sexta-feira, 30 de agosto de 2013

TÉCNICAS DE SOBREVIVÊNCIA EM APS - O CONTRACHEQUE


No capítulo de hoje nós vamos falar sobre um assunto que muito angustia os servidores da nobre Instituição, mormente a polêmica do possível fim da insalubridade de  quem ainda a recebe. É importante frisar que o término desse benefício não visa a uma economia para os cofres públicos, mas tem  uma finalidade psicológica de amplo espectro. O objetivo é evitar servidor sinta-se trabalhando em um ambiente pouco saudável e que possa adquirir alguma ziquizira a qualquer momento. Essa situação de insegurança psicológica tem o poder de realmente materializar-se em alguma doença e afastar o trabalhador de suas atividades ou, mesmo se mantendo aquartelada em seu ambiente mental, pode gerar temores vãos nada edificantes, atitudes compulsivas de desinfecção das mãos e outros mais desconfortos que façam com que o servidor perca tempo de trabalho em higienes desnecessárias e, em desdobramento, achar que o segurado possa lhe transmitir alguma espécie de mal gerando algum tipo de preconceito com relação às mazelas apresentadas pelo cliente. Portanto o que está aqui em jogo não é o valor da insalubridade, mas, sim, a sua necessária e completa exclusão do local de trabalho; removendo o adicional monetário, excluem-se também suas causas e seus efeitos.
Outro ponto em permanente discussão é quanto ao auxílio alimentação, também conhecido como vale-coxinha-sem-catupiry, para o qual se deseja equiparação com os valores percebidos pelos servidores do Judiciário e do Legislativo, com a mera alegação de que temos o direito de comer tanto quanto eles. Injusta reinvindicação, pois  é  visando a saúde do trabalhador, que deve se manter fino e elegante, em espartano regime,  os homens, com barriga de tanquinho e as mulheres,  com cinturinha de vespa,  que fomos agraciados com tão diminuto e econômico adicional alimentício. Afinal, coxinhas de galinha, sejam elas com ou sem catupiry, e outros mais acepipes calóricos, engordam e deformam a silhueta. A boa notícia que temos a dar é que  o servidor que estiver com uns quilinhos sobrando verá minguar ainda mais o seu econômico vale-alimentação a fim de se adequar à tabela de massa corporal ideal elaborada por nutricionistas especialmente contratados.
Também por motivo de saúde deverá ser excluído o auxílio-transporte para que o servidor possa iniciar e finalizar o seu dia com aprazíveis caminhadas ou longas pedaladas, resultando em abdômen definido, gordura zero e taxa de serotonina nas alturas. Todos esses cuidados, minuciosamente arquitetados pelo plano superior, gerarão enriquecimento da qualidade de vida dos servidores. Da mesma forma, com a saúde perfeita, não será necessário o recebimento dos valores da rubrica  saúde complementar pois ninguém mais vai precisar ter um plano de saúde ainda mais agora que o SUS encontra-se abastecido de médicos importados de notório saber e inquestionável  capacidade.
Outra questão muito importante é incorporação da GDASS ao vencimento básico. Vejamos um desdobramento nefasto que isso poderia ocasionar: o aumento absurdo da GAE que corresponde a 160% do valor salário base. Para atender ao desejo do servidor e contornar a dificuldade esta última gratificação sofrerá uma alteração de nomenclatura  e passará a se chamar Garantia Adicional de Estabilidade e mudará da coluna de créditos para a de débitos. Explica-se a vantagem desta aparente discrepância: o servidor passará a gozar de uma estabilidade inalienável, ou seja, mesmo que queira não poderá se livrar deste excepcional benefício; não será exonerado nem a pedido, estará vinculado ao INSS até a aposentadoria compulsória, aos 85 anos de idade.
            E agora, com um contracheque higienizado e enxuto, onde os débitos se sobrepõem aos créditos, deverá o servidor utilizar-se do exemplo de desapego altruísta dos médicos cubanos e ficar muito satisfeito com as mudanças ocorridas. Afinal, em meio a tanta gente desempregada por aí, você que tem um empregão estável como este, ainda vai querer salário?

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

INSSaNews

DICAS E CONSELHOS DE DONA CONCEIÇÃO

        

Meus amiguinhos, hoje eu vou dar umas dicas e receitar para vocês alguns remedinhos para diminuir a carga de trabalho e aliviar o estresse.
        Todos nós sabemos que não adianta falar com o chefe que não você não foi talhado para a sublime ocupação que é o atendimento ao público.  Gerentes costumam ser muito solidários com nossas dificuldades, lamentam nossa sorte, porém, nunca se sentem na condição de alterá-la dando, em troca de nossas solicitações de remoção  e lamentos, inúteis sorrisos complacentes.
        Também é de conhecimento geral que não podemos nem devemos tratar mal um segurado, precisamos ser sempre gentis e polidos ainda que a recíproca não seja equivalente.
        Igualmente, não há a possibilidade de restringir o número de atendimentos de uma agência, dificultar a entrada de pessoas, solicitar silencio ou esperar ser respeitado pela integridade dos segurados. Uma APS, como todos sabem, é a casa da mãe Joana, onde todos, menos os servidores, fazem o que bem entendem.
        E quanto mais se atende mais se sujeita à irritação e ao cansaço e, portanto, devemos buscar por nós mesmos soluções para nossos problemas cotidianos.
         Vou apresentar aqui três alternativas, por assim dizer, orgânicas para nos livrar do atendimento não por nosso interesse ou por demonstração de má vontade ou de falta de educação com relação ao segurado, mas por iniciativa do mesmo.
         Por apenas R$ 99,99 você pode adquirir um par de Luvas Verrugosas de minha fabricação. São luvas extra suaves, de agradável contato e invisível aparência, onde sobressaem grandes, avermelhadas e peludas verrugas, dando um aspecto bastante repulsivo e evitando aquele aperto de mão muito comum a certos ‘devogados’ que lhe perguntam o nome e lhe tomam a mão a fim de estreitar os laços de amizade que não possuem nem nunca possuirão com você. Os modelos femininos são acompanhados de um kit de unhas pintadas em cores modernas para dar um ar asqueroso fashion à sua nova aparência. E não é só isso, na compra de dois pares das Luvas Verrugosas você leva, inteiramente grátis, adesivos verrugosos para o nariz e o queixo. Esse item é muito importante também porque mexe com o  imaginário infantil não só das crianças mas também dos adultos pois o remete às histórias de bruxa que o aterrorizam na infância. E assim que o segurado, com experiência anterior, ver que foi chamado, por renovação de um azar,  por sua mesa, vai disfarçar, fingir que não é com ele, dar uma voltinha, pedir  outra senha e torcer para que não novamente chamado por você.
        Para servidores arrojados, Tia Conceição indica a Simulação Vomitória que consiste em, como bem explicita o termo, expelir substâncias alimentares na presença de algum segurado. Funciona assim: o colega deve ter junto a si um copo com sopa que  será levada à boca, discretamente, no momento da aproximação de sua vítima (escolha o “consultor previdenciário” de sua preferência) e quando ela se aproximar, puááááá, vomite tudo sobre a mesa ou, em atitude ainda mais temerária, sobre a própria pessoa. Indicamos o uso da sopa Minestrone por conter pedaços de legumes e macarrão que darão um aspecto bastante indigesto, para o caso de o cliente ter curiosidade de admirar o resultado de seu esforço. Sopa creme de cebola, com aqueles pedacinhos da erva bulbosa, costumam ter também um ar bastante autêntico. Depois o servidor poderá ainda se aproveitar desse seu mal-estar e tirar um ou dois dias de licença para tratamento de sua saúde estomacal.
            Outro meio muito eficaz de afastar segurados e, por conseguinte, livrar-se do atendimento por desistência do próprio é o uso dos Tabletes Arrotivos Dona Conceição. Nossos tabletes, feitos com matéria prima importada, provocam gases pútridos que, expelidos, exalam um ar nauseabundo, em cuja área de atuação abre uma clareira na agência lotada, deixando lugares vagos onde ninguém mais há de querer sentar. Imagine, então, aproximar-se da mesa exalante. Cada arroto garante uma sequência de quinze senhas ‘não compareceu’. Um método infalível de esvaziar a APS. O único efeito colateral é que o servidor usuário e seus colegas da vizinhança também serão atingidos pelo aroma asfixiante, mas não deixa de ser um pequeno incômodo que evita outro maior. Os Tabletes Arrotivos são oferecidos em três exclusivas fragrâncias: carniça, esgoto e chorume. Peça já o seu.           



sexta-feira, 2 de agosto de 2013

INSSaNews
Entrevista Exclusiva com o novo Ministro


O INSSaNews tem a grata satisfação de entrevistar em primeira mão o ocupante do mais  recente ministério criado para resolver os problemas nacionais. O norte-coreano Nu Sen Sunga, importado especialmente para ocupar o cargo de Ministro de Importação de Recursos Humanos, através de seu intérprete iraniano, gentilmente respondeu aos questionamentos deste jornal.
INSSaNews: Quanto à vinda dos médicos cubanos para atuarem no Brasil, o senhor não teme que eles, quem têm em seus cursos de medicina mais aulas teóricas do que práticas, não estejam suficientemente preparados para o trabalho aqui no país?
Nu Sen Sunga: Os médicos não precisam estar preparados; quem tem que se preparar é o povo...
INSSaNews: É verdade que os médicos cubanos irão atuar também como peritos do INSS?
Nu Sen Sunga: Vão substituir todos eles... Esse bando de gente má que nega benefício só porque paralítico anda e cego enxerga.
INSSaNews: Então esse tipo de artifício não é inadmissível?
Nu Sen Sunga: Devemos sempre avaliar o contexto da situação; ninguém pede um benefício sem ter necessidade dele, mesmo que essa necessidade não seja explicitada de modo ortodoxo. Às vezes o segurado tem trabalhado muito e necessita de um descanso extra, outras vezes sofre de preguiça crônica, males estes que não devem ser desprezados, como frequentemente acontece.
INSSaNews: Compreendo... Mas, o que farão os peritos desalojados do seu cargo?
O Ministro Nu Sen Sunga


Nu Sen Sunga: Revalidarão seus diplomas após um extenso curso de espanhol. De agora em diante, todas as consultas médicas deverão ser feitas na língua de Fidel.
INSSaNews: Não seria mais fácil o contrário, que os cubanos, estando em minoria, aprendessem o português?
Nu Sen Sunga: De modo algum. Não admitiremos discriminação idiomática de espécie alguma.
INSSaNews: O senhor não teme que a barreira linguística assuste a clientela que poderá deixar de procurar ajuda médica com temor de não conseguir se fazer entender nem de compreender o que lhe for dito?
Nu Sen Sunga: O importante é darmos conta da demanda; se ela diminuir, tanto melhor.
INSSaNews:  Além da saúde que outras áreas  poderão se beneficiar da importação de recursos humanos?
Nu Sen Sunga: Iremos importar dez mil professores primários vanuatenses
a fim de incrementar o “Programa Segunda Língua”, já que as crianças brasileiras, ainda não se descobriu o porquê, têm dificuldade de ser alfabetizadas. E achamos de extrema importância dar uma alternativa idiomática relevante e de fácil aprendizagem como o ensino do bislama.
Com relação aos transportes, iremos importar três milhões de condutores de riquixá indianos. É o melhor meio de transporte para as cidades grandes, não poluente, muscularmente saudável, muito eficiente e reconhecidamente  econômico.
INSSaNews: O senhor poderia resumir, em uma frase, a importância de sua pasta?
Nu Sen Sunga: “Importar é o que importa; não importa o quê nem para  quê”.


sexta-feira, 26 de julho de 2013



    GRUPO  INSSena
                  APRESENTA

    Se colar, colou*

Uma tragicomédia  em três atos

Personagens:
Perito Novato
Perito Veterano
Três segurados
                                    Local: Um consultório pericial

Primeiro ato:
Entra a segurada
Novato: Bom dia, Dona Maria.
Dona Maria senta-se sem dizer palavra e entrega o laudo ao médico.
Novato (lendo o laudo com cara de estranhamento): Zoreia, ove... (dirigindo-se ao perito veterano): Não estou entendendo o que está escrito aqui... Os cubanos já estão em ação?
Veterano (pegando o laudo, lendo e rindo): hehehe aqui diz que a segurada é surda das duas orelhas e, por isso, não ouve nada. (para a segurada): A senhora não ouve nadinha?
Dona Maria: Não ovo nada...
Veterano: É surda das duas orelhas?
Dona Maria: Das duas.
Veterano: Felizmente, dos ouvidos a senhora vai bem...
Dona Maria: Mas só de perto; de longe não enxergo nada.

Segundo ato:
Entra o segurado mancando e gemendo.
Novato: Bom dia, Seu Pedro.
Seu Pedro: Bom dia, nada. Tô todo operado (levanta a camisa para exibir um risco azul, que vai do peito ao umbigo e outro transversal a ele, igualmente comprido).
Novato: Mas o que é isso, Seu Pedro?
Veterano (em voz baixa): Esferográfica.
Seu Pedro: Cicatriz, ora.
Novato: Azul?
Veterano: Ele deve ter sangue real.
Novato (para o segurado): Mas me diga, Seu Pedro, o porquê duas incisões tão longas? Isso foi cirurgia ou haraquiri?
Seu Pedro: Nem sei o que foi, mas dói muito (tosse levando a mão ao peito)
Veterano (umedecendo um algodão com álcool): Temos um excelente remédio para isso, é só passar sobre a cicatriz que ela some e a dor passa. Vamos experimentar?
Seu Pedro: Não, vai arder muito, deixa assim mesmo. Já estou me sentindo melhor (sai tossindo e mancando).

Terceiro ato
Entra o segurado de muletas com uma perna envolta em ataduras.
Novato: Bom dia, Seu João, o que o senhor arranjou na perna?
Seu João (desatando, com cuidado, as ataduras): É um machucado que não cura. (A falsa ferida ameaça desprender-se da perna e o segurado a pressiona para retê-la).
Novato (percebendo o subterfúgio): Epa! O quê que é isso?
Veterano: Alcatra ou contrafilé, mas, pelo cheiro, já não está própria para o consumo.

Seu João (ajeitando o bife) : Começou com uma feridinha de nada, aí foi crescendo, crescendo, daí não posso trabalhar mais. E dói tanto, meu filho. Nem consigo andar.
Veterano (exibindo um serrote enferrujado): Vamos resolver isso agora mesmo.
Seu João (arregalando os olhos): O senhor tá é maluco...
Veterano (levantando-se): Nem vai doer, Seu João; do jeito que isso aí tá podre o senhor não vai sentir nada.
Seu João: Tá é doido (sai correndo, largando as muletas para trás).
Veterano para Novato: Isso é que para que você conheça a importância do nosso ofício. Só hoje já curamos uma ferida crônica, aliviamos as dores de um recém-operado e fizemos uma surda ouvir. São os milagres da cura pericial.

*Baseado, por incrível que pareça, em histórias reais. (Nota do autor)




















sexta-feira, 5 de julho de 2013

Edição Extra

INSSaNews

Protesto contra o SIBE

Trinta mil servidores do INSS se reuniram ontem para protestar contra o mau funcionamento do sistema SIBE que, após dez anos de elaboração e exaustivos ajustes, ainda não logrou funcionar a contento. “Parece um velho rabugento, emitindo sem parar críticas sem motivo”, declarou um dos manifestantes.
 Outro insatisfeito reclamou: "Como se não bastasse ter que habilitar LOAS, ainda temos que usar o SIBE... É muita desgraça para uma pessoa só."



O revoltosos exibiam cartazes e gritavam palavras de ordem contra vários sistemas da Dataprev e do INSS, e reclamavam o da precoce e compulsória aposentadoria do Recben em função do súbito advento do e-recursos. "Essa competição entre instituições para ver quem cria o programa mais chato vai nos levar à loucura", repetia sem parar um inssano.

Em meio à balbúrdia não faltaram os saudosistas que pediam o retorno de sistemas antigos como, por exemplo, o bom e velho CADPF, onde um acerto de atividade era feito em menos de dois minutos, enquanto que, pelo sistema atual, entre idas e vindas em dezenas de telas, leva-se, em média, cinquenta minutos no processo. Isso quando o CNISPF não desanda e mistura as informações, dá críticas, avisos falsos, zomba e ri do servidor. 


Não faltaram também declarações de amor à Dona Conceição que, por sinal, foi flagrada em plena atividade revolucionária como mostra a foto ao lado. Ela é aquela ali do meio. Ou será que é a da esquerda? Pode mesmo ser que seja a da direita. Bom, de qualquer modo, estava lá demonstrando seu pouco apreço pelo malfadado sistema.



Teve de tudo na marcha dos descontentes, inclusive cartazes de repúdio a benefícios não previdenciários. Nossos repórteres chegaram até a flagrar um discreto anúncio deste hebdomadário que, garantimos, não foi propaganda paga e sim, a expressão sincera de um leitor assíduo. 
Este ato gerou grande repercussão e causou transtornos e mal-entendidos entre os sistemas e mesmo no SGA os pinguins os  representativos dos segurados abandonaram sua pacata e impassível  postura e desentenderam , tumultuando o atendimento, como se pode ver nas imagens abaixo.



                        

quinta-feira, 20 de junho de 2013




Grupo INSSena
                             apresenta


      Um LOAS com Dona
                Conceição

                                    TRAGICOMÉDIA EM UM ATO

Personagens:
Catipapi, catadora de papel, perdão, consultora previdenciária.
Emengarda, a requerente
Dona Conceição, que dispensa apresentação.

 Dona Conceição (pensando alto ao ver a senha que chamou) : Titica, um LOAS!
Emengarda e Catipapi vêm se aproximando, a segunda empurrando a cadeira de rodas da primeira que, além de tudo, carrega uma bengala. Essa estranha conjunção de elementos excludentes diante do olho clínico de Dona Conceição a faz erguer a sobrancelha esquerda em sinal de suspeição.
Dona Conceição: Bom dia, Dona Emengarda, a senhora veio dar entrada no LOAS?

Catipapi: Ela veio. Tá aqui o formulário. Nós gostaríamos também de cadastrar uma procuração para eu receber por ela.

Dona Conceição: Isso só depois que o benefício for concedido. E vai precisar também de uma declaração do médico dizendo que ela está lúcida e com dificuldade de locomoção.

Catipapi: Ah, ela tem muita dificuldade.

Dona Conceição: Não duvido. Precisa até de bengala para andar de cadeira de rodas. Dona Emengarda, me empreste sua identidade e CPF.

Catipapi: Dá a identidade e o CPF pra moça.

Dona Conceição (olhando o formulário de grupo familiar): A senhora mora sozinha?

Catipapi: Ela mora, coitadinha. Por isso é que eu estou ajudando. Não vou cobrar nada por isso.

Dona Conceição (levemente irônica): A senhora tem um coração de ouro.

Catipapi (reforçando a boa imagem): Faço o que posso; estou sempre ajudando os mais necessitados.

Dona Conceição: Sei... Bem, Dona Emengarda, preciso de sua certidão de nascimento.

Catipapi: Dá a certidão pra moça. (para Dona Conceição): Ela é casada, mas está separada do marido há mais de 30 anos. Ele foi embora e largou a coitadinha sozinha. Tá aqui a declaração de que ela não sabe o paradeiro dele.

Dona Emengarda  entrega a certidão e permanece quase em silêncio, o único som que emite é o estalar contínuo dos lábios, como se estivesse ruminando a língua.

Dona Conceição: Agora preciso do comprovante de residência.

Catipapi: Ah, a coitadinha não tem. Ela mora por favor num quartinho emprestado.

Dona Conceição: Casa de parente?

Catipapi: Não! É gente que ela nem a conhece. Só ficaram com pena dela e a deixaram morar lá.

Dona Conceição (irônica): O povo brasileiro é um exemplo de altruísmo. A senhora sabe, Dona Catipapi, que quase todo mundo que vem dar entrada no LOAS mora num quartinho emprestado por pessoas que mal conhecem? Mas, de qualquer maneira, vou precisar da conta de luz do dono do terreno que cedeu o cômodo.

Catipapi: Ela não tem, a pobrezinha.

Dona Emengarda (abandonando o silêncio com uma vozinha fraca e rouca): Conta de luz?

Dona Conceição: É.

Catipapi: Ela não tem.

Dona Emengarda: Tenho, sim. (tirando da bolsa): tenho  esta, ó, tenho esta, tenho esta...

Catipapi: Não, não precisa mostrar todas. A moça só precisa de uma.

Dona Conceição (desconfiada): Não, eu  faço questão de ver todas... (se apressa em recolhê-las a medida que são postas na mesa )

Dona Emengarda: Tenho esta, tenho esta, tenho esta... acho que é só...

Dona Conceição: Hum... está aqui está no nome do marido da senhora...

Dona Emengarda: O Boanerges...

Dona Conceição: e esta aqui, e esta, e esta, e esta e esta. Todas no nome do Seu Boanerges, mas com endereços diferentes.

Catipapi (fazendo cara de espanto): Mesmo?

Dona Conceição: Mesmo. Dona Emengarda, o Seu Boanerges tem seis casas?

Dona Emengarda: Temos oito, mas eu só trouxe conta de luz de seis. Não sei onde pus as outras.

Dona Conceição: Então a senhora mora com o Seu Boanerges?

Dona Emengarda: Há mais de 60 anos que eu aguento aquele velho rabugento, minha filha. Desde que se aposentou não sai mais de casa. Um traste!

Catipapi (gaguejando): A senhora não disse que ele tinha ido embora?

Dona Emengarda: Eu?

Catipapi: A senhora disse que não sabia onde ele se encontrava.

Dona Emengarda: Que isso! Ele me avisa até quando vai ao banheiro.

Catipapi (girando o indicador em torno da orelha para demonstrar que a sua cliente não ia bem das ideias).

Dona Emengarda (vendo o gesto): Eu não estou gagá!

Catipapi: Não, Dona Emengarda, eu só estava limpando o ouvido, me deu uma coceira repentina.

Dona Emengarda (dando um golpe com a bengala na catadora de pa, digo, consultora previdenciária) Não me trate como se eu fosse uma velha coroca!

Catipapi: Ai, ai, para! Isso dói!
.
Dona Emengarda  (levantando-se): E vai doer muito mais. (correndo atrás de Catipapi e lhe dando umas bengaladas): Me tirou de casa à toa, me fez andar de cadeira de rodas e ainda diz que sou uma velha gagá. Bem que a Mariinha me disse que você só quer se aproveitar da boa vontade dos outros. E toma outra!

Catipapi (correndo e tentando proteger a cabeça com as mãos): Ai, ai, para, para!


Dona Conceição (segurando o riso): Hum, que interessante...  Não é que estou começando a gostar de LOAS?

quinta-feira, 6 de junho de 2013


          
    GRUPO  INSSena

                   APRESENTA

       Cena INSSana

                                  (Tragicomédia em um ato)

Personagens:

Novato, o servidor já nosso conhecido, em suas primeiras experiências no atendimento ao público.

Dr. Gravatinha, o advogado  recém-formado, digamos que esteja apenas em seu primeiro terno, tão experiente em sua profissão quanto Novato na sua.

Sete Palmos, cliente de Dr. Gravatinha.


Novato: Bom dia, o senhor veio dar entrada no auxilio reclusão?
Dr. Gravatinha: Bom dia. Como o senhor se chama?
Novato: Novato.
Dr. Gravatinha: Senhor Novato, eu estou aqui representando o meu cliente, o   Sr. Sete Palmos, para fins de recebimento do Salário Reclusão.
Novato: O senhor quis dizer Auxílio Reclusão...
Dr. Gravatinha: Que seja.
Novato: E quem está preso, senhor?
Dr. Gravatinha: Meu cliente, o Sr. Sete Palmos.
Novato: E para quem é o benefício?
Dr. Gravatinha: O Benefício Reclusão é para o meu cliente, evidentemente.
Novato: O AUXILIO Reclusão é devido apenas aos dependentes do segurado recolhido à prisão, não ao recluso.
Dr. Gravatinha: E onde diz isso?
Novato: Na legislação previdenciária, tanto  no decreto 3048 de 1999 como na Instrução Normativa 45 de 2010.
Dr. Gravatinha: Li a legislação e em artigo nenhum diz que é vedado o recebimento do Amparo Reclusão ao prisioneiro.
Novato: AUXÍLIO, é Auxilio Reclusão. Não diz porque uma vez que esclarece quem pode receber, deixa evidente quem não pode receber. O senhor não leu o que diz a legislação, mas a interpretou pelo que ela não diz.
Dr. Gravatinha: Senhor Nonato, atenha-se ao seu serviço e deixe para mim o cuidado das leis, que esta é minha especialidade.
Novato: Percebo, senhor, mas meu nome é Novato e não Nonato.
Novato (após pesquisa do CNIS):  Senhor, não encontrei nenhum vínculo ou recolhimento em nome do seu cliente. Ele não estava trabalhando ou contribuindo para a Previdência quando foi recolhido à prisão?
Dr. Gravatinha: Não, mas não foi por culpa dele. Vocês aqui é que se negaram a cadastrá-lo como contribuinte individual.
Novato: Mesmo? E sob qual alegação?
Dr. Gravatinha: Sob alegação de que profissão dele não consta na Classificação Brasileira de Ocupações.
Novato: Ora... E qual é a profissão dele?
Dr. Gravatinha: Matador de aluguel.
Novato: Mas esse não é um trabalho legalmente reconhecido. Diria mesmo que é um serviço ilícito. Não há como se declarar assassino e ser assim cadastrado dentro das normas do CBO.
Dr. Gravatinha: Senhor Donato, peço mais respeito com meu cliente. Em momento nenhum foi-lhe dito que meu cliente é um assassino.
Novato: Meu nome não é Donato, é Novato, NOVATO. E me perdoe, senhor, pela declaração imprópria. É que incorri no erro de interpretar não pelo que me foi dito, mas pelo que não me foi e então conclui, erroneamente, que um matador de aluguel comete assassínios. De qualquer modo, nas duas situações, creio não seria possível cadastrá-lo de acordo com sua ocupação, pois, em todo caso, a atividade de seu cliente não está regulamentada talvez porque, até por um excesso de rigor, seja ainda considerada ilícita.
Dr. Gravatinha (citando professoralmente): “A Classificação Brasileira de Ocupações descreve e ordena as ocupações dentro de uma estrutura hierarquizada que permite agregar as informações referentes à força de trabalho, segundo características ocupacionais que dizem respeito à natureza da força de trabalho (funções, tarefas e obrigações que tipificam a ocupação) e ao conteúdo do trabalho (conjunto de conhecimentos, habilidades, atributos pessoais e outros requisitos exigidos para o exercício da ocupação)”.
Novato: O senhor parece mesmo entendido do assunto.
Dr. Gravatinha (com um sorriso de orgulho satisfeito): Então me diga, senhor Dorinato, onde consta que as atividades pouco ortodoxas não podem ser consideradas para fins de inscrição e contribuição previdenciária?
Novato: Em lugar nenhum, senhor, mas meu nome não é Dorinato, é NOVATO. Agora, para prosseguirmos, eu preciso da declaração de cárcere.
Dr. Gravatinha: Aquele documento que diz que meu cliente está preso? Não o tenho presentemente. Na verdade, o meu cliente encontra-se momentaneamente afastado do ambiente carcerário no qual realizava as consequências de sua atividade laborativa.
Novato: Ele está em liberdade condicional?
Dr. Gravatinha: Não exatamente...
Novato: Fugiu?
Dr. Gravatinha: Eu não diria isso. Ele foi sequestrado do presídio por pessoas que se dizem seus amigos e que, posso garantir, não o são.
Novato: Bom, de qualquer forma, só tem direito ao Auxilio Reclusão aquele segurado que efetivamente encontra-se recluso em regime fechado ou semiaberto, desde que, neste último caso, não esteja realizando trabalho remunerado.
Dr. Gravatinha: E quem pode afirmar o contrário? Ainda que não esteja cumprindo pena na penitenciária, certamente encontra-se encarcerado em área restrita, cercado por homens armados que lhe impedem de voltar ao ambiente punitivo de onde foi retirado a contragosto.
Novato: Muito louvável o apreço de seu cliente pelo cumprimento das leis, porém, seria necessário que ele estivesse a respeitá-la em ambiente menos informal.
Dr. Gravatinha: Sr. Deodato, seria o caso, então, de um Beneficio Assistencial ao Detento?
Novato: Pela última vez: Meu nome é NOVATO! NO-VA-TO! Não sei por que o senhor quis saber o meu nome tendo uma memória recente assim tão deficitária. E não existe Benefício Assistencial ao Detento. Existem benefícios assistenciais aos idosos e aos deficientes.
Dr. Gravatinha: Este! Este último é o que convém ao meu cliente.
Novato: E que tipo de incapacidade de longo prazo possui o seu cliente para pleitear o Benefício Assistencial ao Deficiente?
Dr. Gravatinha: Um transtorno de caráter, um desvio de conduta...
Novato (irônico): Compreendo... Algo assim como uma escoliose moral, pois não?
Dr. Gravatinha: Exatamente. Agora começamos a nos entender, Sr. Nosferatu.
Novato: Ah, não! Nosferatu?! Isso é inadmissível!  Agora o Sr. ultrapassou todos os limites do equívoco cortês. Está me chamando  de vampiro. Isso é uma total falta de compostura acadêmica.
Dr. Gravatinha: As suas críticas à minha memória estão se tornando inconvenientes. Devo adverti-lo que meu cliente, para quem o  senhor demonstrou incrível má vontade em conceder um benefício, acaba de adentrar o recinto e segue em nossa direção.
Entra Sete Palmos, um homenzarrão barbudo e com cara de poucos amigos, um revólver em cada mão, sendo girados em torno dos dedos, malabaristicamente utilizados em demonstração perícia semelhante aos pistoleiros do velho oeste no manejo das armas. 
Novato: Ai, meu Deus! (desmaia).
Dr. Gravatinha (para Sete Palmos): Ué, conseguiu entrar com arma e tudo?
Sete Palmos: A porta até que apitou, mas os homi tudo fugiram...
Dr. Gravatinha (rindo e apontando Novato que jaz estirado no chão): Esse aí não fugiu, não...
Sete Palmos: É...Caiu foi é duro....

                                                       (Cai o pano)
















  

quinta-feira, 23 de maio de 2013


                           
       GRUPO  INSSena
                    APRESENTA

  UM NOVATO NO BALCÃO*


                                    (Tragicomédia em três atos)

Personagens:
Servidor novato,  sozinho em seu primeiro dia de atendimento, a princípio, entusiasmado como um animador de programa de auditório, com a cabeça plena de legislação e prática nenhuma.
Dona Maria
Dona Luzia
Dona Zuleica e oito crianças
                                                           Local: uma APS lotada
      
                      Primeiro ato– Atendimento simples

Servidor: Bom dia, Dona Maria. Em que posso lhe ser útil?

Dona Maria: Vim pegar o papel pra viagem.

Servidor (um pouco embaraçado): Que papel pra viagem, senhora?

Dona Maria: O papel que a gente precisa pegar pra viajar.

Servidor: Papel que a gente precisa pra viajar... Seria uma passagem?

Dona: Deve ser. Sempre uso ele pra viajar de ônibus pra outra cidade.

Servidor (incrédulo): A senhora costuma comprar passagens de ônibus aqui?

Dona Maria: Não pago nada, não, moço. Pego de graça.

Servidor (bastante desconfiado): Queira ter a gentileza de aguardar cinco minutos (sai em busca de informações  deixando Dona Maria a tamborilar os dedos sobre a mesa).

Servidor (animado): Pronto, Dona Maria, já estou de volta. O que a senhora deseja é um discriminativo de crédito onde consta o valor de integral de seu benefício, seus empréstimos consignados e o valor líquido que recebe a fim de garantir a gratuidade de passagens de ônibus intermunicipais e interestaduais, não é mesmo?

Dona Maria (um pouco impaciente): É, moço, deve ser isso mesmo.

Servidor (com ar de triunfo): Um minuto, um minuto  que já lhe entrego.

               Segundo ato – Pensão por morte

Servidor: Bom dia, Dona Luzia, a senhora veio dar entrada na pensão?

Dona Luzia (suspirando): Vim sim, meu filho.

Servidor: E quem foi que morreu, minha senhora?

Dona Luzia: O Berico, meu velho.

Servidor: Seu esposo?

Dona Luzia: É.

Servidor: Então eu vou precisar da certidão de casamento, de óbito e a identidade e CPF de vocês dois.

Dona Luzia (mostrando a papelada): Tá tudo aqui, ó.

Servidor (examinando a certidão de casamento): Aqui na certidão de casamento diz Luiza e não Luzia.

Dona Luzia: É,  é a Luiza, aquela sirigaita.

Servidor: Então o Seu Alberico não era casado com a senhora?

Dona Luzia: Foi também. Nós casamos em 1956, depois ele largou de mim, eu larguei dele, porque ele era muito sem-vergonha. Aí eu conheci o Albertino e fui morar com ele. Berico foi viver com a Luzineide. Daí a Luzineide morreu e eu me separei  do  Albertino e voltei a viver com o Berico. Mas ele era muito do sem-vergonha mesmo e andou de assanhamento com a Luzimara, daí eu pedi desquite, não aguentei mais aquele velho assanhado, que não podia ver  uma barra de saia. Daí eu conheci o Albino, o Alberto, o Albertone e uns outros que eu já nem me lembro mais o nome nem a ordem de chegada. Tudo isso pra esquecer o sem-vergonha do Berico. Daí o Berico se casou com a sirigaita de Luiza. Acho que fez até de propósito, por causa do nome. Aí ele ficou doente e a Luiza foi embora e eu voltei a morar com ele.

Servidor: Bom, se a senhora não estava atualmente casada com o Seu Alberico, devido à anterior separação judicial, vai ter que comprovar a união estável. O que a senhora pode apresentar para provar que estava morando com o falecido?

Dona Luzia (pondo, orgulhosamente, uma guimba de cigarro sobre a mesa): O primeiro cigarro que nós fumamos juntos, em 1955. Olha só, tem até a marca do batom.

Servidor (um tanto confuso): A senhora não tem nada mais recente?

Dona Luzia: Não. Parei de fumar desde que tive pneumonia. Começou assim com uma tosse comprida; tossia, tossia que não acabava nunca, sabe? Depois tive febre, fui parar no hospital, de lá pra cá não fumei mais. Fiquei com o  pulmão fraco.

Servidor: Não me refiro a cigarros, mas a documentos, papéis...

Dona Luzia: Cigarro é papel, ora. É só tirar o recheio que fica sendo só o papel. Nem filtro tinha naquela época; era tudo mata-rato.

Servidor: Receio, senhora, que cigarros não entrem no rol dos documentos que possam levar à convicção do fato a comprovar, qual seja, sua união estável com o seu Alberico.

Dona Luzia (esticando um papel para o servidor): Isso aqui ele me escreveu em 1962, quando nós estávamos separados e ele queria voltar. Olha com ele era romântico (lê): “Lulu, meu bem/Eu sou o seu Berico/Não me queira mal, me queira bem/ Não me trate como um penico.” Tinha alma de poeta o meu Berico (suspira).

Servidor: Dona Luzia, receio que esse documento também não sirva...

Dona Luzia (indignada, cortando a explicação do interlocutor): É papel e é mais novo que o cigarro. Por que o senhor complica tanto? Velho vocês tratam assim, né? Sem consideração nenhuma (começa a chorar). Sofri tanto na vida e agora vou ter que ir pra debaixo da ponte porque o senhor não quer me dar a pensão, que é direito meu. Como é que o senhor acha que eu vou viver recebendo só um amparo a idoso? Um salário mínimo só. E sem décimo terceiro. ( Em tom de ameaça): Não tem problema não, eu vou entrar na justiça. Vou falar com meu advogado. Ele bem que me avisou que aqui no INSS nunca dão nada pra gente, nunca reconhecem o nosso direito (gritando): Eu não vim pedir esmola, não. Eu tenho direito. Mais de 50 anos aguentando aquele velho safado, que não podia ver mulher sem correr atrás, e agora vem o senhor achando que sabe mais do que eu de minha vida. Eu vou chamar a polícia para prender o senhor. Vai todo mundo aqui pra cadeia. Eu quero falar com o chefe! Não tem chefe aqui nessa bagunça, não? Vocês são é um bando de vagabundos, que não respeitam ninguém.

Terceiro ato – LOAS

Servidor (fazendo cara de pavor ao ver se aproximarem Dona Zuleica e oito saltitantes pirralhos, um dos quais empunhando um saco de biscoito de milho, desses cujo paladar se concentra unicamente no olfato, porque tem muito cheiro e gosto nenhum).

Servidor: Boa Tarde, Dona Zuleica. A Senhora preencheu o requerimento?

Dona Zuleica: Tá tudo aqui (põe uma pilha de papéis na mesa).

Servidor (lendo, desolado, o formulário de composição do grupo familiar onde constam a requerente e onze filhos): E o pai das crianças, não mora com vocês?

Dona Zuleica: De qual delas?

Servidor: De qualquer uma.

Dona Zuleica: Não. Uns tão preso, outros não sei onde tão. Mas o senhor sabe que nunca ganhei o tal  do auxilio reclusão? Eu tenho direito e vocês nunca me deram. Agora então estou tentando isso aí porque tenho pressão alta e não posso trabalhar. (para uma das crianças): Menino, não joga meleca no chão. Que porcaria! Limpa na brusa!

Servidor (analisando as certidões de nascimento da criançada): Eu estou vendo aqui que tem umas crianças que não são seus filhos...

Dona Zuleica: Ué, tem? Quem?

Servidor: O  Deividi Uoxinton, por exemplo, é filho da Zulmira.

Dona Zuleica: Ah, Zulmira é minha mãe.

Servidor: Nesse caso ele é seu irmão. Tem que corrigir aqui no formulário. E o Maicojéquison também não é seu filho...

Dona Zuleica: Ué, não é não?

Servidor: Consta aqui que ele é filho de Lucivando e Vandalucia.

Dona Zuleica: Ah, é mesmo. Lucivando é o pai do Rolescleison, vê aí se não é.

Servidor: Correto! Do Lucivando e da senhora.

Dona Zuleica: Ué, é meu? Desse eu tinha se esquecido...

*Esta é uma obra de ficção e qualquer semelhança com a realidade terá sido mera coincidência. (Nota do autor)