sábado, 15 de outubro de 2011

                                        INSSaNews

Dataprev anuncia concurso
para 100.000 vagas










    Depois da trágica experiência vivida por uma equipe de servidores da Dataprev em uma APS foram tomadas providências para a melhoria dos sistemas da Previdência Social.
   Após várias reuniões com o senhor ministro que, estranhamente, só tinha ouvido falar em CNIS no batizado de um sobrinho que recebera esse nome, disseram-lhe, em sua homenagem  e que nossa reportagem apurou, posteriormente, ser a criança assim  chamada por ter nascido durante o atendimento do salário maternidade enquanto o servidor que  atendia a mãe tentava, em vão, colher informações do dito sistema a fim de habilitar o benefício. Justa, portanto, a homenagem ainda que não muito lisonjeira a sua intenção. Aliás, Knis, Quinis, Kinispefe e outras mais variações são tudo efeito da mesma causa elevando o inédito nome ao top 10 dos mais usados pelos recém-nascidos atualmente.
    Na verdade, a tal sigla anda tão em voga  que os mais modernos já não morrem na fila do INSS preferindo morrer na fila do CNIS, de acordo com as manchetes dos jornais que mudam os detalhes, porém,  não as notícias.
   Posto a par da situação, esclarecido sobre as dificuldades encontradas no trato dos benefícios, o senhor ministro transmitiu as recentíssimas informações para os andares de cima da administração com a recomendação expressa de que se tratava de salvar a reputação da Dataprev, cujos sistemas de informatização incompatíveis com a informática, iam se transformando em meros padrinhos de bebês de nomes esquisitos.

  Em poucas semanas criou-se uma verdadeira força tarefa para salvaguardar a empresa e foi anunciado um mega concurso que ofereceria 10.000 vagas para especialistas em informática.
   Informados de que não era só a instituição que corria perigo mas também o CNIS, filho dileto do órgão e outras crias mais novas, foi acrescentado mais um zero à cifra anterior e agora serão oferecidas 100.000 vagas para contratação imediata.
   Para bancar o custo da portentosa operação em época de séria contenção de despesas e pela urgência e relevância do tema, foi emitida uma medida provisória criando mais um imposto para a captação dos recursos necessários. Trata-se ISDVP (Imposto Sobre Desvio de Verbas Públicas) que consistirá no desconto 1% de todo o montante surrupiado aos cofres públicos, desde o dinheiro circulante em cuecas  até os valores mais higienicamente  escamoteados; de simples propinas ao superfaturamento de obras públicas, o que nos leva a acreditar que a Dataprev muito lucrará com os grandiosos futuros eventos esportivos e, em poucas décadas, o CNIS poderá vir a ser tão eficiente quanto o Google.
   Preocupado com os rumos da democracia e, diz um comentário maldoso, com os próprios bolsos, o Congresso se reuniu para debater a atitude presidencial. Um cientista político que presenciou a urgentissima reunião, oculto por trás de uma cortina, resumiu o fato em uma significativa parábola: “Barbas e bigodes se contorcem para sair desta saia justa sem cair do salto.” Aguardemos o desenrolar dos fatos...

         


domingo, 9 de outubro de 2011



         INSSaNews

Servidores da DATAPREV enfrentam o CNIS

    Após inesperado surto de  reclamações a respeito dos considerados eficientes serviços prestados pela DATAPREV à Previdência Social,  servidores daquele órgão foram designados para observar de perto o resultado de seus esforços informáticos participando, durante uma semana, da rotina de uma agência do INSS. Logo no primeiro dia da experiência, um deles ficou tão horrorizado com o que presenciou que saiu correndo do perímetro de teste e,  desnorteado, não prestou atenção ao trânsito e foi atropelado, tendo morte instantânea. Rezemos por sua alma.
  
    Os que não tiveram a sorte de deixar este mundo em momento tão crítico sofreram o tormento de enfrentar a sua criação, esse aglomerado de  sistemas  mal rejuntados, de interação conflituosa e comunicação hesitante, uma obra digna de um Dr. Frankenstein cibernético.
    
  Umas vezes mudos, outras, calados, sempre estupefatos, eles testemunharam as vãs tentativas dos servidores de utilizar seu mais famoso sistema, aquele que atende pelo nome de CNIS Cidadão e o resto de sua família, todos igualmente dotados da qualidade de levar ao desespero a totalidade de seus usuários, comprovando, a cada instante, a sua obsolescência e ineficácia.
   
  Finda a semana de tortura, os sobreviventes deixaram suas opiniões e sugestões a respeito da supliciosa experiência. Um deles, que não quis se identificar – e, curiosamente, ninguém o fez – disse que o CNIS, sendo um sistema relativamente novo, não tendo ainda nem 20 anos, precisa de uns pequenos ajustes para se tornar funcional e solicitou, para isso, um prazo de uns poucos anos. Aguardemos com fé.

  Outro, aparentemente mais lúcido e sensato, concordou que o CNIS é aquilo mesmo que os servidores acham que é, porém,  por respeito aos leitores, vamos nos resguardar  de citar o pouco delicado vocábulo.

   Um terceiro que se pronunciou falou sobre a possibilidade de se criar um programa de milhagem em que os servidores iriam acumulando pontos a cada tentativa frustrada de utilização do CNIS e que seriam trocados por dias de folga, o que os levariam a suplantar as dificuldades do dia a dia com mais boa vontade.

  O último entrevistado, não se sabe se em sinal de camaradagem com os sofridos servidores da APS ou em defesa do fruto de seu trabalho, alinhou-se àqueles que desejam o retorno das 30 horas e declarou: - Não são necessárias oito horas para se fazer uma consulta ou uma atualização em nossos sistemas; seis horas são suficientes. Esperemos que, em breve, ele esteja certo.
                       

domingo, 2 de outubro de 2011

MOMENTO POÉTICO - ODE AO CNIS (ou ODEIO O CNIS)



Oh! Meu odiado inimigo CNIS
Por que você faz com que eu tenha
De digitar tanta informação
Como a matrícula, a senha
E o nome do cidadão
Para então negar-se a trabalhar?
Desta vez foi por um triz,
Já ia em meio a minha pesquisa...
E lá vou eu ter de novo de digitar
Toda aquela infortunada sequencia...
Por que não dá um sinal, não avisa
Vive a testar a minha paciência
E repito de novo e de novo
Todos aqueles dados
E já se aglomera o povo,
Ansioso e apressado
E olha o que você me fez
Acabou de me deixar na mão,
Vou ter que começar tudo outra vez...
CNIS, meu terrível tormento
Que transforma num suplício
Uma simples habilitação.
Quando chegará o momento
De eu conceder esse benefício
Que dizem que sai em meia hora,
Se você teima em não funcionar?
Já tem segurado indo embora
Porque não agüenta mais esperar,
E você não está nem aí para isso...
Vê se funciona, seu desgraçado,
Não me atrapalhe mais o serviço!
Filhote maldito da Dataprev  -
Outra vez você caiu!
Eu xingo o monitor e soco o teclado -
Para nada você serve !
Eu dou  gritos, alucinada,
Sistema miserável e vil!
Você quieto, não reage,
Sorte que não sou desbocada,
Se usasse a linguagem de Bocage,
A rima seria bem menos sutil...




domingo, 25 de setembro de 2011

TÉCNICAS DE SOBREVIVÊNCIA EM APS – 135



A Previdência Social oferece ao cidadão um canal remoto para que ele obtenha informações e faça agendamentos de benefícios sem  ter de se deslocar até uma agência do INSS.
O atendimento pelo 135, cuja ligação é gratuita para todo o país, à exceção de ligações feitas por celular, que aí já é abuso e desperdício de dinheiro público, é feito por atendentes terceirizados, altamente qualificados, com grande conhecimento de legislação previdenciária adquirida em sua fugaz passagem pela instituição.
O trabalho se caracteriza também pela boa vontade dos atendentes que acatam qualquer pedido do segurado fazendo todos os tipos de agendamento principalmente  para serviços que não são mais oferecidos como, por exemplo, simulação de tempo de contribuição, feito exclusivamente pela internet. Tal dificuldade é contornada com o  agendamento de qualquer outro benefício para o que o contribuinte apresente-se à APS, na hora aprazada, para ouvir diretamente do servidor do INSS que tal serviço é feito exclusivamente pela internet. Portanto, não se espante o colega se, algum dia, ao chamar um salário maternidade, apareça em sua frente um robusto senhor de meia idade cuja semelhança com uma parturiente reduza-se a uma exuberante pança proporcionada pela abundância de cerveja.  Ele colocará em seu guichê uma pilha de carnês e outra de carteiras profissionais e ficará indignado quando o servidor perguntar se ele pretende dar entrada no salário maternidade, benefício efetivamente agendado. E cabe ao infeliz servidor, sem o anteparo do anonimato nem de nenhum telefone, esclarecer, informar e acalmar o segurado, a essa hora irritadíssimo com a sua negativa em fazer a contagem de tempo por ele desejada.
Outro bom serviço prestado por esse canal remoto diz respeito à vanguarda da legislação quando o segurado obtém aprazíveis informações a respeito de cálculo de aposentadoria que ainda não foi e muito provavelmente nunca será implementado, como, por exemplo, que a soma de 50 anos de idade mais 10 de recolhimento perfazem 60 o que dá direito à aposentadoria por idade para as mulheres. Então, bem recomendada chega a senhora, sem idade mínima nem tempo bastante, e cabe a você, colega de lida e sofrimento, dar-lhe a má noticia, ouvir sua interlocutora argumentar que não obteve tal informação de um servidorzinho qualquer mas do 135, para então apaziguar seu chilique, secar-lhe as lágrimas e abanar-lhe a fronte.
Criado e incentivado pelos atendentes do 135  o Prevdente  consiste no “antes pecar por excesso que por falta” que faz com o cidadão compareça à agência munido de todos os documentos possíveis e imagináveis menos os indispensáveis para a obtenção do benefício pleiteado, como é o caso da viúva que, pretendendo dar entrada na pensão por morte do marido aposentado, traz, como solicitado pelo 135, todas as carteiras profissionais e carnês, tanto dela quanto dele, identidade, CPF, cartão do SUS, cartão de banco, carteira de vacinação, receita médica e remédio para tosse, esquecendo-se apenas da certidão de óbito do finado, porque não fora informada da necessidade de sua apresentação, de modo que é mais fácil a requerente deixar a agência  aposentada que pensionista o que, no fim das contas, não é de todo mau, embora inusitado.
Para neutralizar essa atrapalhada solicitude e elástica interpretação da legislação previdenciária sem que seja suspenso a atendimento telefônico, está sendo planejado a terceirização globalizada do serviço que passará a ser oferecido pelo 135000, localizado na China, o que em muito barateará o custo  do serviço além de não alterar substancialmente o seu resultado, a não ser que algum segurado entenda mandarim.

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

TÉCNICAS DE SOBREVIVÊNCIA EM APS – O ESOTERISMO


      Um servidor do INSS precisa, para manter sua inssanidade em níveis aceitáveis, sem muitas crises e abalos emocionais, passar por cursos iniciáticos de variada complexidade, formando, a reunião de todos, uma doutrina secreta dominada por poucos e sábios mestres, que transmitem seus conhecimentos herméticos a uma meia dúzia de escolhidos.
O primeiro curso a ser ministrado ao iniciante é o de karma yoga ou a yoga das ações desinteressadas. Este deve ser o princípio básico da relação do servidor do INSS com a instituição, com os segurados, a chefia e os sistemas da DATAPREV. O colega deve colocar todos os citados itens à frente do seu salário que deverá ser visto apenas como o efeito de boas causas realizadas.  Um exemplo são os sistemas com os quais trabalhamos diariamente cuja questionável funcionalidade se sofistica a cada dia sem que isso implique em correspondente melhoria de acessibilidade e manuseio. Tomemos por base o novo mimo que nos foi ofertado, o CNISPF. Este maravilhoso e conciso sistema parte do princípio de que não se deve acertar um cadastro em uma tela e 10 cliques se o pode fazer em três telas e 300 cliques, em moderníssimo e refinado estilo rococó cibernético. À primeira vista, ou seja, antes de realizado o curso de karma yoga, o servidor pode ficar um tanto irritado com toda essa frescura para se acertar um cadastro, com tantas exigências desnecessárias, entretanto, depois deste primeiro diploma, estará completamente adequado ao seu destino, sofrendo as agruras do dia a dia com absoluto desprendimento.
Outro curso bastante interessante que compõe o currículo do servidor esotérico é o de Faquirismo, através do qual ele se tornará apto a trabalhar alheio a certas premências fisiológicas que tanto incomodam certos gerentes, como a alimentação, as idas ao banheiro e os cafezinhos, podendo renunciar, assim,  ao horário de almoço e outras mais necessidades comezinhas, economizando as duas horas que o servidor costuma gastar diariamente em suas idas e vindas até suas fontes de nutrientes e alívios, ampliando, sobremaneira, a carga horária utilizada para o efetivo trabalho.
O módulo mais avançando destas experiências místicas é o de paranormalidade que inclui, entre outros aprimoramentos dos sentidos,  a telepatia e a vidência. A primeira facilita muito o relacionamento como o segurado que chega a APS sem saber explicar o que ali veio fazer uma vez que a comunicação por pensamento dispensa a relação verbal. É de enorme utilidade para o servidor que está distribuindo as senhas já que saberá exatamente para que setor encaminhar seu interlocutor mental de modo a agilizar a fila e  sem incorrer em erros de direcionamento.
Já a vidência é muito importante em atendimentos em geral onde ajudará o servidor a enxergar aquilo que só o segurado consegue ver sem aditivos paranormais como tempo de contribuição que não consta em sistema nem em CTPS, documentos não apresentados, entre outros. Ao mesmo tempo que o clarividente servidor vê o inescrutável, deixará de perceber as evidências contrárias às necessidades do cidadão como inclusões indevidas de vínculos no CNIS.
Ao fim deste último e mais valoroso curso, poderá  o ilustrado servidor se perguntar se estaria na autarquia caso tivesse desenvolvido anteriormente o dom da premonição, porém, este é um pensamento que o bom senso aliado aos conhecimentos recém-adquiridos logo afastará de sua mente.

  

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

TÉCNICAS DE SOBREVIVÊNCIA EM APS – O CONCURSEIRO FELIZ



O felizardo concurseiro do INSS que percorreu, não sem ansiedade, o longo caminho que vai do edital até a nomeação tem toda a razão de estar em estado de graça em seus primeiros dias de trabalho, principalmente por ter se livrado, pelo menos momentaneamente, do incômodo neologismo que, em vários casos, o relacionava diretamente ao desemprego. Esse maravilhoso período se resume em uma exagerada boa vontade em relação a todo ser vivente que  circule pelo ambiente de trabalho seja ele colega, segurado ou mesmo o auto-denominado “consultor previdenciário” e dura, normalmente, até o recebimento do tão esperado primeiro salário, impiedosamente gasto em poucos dias,  momento em que ele percebe que os honorários não são assim tão bons quanto ele imaginava, não tanto pelo valor como pelo seu alto custo, constituindo esse  o seu primeiro choque com a realidade.
A partir de então, já acostumado com a rotina diária, mas ainda mantendo a alegria de servir, de onde se origina o substantivo de sua profissão, o neófito já consegue fazer certas distinções entre os colegas, a reconhecer os segurados mais assíduos e a achar um tanto cansativa a presença insistente dos tais “assessores previdenciários”, os quais já denomina, mentalmente, com adjetivos menos elaborados e não muito lisonjeiros. 
Bem sabemos que ninguém nasce com a vocação para servidor público desde as priscas eras em que o mesmo era representado em sua repartição apenas por um paletó  envolvendo o encosto da cadeira, que podia lá ficar por dias sem que se desse pela ausência de seu proprietário. Bons tempos aqueles... Hoje  os funcionários públicos, com invejáveis exceções, trabalham. E os servidores do INSS lotados nas agências trabalham em dobro uma vez que não podem ser divididos ao meio sem considerável perda de sua capacidade laborativa, o que facilitaria em muito a alocação do mesmo em mais de um setor de atendimento.
Depois de um semestre de luta contra os sistemas rebeldes que só funcionam quando e como  desejam  acrescidos às dificuldades de se lidar com uma clientela de variada complexidade e uma legislação em constante mutação, o servidor já está achando que precisa de um aumento – salarial, que o de trabalho é constante. Esse é o início da crise dos seis meses também conhecida como “as ilusões perdidas”. É nessa etapa de vida laboral que o servidor tem que se precaver para não se tornar um desiludido trabalhador e se identificar com os colegas mais antigos. Aconselha-se, então, a começar imediatamente um trabalho de recuperação da estima profissional enfrentando, com honra e galhardia, os problemas diários. Nessa fase inicial da crise abstenha-se de remédios controlados, use apenas,  e até quando for possível, calmantes fitoterápicos.
Se, ao completar um ano de serviços prestados à valorosa autarquia, ao invés de cederem, as tentações de esmurrar o computador ou, caso crítico, um segurado ou o seu equivalente representante, tenham quase se tornado irresistíveis, está na hora de procurar ajuda em algum comprimido mais eficaz. Não o arsênico, não cheguemos a tanto. Essa fase se denomina “as ilusões irremediavelmente perdidas”. É um período que se pode considerar definitivo na vida de um servidor do INSS. Ela se caracteriza, inicialmente, por consulta aos jornais de concursos públicos ou uma intensa vontade de tentar algo novo como, por exemplo,  virar camelô ou vendedor de amendoim em ponto de ônibus. Segue-se, então, um período de revolta, em que nenhum aumento salarial, nenhuma promessa amaina e o desejo de fuga e liberdade  o persegue constantemente como a um presidiário. E é esse significativo momento, em que ele passa a concordar com todos os detalhes descritos no presente manual,  o mais apropriado para dar uma reviravolta em seu destino.
Passada essa terrível fase, caso não tenha sucumbido à tentação de abandonar tudo,  o servidor já terá alcançado a estabilidade após os três anos de estágio probatório, e adentra a fase do desânimo, onde ainda se questiona, mas já com menos desespero, se vale mesmo a pena fazer outro concurso e talvez encontrar iguais dificuldades e frustrações e se teria forças para pedir uma exoneração e se aventurar por profissões mais lucrativas embora arriscadas. O servidor permanece nesta etapa por variável período de tempo, em permanente crise existencial, até passar à fase definitiva, a do marasmo absoluto, onde concorda com tudo, não discute, não questiona e não reclama tendo como objetivo unicamente a aposentadoria  e a liberdade que a acompanhará. 

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

TÉCNICAS DE SOBREVIVÊNCIA EM APS – O COMBATE



 - 15h15min, não vem mais, pensou Dona Conceição, vou aproveitar para finalizar aquele processo.
    Pegou o tal do processo, percorreu suas páginas, tudo parecia tranqüilo, a se encaminhar para o final feliz da concessão. Um a menos para pesar no famigerado IMA.
    Assim distraída com o trabalho não percebera a presença de Seu José que, resfolegando, sentou-se quase à sua frente, num lugarzinho recém vago na agência lotada. Ele consultou  o relógio  - 15h20min -  deu uma sonora cafungada para acomodar o muco nasal  e cruzou os braços sobre o peito, em atitude pouco amistosa. Depois lançou um olhar de menosprezo crítico sobre os servidores, em especial sobre Dona Conceição, “aquela lá que não estava fazendo nada”.
    - Titica - resmungou, em pensamento, Dona Conceição - tinha que ser múltipla atividade, e das cascudas, estava bom demais para ser verdade, resolver um processo entre dois atendimentos. Essa atividade é principal em relação esta mas secundária em relação àquela. Ou não. Sempre me embanano, daqui não saio...
     - Concentrada assim, deve estar jogando paciência ou vendo o saldo bancário, porque trabalhando é que não está -  pensou, mal humorado, Seu José.
    E tanto olhou em sua direção que Dona Conceição sentiu um incômodo indefinido que a fez levantar a cabeça e olhar na direção de seu algoz mental, espiando por cima dos óculos, a sobrancelha esquerda erguida em sinal de indagação. Ele a desafiou com um olhar frio e duro, que lhe dizia: “pensa que está aí à toa e ninguém percebe?” Dona Conceição voltou ao trabalho mais irritada ainda.
  - Aposto que ele está imaginando que eu estou aqui à toa, jogando paciência enquanto ele está esperando para ser atendido,  quando, na realidade,  estou aqui tentando resolver essa encrenca antes do próximo atendimento, protestou, silenciosamente, a servidora.
   Consultou o relógio para verificar quanto tempo ainda tinha até o próximo agendamento: 10 minutos lhe restavam .      
 -  Tá na hora de ligar para o namorado, é? - criticou o pensamento do segurado.
 - Não vai parar de encarar, não, ô cara chato! - retrucou o pensamento de Dona Conceição. E continuou, mudando o tema:  - Vou pedir para o Fulano me ajudar com esse PBC complicado e se levantou para cumprir a intenção.
- Ah, cansou de jogar e agora vai tomar um cafezinho...trabalhar que é bom, nada! – concluiu Seu José.
    Sem maior divertimento, já que a atormentada Dona Conceição estava fora de alcance visual, Seu José consultou novamente as horas: 15h40min, “isso é um absurdo, já estou aqui há quase uma hora e ninguém me atende”. Começou a falar alto com o segurado que estava sentado ao lado, reclamou que não o cidadão não era respeitado, que estava esperando há mais de duas horas e ninguém o atendia. Entendeu que, assim sentando, causava pouco impacto e se levantou, aumentou o volume das críticas procurando alguma voz que fizesse coro com a sua, encontrou parceria numa voz feminina que logo se calou quando sua dona foi puxada pelo braço pelo ponderado marido. Tanto Seu José vociferou que a supervisora acudiu.
 -  Estou há quase três horas aqui esperando para ser atendido e olha que tenho hora marcada, estou agendado para as 15:00 h e já são quase 16:00h, isso é uma total falta de respeito, um afronta ao cidadão, existe uma lei que...foi interrompido pela servidora:
 -  O senhor pegou senha?
 - Senha? - perguntou, o segurado, numa voz que foi baixando o tom enquanto cedia espaço para a vergonha - precisa pegar senha mesmo tendo hora marcada?
 - Precisa, sim, senhor, dirija-se ao balcão, pegue sua senha  e logo será atendido.
    Dona Conceição, que não havia apreciado o  espetáculo e que,  portanto, nada sabia, resolvido o problema de seu processo, voltou para atender a aposentadoria que já havia chegado. Inocentemente imaginava que fosse o agendamento das 16:00h...
    -  Ah, não - pensou ela, ao ver Seu José se encaminhar em sua direção – é muito azar.
    - Ah,  foi preciso eu reclamar para que a mocinha aí resolvesse trabalhar, né? - resmungou o pensamento de Seu José, quando sentava diante da servidora.
     Armada de seu mais gentil e artificial sorriso, Dona Conceição o recepcionou: - Boa tarde, Seu José, o senhor veio dar entrada em sua aposentadoria?, enquanto pensava: - Ah, se eu pego quem deu essa senha com uma hora de atraso!
     Igualmente equipado de falsidade, um educadíssimo Seu José respondeu: - Vim, sim, minha senhora, acho que já está na hora, enquanto pensava: - se depender dessa daí, tô frito, aí é que não me aposento mesmo...
       

sábado, 20 de agosto de 2011


INSSaNews

Revisão de benefícios e novidades no LOAS

   Uma das principais queixas dos aposentados e pensionistas da Previdência Social  é defasagem salarial a que se submete sua renda mensal. Muitos alegam que recebiam dez salários mínimos ao se aposentarem e que agora, passados menos de quarenta anos, recebem apenas três.
    A fim de corrigir esta gritante discrepância entre os valores antigos e os atuais é que será feita a revisão de todos os benefícios com base em novos valores para o mínimo e o teto com a instituição do mínimo previdenciário no valor de R$ 100,00 e o teto de R$ 600,00.
    Os novos valores foram aprovados pelo Ministério da Providência Social após conferência com o Sindicato dos Segurados e Insegurados Sociais visando melhorias dos rendimentos dos beneficiários do INSS que voltarão a ganhar o equivalente de salários mínimos que ganhavam quando da concessão do benefício.
   Já os benefícios assistenciais serão favorecidos de forma diferente uma vez que, não sendo benefícios previdenciários, não poderão seguir a nova tabela e continuarão tendo seus valores vinculados ao mínimo nacional.  
   Para tanto foi criado o PES (Plano de Expansão de Segurados) que ampliará, ainda mais, a crescente classe dos segurados não contribuintes. A idade mínima para a solicitação do benefício assistencial ao idoso baixará de 65 para 50 anos, já que ficou evidenciado que quem passou 50 anos na  prática do ócio não precisa esperar mais 15 anos para comprovar o que já ficou bem explicitado ao longo de cinco décadas: de não é apto às atividades trabalhistas.


       Também aos pretendentes ao benefício assistencial ao deficiente será facilitado o ingresso ao imenso contingente de incapacitados nacionais com a ampliação do leque de doenças e mazelas que impossibilitam o bom desempenho laboral  em função da declarada atividade que poderia ser exercida pelo requerente caso este não sofresse determinadas adversidades. Por exemplo, unha lascada, acne, caspa e seborréia, são, para as aspirantes à modelo, um entrave à carreira, logo, a presença de algum desses fatores poderá lhe gerar impedimentos trabalhistas que deverão ser amainados com o recebimento do benefício assistencial. O mesmo pode ocorrer a uma pessoa obesa que alegue estar impossibilitada a trabalhar como doceira pois engordaria ainda mais provando os quitutes por ela confeccionados, prejudicando-lhe a saúde. Este sistema de análise pericial também será aplicado para a avaliação  de auxilio doença.
    Também serão beneficiados aqueles cidadãos que, por não terem suas carreiras ainda regulamentadas, não podem exercer livremente sua profissão, como assaltantes, sequestradores e traficantes.  Ao valor deste benefício, será acrescido um adicional de periculosidade devido à exposição regular a fatores de risco.
    Desta forma, a Providência Social tenta minimizar as diferenças entre a classe trabalhadora e a classe ociosa  sem que os representantes desta última tenham que sacrificar o seu empenho no ofício do lazer.

Benefícios para todos

sexta-feira, 12 de agosto de 2011


INSSaNews

Servidora do INSS é presa por acusação de fraude, seqüestro e falsidade ideológica

    Ontem, a servidora do INSS, Dona Lúcia, foi presa no momento em que tentava mandar, através de seu email institucional, uma caixa contendo dentes humanos. A Polícia Federal, que havia grampeado o telefone e os emails da servidora, desde o desaparecimento de Dona Conceição, interceptou a mercadoria que estava sendo enviada para a redação deste jornal com o intuito, explicou, mais tarde,  a INSSistente social, de que todos soubessem que a servidora acima citada estava em seu poder.
     O INSSaNews tem o dever de esclarecer que repudia tais atos de barbárie impetrados por Dona Lúcia e seu asseclas bem como não faz jornalismo sensacionalista e que, antes de tudo, é compromissado com a realidade dos fatos e noticia de forma responsável e imparcial.
    De sua cela, Dona Lúcia concedeu uma entrevista exclusiva para este jornal em que declara ser, para espanto de todos que a conhecem,  elemento de uma gangue oriunda do planeta Marte e que, de conluio com despachantes previdenciários, seqüestra segurados da Previdência Social para sugar, temporariamente, seus traços fisionômicos e arquivo mental e se apresentar em forma humana nas agências do INSS com o objetivo de obter benefícios assistenciais, usando documentação falsa.
   Essa informação explica o fato de que, aparentemente.  tantas pessoas conseguirem chegar aos 65 anos sem nunca ter trabalhado ou requerer benefícios assistenciais ao deficiente considerando  caspa e frieira como males incapacitantes.
   A forma utilizada para permanecer com o aspecto humano mais duradouro é vampirizar,  semanalmente, e  quase  sem dolo,  um  ser
  
  
humano que, em troca, passa a agir em conformidade com seu algoz por determinado período de tempo, fato que vinha acontecendo á Dona Conceição.
         Indagada dos motivos que a fizeram escolher justamente o Brasil para a sua ação intergaláctica, Dona Lúcia respondeu que é o país em que se tem maior facilidade em obter benefícios em todo o Universo. Questionada sobre se a moeda local teria algum valor em seu planeta, a prisioneira esclareceu que, para seu povo, o importante é atingir o ponto fraco de cada país para, no conjunto, enfraquecer a humanidade. No caso em questão, promovendo a deslealdade, a má-fé e a corrupção, em todos os seus aspectos e amplitudes, sintomas esses que nos levam a crer que há milhares de infiltrados em nosso país, evidentemente não apenas em sua classe mais desfavorecida. Provocando a fragmentação da raça humana, a Terra se torna alvo fácil para uma invasão marciana, com o que vemos, pela primeira vez, o Brasil situar-se na vanguarda dos interesses coloniais extra-terrenos, desbancando até mesmo os americanos que, até então, lideravam o ranking dos países mais cobiçados. 
   Sobre Dona Conceição, diz a ré, que foi mesmo abduzida, que se encontra em poder de alienígenas e que só será libertada após a concessão de todos os benefícios indeferidos por ela.
   O material contido na caixa interceptada pela polícia passará por exame de DNA para comprovar se pertencem realmente à servidora sequestrada.

        Suposta dentadura de Dona Conceição passará por exame de DNA


sexta-feira, 5 de agosto de 2011

INSSaNews

Desaparecimento de servidora do    
 INSS abala a Previdência Social

    Misteriosos acontecimentos tiveram início quando a  servidora Dona Conceição foi encontrada desacordada, numa noite de lua cheia, em praia do  litoral mineiro, onde passava as férias, com dois pequenos furos em sua jugular, acredita-se, causados por objeto perfurante.
    Pela manhã, ao recuperar-se, queixou-se de dor de cabeça e excessiva sensibilidade à luz e outros sintomas não foram relatados. Apenas seus colegas de trabalho estranharam o fato de ela usar constantemente, apesar do calor, um cachecol à volta do pescoço e semelhante a Caetano, achar tudo lindo. Não cessava de repetir que o segurado era lindo, que amava o SISREF, que adorava o seu trabalho e, mais estranho ainda, tornou-se amiga íntima de Dona Lúcia, a assistente social com a qual não costumava dar-se bem.
     A aparente mudança de personalidade gerou alterações bastante sensíveis em seu comportamento profissional. Antes, muito rígida na interpretação da legislação previdenciária, tornou-se irresponsavelmente solidária com a demanda dos segurados, inserindo tempo de contribuição nos sistema de concessão de aposentadorias, concedendo pensões de companheira sem os devidos documentos comprobatórios de união estável e alterando o grupo familiar de benefícios assistenciais de modo a facilitar o deferimento do benefício.
    E tanto fez em prol dos segurados que sua generosidade correu de boca em boca e não tardou que ficasse conhecida em todo o país, atraindo verdadeira romaria de interessados em obter um benefício que não era concedido em outra praça.
 Entrementes, outro fato semelhante aconteceu ao Dr. Perito, que, depois de ter ficado desaparecido por três dias, voltou ao trabalho, coincidentemente usando também um cachecol do qual não se afastava, e passou a conceder auxílios doença e aposentadorias por invalidez a todos os que lhe eram submetidos à perícia.
   
  Houve tumulto e brigas na APS já que todos queriam ser atendidos unicamente  pelos dois generosíssimos servidores até que, no fim do mês passado, Dona Conceição, em repentino momento de lúcida reflexão, compreendeu, horrorizada, que vinha fraudando a Previdência e readquiriu seus hábitos honestos o que diminuiu consideravelmente as concessões dos benefícios. Houve muitas reclamações e Dona Lúcia, sempre sensível aos rogos dos segurados, convocou Dona Conceição à sua sala. Após ouvir-se um grito medonho, viu-se Dona Conceição disparar em direção à porta da agência, de cabelos em pé, agitando os braços erguidos e correu tão rapidamente que ninguém a pôde acompanhar e, desde então, não foi mais vista. Interrogada, Dona Lúcia, afirma desconhecer o motivo de tão desabalada carreira e mais não quis esclarecer.

                   Dona Lúcia: Não sei de nada