, onde se percebe um ou mais elementos suspeitos como cabelo bem cortado e tingido de tons pouco intencionais como o lilás e o laranja, unhas bem cuidadas, perfume que a precede e que ela não leva embora ao partir, bijuterias extravagantes, entre outros detalhes.
Ao contrário do que afirmam o seu aspecto e a sua conduta refinada, ela garante não ter onde cair morta e tira um lenço bordado à mão de sua bolsa de couro legítimo para secar as escassas lágrimas com que tenta emoldurar de veracidade um discurso artificioso. Não se deixe enganar pelo trabalho cênico nem pelo requerimento onde ela declara morar sozinha e não ter renda alguma. Participe de seu jogo de cena, finja acreditar em suas palavras, dê um profundo e empático suspiro e, sutilmente, leve-a a cair em contradição até que ela confirme que ganha, sim, “um pouquinho de dinheiro fazendo uns trabalhinhos mas que nem dá para pagar o aluguel...”  “ah, sim, e quanto é esse pouquinho?” “ Ás vezes uns 600 reais, às vezes um pouco mais...” Então, conseguida a confissão, é só convencê-la a declarar a renda por escrito, no requerimento. Ela vai pedir desconto, irá perguntar se pode colocar só a metade, você deve concordar pois esse pouco já será o suficiente para o sistema indeferir o benefício por renda superior a um quarto do salário mínimo. Depois lhe dê a má notícia, com um ar de pesarosa surpresa, comprovando que você tem tanto talento quanto ela para  as artes da interpretação.

Nosso segundo ponto refere-se ao salário maternidade da empregada doméstica. Visando facilitar essa classe trabalhadora que luta para sair da informalidade, este benefício não exige carência o que abre precedente para qualquer uma gestante que nunca trabalhou na vida ver-se, aos seis ou sete meses de gestação, contratando um vínculo de doméstica com sua sogra ou algum parente próximo ou distante com o único intuito de usufruir o benefício. E o que pode você, colega de sofrimento, fazer para coibir esse abuso não previsto pela legislação previdenciária? Instituir a JA* compulsória. Convoque patroa e empregada, leve a primeira para a sala de JA devidamente ornamentada com variados instrumentos de tortura como torniquete, chicote, pau-arara, apetrechos, é bom que se diga, de maior utilidade psicológica do que física, e instaure um bem dirigido inquérito a fim de revelar a verdade oculta por trás daquele duvidoso vínculo empregatício. Se, ainda assim, ela insistir que a nora é mesmo sua empregada, faça um teste de habilidade específica com a mesma. Obrigue-a a fazer a faxina dos banheiros dos segurados e observe sua atitude; se ela fizer cara de nojo, perde  três pontos no ato. Veja como ela se sai no manejo do balde e da vassoura, verifique a sua agilidade com a  escova sanitária e  a sua desembaraço ao esvaziar da cesta de papel higiênico. Ela deverá provar também seu traquejo na limpeza dos vidros da agência e ao passar no chão aquele desinfetante perfumado e de excelente qualidade com o qual somos brindados diariamente.  Se a média for inferior a seis, ela deverá ser reprovada e o benefício, indeferido.
Obs: Este teste só deve ser feito em época posterior ao fato gerador para não haja risco de danos ao nascituro.

Todos os dias temos a oportunidade de observar as variadas maneiras de como se portam os segurados a partir do momento em que pegam a senha e ficam esperando para serem atendidos. Uns, os mais tranqüilos, se acomodam na cadeira e logo pegam no sono, com o quê perdem sua vez. Outros, os mais comunicativos, encontram variados assuntos para conversar com seu vizinho de cadeira e, muitas vezes,  se distraem tanto que não percebem quando chamados. E há também aquele que, para agilizar o andamento do processo e encaminhar o cidadão à mesa que o chamou,  fica narrando o atendimento como se fosse bingo: O 17 , I 45, A 90... E, quando canta a sua senha só falta gritar BINGO!
 Portanto somos da  opinião que é necessário padronizar  o comportamento da clientela. Para isso,  sugerimos a utilização de um monitor de chamada adaptado à uma televisão onde, nos intervalos dos atendimentos, pode-se assistir aos educativos programas da TV a cabo como, por exemplo, os do Animal Planet, cujos narradores possuem uma voz de freqüência modulada que, mais que tranquilizar o ambiente, leva qualquer um ao sono. Tomemos como exemplo do episódio: “A vida sexual dos ursos panda”. Não chega  a ser um vídeo de sexo explicito já que os simpáticos animais, a exemplo do que fazem à noite, passam o dia todo a comer bambu. Tal animação leva ao cochilo até mesmo o narrador do programa, imagine o efeito avassalador que não terá sobre os segurados... Em dado momento uma sirene toca, o painel pisca e diversas senhas são chamadas e os  segurados, atônitos como porquinhos da índia em barraquinha de festa junina, procuram as respectivas mesas que os solicitam. Depois de uns minutos, novo silêncio se abate sobre a agência, a tranqüilidade volta o ambiente e só se ouve, ao longe, o roer incessante de bambus.


* Justificação Administrativa

sexta-feira, 29 de abril de 2011

TÉCNICAS DE SOBREVIVÊNCIA EM APS – A AVALIAÇÃO INDIVIDUAL

Hoje nós vamos tratar de um assunto de vital importância para o bolso do servidor do INSS – a avaliação individual. Para calcularmos o valor de nossa gratificação precisamos fazer uma análise completa do gerente em relação à chefia imediata e em relação ao servidor a ele subordinado. Da mesma forma devemos analisar os diversos tipos de servidores de acordo com o  desempenho de suas funções. Veremos que a equação daí resultante é simples e de fácil compreensão como o cálculo do fator previdenciário.
Primeiro iremos listar as espécies de gestores. Dessa vez, com mais delicadeza para não causar suscetibilidades como os havidos no capítulo a eles dedicado; quem já levou uma surra, outra não quer levar (ainda me dói o galo...). A seguir enumeraremos os variados tipos e subtipos de servidores sem patente. Do cruzamento dessas informações é que depende o resultado da avaliação. Portanto, procure identificar a classe de servidor a que você pertence e à qual pertence o seu chefe.

Os gerentes:

1.                            O gente-fina: É o tipo de chefe que agrada bastante aos seus subordinados embora não seja muito admirado por  seus superiores, o que costuma resultar em uma breve estadia no cargo máximo de uma APS. Isso porque ele é muito dedicado, não exatamente às funções inerentes ao trabalho, mas àquelas, por assim dizer, extra-curriculares, como reuniões na escola dos filhos, aniversário dos netos, cabeleireiro e manicure ou, em sua versão masculina, levar o carro ao mecânico  e pesquisar preço de pneus.
2.                            O responsável: Essa categoria de gerente possui níveis de intensidade variadas o que não altera muito a conseqüência de seus atos pois, uma vez que ele tenta efetivamente se adequar às exigências provenientes de gerência, sempre acaba sobrando mais trabalho e cobrança para a ralé da qual você, caro colega, faz parte. Ele pode ser companheiro e justo e, portanto, pedir em vez de ordenar ou arrogante e prepotente, entretanto, sob o jugo de um ou de outro, as tarefas vão cada vez mais se avolumando.
3.                            O delirante: É aquele que considera um verdadeiro trono a cadeira em que se senta e o topo de sua carreira, a coroa, logicamente, é avaliação individual onde ele pode decidir o percentual de gratificação que você vai receber. Imagine o perigo a que  fica exposto um servidor que não tem o delicado costume de lhe servir constantes cafezinhos, arrumar sua mesa e tecer incessantes e variados elogios.
                 

             Os subordinados:

1.                                       O compulsivo: É aquele servidor que trabalha o tempo todo, também conhecido como “soro & sonda”, pois não abandona o trabalho nem para ir ao banheiro imagine para fazer um lanchinho... Embora raros, já que representam apenas 0,12 % dos funcionários do INSS, a classe ainda não está totalmente extinta.
2.                                       O moderado: É aquele que cumpre suas tarefas com uma dedicação sem excessos, com correção mas sem fanatismo, porém, sempre aguardando ansiosamente o fim do expediente ou próximo feriado. Representando 22, 9 % dos servidores, a categoria está em franca decadência.
3.                                       Os outros: Para evitar desnecessários melindres não utilizaremos nenhum adjetivo, todos depreciativos, para nomear a casta majoritária dos servidores e que se divide em três subtipos:
a.         O discreto: É aquele que não trabalha mas disfarça bem, andando                            com processos de um lado para o outro e constantemente reclamando do excesso de serviço e de fadiga.
b.      O assumido: É aquele que não quer nada com o trabalho e pronto. Enrola o quanto pode e não tem medo do chicote do supervisor nem de perder pontos na avaliação.
c.       O dengoso: É o par perfeito para o gerente delirante cujas atribuições foram citadas acima embora não todas. A principal delas é a de informante, fazendo fofocas em geral além de acusar e denunciar seus desafetos pessoais.


Passemos agora a analisar a combinação desses fatores entre si:

Chefe tipo 1 com qualquer espécie de servidor é garantia de  20% de gratificação pelo simples fato de que ele, que não cumpre com seu dever, não pode exigir nada de seus subalternos. Aproveite o quanto pode...
Chefe 2 x servidor 1 e 2 = 20 pontos;
Chefe 2 x 3a corresponde de 18 a 20 pontos de acordo com a mestria do servidor em camuflar sua real competência.
Chefe 2 x 3b = variável de 15 a 17 pontos, conforme humor e boa-vontade do gerente no momento da avaliação.
Chefe 2 x 3c = impossível pois esse subproduto do funcionalismo não é compatível com tal gerente.
Chefe 3 x 1 2 3a e 3b = incógnita. É recomendado o costume de dar uma certa atenção ao superior de modo a não ter uma surpresa financeiramente desagradável.
Chefe 3 x 3c = 20 pontos com pesar já que não pode ser mais...

Após esta lição esperemos que o colega esteja qualificado para, digamos, avaliar sua avaliação de forma correta e eficaz. Qualquer erro de cálculo deve ser considerado como erro de análise do avaliado e não incorreção dos dados do presente estudo.




quinta-feira, 21 de abril de 2011

TÉCNICAS DE SOBREVIVÊNCIA EM APS – OS EXERCÍCIOS


Embora a Previdência Social não propicie certos cuidados médicos preventivos em forma de exames periódicos, ela, de modo algum, descuida da saúde de seus servidores. Utiliza, para isso, de métodos peculiares e sutis, tendo por base a prática de atividades físicas regulares que todos sabemos serem essenciais para uma vida saudável, diferentemente do sedentarismo de que se crê  ser vítima todo o funcionalismo público.
O que a muitos pode parecer desleixo ou despropositada economia tem como finalidade a melhoria da qualidade de vida do cidadão-servidor. Quando, por exemplo, os elevadores do prédio ficam com defeito e jamais são consertados, não é por má administração do gerente executivo ou qualquer entrave burocrático e, sim, para que o servidor se exercite subindo e descendo as escadarias várias vezes ao dia de modo a tonificar a musculatura dos membros inferiores e condicionar o coração e os pulmões, aumentando o fôlego. Na segunda semana de tais exercícios já é possível notar que não se chega mais arfando no sexto andar nem tem que parar mais de quatro vezes durante o percurso. Até o quarto andar, poucos são os que sofrerão um enfarto ou sentirão câimbras nas pernas.
Para os fumantes a paralisia dos ascensores é duplamente benéfica, conhecedores que somos do quão fatal é o sedentarismo unido ao fumo. Muitos fumantes preguiçosos abandonam o vício  pelo simples fato de não suportarem o sobe e desce a cada meia hora, para enfumaçar a calçada. Outros, mais corajosos, têm de fazer o trajeto duas vezes por terem esquecido o cigarro ou o isqueiro. Duplo exercício para estes, fim da dependência para aqueles.
Observem também o que acontece no caso daquela velha lâmpada  que, ao contrário de suas companheiras, ainda não queimou embora esteja em vias de, e que fica piscando sem parar,  bem em cima da cabeça do pobre servidor. Certo dia, um colega, não tolerando mais aquele tremelique luminoso, sobe na mesa a fim de fazer com que a lâmpada se decida, de uma vez por todas, entre a luz e a escuridão. Apoiado na ponta de um pé, os braços esticados à frente e para o alto, a outra perna, elevada para trás a manter o conjunto num harmonioso equilíbrio, alongando o corpo por inteiro, como uma bailarina pronta para um primeiro rodopio do Lago dos Cisnes. Imaginem a cena e me digam se esta graciosa composição anatômica não há de ser salutar tanto ao corpo quanto à alma de seu executante...
E o que dizer daqueles vírus que acometem todos os computadores e impressoras ao mesmo tempo e que, quando se manda imprimir algo, não se faz idéia em que máquina poderá ser encontrada o resultado de sua iniciativa. Percorre-se toda a agência, verifica-se na perícia, procura-se no RH, não estaria no Financeiro?, oh!, eis que a encontramos na Procuradoria. É verdadeiramente lamentável que tal estratégia para a execução de atividades físicas nunca perdure mais que seis meses, talvez por excessivo zelo e presteza dos colegas da DATAPREV, talvez por pressão dos servidores moleirões que não se divertem em se exercitar durante o horário do expediente.
Isso tudo sem contar as benesses do SISREF (Serviço Imprescindível de Sistemática Regular de Exercícios Físicos), principalmente na volta do almoço. Depois daquele lauto banquete do meio-dia, é hora de voltar para o batente, aliás, já está mesmo quase passando da hora, e o servidor tem que galopar de volta à agência. À sua frente, invariavelmente, encontra uma fila interminável de B87* e B88**, logicamente indo ao mesmo destino que você. Leve tudo na esportiva. Se você for do tipo atlético, imagine-se numa corrida de obstáculos, desvie de um e de outro com maestria e perícia. Nunca, em hipótese alguma, imagine-se num jogo de boliche prestes a fazer um strike, pois, uma meia hora depois, quando os retardatários chegarem à APS poderão dedicar-lhe uma bengalada ou muletada, conforme o caso.
A prática constante dessas involuntárias atividades é garantia de perda de dois quilos por mês. Eficiente como um SPA permanente e, melhor ainda, gratuito.


*Benefício Assistencial ao Deficiente
             **Benefício Assistencial ao Idoso

quinta-feira, 14 de abril de 2011

TÉCNICAS DE SOBREVIVÊNCIA EM APS – ESTATÍSTICAS

Números, índices e porcentagens são elementos que não podem faltar em livros técnicos como este, pois dão credibilidade a uma matéria uma vez que essas minúcias revelam um exercício criterioso e detalhado de pesquisa, trabalho de campo e análise profunda do tema. Embora 72,5 % das pesquisas não possam ser confirmadas, deixando no ar uma certa dúvida sobre sua veracidade, esse pormenor é insignificante e não ofusca o brilho de letreiro luminoso que a combinação de números oferece.- 72,5 %! Uau! - dirá o leitor. As pessoas gostam de acreditar no que ouvem ou leem.
O servidor da Previdência, por exemplo, em sua reunião mensal, é inteirado de todos os índices que permeiam o atendimento e o processamento de benefícios, muitos deles conflitantes como, por exemplo, o tempo médio de atendimento X resolutividade. Muito bem sucedidos em retórica, os criadores dessas equações são um tanto ineficazes em cálculos simples e desconhecem a base das grandezas diretamente proporcionais que, de acordo com o rigor científico, conclui que, quanto mais tempo é gasto no atendimento, maior a possibilidade de resolução do problema, no caso, um benefício, e preconizam exatamente o contrário, exigindo mais rapidez no atendimento e mais alto índice de resolutividade, tudo ao mesmo tempo. Mas quem de nós não se emociona ao ouvir falar que o TMA (tempo médio de atendimento) deve ser de 30 minutos e nós alcançamos a média 28 minutos e 32 segundos? Ou que o IRES (índice de resolutividade) ideal é de 45 % e estamos em 46, 78 %? E ficamos a imaginar o que se pode mais fazer para quebrar recordes e alcançar o mais alto degrau do podium previdenciário.
Então, hoje nós vamos aqui oferecer alguns números para o regozijo e informação dos colegas e que poderão ser usados para fazer  boa figura em conversas com amigos e familiares, entreter crianças e até mesmo iniciar um namoro com intenções matrimoniais, dado o interesse comum e elevado grau importância, comparáveis aos índices acima citados.
·                                  38% das senhorinhas contempladas com um Benefício Assistencial ao Idoso (LOAS) - que, à época do requerimento do benefício, ao apresentarem uma certidão de casamento,  juraram de pés juntos não terem notícias do cônjuge há mais de 40 anos - retornam em pouco tempo, com a mesma certidão com a finalidade de obter uma pensão por morte. 93% destas pobres viúvas ficam absolutamente espantadas quando lhes é mostrada a declaração de separação de fato anexada ao processo de LOAS. Os 7% restantes afirmam que a assinatura não é delas.
·                                  63% dos aspirantes a um Benefício Assistencial ao Deficiente sofrem apenas de hipertensão ou cefaléia. 89% dos requerentes que se declaram vítimas de síndrome do pânico são vistos regularmente passeando pelas ruas da cidade ou tomando cerveja com os amigos.
·                                  São em média de cinco as tentativas de aposentadoria por idade antes que o cidadão resolva compreender que não tem direito ao benefício e se aventure a um pedido de LOAS. Já os pedidos deste último chegam a oito antes que o mesmo cidadão resolva compreender que também não faz jus a este benefício.
·                                  99,8% daqueles segurados que conseguem um auxílio doença desejam mantê-lo a todo custo e, de preferência, engatar com uma aposentadoria por invalidez; 0,2% falece antes do término do  benefício.
·                                  96% dos segurados que ficam desempregados por mais de 30 dias recorrem ao INSS em busca de um benefício de modo a garantir um equivalente a férias remuneradas. O primeiro deles é o auxílio-doença e sua motivação principal é algum problema de coluna. A partir de terceiro mês de desemprego, 74% das seguradas engravidam a fim de usufruírem o salário maternidade e 25% dos segurados se esforçam por conseguir uma vaga num presídio com o objetivo de assegurar o sustento da família através do auxílio-reclusão.


                95,7% das cifras acima são verdadeiras e baseadas em pesquisas realizadas em diversos estados, ao longo do tempo; os 4,3% restantes podem ser considerados como um arredondamento de crédito...



quinta-feira, 7 de abril de 2011

TÉCNICAS DE SOBREVIVÊNCIA EM APS – O NOVO AUXÍLIO DOENÇA

Hoje nós vamos tratar de um assunto muito sério e atual e seus possíveis desdobramentos e agradáveis conseqüências: o auxílio-doença sem a necessidade de perícia médica até um total de 120 dias. Quatro meses de férias para o segurado, tempos de paz para os peritos. Livres, ambas as partes, daquele encontro, algumas vezes fatal, cujo resultado nem sempre é agradável ao requerente. Em breve, bastará um simples laudo médico para a consagração do benefício. Afinal de contas, como sempre reclamaram os cidadãos de bem e os nem tanto, só mesmo o paciente é capaz conhecer tudo a respeito de seu estado de saúde; como pode um terceiro, no caso, um perito médico, avaliar suas condições físicas e mentais, suas idiossincrasias, disposição social, ânimo para o trabalho, enfim, sua capacidade laborativa? Um indivíduo que tem acessos de espirros de segunda à sexta, numa verdadeira reação alérgica ao trabalho, não deveria ter reconhecida sua incapacidade para a vida produtiva?
 Talvez, em futuro não muito distante, nem mesmo esse “decreto médico”, o laudo, será mais necessário; tudo se baseará na presunção de boa fé. Afinal, o povo brasileiro, dos seus mais humildes cidadãos aos ocupantes das mais  altas hierarquias, cada vez mais dá mostras de ser movido pela honestidade, pelo respeito ao bem público e ao patrimônio social.
Este conveniente e singular acordo entre as partes conflitantes, fruto da sabedoria de nossos dirigentes, se dará para evitar o desagrado do segurado, figura que deve ser protegida de todo o dissabor, e poupar integridade física do perito, muitos dos quais não gostam de apanhar.
Entretanto, é importante que esse benefício seja estendido também para os demais servidores da APS. Não só os peritos sofrem ameaças. Quantos de nós já não habilitamos uma pensão por morte de uma companheira que veio junto com um verdadeiro leão de chácara, dois metros de altura por dois de largura, uma presença nada sutil, contudo sugestiva, que tenta nos induzir a uma flexibilidade analítica dissonante da legislação vigente? Ou um candidato à aposentadoria, de precário CNIS, paramentado com uma rebrilhante peixeira na cintura, brilho esse que trai uma procedência pouco amistosa  e menos ainda paciente?
É necessário que seja igualmente facilitada a concessão de aposentadorias e pensões, além de outros benefícios de menor porte como o auxílio-reclusão e o salário maternidade. Mais que documentos como carteiras profissionais e carnês de recolhimento, deve se levar em consideração a “documentação oral”, sempre embasada na presunção de boa fé. O que o segurado diz é sempre verdade. Se ele diz que trabalhou  45 anos mas perdeu todas as carteiras, o simples fato de não constar nada no CNIS não quer dizer que ele esteja mentindo, talvez esteja um pouco enganado e ainda que isso lhe possa causar uns dez anos de prejuízo em seu tempo de contribuição não significa que ele não faça jus à aposentadoria. O mesmo ocorrerá com uma viúva que tenha perdido o companheiro e não tenha as provas materiais de vida comum.
Veja como ficará simplificado o trabalho de um servidor da Previdência Social. Nada mais de ficar quebrando a cabeça analisando processos nem perder noites de sono imaginando como pôr fogo no arquivo de modo a apagar alguma incorreção processual. Simplificada também ficará a Instrução Normativa correspondente e já agora, por sucinta que será, adiantamos o seu texto:
“Artigo Único: Todo e qualquer benefício requerido deverá ser concedido, vetado apenas a acumulação de dois benefícios da mesma espécie.”
Observem  que, apesar da parcimônia literária, continuarão mantidas as incoerências habituais. Se a primeira parte do período afirma que todos os benefícios serão concedidos, a segunda, desqualificando a anterior, reage afirmando o contrário, uma vez que esclarece que, sendo da mesma espécie, mais de um benefício não poderá ser concedido ao mesmo requerente.
Mas, de tudo o que foi apresentado, a incógnita mais persistente é a que diz respeito àqueles seres periféricos, nem segurados nem servidores, que, após um up grade nominal, passaram a se auto-denominar consultores previdenciários: com tanta facilidade para se obter um benefício será que eles ainda irão encontrar um jeito de arranjar clientes?

quinta-feira, 31 de março de 2011

TÉCNICAS DE SOBREVIVÊNCIA EM APS – O PONTO ELETRÔNICO


Inaugurado em 2009, o sistema prisional SISREF (SIStema de Repressão a Escapulidas e Fugas), possui dois tipos de regime: o semi-aberto, para aqueles que  podem ir para casa para dormir, e o regime totalmente aberto, para o que podem cumprir pena em total liberdade.
O primeiro tipo é também conhecido como SIStema Reforçado de Encarceramento Feroz, do qual daremos o como exemplo, altamente ilustrativo,  um dia de trabalho da vítima desta espécie de cativeiro:
Oito horas. Chega bufando o colega servidor, marca o ponto, a porta se abre, segue-se a invasão dos segurados, mal tem tempo de se abanar e recuperar o fôlego, chama o primeiro, Auxílio Reclusão, que coincidência, pensa estar falando com um dependente de seu colega de infortúnio, - Quem está preso? – Eu! - Como assim, fugiu da cadeia? – Estou de Habeas Corpus – O Auxilio Reclusão é um benefício apenas para os dependentes do encarcerado, se o senhor retornar à prisão, sua esposa e filhos menores podem requerer o benefício, caso o senhor possua qualidade de segurado. – Não tenho família – Ok, então também não terá também beneficiários – Tudo bem, mas, e os atrasados? – Que atrasados? – Do tempo em que estive preso; não pude trabalhar nesse período... Próximo. Pensão por morte, a pobre viúva vem na excelente companhia de uma prima em terceiro grau que fica o tempo todo fazendo perguntas sobre aposentadoria, quanto tempo um homem precisa para se aposentar, e uma mulher, e a proporcional, como é que é isso, e por idade, quanto tempo, quantos anos, e o camarada ali, corrigindo cadastro, colhendo informações, habilitando uma aposentadoria, aposentadoria? Titica! Vai ter que começar tudo outra vez ou vai acabar aposentando a prima de terceiro grau que veio acompanhar a viúva em seu pedido de pensão. Próximo, Salário Maternidade, o filho nasceu há três anos, quando a requerente estava empregada e na época  recebeu o benefício pela empresa, requer outro agora, pois ouviu dizer que. como desempregada, teria direito também...próximo, próximo, próximo... o estômago badala as doze horas, São SISREF dos Encarcerados (Santo dos Injustiçados, Sofredores, Reprimidos, Excluídos e Famintos) lhe concede a graça de sessenta minutos de liberdade vigiada. Ele corre para o restaurante a quilo, três metros de fila para se encontrar com a  comida, quinze minutos de espera, quarenta e cinco lhe restam de liberdade, engole o almoço, fila do banco, fila da farmácia, SISREF. Senta pensando em formatar aqueles processos da manhã mas pedem para ajudar a distribuir senhas pois a fila está maior que a do restaurante, banco e farmácia juntos. Próximo, próximo, aproxima-se um cadeirante: - Me dá uma senha de prioridade pois não posso ficar muito tempo sentado. - !!!! Próximo - Você me deu uma senha errada, eu não sou aposentada, sou pensionista! – Como assim, errada?  - Olha aqui na senha, APS – aposentada – Não, senhora, APS significa Agência da Previdência Social !!!!. próximo, próximo, fecha a agência, finalmente! Vai descansar? Que nada, ainda tem 50 segurados à espera de um atendimento, próximo, próximo,  - Aqui vende pino de geladeira? - !!!! próximo, próximo, dezessete horas, enfim, liberdade! Ainda que condicional.
Se o leitor, após acompanhar a árdua empreitada diária de um peão da previdência,  ainda não estiver exausto para prosseguir, poderá conhecer o outro tipo de regime oferecido pelo SISREF (SIStema de Reuniões, Encontros e Festejos ), muito apreciado pelos apenados de  alta hierarquia...ou de andares mais altos...
 Oito horas, excepcionalmente, pára o carro em fila dupla, marca o ponto, volta para o carro, procura estacionamento, faz compras no supermercado, vai tomar café na padaria, encontra os colegas de trabalho batendo papo, participa, nove e trinta ainda, compra o jornal, encontra um colega que deu uma fujidinha para fumar mas tem que comprar primeiro o cigarro, acompanha-o de volta à padaria, a hora não passa, resolve ir trabalhar, senta à mesa, abre o jornal, inteira-se das notícias, são sempre as mesmas, boceja, pestaneja, ZZZZZZZZZZZZZZZZZZ, onze e quarenta e cinco, quase perde a hora do almoço, encontra a patroa, almoça feijoada, entra em lojas, carrega sacolas e embrulhos, coloca tudo no carro, duas e meia, volta ao trabalho com a soneca nas pálpebras, marca a saída para o almoço, senta diante de um processo ZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZ acorda sobressaltado, parabéns pra você, a colega faz aniversário, quase perde a hora, marca a volta do almoço, come bolo, três e quarenta e cinco, tem dentista às quatro, encarrega um colega de marcar para ele o fim do expediente e se manda pois já está quase na hora da consulta.
O leitor leigo, ao fim da narrativa, evidentemente estará curioso por saber qual o motivo ou os motivos que levam a tão disparatada diferença entre os castigos impostos. Quanto a isso, deixamos que os leitores mais informados e experientes confrontem suas conclusões contribuindo com comentários para o sucesso  deste capítulo interativo.

quinta-feira, 24 de março de 2011

TÉCNICAS DE SOBREVIVÊNCIA EM APS – A APS

As agências da Previdência Social, semelhantes aos presídios nacionais, costumam receber gente muito além de sua capacidade, tornando o ambiente desagradável e improdutivo. Enquanto um servidor atende um segurado, outros três o ficam atazanando, um resmungando que passaram na frente dele, outro que está há cinco horas esperando para ser atendido, um terceiro, que reclama ainda não serviram a sopa, entre outras queixas mais. É quase que impossível raciocinar no meio dessa balbúrdia toda. Por isso, hoje nós vamos apresentar um projeto para diminuir, senão acabar, com intenso afluxo populacional em local que deveria ter silêncio e tranqüilidade para o atendimento ao público. Nada mais de crianças berrando, celulares tocando aquelas musiquinhas irritantes e o falatório sem fim.
A estratégia, simples  e de aplicação quase que imediata, dependente apenas de pequenos avanços tecnológicos, baseia-se em três pilares básicos: o desestímulo, o impedimento e a evacuação.
O desestímulo consiste na substituição da central de tele-atendimento 135 por uma secretária virtual semelhante à das operadoras de telefonia. Quem já passou pela experiência sabe como ela facilita vida das pessoas...
“Bom dia, eu sou a secretária virtual da Previdência Social. Se deseja agendar uma aposentadoria por idade digite 4918374657; se deseja agendar uma aposentadoria por tempo de contribuição, digite 8374658823; se deseja agendar uma pensão por morte, digite 7467385738..........para falar com um de nossos atendentes, digite Pi elevado a oitava potência vezes a raiz quadrada de 574 dividido por 11....para reclamações, digite 6785 elevado ao cubo mais 6482950924857 somados ao quadrado de um número qualquer....”
O leitor, com razão, irá alegar que isso terá efeito negativo e atrairá ainda mais pessoas para os postos do INSS uma vez que terão certa dificuldade em fazer os agendamentos. Aí é que entra a fase seguinte, a do impedimento. Para entrar nas APS o segurado será submetido a uma espécie de  self-service de senha, onde ele terá que explicar direitinho o que deseja fazer para conseguir retirar um número que fará a porta, magicamente, abrir-se para ele.
Ilustremos com um exemplo simples, para melhor compreensão:
O segurado aproxima-se do aparelho e diz: “Quero um papel pra viagem”, algo muito simples que qualquer servidor, de recursos bem mais limitados que um computador, logo reconhece com sendo um extrato de pagamento de benefício. Mas a máquina, sem economia de informações, interpretará de maneira mais ampla, oferecendo inúmeras opções para que o segurado confirme uma apertando um botão. “Selecione o tipo de papel desejado: acetinado, couchê, jornal, higiênico, kraft.......” Se nenhuma espécie for selecionada, automaticamente o mecanismo passa para o segundo item do pedido e enumera tipos de viagem, tais como, intermunicipal, interestadual, internacional, de ônibus, de trem, de avião... Se o cidadão, tentando trapacear, apertar o botão aceitando qualquer oferta, a máquina rejeitará o comando pois a Previdência Social não soma aos seus serviços o oferecimento de papel de qualquer tipo nem vende espécie alguma de bilhete de viagem e a operação é reiniciada.
            Evidentemente aparecerão aqueles espertinhos que conseguem  dar um jeitinho de burlar o sistema e interromper a paz reinante na APS. Para eles está reservada a evacuação. Coloque um despertador daqueles antigos em algum lugar oculto, porém, próximo de suas vítimas, acerque-se delas com uma expressão um tanto transtornada e fale bem baixinho: “Não há motivo para pânico mas recebi um telefonema avisando que há uma bomba aqui no salão..” Eles farão um instante de silêncio, nesse meio tempo ouvirão o tic-tac do relógio e pronto, está feito...Felizmente, para eles, não será necessário o uso de senha para se evadirem e a agência retomará a tão necessária tranquilidade. Entretanto, sempre é bom plantar umas minas do lado de fora para evitar reincidências.

quinta-feira, 17 de março de 2011

TÉCNICAS DE SOBREVIVÊNCIA EM APS – SÓ ELOGIOS


Nossa aula de hoje se limitará a uma justa homenagem àquela peça fundamental do mecanismo previdenciário, uma valorosa e altruística personagem, um servidor público autônomo que desenvolve seus trabalhos humanitários no seio das agências do INSS – o despachante e seus correlatos.
Essa figura ímpar que ameniza  áspero contato entre servidor e segurado, está sempre visando o bem-estar de sua clientela e o bom termo de suas ações antes de qualquer interesse pessoal ou vantagem pecuniária. É uma pessoa de caráter íntegro, infinita boa vontade, uma natural simpatia e arraigado sentimento de amizade pelos seus representados. Que outro profissional desfrutaria de tanta intimidade com o seu cliente a ponto de lhe fazer perguntas pessoais e até mesmo sem propósito como: “O seu esposo melhorou da tosse?”, “O ramster de sua netinha ainda gira naquela rodinha?”, “Ainda se vê aquela montanha bonita através da janela da sala?”. Esses mimos verbais alcançam respostas bem além de um simples “As violetas começaram a florir.” Não, elas ultrapassam a superfície das palavras e atingem o coração do segurado. Não é um intermediário que se contrata mas um amigo que se encontra. Uma pessoa com a qual ele poderá contar para o resto de sua vida, alguém que intercederá por ele em todos os momentos de dificuldades. E cobrando razoavelmente pouco por  tudo isso...
Que outra pessoa, além de certos representantes do panteão católico, se dedicaria com tanto afinco a causas impossíveis  como, por exemplo, tentar fazer com que se aposente alguém com apenas um ano de contribuição? Qualquer um desistiria diante da intransigente lei previdenciária mas não ele, o devotado servidor das causas sociais. Por pequenas taxas mensais,  ele há de se dedicar ano após ano a protocolar sucessivas vezes o beneficio desejado, acompanhar o andamento dos processos e interpor recursos. Entretanto, comumente o servidor julga como malícia e interesse aquilo que é apenas o resultado dos restritos recursos intelectuais deste abnegado batalhador que costuma fazer cálculos matemáticos um tanto equivocados de onde se conclui que as contribuições aumentam em progressão geométrica, multiplicando-se vertiginosamente e que, de uma hora para outra, surgirá a possibilidade da concessão do benefício.
Quem mais ficaria ao lado da inconsolável viúva de um centenário senhor falecido prematura e repentinamente antes de efetuar as provas de união estável? Nenhum servidor do INSS lhe colocaria a mão sobre o ombro em sinal de apoio e esperança. Contudo ele está lá, mão na espádua, pronto para lutar contra a injustiça da lei e a má vontade do servidor que, cheio de preconceito vê, na diferença de idade de oitenta anos, um motivo de desconfiança em relação a sinceridade dos sentimentos da jovem viúva e a legitimidade de seu direito à pensão.
Quem, senão ele, o diletante servidor,  que a todos diz que trabalha no INSS, logicamente sem nenhuma intenção de falsear sua atividade, levaria uma senhora de idade provecta a ocultar sua verdadeira condição matrimonial a fim de minimizar a renda familiar e obter um benefício assistencial?
Como conseqüência de sua habilidade no trato com as pessoas, seu senso de justiça, sua devoção aos nobres interesses e sua idoneidade de caráter é natural que tente ampliar sua esfera de ação  adentrando a vida pública por  via da política, candidatando-se a vereador. Infelizmente nem todos são bem sucedidos com o que permanecem na labuta ordinária e o teremos ali, para sempre junto a nós, sozinho ou acompanhado de algum infeliz segurado, este já bem informado sobre as barbáries que nós, servidores,  cometemos, aqueles, cheio de boas intenções, esbanjando simpatia e sinceridade em suas obras de benemerência...



Este capítulo é parte integrante do Manual do INSSano e não pode ser vendido separadamente (Nota do Editor).

quinta-feira, 10 de março de 2011

COMO SE DAR BEM SEM FAZER ESFORÇO – PROFISSÃO : SEGURADO


Vamos agora contar a história de Fulana para ilustrar a tese de que se pode viver sem quase ter que trabalhar para se sustentar, inteiramente às expensas da Previdência Social, essa mãe que a ninguém desampara.
Nosso exemplo de hoje começou uma promissora carreira trabalhista, logo abortada, como verão, em uma loja de lingerie. Pode parecer fácil a tarefa de expor pequenas peças de roupas para uma potencial compradora, porém, trabalhar oito horas diárias era um esforço demasiado para Fulana. Logo começaram as dores lombares, a coceira no nariz, os espirros e o mal-estar, todo um quadro alérgico...ao trabalho, evidentemente. Passados doze meses ela não suportou mais as penas do emprego e começou a faltar com tanta freqüência que, por fim, foi demitida.
Desempregada, tinha diante de si um ano de qualidade de segurado o qual não queria desperdiçar sem ao menos conseguir um auxilio doença. Para tanto, marcou uma  consulta a fim de conseguir um laudo médico. Entretanto, pouco experiente em assuntos clínicos, no consultório entrou mancando e saiu tossindo, tão só com uma receita de xarope na mão e nada de laudo. Foi-se, então,  aconselhar-se com uma prima, profunda conhecedora dos meandros previdenciários e que já conseguira conquistar uma dezena de benefícios assistenciais para a família. Bem orientada, agendou outra consulta médica, agora com um especialista em doenças de causas ocultas, ideal para quem tem uma doença inexistente. Foi lá, queixou-se de dores por todo o corpo, privação momentânea de movimentos, cegueira noturna, falta de ar e de apetite. Lamentou-se tanto que conseguiu do médico um laudo substancioso, antes mesmo da realização de exames para a averiguação do mal que a possuía. No INSS impressionou o perito ao chegar de olhos semicerrados, respirando com dificuldade, com muito esforço andando amparada por duas pessoas de semblantes preocupados. Conseguiu dois meses de beneficio e só não conseguiu mais porque o perito, diante de tão louvável encenação, não acreditava que ela sobrevivesse além esse tempo.
Entretanto, dois meses passam muito rápido para quem recebe sem trabalhar. Retornou ao médico que lhe concedera o generoso passaporte para o auxilio doença para repetir o feito. Porém, um tanto mais lúcido na ocasião, diagnosticou-lhe apenas uma bronquite o que lhe rendeu tão somente uma semana de repouso remunerado. Ao fim do prazo retornou à perícia em uma maca, envolta da cabeça aos pés em ataduras, como se tivesse sido subtraída a uma tumba egípcia. O perito, que nunca antes presenciara uma bronquite evoluir com tamanha rapidez e malignidade, desconfiou; como resultado, indeferiu o pedido de prorrogação.
Fulana ainda tentou, sem sucesso, mais umas cinco ou seis perícias até que sua prima, expert em benefícios previdenciários, lhe sugeriu uma gravidez urgente, antes que findasse o período de graça, o que lhe proporcionaria quatro meses de salário maternidade. Dito e feito, engravidou e acabou por se casar com Beltrano, açougueiro do bairro e pai da criança. Ele era um bom homem, não fosse  ciumento; ela, uma boa esposa, não fosse  assanhada. Uma combinação da qual, convenhamos, não se espera bons frutos. Passado algum tempo, o salário maternidade prestes a findar, aconteceu o que se supunha inevitável quando o marido descobriu que a mulher tinha um caso: o amante perfurado no chão e Beltrano atrás das grades.
Mas nem tudo estava perdido para Fulana que recebeu auxílio reclusão durante todos os anos em que o marido esteve encarcerado. Pouco pensava nele e só o visitava de três em três meses, quando ia à penitenciária pegar a declaração do cárcere para manter ativo o benefício. O mesmo, contudo, não acontecia ao sentenciado que, tão logo se viu livre da prisão, retornou ao lar e ao seu emprego de açougueiro, perturbando, sem o saber, a terceira união mais ou menos estável de sua esposa, então amasiada com o irmão de seu assassinado amante. O rapaz, entre o temor de perder a mulher e o desejo de vingança pela morte do irmão, justiçou o infeliz matando Beltrano. Esta situação rodrigueana, ao fim e ao cabo, não resultou de todo má para Fulana, ao contrário, a partir de então não precisou mais mendigar benefícios temporários à Previdência Social uma vez que, após tanto sacrifício, fora, enfim, premiada com um benefício permanente - a pensão por morte.