sexta-feira, 23 de maio de 2014

GUIA PRÁTICO DE CONDUTA EM APS

             

Para você que faz parte daquele reduzido grupo de segurados relaxados, que não se prendem a horários, são materialmente tão desprendidos a ponto de não se importar com próprios  documentos ou têm um senso moral bastante elástico, produzimos este pequeno teste preparatório para enfrentar as dificuldades promovidas pelos cruéis servidores do INSS.

1-     Quando o servidor pergunta por que você chegou cinco horas atrasado para o seu agendamento, você responde:
a.     (  ) O pneu do ônibus furou.
b.    (  ) Ué, pensei que estava chegando adiantado.
c.     (  ) Eu já estou aqui há oito horas, só não sabia que tinha que pegar senha.
d.     (  ) Eu não gosto dessa coisa de ter que acordar cedo.

2-   Ao ser indagado sobre por onde andam as páginas de identificação de sua carteira profissional, a sua resposta é:
a.     (  ) O cachorro comeu.
b.    (  ) Ué, não estão aí, não?
c.     (  ) Meu filho rasgou, mas o resto tá tudinho aí.
d.     (  ) Sou desmazelado e não cuido de meus pertences.

3-   Em relação à solicitação dos carnês e CICI do NIT em faixa   crítica , assinale a melhor resposta:
a.     (  ) A enchente carregou.
b.    (  ) Perdi tudo na mudança.
c.     (  ) Carnê? O que que é isso?
d.     (  ) Sou desmazelado e não cuido dos meus pertences.

4-   Quando o servidor menciona aquela sua aposentadoria cessada por fraude após 10 anos de plena atividade, você argumenta:
a.     (  ) Pois é, fiquei sabendo disso outro dia. Como tem gente safada neste mundo!
b.    ( )  Deve ter sido aquele cara que pediu todos os meus documentos, não sei pra quê. Eu nunca recebi nada. Como tem gente safada neste mundo!
c.     ( ) Clonaram todos os meus documentos, fizeram essa aposentadoria aí e ainda depositaram os vencimentos na minha conta! Como tem gente safada neste mundo!
d.     (   ) Isso aí que você está me contando é novidade para mim e eu quero saber quem foi o meliante que falsificou a minha assinatura.  Como tem  gente safada neste mundo!

5-    Quando o servidor descobre, pesquisando os dados cadastrais do  cônjuge que abandonou o lar há 35 anos e do qual você afirma desconhecer o paradeiro,  que ele mora, coincidentemente no mesmo endereço que você, você responde:
a.     (  ) Como é que pode uma coisa dessas, hein?
b.    (  ) Que velho mais sem-vergonha, dando o meu endereço como se fosse o seu!
c.     (  ) É porque o carteiro não vai até onde ele mora e então eu emprestei o meu endereço para ele receber a correspondência.
d.     (  ) Eu sabia que isso não ia dar certo...


Gabarito comentado:
1-     Letra A, porque levanta possibilidade de se estar falando a verdade, embora a letra D seja talvez a mais condizente com a realidade, seu nível elevado de franqueza não inspira muita simpatia pelo seu caso. Observe-se que alguma resposta semelhante como ‘o pneu do trem furou’ compromete totalmente a sua história.
2-    Letra C. É possível facilmente comprovar a veracidade das palavras do cidadão analisando o que resta da carteira profissional. A letra D resume bastante claramente todos os fatos anteriores.
3-   Letra A que,  pelo seu forte apelo emocional, elimina o desleixo sugerido  pelas letras B e D e a total alienação representada pela letra C.
4-   Todas as respostas podem ser consideradas corretas, principalmente considerando-se a frase final, comum a todas elas.
5-    Letra D porque não adianta nem espernear porque o seu benefício vai pro saco.








                  




sexta-feira, 9 de maio de 2014

TÉCNICAS DE SOBREVIVÊNCIA EM APS – O ATENDIMENTO SIMPLES


Um grande mistério envolve o mais comum dos tipos de atendimento do INSS, o orientação e informações, aquele que a senha determina que deve utilizar no máximo 10 minutos do tempo do atendente e cuja duração, na realidade, varia de 2 a 45 minutos. Intrigados com tal disparidade, foi realizada uma minuciosa análise do problema e verificou-se que as causas são bastante variadas, como exemplificamos a seguir:
1 – Senhas aleatórias: O segurado comparece ao balcão para pegar uma senha e faz uma longa, complexa e ininteligível explanação que pode significar qualquer coisa, desde a solicitação de um extrato como o cadastramento de uma procuração ou um demoradíssimo cálculo de diferença de valores a ser pagos. Para simplificar tal densidade problemática, o ilustre distribuidor de papeizinhos numerados, sem querer se aprofundar no relevante tema, oferece ao cidadão uma singela senha de 10 minutos. Ou, então, o segurado se refere vagamente a algum papel e sem se importar se o mesmo é para ser retirado como, por exemplo, o CNIS ou se é para ser entregue, podendo resultar no cumprimento de uma exigência de SIBE, o que faz absurda diferença, o solícito colega, sem grandes considerações, oferece-lhe a famosa senha de atendimento expresso.
2 – O servidor sofisticado: É aquele colega que não consegue, de forma alguma, ser objetivo no atendimento. Um bom exemplo é uma solicitação de extrato de empréstimos que,  apenas com o CPF do segurado, encontra-se o número do benefício, copia, cola na página do Consigweb e pronto... Tempo gasto, dois minutos. Já o nosso colega divagante pega o RG do cidadão, lê um nome complicado como, por exemplo, o do cineasta Krzysztof Kieslowski, pergunta se o nome é russo, ouve em reposta que é polonês, fica pensando em algo interessante sobre a Polônia para puxar assunto e exibir conhecimento, não encontra nada na cachola e pergunta, finalmente, o que o cidadão deseja. Então insiste, em lugar de fazer a busca do número do benefício pelo CPF, em pesquisar pelo quase impronunciável nome; evidentemente só acerta na décima quinta tentativa. Conhecedor do número desejado, em vez de copiar e colar, transforma-o em dezenas do jogo do bicho e, num exercício de memoria, tenta gravar a sequencia e colocar tudo no lugar devido. Avestruz, águia, burro, elefante, urso. Não. Águia, elefante, burro, avestruz, urso. Não, não. Águia, elefante, avestruz, burro, urso. Também não. Acho que tinha borboleta no meio. Borboleta, pavão, urso, burro e avestruz. Oitenta e oito minutos mais tarde eis que surge, finalmente, o esperado extrato. Agora é só acordar o segurado e entregar-lhe o produto do exaustivo esforço intelectual.
3 – Atendimento infinito: A cidadã pede um extrato de pagamento de benefício. Quando o servidor, depois de se levantar, ir até a impressora, voltar, sentar e entregar o papel, ouve da segurada que ela quer também o extrato de empréstimos. Ele repete a operação e ela lembra que precisa também do extrato para o imposto de renda. Tudo isso  temperado por tapinhas na mão do atendente no momento em que ele usa o mouse, fazendo o cursor entrar em órbita. “Foi você que me atendeu no outro dia, lembra?” Tapinha na mão. “Foi é muito gentil” Tapinha. O servidor, sobrevivente de tudo isso, ainda não está liberado porque, para aproveitar a ocasião ela quer saber se a prima da vizinha tem direito à pensão por morte; se o tio da irmã da amiga da senhora que mora na rua debaixo pode receber LOAS ou se o cachorro do marido e aí o colega, já tonto de tantas perguntas, fica sem saber se se trata de uma ofensa marital ou alguma consulta veterinária.
4 – Protocolo zero: A segurada quer apenas informações sobre o andamento de um processo. Só que não tem protocolo nem sabe de que tipo de benefício se trata. Então o servidor, de posse do documento de identidade da requerente, vai de um sistema ao outro pesquisando e não encontra absolutamente nada em nome ela. Pergunta, pois, se o benefício não seria para o filho. Sim. Bingo! Ela completa dizendo que é aposentadoria do filho. De três anos de idade. Este aparente contrassenso revela a inequívoca informação de tratar-se de um LOAS. Enigma resolvido, em menos de meia hora o simpático sistema SIBE oferece o campo para se colocar o nome do beneficiário. Como se já não bastassem os tormentos vividos até o  momento, o nome da criança muito se assemelha ao do cineasta polonês citado acima. Algo como Kristorfeson ou Cristiofersohn ou Khriteferson ou Kristioteverson, a mãe não tem muita certeza da grafia que, com boa vontade e muita perseverança, através de árduos exercícios de tentativa e erro, o servidor há de descobrir qual é.



quinta-feira, 10 de abril de 2014

TÉCNICAS DE SOBREVIVÊNCIA EM APS - OS MAIS IGUAIS


Com o início do regime especial de atendimentos aos advogados, Dona Conceição foi designada para a honrosa tarefa. Contribuíram para isso dois fatores importantes: um, o fato de a servidora não simpatizar com advogados e, o outro, o fato de o chefe da agência não simpatizar com Dona Conceição. Ela viu tal destino como sinal de provocação e ameaçou dar cabeçadas na parede até conseguir um traumatismo craniano. E foi às vias de fato, uma vez que o gerente não fez nada para impedi-la. Já na quarta pancada, caiu desmaiada e sem alcançar o seu objetivo, o que demonstra que ela era cabeça dura não apenas em sentido figurado. Quando se recuperou, teve de ir para o balcão...
No começo era apenas uma fila de três ou quatro engravatados senhores. Com o tempo, a notícia foi se espalhando e a fila aumentando. Os segurados comuns sustinham resignados as suas senhas e espichavam o olho para a fila dos doutores.
Em pouco tempo os honrados senhores acharam por bem que era necessário que fossem atendidos em um lugar especial porque eram pessoas de superior estirpe. O gerente, muito a contragosto, deu-lhes a sala de JA e em sua porta foi colocada uma simpática plaquinha com os desenhos de uma gravata e um sapato de salto alto, indicando que o local era reservado para pessoas elegantes. É verdade que, de vez em quando, por erro de interpretação, entrava ali alguém apressado, pensando tratar-se de um banheiro, mas, fora isso, as acomodações estavam mais ou menos ao gosto da sofisticada clientela.
Não demorou muito para os segurados se associassem aos advogados para, através deles, obter os privilégios só a eles destinados. Todos, então, compareciam à APS escoltados por determinados defensores da lei, da ordem e da justiça, sem a intervenção dos quais, acreditavam eles, sequer um extrato de pagamento era emitido pelos desleixados servidores. A carreira jurídico-previdenciária florescia a olhos vistos. As gravatas, antes discretas, tornaram-se extravagantes, com estampas coloridas e até com desenhos do Mickey Mouse. A senhoras de tailleur abusavam dos saltos altíssimos que iam do vermelho fluorescente ao dourado.
O resultado de tudo isso é que dobrou o número de pessoas na agência. E, como era de se prever, as controvérsias começaram. Damos abaixo, a título de exemplo, uma muito interessante discussão ocorrida numa tarde de sexta-feira.
- Embora o senhor tenha chegado antes de mim, por uma questão de cavalheirismo, deve ceder-me a sua vez – disse uma advogada e recebeu como resposta:
- Dar-me-ia imenso prazer, mas, como a senhora pode notar, minha cliente também é uma mulher e, portanto, também tem a mesma prerrogativa que a senhora.
- Mas eu sou mais velha do que ela...
- Pode ser, mas minha idade somada à dela é superior à sua somada a do seu cliente.
- Alto lá – soou uma voz atrás deles; era o Dr. Gravatinha, já nosso conhecido. Quem tem que entrar na frente é a minha cliente que já está quase com dez meses de gravidez!
- Dez meses?! Então o senhor tem de leva-la imediatamente a um hospital porque esta criança está encruada! – replicou a advogada.
- Ora, é mesmo? Então vamos tratar do parto imediatamente. Preparem a perícia para o evento! – exigiu Dr. Gravatinha, dirigindo-se ao gerente que se aproximara para informar-se sobre o tumulto.
Ao ouvir a explicação de que o ambiente não era propício a um parto e que os peritos não estavam ali para isso, o advogado gritou:
- Nós vamos entrar com uma ação contra o INSS por omissão de socorro!
Um tanto nervosa, a parturiente segurou o Dr. Gravatinha pelo braço e disse que estava grávida de oito meses apenas e não de quase dez, como afirmara ele. Imediatamente se ouviu uma voz atrás deles a reclamar:
- Ora, então minha cliente deve entrar na frente da sua, pois já está com oito meses e meio de gravidez e, além do mais, eu puxo da perna.
- Data venia, mas e eu tenho um calo que muito me dói e que aposto incomoda mais do que a sua perna que não está submetida ao aperto de um sapato de couro – resmungou o Dr. Gravatinha.
Depois desta histórica data foi criada, de comum acordo, uma complicadíssima tabela de critérios para o atendimento prioritário cujos itens deveriam ser combinados de modo a precisar com exatidão a necessidade ou não de ser atendido como prioritária prioridade. Vejamos um exemplo: Um segurado com 30 anos de idade, com dor de dente e acompanhado de um advogado com 50 anos e uma pasta muito pesada poderia passar à frente de um segurado de 40 anos, sem dor de dente e cujo advogado tivesse 56 anos, mas que não carregasse uma pasta tão pesada quanto à de seu colega. Porém, se a pasta do segundo for acrescida de novos documentos de forma a pesar mais do que a pasta do primeiro advogado e a dor de dente do primeiro segurado melhorar durante a espera pelo atendimento, as posições deveriam ser invertidas. Note-se que há um certo grau de subjetividade na análise de componentes da equação como, por exemplo, a intensidade de uma dor de dente,  o que resultou em ocasionais divergências e algumas altercações.
 Passado alguns meses nesse complicado processo de seleção e após uma dúzia de reuniões, chegaram os advogados ao curioso consenso de que a melhor forma de atendimento seria através da distribuição de senhas.







sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

TÉCNICAS DE SOBREVIVÊNCIA EM APS - A PROPAGANDA


Dizem que a propaganda é a alma do negócio. Evidentemente ela rende bons frutos financeiros e, portanto, deve ser utilizada abundantemente e sempre que possível. O não aproveitamento deste recurso constitui franco desperdício de oportunidades orçamentárias. É por isso que a Previdência Social está se preparando para a implantação de um programa de interação entre sistemas e segurados.
A base de teste é o correio eletrônico que, como observamos,  passou disparar alucinadamente mensagens sem sentido ou, pior ainda, com sentido um tanto equívoco, como ocorreu com nossa dedicada servidora Dona Conceição.
Sabemos que Dona Conceição é uma senhora de idade provecta e muito pudica. Qual não foi o seu constrangimento ao tomar conhecimento do fato de que um e-mail, enviado à sua revelia e com o seu nome, percorreu a lista Brasil oferecendo um kit de produtos que prometia milagrosas ampliações anatômicas para o público masculino. Ilustrado. E tornou-se ela ciente disso quando, por brincadeira, alguns colegas formaram uma comissão de interessados que a procurou com a declarada intenção de obter descontos na compra por atacado. Corou até a burca de tanta vergonha!
Ora, todos nós sabemos que o que segue pelo e-mail institucional é de fácil acesso aos representantes da alta gestão executiva nacional, de um modo geral, e pelo Barack Obama, em particular, o que pode transformar um simples teste de sistema de transmissão em um vexame internacional.
Outro novo programa a ser lançado é o Prisma Association que exibirá, tanto no protocolo do benefício como na carta de exigência ou na carta de concessão, um anúncio de todas as financeiras existentes em sua cidade de forma a bem orientar o segurado para que possa, assim que tenha seu direito reconhecido, comprometer a sua renda mensal em um espetacular empreendimento de crédito consignado.
E também a nova versão do CNIS, mediante um simples cadastramento, o CADCAT, exibirá uma listagem completa de todos os catadores de papel, autodenominados assessores previdenciários, que atuam em sua APS e adjacências.
Toda essa proeza tecnológica trará benefícios já a curto prazo, como podemos comprovar pelo sucesso financeiro de Dona Conceição que, superando os pudores iniciais, passou a comerciar sua mercadoria virtual com bastante desembaraço e, até mesmo, sem grandes preocupações a respeito da eficiência da mercadoria oferecida. O mesmo, evidentemente, ocorrerá com as demais novidades anunciadas. 

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

TÉCNICAS DE SOBREVIVÊNCIA EM APS – DECIFRANDO OS SINAIS


Verão! Férias! Nada melhor do que mudar de ares e levar a família para passear. E entre um passeio e outro, entre o café da manhã e o jantar, nada  mais agradável do que passar umas deliciosas horinhas usufruindo o ar condicionado e água gelada de uma APS. Evidentemente quando ambos os aparelhos, ar condicionado e bebedouro, funcionam. E se o banheiro não estiver interditado, pode-se até fazer um lanche nas refrescantes dependências previdenciárias. E, de quebra, pegar o CNIS, saber o dia do próximo pagamento, solicitar umas informações quaisquer e, logicamente, pedir um “papel pra viagem” para poder voltar para casa com toda a comodidade e sem pagar nada.
Esse salutar intercâmbio entre servidores de uma determinada APS e segurados de outras GEX demonstra que todos os segurados são iguais e agem da mesma maneira em todo o território nacional e os servidores devem estar atentos aos sinais que eles emitem para saber o que esperar do atendimento. Tanto o atendimento quanto os segurados podem ser classificados de diversas formas, como enumeramos a seguir.
Quanto à apresentação de documentos o atendimento pode ser:
a.      ágil – quando o segurado já vem com os documentos na mão;
b.      mais  ou menos lento – de acordo com a quantidade de embalagens em que os documentos estiverem envolvidos como, bolsa, sacola plástica, carteira, porta-documentos, enfim, achei!;
c.       complicado – quando depois de todo o trabalho acima, o segurado descobre, no meio de toda a papelada envolvida, apenas uma cópia não autenticada do documento necessário e declara que é a mesma coisa que o original, que o fulano da mesa tal sempre o atende com uma cópia e coisa e tal;
d.      agilíssimo – documento? não sabia que precisava, deixei em casa... 
              
Quanto ao nível de estresse do segurado:
a.      sociável e feliz – corresponde àquele segurado que, mesmo depois de muito tempo esperando sua vez, quando vê reluzir no monitor o seu número, vai em direção ao atendente, numa animada corridinha, senha em punho, como se tivesse tido sorte no bingo e vai buscar o seu prêmio;
b.      levemente irritado – é aquele que, exagerando um pouco o tempo de espera, diz que já estava aguardando há mais de duas horas, fato desmentido pelo horário de distribuição impresso na senha. Não é aconselhável discordar do comentário equivocado do oponente para que ele não passe subitamente ao grau “muitíssimo irritado”;
c.       muitíssimo irritado – é relativo ao segurado que,  estando sentado à frente do servidor, olhando-o com cara feia, resmungando ou falando sozinho ou, pior ainda, falando ao celular e, por tabela, distribuindo adjetivos pouco lisonjeiros  democraticamente a todos os servidores e em voz bem alta para que ninguém deixe de ouvi-lo, quando vê sua senha no monitor, transporta-se de sua cadeira para a do atendente e desaba nela com tanta vontade como se tivesses estado em pé por umas três horas e ainda dá um longo, profundo e rancoroso suspiro. Ele não menciona a demora do atendimento, mas faz questão que o servidor seja informado de seu desagrado através da pouca sutiliza de seus gestos. Convém ao servidor, em casos como este, mover-se muito pouco e falar menos ainda para acalmar o ambiente e não correr maiores riscos.

Quanto ao grau de dificuldade da solicitação:
a.      fácil – solicitação de extrato de consignação. Para tanto é necessário apenas o servidor dominar a nomenclatura do documento que pode ser chamado de hiscon, íscon, excon, skol, skate, entre outras bizarrices mais;
b.      médio – a frase chave para avaliar a dificuldade é: “eu já estive aqui hoje mais cedo”, o que significada que o problema ainda está pendente;
c.       difícil – normalmente começa com uma frase similar a “eu já estive aqui umas dez vezes”, o que revela que, muito provavelmente, irá retornar uma décima primeira vez, pois o problema não tem solução, ou melhor, o segurado é o problema.

Quanto ao estado da senha:
a.      intacta – o segurado esteve aguardando por muito pouco tempo e deve estar com um humor amigável;
b.      amassada – o cidadão esperou  mais de meia hora e já está um pouco alterado;
c.       dobrada ou rabiscada – demonstra uma certa animosidade em relação ao atendente desconhecido. Se tiver ambas as características, dobrada e rabiscada, o nível de agressividade se eleva sobremaneira;
d.      faltando um pedaço -  fome. Ofereça um biscoito para o seu cliente que seu humor há de melhorar.


quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

UM CONTO DE NATAL


Todos nós sabemos como a figura do Papai Noel mexe com o imaginário infantil. Eventualmente pode ocorrer que o mesmo aconteça com pessoas cuja idade já não enquadra mais na condição de criança. Este é o caso de Dona Conceição que, embora cada uma de suas pernas já tenha há muito ultrapassado a maioridade, continuava a sonhar em conhecer o bom velhinho.
- O de verdade – repetia ela, inocentemente, a cada fim de ano.
Todo mês de dezembro Dona Conceição era atacada por um violento espírito natalino que a fazia distribuir diversas árvores de Natal pela APS, pendurar enfeites nos computadores dos colegas e ornamentar as paredes com guirlandas coloridas. Era também a única época do ano em que ela se tornava uma servidora dócil, meiga e gentil, para deleite dos segurados. Tal transformação emocional não passava despercebida pela chefia que se aproveitava de sua inusitada boa vontade, e a colocava para atender todos os agendamentos de LOAS, para a felicidade de todos os outros colegas. Qualquer inssano medianamente normal, entraria em desespero com tal condenação, mas o grau de inssanidade de Dona Conceição atingia o clímax no período pré-natalino. 
E qual não foi o seu espanto e felicidade, às vésperas do Natal, em atender pessoalmente o Papai Noel! Vinha o bom velhinho, com sua enorme barba branca, os tradicionais gorro e traje vermelho e uma enorme bengala, acompanhado de um “assessor previdenciário”, termo científico para designar o  popular catador de papel. Dona Conceição ficou tão encantada que chegou mesmo a se levantar e olhar para fora para ver se avistava o trenó com as renas. Felizmente seu delírio a poupou dessa infame miragem.
Quando Papai Noel sentou-se à frente de Dona Conceição, ela começou tremer de emoção.
-Ho Ho Ho – fez o Papai Noel e lhe ofereceu uma bala de papel colorido, que a servidora aceitou muito emocionada.
Enquanto esclarecia que Papai Noel não pudera trabalhar de carteira assinada porque esteve sempre a serviço das crianças, o  acompanhante entregou à servidora uma carteira de identidade de estrangeiro. Os seguintes dados ali estavam impressos: Papai Noel, filho de Vovó Noel, nascido na Noruega em 1812 e com data de chegada ao Brasil em 2013.
Não havia dúvida de que o clima setentrional mantinha a cútis em belíssima forma, pois o velhinho não aparentava ter mais do que quarenta anos.
- Mas, Papai Noel, o senhor não é naturalizado brasileiro! Então, não tem direito a LOAS. – lamentou-se Dona Conceição.
- Não, não – interveio o acompanhante – ele tem essa outra identidade aqui.
A  servidora analisou os dados do novo documento, este de cidadão brasileiro.
- Essa carteira aqui diz que o senhor só tem 43 anos, então só vai ter direito ao LOAS se for deficiente.
- Não, não – interrompeu novamente o catador de papel – essa identidade é minha, a dele é esta outra aqui.
- O senhor também se chama Papai Noel? – perguntou Dona Conceição para o acompanhante, intrigada e levemente desconfiada de que havia ali alguma coisa um tanto suspeita.
- Não, não, meu nome é Pedro Manoel, a senhora se enganou ao ler.
- Hum... – fez Dona Conceição recuperando um pouco da razão e desconfiança habituais.
- Papai Noel, preciso de sua certidão de nascimento. Ou o senhor é casado?
- Non, non, meu filha, eu ser solteiro. Sempre preferir os criancinhas – respondeu ambiguamente e com sotaque carregado o bom velhinho.
E enquanto negava, virava o rosto de um lado para o outro e, com esse movimento lateral, deslocava a imensa barba branca e deixava entrever uma rala barbicha escura.
Hum... – resmungou Dona Conceição que se lembrou que conhecia este rosto há muitos Natais, mais precisamente distribuindo balas à criancinhas que visitavam o shopping que ela costumeiramente frequentava.
- O senhor precisa apresentar também um comprovante de residência em seu nome.
- Eu non ter, non, eu morar num quartinho na terreno do casa desta senhor que me acompanha. – respondeu Papai Noel, mostrando estar já bastante aclimatado aos costumes nacionais.
- Bom – disse a servidora - vou abrir exigência para o senhor apresentar todos os documentos necessários...
- A senhora non está se comportando bem,  assim non vai ganhar presente nesta Natal. Palavra de Papai Noel... – reclamou o pobre velhinho.
Ao que respondeu Dona Conceição:

- E o senhor, se não se comportar bem e apresentar a documentação exigida, não vai ganhar LOAS nenhum. Palavra de Dona Conceição.

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

TÉCNICAS DE SOBREVIVÊNCIA EM APS - O CNIS MUTANTE

Muitos colegas já tiveram a oportunidade de observar a ausência de vínculos ou contribuições que antes estavam  no CNIS e que depois, misteriosa e inexplicavelmente, desapareceram, irritando, com razão, os segurados e deixando os servidores confusos. Não se trata, entretanto, de algum problema do sistema e, sim, ao contrário, de espetacular avanço no mundo da informática previdenciária.
A Dataprev está  dando mais um importante passo em seu criativo processo de evolução criando o CNISIV (CNIS de Informações Variáveis), programa interativo que substitui parte  das informações de um segurado para o NIT de outro, tanto as de cadastro como as de vínculos e contribuições. Esse movimento divertido ocorrerá de maneira cíclica e constante, renovando dados e ampliando a insanidade para além das áreas restritas dos servidores da brava instituição, espalhando-se também para os segurados, seguindo o  princípio da igualdade de direitos. Veja a seguir as vantagens e desvantagens do novo modelo.
O CNISIV comunicar-se-á com o Prisma independentemente da interferência do servidor, alterando o resultado da contagem de tempo das aposentadorias de acordo com as novas informações  vigentes e, se o segurado, sob novo cálculo, não obtiver o tempo suficiente requerido para a concessão do benefício concedido, o mesmo será suspenso sob a rubrica ‘suspenso pela auditoria do CNIS’. Caberá, então, ao servidor apenas a simples tarefa de explicar ao cidadão, com clareza e sem delongas, que o que era já não é mais e ele, compreensivamente, irá esperar pelo tempo em que o não é mais volte a ser e aí é quem vem a boa notícia: ao voltar a ser o que não mais é e que antes era, o CNIS poderá ser generoso, reativar o benefício, talvez até com um valor superior ao precedente.
Se, por acaso, nesse intercâmbio de dados, uma aposentadoria seja cessada por óbito do titular, as  chamadas “viúvas do CNIS”, poderão entrar com um pedido de pensão por morte presumida, isso caso  a requerente ou o requerente não tenha tido a própria vida ceifada numa das fases do rodízio do excelente sistema.
De acordo com o fraterno princípio da igualdade acima citado, o servidor também estará sujeito às benesses e contrariedades do sistema. Pode acontecer de ter o  registro de seu vinculo com o INSS sumariamente retirado do CNISIV, ter sua matrícula suspensa e ir para a cadeia acusado de fraude. Por outro lado, poderá ser beneficiado com um cargo de Ministro de Estado ou Senador da República, o que ampliará bastante os seus rendimentos colaborando para que ele faça um pé de meia para os vindouros dias de penúria, quando o programa lhe oferecer dados economicamente  pouco favoráveis.
Desta forma, o democrático sistema irá propiciar uma harmoniosa e rotativa distribuição de renda com real participação de toda a população ativa, repartindo a produção total de rendimentos entre todos os trabalhadores da nação, tal qual como um Robin Wood cibernético.
        O CNIS, continuará sendo prova plena, conforme o  artigo 47 da IN, embora não seja mais definitivo nem permanente. Suas informações peregrinas nunca deixarão de existir, mudarão apenas de lugar, sofrerão pequenas alterações de conteúdo, mas, de modo algum, discordante do princípio da conservação das massas, de Lavoisier; no CNISIV, como na natureza, nada se cria, nada se perde, tudo se transforma.


Conheçam o meu livrinho, conheçam o meu livrinho...rs
olhem o post aí embaixo com o endereço.... 

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

UMA FAMÍLIA EM CRISE


Era uma vez uma família muito infeliz. Praticamente a totalidade dos filhos de papai Atendimento e mamãe Controle eram doentes ou inválidos. Os que nesta categoria não se enquadravam,  estavam, de certa forma, insatisfeitos, queriam ser eles também doentes, pois, caso contrário, seriam obrigados a trabalhar para financiar o sustento, não só dos irmãos, como também o dos pais, pois estes últimos estavam igualmente em precário estado de saúde. Era realmente uma lástima familiar.
Tanto o pai quanto a mãe eram muito possessivos e preocupados com a saúde dos rebentos e não gostavam que eles tivessem nenhuma independência. Queriam todos juntos de si, para amá-los e protegê-los.
Sempre que algum deles achava por bem mudar de casa tinha que pedir autorização paterna. A primeira providência de papai Atendimento era fingir que não era com ele e assim respondia ao pedido.
- Esse benefício não se encontra nesta base.
O que, em língua de gente, quer dizer: “Você não pertence a esta família”.
Essa simples frase já deixava o filho inseguro, soava como uma ameaça, algo como  ‘se você quer ir embora, vá, mas não conte mais conosco’. Era intimidante. Porém, mesmo assim, o filho, superando o trauma da rejeição, costumava insistir. Então papai confabulava com mamãe que ficava irritadíssima, perdia mesmo o senso do próprio nome, o que dizer que ficava completamente histérica e descontrolada. Era uma cena terrível de se ver. O filho entrava, então, em contato direto com a mãe  que não queria se comunicar. Ele insistia, atualizava o pedido, pedia perdão,  repetia a solicitação, ela ficava vermelha de raiva, criticava tudo e todos, fazia que se arrependia, o filho pensava que agora ela iria concordar com sua partida, mas outra vez ela se irritava, ele teimava e, só depois de horas de muita aflição, enfim, o rapaz ou a moça era liberado.
      Certas doenças tendem a piorar com a idade, e podemos afirmar que, após tantos anos de luta para manter a família unida e saudável, o Sr. e a Sra. Sabi estão completamente combalidos e esclerosados. O que um fala, o outro não entende. Quando um desperta, o outro adormece, isso quando não ocorre de os dois passarem o dia inteiro em total letargia. E as demandas filiais a cada dia se tornam mais difíceis de ser atendidas.