sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

TÉCNICAS DE SOBREVIVÊNCIA EM APS – OS CURSOS


Para se tornar um bom servidor da Previdência Social são necessários diversos e constantes cursos de capacitação. Todo dia há uma novidade importante na legislação previdenciária da qual somos inteirados com considerável atraso, o que nos leva a concluir que todo nosso procedimento de um semestre estava totalmente incorreto. Com o objetivo de sanar essa defasagem de conhecimento, são providenciadas, com a urgência possível, ligeiras reuniões técnicas, de, no máximo, uma semana, antes que os erros apresentados sejam substituídos por outros antes mesmo de serem corrigidos.
A princípio isso pode parecer um tanto assustador para o servidor em início de carreira. Nos primeiros dez anos, muitas coisas nos assustam... Pairarão, sobre o novato, os fantasmas da auditoria, corregedoria, cárcere e morte. Mas, dessa sequência trágica, quase todos escapam, por isso não há muito o que temer. O bom servidor é audacioso, temerário e...louco.
Esses benéficos cursos que nos põem a par das alterações da legislação, atualizações de procedimentos e outras mais inovações costumam ser divididos em duas partes: a informação e a cobrança. São etapas muito elucidativas ao fim das quais o colega estará sabendo tudo aquilo o que deverá fazer embora não exatamente como o fará. Os problemas a resolver ficam todos explicitados, já as soluções ficam por conta de sua imaginação e criatividade, como, por exemplo, convencer um sistema a agir em conformidade com algum novo entendimento de lei ou decreto e para o qual ele ainda não está programado. É coisa para muita psicologia, sem dúvida, porém, nada muito complicado para alguém que já atingiu certo grau de insanidade.
De modo geral, essas reuniões de oito horas diárias são bastante interessantes, pelo menos até o primeiro cochilo. Com a repetição deles fica mais difícil o entendimento daquelas frases entrecortadas de bocejos e pestanejares pesados. Após o almoço, que transforma toda voz em cantiga de ninar e quando o ronco do vizinho embala o seu sono, é hora, finalmente, de entrar em ação o T&D, já nosso conhecido desde a lição anterior.
Nesses momentos de constrangimento coletivo, quando é impossível  manter-se desperto, sempre aparece alguém na sala para atrapalhar a tranqüilidade da sesta. Então, tem-se que jogar bola, dar ridículas corridinhas pelo salão, cantar, dançar, pular de forma a sacolejar o almoço que nem bem assentou no estômago. O resultado de toda essa agitação tende a ser desastroso mas não vamos entrar em detalhes para não nos distanciarmos de nosso tema.
Daremos aqui um exemplo de um dos jogos realizados nessas ocasiões: cada um tem que encher uma bola de gás (o gás, no caso, é o oxigênio de seus pulmões – cuidado com o esforço...), dar um nó para mantê-lo cheio e eis que você acaba de ganhar um velho e grande amigo o qual deve ser protegido de todo e qualquer ataque do exterior. Agora você ganha um alfinete com o qual deverá eliminar, explodir, o velho e grande amigo de seu colega. Essa atividade de dúbia e precária moral sacode o corpo e espanta, momentaneamente, o sono. Entretanto, tão logo volta à aula, arrotando a comida remexida,  você já estará novamente lutando contra as pálpebras. Não resista. Durma á vontade, babe, se for o caso, aproveite, porque já estará quase chegando a hora do lanche da tarde.





sábado, 22 de janeiro de 2011

TÉCNICAS DE SOBREVIVÊNCIA EM APS – AS ALTERNATIVAS


Neste ponto de nossa instrução, tantos problemas colocados, o leitor já deve estar pensando seriamente em mudar de carreira.  Porém, não há razão para  uma atitude tão dramática. Muitas vezes, basta trocar de setor, subir uns lances de escada e se instalar na gerência para que tudo se transforme. Para o servidor exausto da batalha diária e necessitado de recreio e relaxamento, aconselha-se o T & D (Treinamento e Desenvolvimento). Este departamento, para quem não o conhece, é especializado em fazer.........sanduíches. Nos raros cursos que são ministrados no laboratório de informática, entremeados de lanches, o T & D providencia excelentes momentos de degustação, evidentemente com o dinheiro arrecadado entre os treinandos. Para quem gosta de culinária é uma ótima oportunidade.
Também para os fotógrafos amadores porque há muito que retratar a fim de ilustrar boletins eletrônicos. Ou para aqueles que têm vocação para recreadores pois aprenderão diversos tipos de brincadeiras e passatempos. Talvez possa parecer, ao leitor inexperiente, ser esse apêndice do RH um tanto sem propósito e de uma inutilidade ímpar. Entretanto, em nosso próximo capítulo, daremos mostras de que isso não condiz com a realidade.
Nesse local de tão variadas e agradáveis atividades o servidor se sentirá em férias permanentes e só, mui raramente, quando por acaso encontrar, pelos corredores, um ex-colega de luta, lembrar-se-á  de que ainda trabalha na Instituição. Mas trate logo de afastar essa má recordação de sua cabeça! Xô, coisa ruim!

Há servidores, entretanto, que apreciam muito o serviço de uma APS apenas não toleram mais atender o público pelas razões exaustivamente analisadas anteriormente. Para eles, o recomendado é mudar de lado do balcão, deixar de ser servidor e se transformar num “despachante previdenciário”. Então você não vai mais precisar ouvir desaforos como quando, pela correção devida ao seu cargo, dava alguma informação útil e necessária, porém, desagradável. Ao contrário, para esse revoltado segurado você irá oferecer os seus préstimos (e cobrar regiamente por isso, afinal você não terá mais emprego). Essa é uma excelente oportunidade de se vingar dos maus tratos recebidos quando desempenhava a antiga função. Agora é você que está no controle, pode explorar o infeliz o quanto queira e ele ainda o vai considerar um amigo uma vez que, na opinião dele, você está desempenhado a honrosa tarefa de combater a crueldade e a injustiça da Previdência Social. E ele se sentirá como uma donzela prestes a ser salva do dragão pelo príncipe que a desposará.

Para aqueles com tendência mais arrojada e mesmo radical, podemos recomendar uma atividade ainda incipiente, porém, que, com o apoio governamental, tem tudo para se transformar num grande sucesso. Uma vez que o governo se manifestou contrário à prisão de pequenos traficantes, o ex-servidor, poderá  se tornar um micro-empresário voltado para este tipo de negócio. Talvez uma empresa de entregas a varejo, já que não se poderá trafegar por aí com grandes quantidades de bagulho. Traficar, sim, mas sempre dentro de legalidade para não ter problemas com a polícia. Senão, só conseguirá se livrar da cadeia se for por excesso de contingente, o que, a bem da verdade, nem é tão difícil assim. Mas é melhor não bobear.

sábado, 15 de janeiro de 2011

TÉCNICAS DE SOBREVIVÊNCIA EM APS – O ABESTADO

O abestado, contrariamente ao que o leitor possa imaginar, não é algum segurado pouco esperto ou certo neófito senador. A pessoa em questão é você, caro colega.
O abestamento tem grande utilidade no dia a dia de um servidor da Previdência Social e deve ser aplicado para evitar confronto com o segurado. Vejamos duas conjunturas:
No primeiro caso temos aquela pessoa que não quer entender o que você  diz pois vai de encontro ao seu interesse. Por exemplo, para uma aposentadoria por idade o seu opositor apresenta quinze anos de contribuição sendo que cinco deles passados em auxílio doença. Quando você esclarece que estes cinco anos não serão considerados para a carência** e que, portanto, ele não atingiu as condições para se aposentar, seu oponente finge que não entende e faz você explicar, não apenas uma, porém,   cinco, dez vezes a mesma coisa. Ora, ninguém precisa de tanto para compreender algo tão simples, logo não se trata aqui de  deficiência intelectual  e sim de uma original teimosia que assola o segurado que passa a querer se vingar do portador da má notícia. Ele quer tirá-lo do sério, fazer com que perca a paciência para então chamá-lo de grosseiro, sem educação e demais amenidades. Sugerimos aqui que o servidor repita a explicação cinco vezes e depois ponha em prática a lição de hoje de modo a levar o segurado ao entendimento realizando, por assim dizer, um choque de gestão. Observe o exemplo a seguir, dado em forma de diálogo entre segurado (1) e servidor (2).
1 – Não estou entendo, pode me explicar mais uma vez? (a sexta vez...)
2 – Explicar o quê?
1 – Aquilo  que você acabou de falar agora! (nesse ponto o seu opositor já começa a ficar desestabilizado.)
2 – O que foi que falei?
1 – Sobre o auxílio doença, ora, sobre o que mais?! ( e você, tranqüilo.......)
2 – O que foi que eu falei sobre o auxílio doença?
1 – Que ele não conta para a carência para a aposentadoria por idade, que eu não vou conseguir me aposentar agora ! #@$%&*#
2 – Ah, é isso mesmo, não conta para a carência, o senhor tem toda a razão! Eu havia me esquecido!
Bingo!

Outro caso é aquele do segurado que, pretensamente, sabe muito mais de legislação previdenciária do que você. Ele tem predileção por certos artigos da IN * em detrimento de outros e quer lhe ensinar como e onde aplicá-los de modo que ele seja beneficiado. Ouça esta livre interpretação da lei acenando com a cabeça levemente, de forma positiva (enquanto isso você pode se distrair  utilizando os ensinamentos da nossa primeira lição – a matemática). Deixe-o falar à vontade, nunca o conteste; ele ficará satisfeito por ter-lhe ministrado conhecimentos de jurisprudência caseira e irá embora feliz da vida, pensando que o convenceu e que vai ter seu benefício concedido.
Lembre-se que o segurado tem sempre razão e sem ele, que faz questão de dizer que paga o seu salário, você não teria esse emprego tão gratificante. Entretanto, não se aprofunde muito no raciocínio para não concluir que vender pipoca na praça seria bem melhor para você...

* Instrução Normativa
** Regra alterada

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

TÉCNICAS DE HOMICÍDIO EM APS - AS METAS

Quando o novo servidor chega ao INSS, é recebido com muito carinho...




Daí a um mês ele é informado de que precisa se esforçar mais para cumprir as metas ou a sua gratificação (e a dele também) poderá diminuir


                              Você se esforça, trabalha feito um condenado, faz hora extra e não dá conta de tantos processos. Aí seu chefe o chama para uma conversinha amigável....



Assim que você sai do hospital volta direto para a agência mas, passado mais um mês, os processos represados foram se acumulando, as metas não serão atingidas e então seu chefe fica nervoso e chama você para mais uma conversinha, desta vez, pouco amigável.....


sábado, 8 de janeiro de 2011

TÉCNICAS DE SOBREVIVÊNCIA EM APS – O IRRITADINHO


É muito comum aparecer um segurado que, antes mesmo de ser atendido, já está praguejando contra a Previdência Social em sua forma mais material que é um servidor ou o conjunto deles. Quando sua senha é chamada ele vai aos píncaros da ignorância e, aos berros, quer saber porque você desfalcou a aposentadoria dele. Ele nunca está satisfeito com o que recebeu e você é o responsável por todo e qualquer dano financeiro que o esteja acometendo no momento. Não adianta você esclarecer que ele tem duzentos empréstimos consignados pois ele tem certeza de que não fez nenhum. Ele é do tipo que não quer argumentar nem compreender, quer apenas atacar o culpado.
Então é hora de agir... Tenha sempre consigo um daqueles dardos tranqüilizantes de que os veterinários e biólogos se valem quando precisam capturar animais selvagens. Discretamente, aproxime-se de sua vítima de forma amigável e dê-lhe uma espetada calmante. Mas tenha cuidado com a dosagem pois embora ele seja uma fera, não tem o porte de uma e poderá vir a óbito por overdose  o que poderá complicar bastante a situação uma vez que junto da ambulância costuma sempre vir um daqueles repórteres de jornalecos sem notícia que no dia seguinte estampará aquela manchete já bem nossa conhecida: “Homem morre na fila do INPS”. Portanto, refreie seus ímpetos assassinos.
Uma alternativa muito melhor é reverter o jogo. Quando o segurado o agredir, verbal ou fisicamente, simule um ataque fulminante. Caia no chão espumado e babando, estrebuche, dê um gemido longo e sofrido, arregale os olhos e tombe a cabeça para o lado mirando fixamente o seu opositor. Um médico perito deve estar por perto para atestar o óbito com o gesto simples de sacudir a cabeça de forma negativa após auscultar o seu coração. Essa simulação causa grande impacto e representa uma manchete positiva no jornaleco acima mencionado e, durante cerca de uma semana, nenhum irritadinho vai se meter com seus colegas. Certifique-se de ganhar uns dias de folga para poder ressuscitar com tranqüilidade.
 Como uma APS assemelha-se muito com um barril de pólvora, a voz alta e agressiva de um rabugento pode inflamar o restante dos segurados e logo outras vozes lhe fazem coro caracterizando um motim. Nessas horas, nada melhor do que a participação coletiva em uma atividade lúdica. Um servidor poderá vestir um uniforme do BOPE e, assim fantasiado de Capitão Nascimento, portando um fuzil de brinquedo poderá pacificar a agência apontando o a arma para a cabeça de cada um dos revoltosos gritando: “Pede pra sair!”. Num  instante a agência estará  apaziguada ou, melhor ainda, completamente vazia.

sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

TÉCNICAS DE SOBREVIVÊNCIA EM APS – OS SISTEMAS



Os sistemas elaborados pela Dataprev, como todos sabem, são praticamente perfeitos. É fato que nunca funcionam todos ao mesmo tempo, nem durante o dia todo e que toda versão nova é pior do que a anterior. Mas não se trata aqui de tecer criticas ao sistema. O que cabe a nós, servidores do INSS, fazer nos dias em que todos os programas estão fora do ar e sem previsão de retorno? Cabe a você, colega de labuta, entreter os segurados nessa hora de desamparo e abandono.
Se você estiver habilitando um beneficio e, a meio caminho, o sistema cair, não se desespere! Se o segurado for mulher, pegue seu tricô (tenha sempre um par de agulhas de reserva) e aproveite para ensinar ou aprender um ponto novo. O tempo passa que é uma maravilha e pode ser até que o sistema volte. Se o segurado for do sexo masculino, nada melhor que fazer umas embaixadinhas para recordar os velhos tempos. Mas, atenção, sem  chutes para não correr o risco de atingir a senhorinha que faz aulas de ponto de cruz na mesa ao lado. Uma alternativa mais tranquila  e que atende a ambos os sexos, é o jogo de gamão.
Passada a primeira hora sem sistema, o segurado pode se aborrecer com o  passatempo inicial e fazer menção de ir embora. Não permita que ele se vá pois certamente irá reclamar pelo  135 do mau atendimento. Então é hora de mudar de atividade. Podemos começar com workshops de trabalhos manuais como pintura em porcelana, para elas, e carpintaria,  para eles.
Ao meio dia, depois de quatro horas sem sistema e muita atividade manual, é hora de servir um almoço. Mas nada de feijoada! A comida deve ser leve e saudável, lembre-se que muitos deles têm idade avançada. E você também não poderá se dar ao luxo de uma soneca de depois do almoço. Uma salada com frango grelhado é o mais aconselhável.
Às duas e meia, depois da sesta, se o sistema ainda não tiver voltado, é hora de se fazer um teatrinho experimental com temas edificantes que levem o segurado a compreender que não deve matar o médico perito nem jogar os computadores da agência no chão.
Às dezesseis horas, depois de oito horas sem as benções da Dataprev, para o encerramento do dia, nada mais agradável que um baile da terceira idade. Apague as luzes, coloque um Lupicinio Rodrigues na vitrola, e deixe aflorar o romantismo dos aposentados.
O único problema de todo esse entretenimento é que os segurados poderão retornar no dia seguinte para repetir a atividade e encontrarem os sistemas todos em funcionamento. E corre-se o risco de eles, frustrados,  ligaram para o 135 e reclamarem de que foram mal atendidos...


sábado, 25 de dezembro de 2010

TÉCNICAS DE SOBREVIVÊNCIA EM APS – O NOME

É muito fácil reconhecer um segurado inconformado com a sua situação previdenciária quando, a primeira coisa que faz, é perguntar seu nome. Tremei! Cuidado como o que responde! Ele não faz isso para criar intimidade ou demonstrar interesse por sua pessoa. Não! Assim que você acabar de dizer seu nome, terá se transformado na personificação da Previdência Social e sobre você cairão décadas de frustração e revolta. E, a cada investida, ele irá repetir o seu nome, isso com a séria intenção de levar a situação para o lado pessoal, porque você é a Previdência palpável, que ele pode provocar, ofender e até partir para a ignorância.
Portanto, para a sua tranqüilidade e a paz da Instituição, nunca diga o seu nome verdadeiro. Seguem algumas alternativas para neutralizar os ataques desferidos pelo cidadão-segurado.
1.                           nível de dificuldade – fácil: Finja que está muito rouco e,  quando for falar o seu nome, arranque com um fiozinho de voz e termine num violento acesso de tosse. Faça isso três vezes seguidas e certamente seu opositor desistirá da peleja, nem que seja por medo de pegar gripe.
2.                           nível de dificuldade – médio: Diga um nome impronunciável, de preferência russo. Pode ser até curto desde que seja de grande complexidade para os ouvidos tupiniquins. Repita umas cinco vezes e, se ele não entender, escreva. Em cirílico.
3.                           nível de dificuldade – médio: Crie um nome composto de difícil assimilação como Valdicléa Rosileide. Vejamos a simulação de um caso para avaliar o seu potencial de aproveitamento:  
- Pois bem Valdiléa...
- Não, não, é Valdicléa. Valdicléa Rosileide.
- Como eu  dizia, Valdicléa Rosilene...
- Errou de novo...Valdicléa Rosileide. É fácil, olhe só: Valdicléa de Valdir, que é meu pai e de Rosicléa, que minha mãe. Rosileide , de Rosilene , minha avó materna e......
- Deixa isso pra lá, anda logo, mocinha, que estou com pressa

Sucesso absoluto...

4.           nível de dificuldade – difícil: Escolher um nome que traga, digamos, bons fluidos como Tranqüila Maria e Pacífico José. O intuito é que, de tanto repetir o tal nome, o segurado acabe sugestionado por um espírito de concórdia. Mas sempre há o risco de as coisas correrem pelo contrário e ele, de tanto repetir o que não é, acabe ficando mais irritado ainda e aumentando a carga de desaforos sobre você. Portanto essa alternativa só é indicada para aqueles que possuem grande controle emocional. E, neste caso, podem usar o próprio nome mesmo...

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

TÉCNICAS DE SOBREVIVÊNCIA EM APS – A PERÍCIA

A julgar pelos resultados da perícia médica conclui-se que ela deveria ter muito maior reconhecimento do que na realidade tem. Afinal de contas, mais do que todas as religiões juntas, é a que promove mais curas milagrosas. Quantos cegos, imediatamente à uma perícia, já  são capazes de atravessar a rua sozinho? Quantos deficientes abandonam suas muletas para correr   atrás do ônibus?
Se fosse feito um levantamento junto à Previdência Social, chegariamos à conclusão que metade da população brasileira tem algum tipo de doença incapacitante; a outra metade,  não vê a hora de ter uma.
Para grande parte dos segurados o auxilio doença é a ante-sala da aposentadoria por invalidez. Uma vez de posse deste beneficio, eles  não o querem largar de jeito nenhum. E o que deve fazer o perito médico quando desconfiar da sinceridade do requerente? É necessário que ele faça um exame mais aprofundado do paciente e promova sua cura já mesmo em sua sala. Por exemplo, em se tratando daquela pessoa que chega mancando, com a perna toda enfaixada, dizendo que está com princípio de gangrena; nestes casos o perito deve lhe mostrar um serrote e avisar-lhe que vai executar  uma amputação, uma vez que seu caso é irremediável. Em 90% dos casos o infeliz vai sair correndo, atestando cura imediata.
Se o requerente já perdeu a qualidade de segurado ou, por outra, nunca chegou a possuí-la, já está na hora de tentar um Beneficio Assistencial ao Deficiente. Uma pessoa que sempre esteve incapacitado para o trabalho, devido, na maioria das vezes, à preguiça inata, alega que não pode mais trabalhar. As justificativas são as mais variadas possíveis, vai desde pressão alta à unha encravada. E o que deve fazer você, caro colega, quando duvidar da autenticidade de suas lamúrias? Leve-o para a sala de J.A. e proceda uma “justificativa administrativa” nele. Mostre-lhe um porrete e o ameace. Se ele, muito sensatamente, fugir, ficará comprovada sua má fé. Mas, por outro lado, se ele resistir, moa-o de pancada, pois pode ser que ele se sujeite a qualquer coisa para conseguir o que quer. Bata bastante de modo que, se antes não o fosse, ao fim acabará por ser merecedor do beneficio.




domingo, 19 de dezembro de 2010

TÉCNICAS DE SOBREVIVÊNCIA EM APS – O ODOR

Colegas, a dica de hoje é para prepará-los para enfrentar, com dignidade, as emanações provenientes dos segurados. O que fazer quando você tiver que encarar um segurado que não toma banho desde o dilúvio? Seria deseducado tapar o nariz, mais ainda não segurar uma revolta estomacal. Para isso tenha sempre a seu alcance um aromatizador de ambiente. Evidentemente, para evitar melindres, você não deve, assim sem mais nem menos, esguichar o perfume na cara do sujeito. Deixe cair algum documento no chão, do lado dele, e, quando ele se abaixar para pegá-lo, aproveite o momento e, discretamente, dê uma boa esguichada.
Quando se trata de bafo de dente podre, a situação é mais complexa. Comece por lhe oferecer chicletes e pastilhas. Se houver recusa por parte do segurado, não o force, nada de enfiar bala goela abaixo; não é hora, ainda, de partir para a ignorância. Simplesmente não pergunte mais nada. Não se inteire de endereço, de documentação, livre-se dele o mais rápido possível. Agora, se além do bafo, o segurado for daqueles questionadores, que não param de fazer perguntas e duvidar de suas respostas, há um  procedimento simples que tem a dupla função de eliminar tanto o mau cheiro como a poluição auditiva a que ele lhe vinha sujeitando: ofereça-lhe um cafezinho. Certifique-se de ter, ao lado, um vidro de adoçante cheio de alguma substância soporífica de ação imediata. Dê-lhe o café e o “adoçante” para que ele se encarregue pessoalmente da dosagem livrando você inteiramente do remorso das conseqüências.
E o que fazer quando o segurado lhe apresenta carteiras de trabalho impregnadas de naftalina? Você lá é traça ou barata para receber tal tratamento? Pegue as carteiras, lave com água e sabão, enxágue e deixe secar ao sol. Não se preocupe se as anotações apagarem todas, o segurado nunca conhece mesmo o conteúdo da própria CTPS. Qualquer coisa você manda uma carta de exigência para que ele confirme seus vínculos, ou indefira de uma vez que é para ele aprender a não tratá-lo como um vil inseto.

sábado, 18 de dezembro de 2010

TÉCNICAS DE SOBREVIVÊNCIA EM APS – O ATRAVESSADOR

Já que a atual campanha educativa da Previdência é contra os atravessadores de todas as espécies sejam eles advogados, contadores e todos os demais tipos de catadores de papel que compõem a flora parasito-previdenciária, você, caro servidor, não pode ficar de fora, deve participar ativamente para eliminar essa excrescência.
Existem duas maneiras bastante eficazes de que você pode se servir sem medo para fazer sua parte nesta operação uma vez que já tenha atingido o nível de INSSanidade necessária para o cumprimento desta tarefa.
Uma delas é pegar o atravessador no prosaico ato de atravessar a rua; lá vem ele cruzando a via, lá vai você em seu carro, a cabeça ainda processando o dia de trabalho e eis que você confunde o freio com o acelerador e, sem querer, o atropela. Se a rua estiver vazia e não tiver ninguém olhando, você pode novamente se atrapalhar na direção e tomar a marcha à ré pela primeira e outra vez passar por cima de sua vítima, só para garantir o sucesso de sua empreitada.
Um modo bastante ousado mas de grande repercussão por ser feito dentro das dependências da instituição, é o uso de uma espada.  Se a chefia estranhar a presença de tão longo e pontiagudo objeto, diga que está fazendo aulas de esgrima pois pretende participar das olimpíadas de 2016. E, então, quando você chamar uma senha e vier ao seu encontro um daqueles insuportáveis atravessadores, não hesite um instante e, não digo à queima-roupa já não se trata aqui de arma de fogo, talvez um termo mais exato seja à fura-blusa,  o atravesse de fora a fora. Depois use e abuse de sua inssanidade para esclarecer o acontecido na delegacia. Diga que teve uma súbita alucinação e confundiu a vítima com picanha e a espada com um espeto de churrasco. Ou saia gritando pela sala que é Napoleão. Não se preocupe muito com o que vier a seguir, qualquer coisa vai ser melhor do que voltar para trás do balcão de atendimento. E você estará recompensado para sempre por ter contribuído com mais uma campanha da Previdência Social.