Partamos da premissa “todo chefe é chato” e fiquemos satisfeitos pela equação não ser o seu oposto - “todo chato é chefe” - com o que teríamos bem mais para nos incomodar e concluamos que, apesar de tudo, estamos em maioria.
Agora analisemos detidamente: para ser chefe é necessário o pré-requisito da chatice ou isso é um adendo que acompanha a função? Lembre-se do tempo em que seu chefe era apenas um simples colega de trabalho, sem graduação nenhuma, remoendo, mal-humorado, as ordens e cobranças provenientes de seus superiores. E, então, como movido pelo destino, quando surge a expectativa de vacância de poder, há uma inusitada aproximação do chefe com o aspirante à vaga, e tudo magicamente se transforma. De opositor muda-se em partidário, de crítico, passa a defensor; onde só via defeitos, enxerga qualidades inusitadas. Ao observar tais alterações humorais, é hora de abrir o olho e censurar as palavras, pois, o seu colega está prestes a deixar de o ser e se metamorfosear em algo que nunca chegará totalmente a ser. Isso porque um chefe de APS, apesar de toda a pompa do título e dos arroubos de vaidade, está sujeito às ordens superiores, à rebeldia e desobediência dos subordinados e, muitas vezes, não passa do guardião da chave do armário de material de trabalho, manietando com absoluto poder o destino dos grampeadores e almofadas de carimbo.
Quando um chefe assume seu posto, ganha alguns centímetros na altura e outros tantos na largura; o pescoço se eleva à altura do seu cargo, o peito se expande para acomodar o orgulho, o queixo se atira à frente anunciando ordens ainda não imaginadas mas já sugeridas, tudo isso para compor uma fisionomia de altiva superioridade. Tremei, canetas e colchetes!
Como você é um servidor público, o chefe não é seu patrão e não pode usar a única ameaça que realmente assusta um trabalhador – a demissão. Com isso suas ordens perdem noventa por cento de peso e ele é obedecido mais por complacência do subordinado do que por influência de seu cargo de chefia.
O chefe, conhecedor de seus parcos poderes dedica-se então à mesquinharia genérica que inclui itens como verificar se alguém chegou cinco minutos atrasado ou saiu mais cedo, se vai muito ao banheiro, quanto tempo gasta para tomar café e outras pequenezas do gênero. São coisas miúdas e bobas mas não devem ficar sem resposta e, portanto, a seguir daremos algumas sugestões de como neutralizar a arrogância de seu superior.
Quando acontecer de você atender aquele segurado insuportável, provocador e irritante, ou seja, com as mesmas características de seu chefe, ouça-o em silencio e com um sorrisinho enigmático, entre o deboche e a simpatia, para deixá-lo bastante irritado. Quando ele estiver totalmente furioso e a agressão for iminente, diga-lhe que vai chamar o seu chefe para conversar com ele. Contudo, não se apresse, tome um cafezinho primeiro, troque idéias com um colega, vá ao banheiro e assim, depois de uns quinze minutos, tempo suficiente para o segurado alcançar o total descontrole, convide seu superior para acompanhá-lo até sua mesa. E, enquanto ele tenta acalmar o ser enfurecido, permaneça a seu lado com aquele mesmo sorriso irônico para manter alto o nível de irritabilidade do cidadão e não dar vida fácil a seu comandante. Aprecie o embate e veja como ele se safa.
Outra técnica bastante eficiente é não apresentar um problema de cada vez para que a chefia o resolva. Ao contrário, junte uma meia dúzia de processos problemáticos e os entregue todos de uma só vez para que ele encontre uma solução para você. Junto a isso, lembre-o que o sistema caiu, a impressora está com defeito, o fulano faltou e que você está passando mal. Observe sua reação, veja se ele dá um soco na mesa ou um suspiro desolado. Qualquer coisa entre esses dois extremos é um bom sinal. Depois disso é só adentrar as vias psicológicas, repetindo, diariamente, que ele está com aparência de cansado, pálido e abatido, que precisa tirar umas férias antes que fique doente. Ao fim de um tempo, se ele tiver bom senso, depois de avaliar bem os prós e os contras, vai acabar desistindo do permanecer no cargo.
Evidentemente, depois deles, outros chefes, igualmente chatos virão. Siga a fórmula com todos, derrube-os um a um até chegar a sua vez na linha sucessória. Aí você vê se se mantém firme em seus propósitos iniciais ou se sucumbe à tentação de chefiar...