quinta-feira, 3 de março de 2011

TÉCNICAS DE SOBREVIVÊNCIA EM APS – A CHEFIA


Partamos da premissa “todo chefe é chato” e fiquemos satisfeitos pela equação não ser o seu oposto - “todo chato é chefe” -  com o que teríamos bem mais para nos incomodar e concluamos que, apesar de tudo, estamos em maioria.
Agora analisemos detidamente: para ser chefe é necessário o pré-requisito da chatice ou isso é um adendo que acompanha a função? Lembre-se do tempo em que seu chefe era apenas um simples colega de trabalho, sem graduação nenhuma, remoendo, mal-humorado, as ordens e cobranças provenientes de seus superiores. E, então, como movido pelo destino, quando surge a expectativa de vacância de poder, há uma inusitada aproximação do chefe com o aspirante à vaga, e tudo magicamente se transforma. De opositor muda-se em partidário, de crítico, passa a  defensor; onde só  via defeitos, enxerga qualidades inusitadas. Ao observar tais alterações humorais, é hora de abrir o olho e censurar as palavras, pois, o seu colega está prestes a deixar de o ser e se metamorfosear em algo que nunca chegará totalmente a ser. Isso porque um chefe de APS, apesar de toda a pompa do título e dos arroubos de vaidade, está sujeito às ordens superiores, à rebeldia e desobediência dos subordinados e, muitas vezes, não passa do guardião da chave do armário de material de trabalho, manietando com absoluto poder o destino dos grampeadores e almofadas de carimbo.
Quando um chefe assume seu posto, ganha alguns centímetros na altura e outros tantos na largura; o pescoço se eleva à altura do seu cargo, o peito se expande para acomodar o orgulho, o queixo se atira à frente anunciando ordens ainda não imaginadas mas já sugeridas, tudo isso para compor uma fisionomia de altiva superioridade. Tremei, canetas e colchetes!
Como você é um servidor público, o chefe não é seu patrão  e  não pode usar a única ameaça que realmente assusta um trabalhador – a demissão. Com isso suas ordens perdem noventa por cento de peso e ele é obedecido mais por complacência do subordinado do que por influência de seu cargo de chefia.
O chefe, conhecedor de seus parcos poderes dedica-se então à mesquinharia genérica que inclui itens como verificar se alguém chegou cinco minutos atrasado ou saiu mais cedo, se vai muito ao banheiro, quanto tempo gasta para tomar café e outras pequenezas do gênero. São coisas miúdas e bobas mas não devem ficar sem resposta e, portanto, a seguir daremos algumas sugestões de como neutralizar a arrogância de seu superior.
Quando acontecer de você atender aquele segurado insuportável, provocador e irritante, ou seja, com as mesmas características de seu chefe, ouça-o em silencio e com um sorrisinho enigmático, entre o deboche e a simpatia, para deixá-lo bastante irritado. Quando ele estiver totalmente furioso e a agressão for iminente, diga-lhe que vai chamar o seu chefe para conversar com ele. Contudo, não se apresse, tome um cafezinho primeiro, troque idéias com um colega, vá ao banheiro e assim, depois de uns quinze minutos, tempo suficiente para o segurado alcançar o total descontrole, convide seu superior para acompanhá-lo até sua mesa. E, enquanto ele tenta acalmar o ser enfurecido, permaneça a seu lado com aquele mesmo sorriso irônico para manter alto o nível de irritabilidade do cidadão e não dar vida fácil a seu comandante. Aprecie o embate e veja como ele se safa.
Outra técnica bastante eficiente é não apresentar um problema de cada vez para que a chefia o resolva. Ao contrário, junte uma meia dúzia de processos problemáticos e os entregue todos de uma só vez para que ele encontre uma solução para você. Junto a isso, lembre-o que o sistema caiu, a impressora está com defeito, o fulano faltou e que você está passando mal. Observe sua reação, veja se ele dá um soco na mesa ou um suspiro desolado. Qualquer coisa entre esses dois extremos é um bom sinal. Depois disso é só adentrar as vias psicológicas, repetindo, diariamente, que ele está com aparência de cansado, pálido e abatido, que precisa tirar umas férias antes que fique doente. Ao fim de um tempo, se ele tiver bom senso, depois de avaliar bem os prós e os contras, vai acabar desistindo do permanecer no cargo.
Evidentemente, depois deles, outros chefes, igualmente chatos virão. Siga a fórmula com todos, derrube-os um a um até chegar a sua vez na linha sucessória. Aí você vê se se mantém firme em seus propósitos iniciais ou se sucumbe à tentação de chefiar...

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

TÉCNICAS DE SOBREVIVÊNCIA EM APS – O FUTURO


No ano de 2560, se o caro colega, ainda na esperança de que a GDASS seja incorporada ao vencimento básico, não tiver se aposentado,  poderá vivenciar momentos verdadeiramente prazerosos no ambiente de trabalho. Então a DATAPREV terá desenvolvido programas totalmente automatizados e quase eficientes para a concessão de benefícios sem a necessidade da intermediação do servidor. Agora estarão, frente a frente, os seus dois maiores inimigos – o segurado e o computador – e a você caberá apenas o aprazível papel de moderador. Vejamos detalhadamente como se darão os fatos:
A Previdência Social funcionará em um amplo ambiente denominado PrevShopping. Logo na entrada estarão dispostos os guichês de autoatendimento para que o segurado processe a sua própria aposentadoria. Vale notar que este deverá se identificar por sua digital bem como todas as pessoas autorizadas a auxiliá-lo, ou seja, os servidores do INSS. Caso ele esteja acompanhado de uma terceira pessoa, como, por exemplo, um despachante-previdenciário – sim, meus amigos, eles ainda andarão por lá, nos últimos suspiros de sua “profissão” e tentando ainda se aproveitar de honestos cidadãos. Bem, caso isso ocorra, a máquina concessora começará a apitar a impressionantes decibéis até que a companhia indesejada se afaste a uma distância segura
Sozinho, o segurado irá seguir passo a passo as indicações da tela. É claro que, tendo sido desenvolvido pela DATAPREV, o mecanismo contará com certas imperfeições como má integração entre os sistemas, interrupções passageiras ou duradouras de atividade, mensagens irritantes como recue duas telas, volte ao início ou game over. Isso, naturalmente, irá minando a paciência do cidadão. É nessa hora que o servidor deve entrar em ação oferecendo um suporte de informações precisas após avaliar atentamente a situação, esclarecendo que nada pode ser feito além de se esperar que o sistema volte a funcionar. E rapidamente deve se afastar a fim de não ser alvo das agressões nascentes naquela vítima previdenciária.
O trabalho do servidor prosseguirá na retaguarda de onde, por trás de uma parede falsa espelhada, como aquelas usadas em delegacias para a identificação de criminosos, acompanhará todos os movimentos do segurado. Caso ele perca o controle e tente resolver a situação de maneira pouco delicada dando murros e chutes, o servidor, responsável por salvaguardar o patrimônio público, acionará um dispositivo de emissão de descargas elétricas cuja graduação irá do mal-passado ao churrasquinho. Aconselha-se só usar este último quando se tratar de um atravessador de modo a desestimulá-lo no prosseguimento da tarefa se não forem os tropeços do sistema suficientes para tanto. Um exemplo deste último caso é a tela de cadastramento de procurador. Depois de totalmente preenchida com os dados do mesmo, a tela se apagará e ele terá que começar tudo de novo. Lá pela quinta ou sexta vez, o sujeito começará a ficar impaciente; na oitava já estará avaliando se vale mesmo a pena tanto esforço  em troca de apenas dois salários-cliente; na décima-primeira tentativa  virá o desespero e na décima-quinta, o pontapé inicial. Já ao terceiro chute deverá ser aplicado a pena máxima, também conhecida como choque-torresminho, que eliminará o atravessador de uma vez para sempre, transformando-o em um irreconhecível montículo de cinzas. Reconheçamos que até a DATAPREV pode acertar de vez em quando.
Findas essas dificuldades iniciais, aposentado o segurado, o crédito é emitido instantaneamente e, antes de sair do ambiente que lhe proporcionou tão agradável conquista, ele deverá  percorrer todas as  dependências do PrevShopping, onde irá encontrar de tudo para suprir as suas necessidades básicas e  também as supérfluas, sempre a preços módicos, de forma a gastar todo o seu rendimento de uma única vez, deixando ali  exatamente tudo o que  recebeu, contribuindo, desta forma, para diminuir o  déficit previdenciário. Para que não passe o restante do mês sem saldo algum, a última escala do estabelecimento será a PrevPréstimo, onde ele poderá fazer um empréstimo consignado, já comprometendo o próximo pagamento.
Como vimos, em pouquíssimo tempo, a Previdência Social se alçará ao mais alto grau de excelência em atendimento e resolutividade, o ápice da perfeição institucional. E nós, valorosos servidores, não teremos que fazer mais nada do que apreciar a vingança que o tempo nos proporcionará.



sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

TÉCNICAS DE SOBREVIVÊNCIA EM APS – NOVOS SERVIÇOS


Verão! Férias! Nada melhor do que um programa familiar num lugar aprazível – a vovó vai se aposentar! Prepare-se para receber toda a família no aconchego de sua APS.
Lá vêm eles: a segurada-aposentanda, o marido, a filha, os três netinhos e ...o totó.
As crianças correm pela agência, põem abaixo as cadeiras desocupadas, derrubam bengalas e muletas e seus respectivos proprietários enquanto os adultos, muito concentrados, discutem sobre qual é o melhor endereço para correspondência. Se com uma única pessoa já  se encontra dificuldade sobre o tema, que se dirá com três.
- Rua das Flores, 12.
- Não, Rua das Acácias, 35.
- A casa fica entre três ruas e a principal é a Rua dos Jacintos.
E você está ali, pacientemente, aguardando o resultado daquela botânica discussão, quando alguém grita:
- É cocô!
Todos olham na direção do autor daquele substantivo fedorento - o que o nomeou não o que o produziu, visto este estar momentaneamente invisível -  menos os três, imóveis ali na sua frente, em silêncio absoluto e isentos de qualquer curiosidade. Mas as crianças não são assim tão discretas e logo uma declara com bastante convicção:
- É do Thor!
Ao ouvirem o nome de tão guerreira divindade escandinava, os que não se imobilizam de medo, correm para o banheiro, apavorados com o que se prenuncia ser um rottweiler ou um pitbull. Entretanto, meio ao silêncio sepulcral,surgido de um canto qualquer, um tanto assustado, abanando um toquinho de rabo, surge um poodle toy.


Essa pequena história familiar serve apenas para ilustrar a necessidade de se oferecer novos serviços ao cidadão-segurado,  visando ao seu bem-estar e ao de sua família bem como à agilidade do atendimento. Para isso foi elaborado o Programa PrevFamilia, sem custo adicional para o contribuinte, uma vez que não será necessário aumentar o número de servidores pois o INSS conta com um efetivo funcional bastante amplo e até mesmo, em parte, ocioso.
Agora que o cidadão-despachante previdenciário está caindo em desuso de maneira proporcional a seu descrédito, sabidos finórios que são, o segurado prefere, muitas vezes, vir acompanhado de seu cônjuge ou filho ou neto ou sobrinho ou amigo ou vizinho quando não de todos juntos para o caso de dificuldade de responder a algum questionamento muito complexo por parte do servidor como, por exemplo, o endereço para correspondência. O que fazer com aquela turba barulhenta ao seu redor enquanto você tenta habilitar o benefício? Para isso foi criado o PrevBingo constando de duas ou três máquinas caça-niquéis, situadas no fundo da agência a tilintar a esperança de faturar um troco. Em APS em que o espaço livre seja exíguo, esse equipamento pode ser substituído por uma simples mesa para apostas de jogo de bicho, sendo necessário destacar apenas um ou dois servidores para anotar os números, de acordo com o movimento do dia. Vale sublinhar  que esse desvio de função não deve ser concordante com desvio de conduta portanto, nada da embolsar o valor arrecadado.
Outro serviço indispensável é o PrevCreche que contará com um quadro de servidores-recreadores que, usando, finalmente, os conhecimentos adquiridos através  das apresentações do T&D, divertirão a petizada enquanto a vovó se aposenta. Este tempo poderá ser ampliado caso haja necessidade de a segurada fazer compras no supermercado ou ir à manicure.
É sabido que é muito duro para o cãozinho da família ficar sozinho em casa enquanto todos se divertem nas confortáveis dependências da Previdência Social. Para evitar traumas caninos é que foi criado o PrevDog onde o seu animalzinho poderá passar horas agradáveis na companhia de servidores altamente qualificados e especialmente treinados para entretê-lo além de dispensar cuidados importantes como banho e tosa.


Com o PrevFamilia a Previdência Social se firmará definitivamente como o segundo lar do cidadão brasileiro,  reduto de paz e harmonia, filial terrena do Paraíso...Quanto a você, colega...bem, deixa pra lá...

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

TÉCNICAS DE SOBREVIVÊNCIA EM APS – O ATENDIMENTO RESOLUTIVO


Hoje nós vamos aprender como conceder uma aposentadoria em 30 minutos conforme alardeia a propaganda oficial. Vamos cronometrar passo a passo um atendimento resolutivo. Tomemos como exemplo uma aposentadoria por idade.
O INSS tem a rara característica de eliminar a vaidade feminina de ocultar a idade. Uma mulher de 59 anos que, para as amigas mais íntimas revela ter 55 anos e, para as mais afastadas, 50, no INSS, a nossa segurada do exemplo afirma ter 60, com a graça e a leveza  com que uma menina de 5 anos diz ter 6. A princípio o servidor pensa tratar-se de um erro de cálculo devido a uma certa deficiência aritmética. Depois de algumas vãs tentativas de esclarecer da idade da cidadã, o colega percebe que ela está convicta, não de sua falsa idade, mas de dar entrada no benefício. Nesse caso não se deve insistir muito afinal você só tem 30 minutos para conceder uma aposentadoria.

TEMPO GASTO INUTILMENTE  -  10 MINUTOS

Agora vamos dar uma analisada naquela carteira profissional velhinha e lá estão exatos oito anos trabalhados e isso é tudo de contribuição que ela afirma ter. Na hora em que você esboça dizer que ela não tem tempo suficiente para se aposentar, ela o corta logo dizendo que quer se aposentar por idade. Não percamos tempo com explicações inúteis; o tempo é curto.

TEMPO GASTO INUTILMENTE – 5 MINUTOS

Agora, “rapidamente” vamos pegar os dados do CNIS e fazer acertos no CADPF. Tente abrir o programa, uma, duas, três, quatro..........vezes. Vá anotando o número de tentativas para uma estatística posterior. Opa! Parece que agora vai...ah! caiu... Raul Seixas, que já devia conhecer a DATAPREV, aconselhava: “Tente outra vez”. Siga o conselho daquele outro insano. Estamos fazendo essas considerações para dar tempo ao sistema de refletir sobre a necessidade de funcionar. Mas tenhamos paciência pois já recebemos um email dizendo que o CNIS está instável. Instável é um eufemismo para inoperante já que o CNIS é instável quando em plena forma.
Resumindo esta longa etapa vamos ao que interessa. Outro item polêmico de uma habilitação é o endereço do segurado. Muitos deles costumam morar em local onde só as cabras montanhesas sobem por prazer e o carteiro, nem jurado de morte, ousa visitar. Esse é o caso da nossa segurada. Daí você solicita que ela lhe dê um endereço digamos, mais acessível, e ela menciona o da cunhada só que ela não sabe qual o endereço da mesma e imaginava que você talvez soubesse. Por fim fica decidido que a correspondência seja enviada para a casa dela mesma pois o carteiro entrega tudo no bar do Seu João.

TEMPO GASTO PARA ACESSAR O CNIS E FAZER ACERTOS CADASTRAIS – 45 MINUTOS

Agora que estamos um pouco atrasados, conseguimos habilitar o beneficio no Prisma com bastante rapidez. Só falta a cidadã assinar o requerimento. Aí surge uma pequenina dificuldade: ela não se lembra mais como juntar aquele monte de letrinhas que formam o seu nome. Você, solícito, se propõe a ajudar: - Vamos começar, Dona Sônia, faça a cobrinha...Não, Dona Sônia, a cobrinha não tem rabinho, quem tem rabinho é o C. Isso, muito bem, agora vem aquela bolinha bem redondinha, e por aí vai.

TEMPO GASTO NA ASSINATURA DO REQUERIMENTO – 15 MINUTOS

Quando você pensa que vai se livrar do atendimento, vem a pergunta fatídica: - Já estou aposentada? Então, o servidor que, depois de tanto tempo junto com a segurada deveria fazer  jus até a uma pensão por morte caso ela conseguisse se aposentar,  tenta novamente dizer que ela não reúne os requisitos necessário para a aposentadoria por idade. É quando ela, fazendo confusão entre Previdência Social e Providência Divina, diz com inusitada certeza: - Jesus vai me ajudar! (Ele vai ter que mostrar que é bom mesmo em milagre, você pensa).

TEMPO GASTO NA DESPEDIDA – 10 MINUTOS


 TOTAL DE TEMPO GASTO INUTILMENTE – 1 HORA E 25 MINUTOS.


Passou um pouco do almejado mas não desanime. Tente outra vez.




sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

TÉCNICAS DE SOBREVIVÊNCIA EM APS – O MATERIAL DE TRABALHO

Um precavido servidor do INSS deverá disponibilizar mensalmente uma pequena verba para gastos em papelaria. Não que a Instituição deixe de fornecer o material de escritório e, sim, por ser este de qualidade questionável e procedência duvidosa. Tomemos por exemplo as canetas graciosamente oferecidas e que o servidor experiente evita o mais que pode; no primeiro tombo, ela quebra, no segundo, já não se  dá mais importância pois há muito vinha falhando. Entretanto, mesmo que se tome bastante cuidado e se evite a queda, ela, em pouco tempo, vai rachando ali na ponta, perdendo pequenos pedaços até levar um curativo de durex para agüentar mais uns dias.
Raramente recebe-se como brinde uma caneta bonita, de boa qualidade, como o logotipo da Previdência, porém, esta tem a estranha faculdade de fugir de seu dono e aparecer misteriosamente na mesa de algum colega de trabalho que não fora agraciado pelo brinde. Para evitar esta inexplicável evasão ela deve ser tratada como um cachorro fujão, amarrada por uma corrente ou então trancada numa gaveta, o que é mais difícil pois poucas são as gavetas que ainda possuem fechaduras e chaves.
Mas esses pequenos detalhes de canetas vagabundas ou grampeadores incompatíveis com os grampos, são incômodos de pouca monta. O terrível mesmo são os computadores e seus programas. Essas máquinas infernais são o que realmente importam neste capítulo pois hoje vamos aprender como enlouquecer sem perder a razão. Nada de xingar o software nem de chutar o hardware. Controle-se. Parta do princípio que o computador e seus adendos são muito piores e mais maliciosos que o mais desagradável dos segurados. Suas maldades não duram apenas o tempo de um atendimento, elas se estendem infinitamente e se agravam a cada dia. Respondam-me: Quem suporta os programas do CNIS?! Não é necessário responder, todos sabemos - NINGUÉM. E tenha certeza que ele age da forma que age premeditadamente, de propósito, com o único intuito de nos levar a loucura. Mas o servidor deve estar acima dessas mesquinharias. A mesma coisa acontece com o computador que não liga nas cinco primeiras tentativas mas que desliga e reinicia a qualquer momento durante o atendimento. Isso sem contar que quando um computador “novo” chega a nossa mesa ele já passou tanto tempo guardado aguardando autorização de uso que já está obsoleto. Embora  um computador não seja vinho, ele fica tanto tempo envelhecendo abandonado num canto qualquer que, quando é retirado da caixa embolorada, aquele tonel de maturação, mal funciona. Então são chamados os rapazes da DATAPREV para pôr a máquina em funcionamento. Chamam logo quem, justo aqueles que desenvolvem aqueles programas malditos com os quais temos que lidar o tempo todo. Isso é um acinte, uma provocação que merecia uma reação violenta da parte do servidor. Mas um servidor do INSS deve ser superior as essas mesquinharias. Isso não quer dizer que não deva se vingar....
 O CNIS está caindo a toda hora? O SABI dá mensagem de erro sem parar? O Prisma dá críticas absurdas? Não se desespere. Vá até os arquivos de programas e delete parte deles. Delete também partes do sistema operacional. Ou introduza um pen drive com um vírus de rede daqueles violentos como uma bomba de fragmentação e que acabam de vez com o seu inimigo. E, enquanto a rapaziada da DATAPREV queima os miolos tentando descobrir o que foi que aconteceu, fique ali do lado deles, tomando um cafezinho, fazendo cara de paisagem e se deliciando com o destempero deles. Nada melhor do que um castigo bem aplicado.


sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

TÉCNICAS DE SOBREVIVÊNCIA EM APS – OS CURSOS


Para se tornar um bom servidor da Previdência Social são necessários diversos e constantes cursos de capacitação. Todo dia há uma novidade importante na legislação previdenciária da qual somos inteirados com considerável atraso, o que nos leva a concluir que todo nosso procedimento de um semestre estava totalmente incorreto. Com o objetivo de sanar essa defasagem de conhecimento, são providenciadas, com a urgência possível, ligeiras reuniões técnicas, de, no máximo, uma semana, antes que os erros apresentados sejam substituídos por outros antes mesmo de serem corrigidos.
A princípio isso pode parecer um tanto assustador para o servidor em início de carreira. Nos primeiros dez anos, muitas coisas nos assustam... Pairarão, sobre o novato, os fantasmas da auditoria, corregedoria, cárcere e morte. Mas, dessa sequência trágica, quase todos escapam, por isso não há muito o que temer. O bom servidor é audacioso, temerário e...louco.
Esses benéficos cursos que nos põem a par das alterações da legislação, atualizações de procedimentos e outras mais inovações costumam ser divididos em duas partes: a informação e a cobrança. São etapas muito elucidativas ao fim das quais o colega estará sabendo tudo aquilo o que deverá fazer embora não exatamente como o fará. Os problemas a resolver ficam todos explicitados, já as soluções ficam por conta de sua imaginação e criatividade, como, por exemplo, convencer um sistema a agir em conformidade com algum novo entendimento de lei ou decreto e para o qual ele ainda não está programado. É coisa para muita psicologia, sem dúvida, porém, nada muito complicado para alguém que já atingiu certo grau de insanidade.
De modo geral, essas reuniões de oito horas diárias são bastante interessantes, pelo menos até o primeiro cochilo. Com a repetição deles fica mais difícil o entendimento daquelas frases entrecortadas de bocejos e pestanejares pesados. Após o almoço, que transforma toda voz em cantiga de ninar e quando o ronco do vizinho embala o seu sono, é hora, finalmente, de entrar em ação o T&D, já nosso conhecido desde a lição anterior.
Nesses momentos de constrangimento coletivo, quando é impossível  manter-se desperto, sempre aparece alguém na sala para atrapalhar a tranqüilidade da sesta. Então, tem-se que jogar bola, dar ridículas corridinhas pelo salão, cantar, dançar, pular de forma a sacolejar o almoço que nem bem assentou no estômago. O resultado de toda essa agitação tende a ser desastroso mas não vamos entrar em detalhes para não nos distanciarmos de nosso tema.
Daremos aqui um exemplo de um dos jogos realizados nessas ocasiões: cada um tem que encher uma bola de gás (o gás, no caso, é o oxigênio de seus pulmões – cuidado com o esforço...), dar um nó para mantê-lo cheio e eis que você acaba de ganhar um velho e grande amigo o qual deve ser protegido de todo e qualquer ataque do exterior. Agora você ganha um alfinete com o qual deverá eliminar, explodir, o velho e grande amigo de seu colega. Essa atividade de dúbia e precária moral sacode o corpo e espanta, momentaneamente, o sono. Entretanto, tão logo volta à aula, arrotando a comida remexida,  você já estará novamente lutando contra as pálpebras. Não resista. Durma á vontade, babe, se for o caso, aproveite, porque já estará quase chegando a hora do lanche da tarde.





sábado, 22 de janeiro de 2011

TÉCNICAS DE SOBREVIVÊNCIA EM APS – AS ALTERNATIVAS


Neste ponto de nossa instrução, tantos problemas colocados, o leitor já deve estar pensando seriamente em mudar de carreira.  Porém, não há razão para  uma atitude tão dramática. Muitas vezes, basta trocar de setor, subir uns lances de escada e se instalar na gerência para que tudo se transforme. Para o servidor exausto da batalha diária e necessitado de recreio e relaxamento, aconselha-se o T & D (Treinamento e Desenvolvimento). Este departamento, para quem não o conhece, é especializado em fazer.........sanduíches. Nos raros cursos que são ministrados no laboratório de informática, entremeados de lanches, o T & D providencia excelentes momentos de degustação, evidentemente com o dinheiro arrecadado entre os treinandos. Para quem gosta de culinária é uma ótima oportunidade.
Também para os fotógrafos amadores porque há muito que retratar a fim de ilustrar boletins eletrônicos. Ou para aqueles que têm vocação para recreadores pois aprenderão diversos tipos de brincadeiras e passatempos. Talvez possa parecer, ao leitor inexperiente, ser esse apêndice do RH um tanto sem propósito e de uma inutilidade ímpar. Entretanto, em nosso próximo capítulo, daremos mostras de que isso não condiz com a realidade.
Nesse local de tão variadas e agradáveis atividades o servidor se sentirá em férias permanentes e só, mui raramente, quando por acaso encontrar, pelos corredores, um ex-colega de luta, lembrar-se-á  de que ainda trabalha na Instituição. Mas trate logo de afastar essa má recordação de sua cabeça! Xô, coisa ruim!

Há servidores, entretanto, que apreciam muito o serviço de uma APS apenas não toleram mais atender o público pelas razões exaustivamente analisadas anteriormente. Para eles, o recomendado é mudar de lado do balcão, deixar de ser servidor e se transformar num “despachante previdenciário”. Então você não vai mais precisar ouvir desaforos como quando, pela correção devida ao seu cargo, dava alguma informação útil e necessária, porém, desagradável. Ao contrário, para esse revoltado segurado você irá oferecer os seus préstimos (e cobrar regiamente por isso, afinal você não terá mais emprego). Essa é uma excelente oportunidade de se vingar dos maus tratos recebidos quando desempenhava a antiga função. Agora é você que está no controle, pode explorar o infeliz o quanto queira e ele ainda o vai considerar um amigo uma vez que, na opinião dele, você está desempenhado a honrosa tarefa de combater a crueldade e a injustiça da Previdência Social. E ele se sentirá como uma donzela prestes a ser salva do dragão pelo príncipe que a desposará.

Para aqueles com tendência mais arrojada e mesmo radical, podemos recomendar uma atividade ainda incipiente, porém, que, com o apoio governamental, tem tudo para se transformar num grande sucesso. Uma vez que o governo se manifestou contrário à prisão de pequenos traficantes, o ex-servidor, poderá  se tornar um micro-empresário voltado para este tipo de negócio. Talvez uma empresa de entregas a varejo, já que não se poderá trafegar por aí com grandes quantidades de bagulho. Traficar, sim, mas sempre dentro de legalidade para não ter problemas com a polícia. Senão, só conseguirá se livrar da cadeia se for por excesso de contingente, o que, a bem da verdade, nem é tão difícil assim. Mas é melhor não bobear.

sábado, 15 de janeiro de 2011

TÉCNICAS DE SOBREVIVÊNCIA EM APS – O ABESTADO

O abestado, contrariamente ao que o leitor possa imaginar, não é algum segurado pouco esperto ou certo neófito senador. A pessoa em questão é você, caro colega.
O abestamento tem grande utilidade no dia a dia de um servidor da Previdência Social e deve ser aplicado para evitar confronto com o segurado. Vejamos duas conjunturas:
No primeiro caso temos aquela pessoa que não quer entender o que você  diz pois vai de encontro ao seu interesse. Por exemplo, para uma aposentadoria por idade o seu opositor apresenta quinze anos de contribuição sendo que cinco deles passados em auxílio doença. Quando você esclarece que estes cinco anos não serão considerados para a carência** e que, portanto, ele não atingiu as condições para se aposentar, seu oponente finge que não entende e faz você explicar, não apenas uma, porém,   cinco, dez vezes a mesma coisa. Ora, ninguém precisa de tanto para compreender algo tão simples, logo não se trata aqui de  deficiência intelectual  e sim de uma original teimosia que assola o segurado que passa a querer se vingar do portador da má notícia. Ele quer tirá-lo do sério, fazer com que perca a paciência para então chamá-lo de grosseiro, sem educação e demais amenidades. Sugerimos aqui que o servidor repita a explicação cinco vezes e depois ponha em prática a lição de hoje de modo a levar o segurado ao entendimento realizando, por assim dizer, um choque de gestão. Observe o exemplo a seguir, dado em forma de diálogo entre segurado (1) e servidor (2).
1 – Não estou entendo, pode me explicar mais uma vez? (a sexta vez...)
2 – Explicar o quê?
1 – Aquilo  que você acabou de falar agora! (nesse ponto o seu opositor já começa a ficar desestabilizado.)
2 – O que foi que falei?
1 – Sobre o auxílio doença, ora, sobre o que mais?! ( e você, tranqüilo.......)
2 – O que foi que eu falei sobre o auxílio doença?
1 – Que ele não conta para a carência para a aposentadoria por idade, que eu não vou conseguir me aposentar agora ! #@$%&*#
2 – Ah, é isso mesmo, não conta para a carência, o senhor tem toda a razão! Eu havia me esquecido!
Bingo!

Outro caso é aquele do segurado que, pretensamente, sabe muito mais de legislação previdenciária do que você. Ele tem predileção por certos artigos da IN * em detrimento de outros e quer lhe ensinar como e onde aplicá-los de modo que ele seja beneficiado. Ouça esta livre interpretação da lei acenando com a cabeça levemente, de forma positiva (enquanto isso você pode se distrair  utilizando os ensinamentos da nossa primeira lição – a matemática). Deixe-o falar à vontade, nunca o conteste; ele ficará satisfeito por ter-lhe ministrado conhecimentos de jurisprudência caseira e irá embora feliz da vida, pensando que o convenceu e que vai ter seu benefício concedido.
Lembre-se que o segurado tem sempre razão e sem ele, que faz questão de dizer que paga o seu salário, você não teria esse emprego tão gratificante. Entretanto, não se aprofunde muito no raciocínio para não concluir que vender pipoca na praça seria bem melhor para você...

* Instrução Normativa
** Regra alterada

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

TÉCNICAS DE HOMICÍDIO EM APS - AS METAS

Quando o novo servidor chega ao INSS, é recebido com muito carinho...




Daí a um mês ele é informado de que precisa se esforçar mais para cumprir as metas ou a sua gratificação (e a dele também) poderá diminuir


                              Você se esforça, trabalha feito um condenado, faz hora extra e não dá conta de tantos processos. Aí seu chefe o chama para uma conversinha amigável....



Assim que você sai do hospital volta direto para a agência mas, passado mais um mês, os processos represados foram se acumulando, as metas não serão atingidas e então seu chefe fica nervoso e chama você para mais uma conversinha, desta vez, pouco amigável.....


sábado, 8 de janeiro de 2011

TÉCNICAS DE SOBREVIVÊNCIA EM APS – O IRRITADINHO


É muito comum aparecer um segurado que, antes mesmo de ser atendido, já está praguejando contra a Previdência Social em sua forma mais material que é um servidor ou o conjunto deles. Quando sua senha é chamada ele vai aos píncaros da ignorância e, aos berros, quer saber porque você desfalcou a aposentadoria dele. Ele nunca está satisfeito com o que recebeu e você é o responsável por todo e qualquer dano financeiro que o esteja acometendo no momento. Não adianta você esclarecer que ele tem duzentos empréstimos consignados pois ele tem certeza de que não fez nenhum. Ele é do tipo que não quer argumentar nem compreender, quer apenas atacar o culpado.
Então é hora de agir... Tenha sempre consigo um daqueles dardos tranqüilizantes de que os veterinários e biólogos se valem quando precisam capturar animais selvagens. Discretamente, aproxime-se de sua vítima de forma amigável e dê-lhe uma espetada calmante. Mas tenha cuidado com a dosagem pois embora ele seja uma fera, não tem o porte de uma e poderá vir a óbito por overdose  o que poderá complicar bastante a situação uma vez que junto da ambulância costuma sempre vir um daqueles repórteres de jornalecos sem notícia que no dia seguinte estampará aquela manchete já bem nossa conhecida: “Homem morre na fila do INPS”. Portanto, refreie seus ímpetos assassinos.
Uma alternativa muito melhor é reverter o jogo. Quando o segurado o agredir, verbal ou fisicamente, simule um ataque fulminante. Caia no chão espumado e babando, estrebuche, dê um gemido longo e sofrido, arregale os olhos e tombe a cabeça para o lado mirando fixamente o seu opositor. Um médico perito deve estar por perto para atestar o óbito com o gesto simples de sacudir a cabeça de forma negativa após auscultar o seu coração. Essa simulação causa grande impacto e representa uma manchete positiva no jornaleco acima mencionado e, durante cerca de uma semana, nenhum irritadinho vai se meter com seus colegas. Certifique-se de ganhar uns dias de folga para poder ressuscitar com tranqüilidade.
 Como uma APS assemelha-se muito com um barril de pólvora, a voz alta e agressiva de um rabugento pode inflamar o restante dos segurados e logo outras vozes lhe fazem coro caracterizando um motim. Nessas horas, nada melhor do que a participação coletiva em uma atividade lúdica. Um servidor poderá vestir um uniforme do BOPE e, assim fantasiado de Capitão Nascimento, portando um fuzil de brinquedo poderá pacificar a agência apontando o a arma para a cabeça de cada um dos revoltosos gritando: “Pede pra sair!”. Num  instante a agência estará  apaziguada ou, melhor ainda, completamente vazia.