sábado, 30 de julho de 2011

INSSaNews

RESULTADO DO GT do INSS

    Através do original know how de tablóide britânico para grampeamento telefônico, conseguimos informações exclusivas sobre as conclusões do Grupo de Trabalho que determinará novas disposições para os servidores do INSS.
    O ponto mais importante é o que se refere à carga horária. Após exaustivas reuniões onde foi debatido o tema, o GT e o Sindicato chegaram a um consenso. Foi levado em consideração  o excesso de agendamentos, o baixo número de servidores e a pressão causada pelo IMA/GDASS, todos fatores que culminam em stress e diversos tipos de doença. Pensando no bem-estar do servidor e na tranqüilidade devida ao trabalho intelectualmente cansativo é que se irá alterar a carga horária de 8 para 12 horas diárias. Com o aumento do período de trabalho o servidor poderá fazer, com mais calma e com melhores resultados, o serviço que fazia apressadamente.
     Outra mudança acontecerá na hora do almoço. Neste curto espaço de tempo, o servidor costuma almoçar às pressas e aproveitar o tempo para resolver assuntos pessoais. Diante disso, foi feito um levantamento das prioridades e concluiu-se que o servidor alimenta-se mal para ter tempo de ir ao banco ou fazer algumas compras. Tanto uma como outra coisa pode resultar  em   desagrado  ao  se   constatar um saldo 
negativo na conta bancária ou um aumento de manequim ao se experimentar uma peça de roupa. Em que situação deplorável não estará o servidor em sua volta ao trabalho, mal alimentado e infeliz? Para evitar tais saídas desnecessárias e nefastas na hora do almoço ficou determinado que os servidores do INSS terão trinta minutos para fazer sua refeição, sem precisar se deslocar do local do trabalho. Como proteção à saúde do trabalhador, ele deverá  trazer sua marmita de casa, com alimentação saudável, com menu a ser determinado em posterior ocasião. Devido a essas salutares alterações tornou-se desnecessário o recebimento do auxílio alimentação, que será excluído do contracheque já no próximo mês.
    Outra reivindicação da classe que foi atendida diz respeito à incorporação da GDASS ao vencimento básico. Tanto o sindicato como o GT são de opinião que o vencimento básico é que deverá ser incorporado à GDASS de forma à servir de estímulo ao cumprimento das metas a serem atingidas, tornado os funcionários mais ativos e com melhor disposição  para o trabalho.


    Murphy: Nada é tão ruim que não possa piorar


sábado, 23 de julho de 2011

  INSSaNews

         CONCURSO DO INSS

   
   Vem aí mais uma excelente oportunidade para aqueles que desejam ingressar no maravilhoso universo do funcionalismo público federal. Em entrevista exclusiva  o  Excelentíssimo Sr. Ministro, anunciou, com sua notável desenvoltura verbal, que o concurso já tem data estabelecida – “muito em breve” e  o número de vagas que serão oferecidas – “o suficiente para as necessidades necessárias...o que é mesmo que eu estava falando?”
 Apesar do volumoso número de funcionários, a autarquia, que sempre primou pela excelência do atendimento, oferece, a cada concurso, cerca de 2000 vagas para todo o país,  possibilitando que 1 em cada 200 aprovados, assuma o invejável cargo de técnico ou analista do seguro social. 
      Veja a seguir as vantagens que o futuro candidato poderá obter, além dos invejáveis salários da categoria:

Horas extras – Trabalhe oito horas e ganhe dezesseis. Através de um espetacular efeito Palocci, após oito horas de trabalho, você se sentirá como se tivesse trabalhado dezesseis. E o melhor, sem custo adicional para a instituição que não lhe paga nada mais por isso.



Bônus Diários – Ao atender o segurado, você receberá, inteiramente grátis, um acompanhante e, assim, em lugar de ter, durante todo o atendimento, uma pessoa falando no seu ouvido, você terá duas, com o que ficará  bem  informado sobre as últimas novidades da vida alheia.


Ambiente agradável e excelentes condições de trabalho – As agências do INSS são todas dotadas de ar condicionado em duas velocidades, máximo e desligado. Você igualmente contará com material de informática de última geração, aquele mesmo que fez a alegria da geração de seus pais. Você irá dispor também de cerca de 15 sistemas da Previdência Social que, embora tenham uma certa dificuldade de interação, lhe propiciarão o uso de umas 10 senhas diferentes, num excelente exercício de memória.


Assistência à saúde – Com o manuseio constante de carteiras profissionais e carnês salvos da enchente ou reencontrados no sótão debaixo da goteira, você poderá adquirir facilmente desde uma dermatite de toque até uma micose.  Isso além do salutar contato com doenças infecto-contagiosas propiciadas pelos lugares super-lotados.

Plano de carreira – Após um ano do INSS o servidor já estará fazendo planos para encontrar um emprego melhor, seja através de outro concurso público ou na iniciativa privada.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

INSSaNews

        SEGUNDO CADERNO

PREVTUR
   Adquira já o seu cupom e concorra a mais um interessantíssimo módulo do curso de formação em Gestão de Lazer : Prática em Cochilos e Sonecas. O curso é oferecido em diversas capitais do país, tem carga horária de apenas duas horas diárias, sempre após o almoço. O tempo livre será utilizado para passeios e compras. O PREVTUR está apenas disponível para os servidores das Gerências Executivas mas os servidores das APS não devem se sentir discriminados pois vem aí a

SEMANA DO MARMITÃO
   Especialmente dedicada ao servidor da APS, que não tem hora para almoçar, que trabalha feito bar em fim de semana - até o último cliente, que não pode nem olhar enviesado para um segurado sem correr o risco de uma reclamação na Ouvidoria, que está sujeito a cobranças diárias por parte da chefia  e que, apesar de tudo, deve ter sempre um sorriso fixo nos lábios.
   Com sorteios diários de brindes como nariz de palhaço e kit sorriso, a Semana do Marmitão inicia-se na próxima segunda-feira, logo após o expediente e segue até terça-feira, das sete  às nove da noite, pois você tem que acordar cedo no dia seguinte. Compareça e, para ter direito a fazer uma boquinha, leve um prato de doce ou salgado e uma garrafa de refrigerante.

CAI O CHEFE DO RH
    O chefe do RH da gerência de ....... escorregou e caiu ao descer a escada quando ia tomar um cafezinho na padaria. Quicou, com a nádega direita, todo um lance de escada o que resultou em sério hematoma que lhe proporcionou trinta dias 

de auxílio doença, período este que ele aproveita para, junto com a família, esquiar em Bariloche a ver se “fratura” a banda esquerda a fim de prolongar o benefício por igual período.
  

COLABORE
   Participe da campanha “Desce, Plínio!” e ajude um colega da GEX a realizar o sonho de trabalhar numa APS. Assine o abaixo-assinado e concorra a  um bottom com a inscrição “Eu ajudei o Plínio.”



CLASSIFICADOS I
   Agora você não vai precisar mais estar no seu local de trabalho para marcar o ponto. Com SISREF de pulso, seus problemas de horário acabaram. Um suave tilintar o avisa de que a hora de almoço terminou; você marca sua volta e continua tranquilamente o seu passeio pelo shopping. E já poderá estar em casa ao fim do expediente ou ainda na cama, ao seu início. SISREF de pulso é também muito útil para fins-de-semana prolongados e longas viagens fora do período de férias. À venda no exclusivo modelo GEX.

CLASSIFICADOS II
   Senhor gerente, adquira para os seus subordinados o crachá eletrônico  choque de gestão e mantenha seus servidores sempre bem dispostos. Esse incrível  aparelho é movido a controle remoto  e emite choques de variada intensidade reconduzindo o servidor a uma postura ereta e provocando um involuntário, porém, desejado, sorriso. Prático e de fácil manuseio, o crachá eletrônico choque de gestão  é oferecido em exclusiva versão APS.

sábado, 2 de julho de 2011

          INSSaNews
Rebelião de servidores do INSS   

    Na tarde de ontem iniciou-se uma rebelião na gerência de ....... após o gerente determinar que alguns servidores lotados em diversos setores  seriam transferidos para a APS da cidade. A não divulgação imediata dos nomes dos contemplados causou grande mal-estar entre os funcionários que especulavam, temerosos, se seriam os escolhidos. 


 Após cochichos e olhares furtivos, a situação alcançou alto grau de tensão resultando na captura do gerente que está sendo mantido como refém a fim de que dê as necessárias explicações sobre seus atos arbitrários. O seu algoz o mantém sob a  ameaça constante de um extrator de grampos junto à gerencial jugular.

    Outros revoltosos ameaçaram pôr fogo no arquivo. Logo que a notícia se espalhou pela agência, servidores da APS tentaram subir com pilhas de processos represados para ajudar com mais material inflamável e reduzir, desta forma, consideravelmente, o próprio trabalho. Foram impedidos pelos revoltosos da logística que lançaram, escada abaixo, canetas e outros artigos de escritório e que foram recolhidos com desenvolta satisfação pelos rechaçados colaboracionistas, como butim muito cobiçado.


    
     Uma máquina fotocopiadora foi lançada do quinto andar e imediatamente recolhida pelos servidores da APS que constataram que ela, mesmo destroçada, tinha um desempenho superior à disponível aos servidores da agência.
 Alguns servidores mais medrosos, pularam pelas janelas tentando, através da morte, evitar a transferência. Infelizmente todos sobreviveram e se mantêm reféns dos funcionários da APS que, como forma de tortura, já os obrigam a fazer CNISVR.
  Diversos segurados, informados do motim, aderiram ao movimento e seqüestraram dois peritos que estão sendo obrigados a deferir todos os pedidos de auxilio doença requisitados. Assistentes  sociais tentam, sem sucesso, negociar o fim da rebelião e, até o fechamento desta edição, os fatos mantinham-se inalterados.
  Ciente dos graves acontecimentos registrados, o Sr. Ministro  confirmou a séria intenção de criar, com a máxima urgência, logo após o término do recesso parlamentar, uma UPP (Unidade Pacificadora Previdenciária) para controlar os movimentos rebeldes nas unidades mais belicosas.


            Ministro confirma criação de UPPs

sábado, 25 de junho de 2011

TÉCNICAS DE SOBREVIVÊNCIA EM APS – LIGUE JÁ!


Cansado de ser o responsável por manter os 80 pontos da GDASS de toda a gerência? Cansado de levar bronca para produzir cada vez mais com sistemas cada vez mais instáveis? Cansado de fazer pajelança para que o computador funcione? Seus problemas acabaram! Para isso foi criado o PAB (Programa de Aceleração de Benefícios), um sistema cooperativo entre servidor e segurado.
Conheça o PAB: Trata-se de um método bastante simples e muito eficiente para a habilitação e concessão dos variados benefícios oferecidos pela autarquia e contará com a participação de todos aqueles segurados a partir da terceira tentativa frustrada de obtenção de um benefício.
Veja como funciona: Para fazer mais uma insensata e inútil tentativa, o segurado deverá matricular-se no Curso de Habilitação e Formatação de Benefícios com duração de dois meses, com carga horária de 40 horas semanais, acumulando excepcional conhecimento que enriquecerá sobremaneira o seu currículo previdenciário. Ao fim do curso ele receberá, inteiramente grátis, o título honorário de segurado-padrão. E não é só isso, além do título honorário ele  será agraciado com o prêmio Servidor por um dia. E não é só isso, além de receber título honorário  e o prêmio de Servidor por um dia, ele receberá também, inteiramente grátis, uma senha para aplicar os conhecimentos adquiridos ao longo do curso. Ele poderá passar um dia inteiro fazendo CNISVR em processos de aposentadoria represados e habilitar e indeferir o próprio benefício e poderá repetir isso quantas vezes desejar, bastando apenas, reinscrever-se no curso.
Também podem participar os consultores previdenciários, evidentemente, passando por todo o processo acima descrito para cada benefício que deseje habilitar.
Basta ligar para 135 e agendar o seu Curso de Habilitação e Formatação de Benefícios. Seja um de nossos colaboradores. Não espere mais! Não perca essa incrível oportunidade! Ligue já!

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Cansado de não poder emendar o feriadão? Cansado de atender o público durante o dia todo? Cansado de fazer CNISVR? Seus problemas acabaram! Com Roboclonation você pode passar os dias de papo pro ar enquanto um robô, igualzinho a você, faz todo o serviço sem reclamar do excesso de trabalho. E não é só isso! Roboclonation passa o dia todo sorrindo, não xinga a impressora com obstrução de papel, nem a copiadora com defeito. Roboclonation suporta até as instabilidades do CNIS cidadão. E não é só isso! Roboclonation pode ser programado para fazer até agrado aos chefes mais mal-humorados. Peça já seu Roboclonation e garanta os seus 20 pontos na avaliação individual.
Roboclonation tem dois modelos: Standard-DonaConceição ou personalizado. Consiga o máximo de eficiência em seu trabalho com Roboclonation.
Robocloantion também é oferecido na versão ultra-plus Prozac que garante seu funcionamento até mesmo nas condições mais adversas enfrentando com alegria e prazer os segurados mais agressivos e os colegas mais chatos com grande repertório de palavras amáveis e simpáticas.
Não espere mais! Não perca essa incrível oportunidade! Peça já o seu! Roboclonation – mais um produto das Organizações Tabajara!

sexta-feira, 17 de junho de 2011

TÉCNICAS DE SOBREVIVÊNCIA EM APS – A SOBRANCELHA


Em meio a uma alta densidade demográfica de segurados que aguardavam atendimento, a voz mais elevada se destacava gritando repetidamente “só matano mermo mermão!”. Dona Conceição, que acabara de retornar do almoço, olhou para a multidão tentando descobrir o autor da aliterada oração, aqui no sentido gramatical e não no devocional, a fim de facilitar o entendimento daquelas três últimas palavras da frase de quatro, e que não constavam de seu ultrapassado léxico, porém, que já devem estar presentes nas atualíssimas cartilhas do MEC.
Ainda sem entender o significado da locução, chamou o próximo, com uma inquietante intuição de que seria brindada com a aquela vociferante prenda. Não deu outra. Seu Jorge, já grande e pesado por natureza, se aproximava imprimindo agressividade a cada passo, fazendo tremer o mouse que, desta forma, parecia assustado por tão ameaçadora presença. Ele, para se sentar, puxou a cadeira com tamanha violência que ela balançou para trás, com o impulso,  quase atingindo um cidadão que estava sentado nas proximidades. Dona Conceição não estava gostando nem um pouco desse  violento preâmbulo mas afivelou sou mais cordial sorriso amarelo, e disse, quase amável:
- Boa tarde, Seu Jorge, o senhor veio dar entrada na sua aposentadoria?
- Vim, dona, e, dessa vez, eu me aposento de qualquer maneira, senão a coisa vai ficar muito feia pro seu lado.
A sobrancelha esquerda de Dona Conceição ergueu-se interrogativamente. É necessário que se faça aqui um parêntese para explicar o funcionamento da sobrancelha esquerda de Dona Conceição. Calejada por décadas de atendimento, a servidora adquirira uma expressão facial neutra que não deixava transparecer sentimentos que ela julgava que poderiam ser prejudicais à sua tarefa, como desagrado, desaprovação, tensão ou medo. Ou era espontaneamente gentil e simpática, ou, em casos extremos, como o de agora, mantinha-se indiferente. O único senão era a indomável sobrancelha que parecia ter personalidade própria, erguendo-se a cada sobressalto, feito um marcador de nível.
- Ah, o senhor já deu entrada antes?
- Três vezes!
Três vezes só este ano, confirmou Dona Conceição ao ver o histórico do cidadão. E ainda estamos em junho. Mais duas vezes ano passado, mais outra no anterior, num total de seis tentativas. Tinha razão em estar revoltado. A menos que não tivesse tempo de contribuição suficiente para se aposentar, como, por coincidência, era o caso, conforme se certificou ao examinar o último pedido negado. O segurado tinha 49 anos de idade, 25 de contribuição e uma dúzia de PPPs não enquadrados. Precisava de 35 anos redondinhos de contribuição já que não tinha idade para a proporcional. Dona Conceição respirou fundo e começou a explicar que os PPPs não tinham sido enquadrados, que ele precisava....foi interrompida...
- Dona, eu trabalho desde os onze anos, dou duro há mais de quarenta  ( há aí um erro de cálculo,  pensou Dona Conceição) e agora vocês vêm me dizer que eu não tenho direito de me aposentar?! – começou a esmurrar a mesa, com aparente intenção de socar algo mais macio, como, por exemplo, as rechonchudas bochechas de Dona Conceição. A sobrancelha esquerda sinalizou o temor erguendo-se mais um pouco. Ela se calou e pôs-se a habilitar o benefício. Ele continuou a falar em voz alta e ameaçadora, respingando perdigotos sobre a mesa.
- Eca! Que nojo! – e a sobrancelha elevou-se mais um pouco.
O silêncio e a aparente tranqüilidade da servidora apenas serviram para alterar ainda mais o irritado requerente.
-896=fhc a dona aí não vai falar nada? Vai ficar com essa  eiagçcb
de cara de  eiagçcb - gritava ainda  quando  se levantou, arrancou o monitor da frente de Dona Conceição e o lançou ao chão.
A sobrancelha de Dona Conceição alcançou um patamar nunca antes atingido, subiu tanto que levou consigo o olho e entortou a boca, fazendo seu rosto lembrar uma obra de arte cubista e ela, em total silêncio, erigiu  impropérios e citou todos os palavrões conhecidos e os ainda por inventar, por minutos odiou aquele ser com toda a liberdade de seu espírito e recompensada o viu ser levado para longe de sua presença. Depois teve um momento de arrependimento durante o qual se perguntou se tinha infringido algum artigo do Código de Ética do Servidor Público com as suas palavras, com o seu silêncio ou com o conjunto de sua atitude. Tranqüilizou-se ao certificar-se que não e que os seus sentimentos, provocados pelo procedimento do segurado, embora negativos  eram naturais e permitidos, pois, a dita legislação, que normatiza a conduta do servidor, determina apenas como ele deve agir e não regulamenta suas emoções e sensações pontuais. Aliviada, deixou escapar um alto e sonoro palavrão que, por sorte, ninguém prestou atenção e ficou a cismar se não era já tempo de se elaborar um Código de Ética do Cidadão Segurado...

sexta-feira, 10 de junho de 2011

TÉCNICAS DE SOBREVIVÊNCIA EM APS – SEGUNDA-FEIRA

Para Dona Conceição, bem como para a maioria dos trabalhadores, a semana se divide em quatro aborrecidas segundas-feiras e uma auspiciosa sexta-feira, prenúncio de um promissor fim de semana. E foi numa segunda-feira de muita chuva que Dona Conceição, sonhando em comprar um carro, tentava achar uma vaga para estacionar o seu velho fusca. Pegar ônibus num dia desses, nem pensar, e lá vai ela, procurando uma vaguinha para economizar no estacionamento. E lá vai ela, vai indo, atenta ao trânsito, cada vez mais distante de seu objetivo principal. Pronto, finalmente, encontra um espaço que, com boa vontade e um tanto de perícia, pode ser considerado uma vaga; esbarra no carro da frente, bate no de trás, enfim, estacionada!
- Onde estou? - perguntou-se ela, olhando para todos os lados, tentando se orientar em meio a tantos guarda-chuvas. Em que direção ficava a APS?
- Ó céus! – gritou quando se deu conta de onde se encontrava. Olhou o relógio e correu para o ponto de ônibus mais próximo. Estava a uns quinze quilômetros de seu local de trabalho. Vir de carro acabou por não a livrar de tomar um ônibus. Lotado, claro.
Depois de quarenta e cinco minutos de aperto, quando tentava marcar o ponto sem ser notada, o chefe, que tudo vê, pois é essa a sua função e não outra, assim a cumprimentou, sem disfarçar a ironia:
- Boa tarde, Dona Conceição – e não eram nem dez horas de manhã...
- Engraçado - pensou ela – quando fico até mais tarde trabalhando ou detida por alguma reunião de última hora, ninguém me dá boa noite...
A pontualidade tem dessas inconvenientes sutilezas.
                                       
                                                         
                                                           ******

 - Bom dia, Dona Felicidade! A senhora veio dar entrada na aposentadoria?
 - Não sei. – respondeu Dona Felicidade, com voz lamuriosa.
 - Foi isso que a senhora agendou. Ou a senhora quer saber apenas quanto tempo de contribuição tem?
 - É, vê pra mim... eu ando tão cansada, acho que estou doente, deve ser  a idade. – lamentou-se ela, enquanto colocava sobre a mesa umas carteiras profissionais antigas e uma meia dúzia de carnês recentes. Dona Conceição analisou aquele material antigo, uma dúzia de vínculos  a serem incluídos no sistema, avaliou que talvez tivesse tempo suficiente para aposentá-la.
- Vamos dar entrada, quem sabe se a senhora já tem tempo para se aposentar.
- A senhora não tem certeza?
- No momento, não, mas, à tarde, eu vou poder ver isso com calma.
- Ah! – suspirou a infeliz Dona Felicidade - E eu vou ter que continuar pagando o carnê?
- A senhora espera a resposta que talvez não precise pagar mais. Já pagou esse mês, pode aguardar até dia 15 do próximo mês. Até lá a senhora já vai ter a resposta.
- Eu gosto de deixar para pagar no último dia. Eu tenho medo de ficar doente e não pagar. – E começou a desfiar um rosário de mazelas e infortúnios.
Dona Conceição, que já estava ficando deprimida de tanto ouvir as lamúrias da segurada, decidiu finalizar o processo durante o atendimento, apesar de já ter outros agendamentos à espera. Queria minimizar a distância entre o nome e o ânimo de Dona Felicidade. Enquanto a outra lastimava excessivos e provavelmente inexistentes dramas, ela analisou detidamente a carteira, incluiu os vínculos no sistema, conferiu as datas, conferiu novamente, conferiu a contagem do tempo, não confiava muito nas informações do Prisma, deu tempo! Concedido!
- Dona Felicidade, a senhora está aposentada! – disse Dona Conceição satisfeita em dar a boa notícia.
- Estou? – perguntou incrédula e um tanto decepcionada Dona Felicidade.
- Está! – respondeu Dona Conceição, confusa com o desânimo da segurada. Estaria em estado de choque?  Que mulher complicada. O que mais poderia fazer para contentá-la? – pensava a servidora.
 – Bom, agora vou fazer uma cópia de suas carteiras e já volto.
Ao voltar encontrou a segurada ainda mais angustiada que antes.
- Eu vou perder a minha pensão?
- Ah, é isso que está preocupando a senhora? Claro que não. Fique tranqüila.
- Tenho que continuar pagando o carnê?
- Também, não. Agora a senhora está aposentada. Nada de pagar mais, agora é só aproveitar o que a senhora batalhou para conseguir.
- Mas se eu parar de pagar e ficar doente, vou poder ficar de auxílio doença?
- A senhora, estando aposentada, não faz mais jus ao auxilio doença, nem mesmo continuando a contribuir para a Previdência. – esclareceu Dona Conceição.
- Então eu acho que vou esperar mais um pouco para me aposentar, posso?
- Pode, Dona Felicidade, pode. Basta fazer, por escrito, um pedido de cancelamento do seu benefício – respondeu aborrecida, Dona Conceição. Tanto trabalho para nada!
- Então, me arranja um pedaço de papel?
Dona Conceição levantou-se para pegar o papel. Era ainda a primeira segunda-feira da semana, chovia, seu fusquinha estava a quinze quilômetros de distância e ela ainda tinha que agüentar as desventuras de Dona Felicidade.


sexta-feira, 3 de junho de 2011

TÉCNICAS DE SOBREVIVÊNCIA EM APS – OS DISFARCES DE DONA CONCEIÇÃO


Foi no verão que Dona Conceição começou a usar um chapéu de palha com abas enormes e imensos óculos escuros ao sair para almoçar e ao voltar para casa, ao fim do expediente. Andava pelas ruas com o chapéu enterrado na cabeça, como um mexicano fazendo a siesta. Quase não enxergava o quem lhe vinha de encontro nem o que ao de encontro ia; mais de uma vez dera cabeçada em poste, chutara lata de lixo e pisara em rabo de cachorro que dormia na calçada. Tinha hematomas a lhe atestarem a dificuldades de comunicação entre os pés e o caminho mas não abandonava os acessórios. Só quando vieram o inverno e a chuva é que os colegas de Dona Conceição começaram a se preocupar com aquele excesso de proteção solar. Interpelada, ela explicou que era por causa de Seu Sebastião, cuja aposentadoria por idade fora por ela indeferida e, ele, que não se conformava com o fato, entrara com recurso e agora vinha todos os dias à agência a exigir uma resposta que não dependia dela e a cobrar direitos que não possuía.
Não suportando mais tanto assédio Dona Conceição passou, a cada dia, a sugerir que ele direcionasse sua reclamação a um setor diferente; que se dirigisse diretamente à Junta de Recursos ou que fizesse uma queixa na Ouvidoria, finalmente opinou que ele devia se lamentar com a assistente social,  do que imediatamente se arrependeu.
Dona Lúcia, a assistente social, não era má pessoa, tinha real interesse em ajudar os segurados embora sua tarefa fosse  ajudar aqueles que não eram segurados do INSS pois seus trabalho dizia respeito aos benefícios assistenciais e não ao previdenciários; entretanto, tinha ela uma certa dificuldade de discernimento e fazia confusão entre ambos. Quando Dona Conceição a viu aproximar-se, cenho carregado e punho fechado, tentou colocar seu disfarce praiano, porém, foi pega com o chapéu na mão.
- Dona Conceição, como pôde a senhora fazer o que fez com o Seu Sebastião, um homem tão necessitado, idoso e, ainda por cima, muito doente – cobrou em voz alta e pouco social, a assistente social, levantando o punho cerrado na direção da servidora.
Dona Conceição tentou explicar que o senhor em questão tinha usufruído  18 anos de um auxílio doença que fora, findo este tempo, cessado por irregularidade e que viera agora, ao completar 65 anos, requerer a aposentadoria por idade e... Dona Lúcia a interrompeu: - Em 18 anos e ninguém regularizou o beneficiou desse pobre homem? É um total desleixo, uma incompetência imperdoável, permitir que uma pessoa tão necessitada fique à míngua por um erro de um servidor, isso é um crime.....  E ia ela continuar seu discurso sem sentido se Dona Conceição não a interrompesse bruscamente: - Irregularidade, neste caso, senhora Dona Lúcia, significa fraude. E agora o Seu Sebastião, depois de receber ilicitamente um benefício durante 18 anos, quer aproveitar esse mesmo tempo para conseguir uma aposentadoria. Porém, lícito ou não, o tempo de auxilio doença não conta para carência*, portanto o Seu Sebastião não pode se aposentar porque não tem carência.
- Como não tem carência? Uma pessoa a quem falta tudo, não é carente? Que esteve doente durante 18 anos, que nunca pôde trabalhar, que tem como sobreviver e a senhora me diz que não tem carência?
Dona Lúcia, vítima de sinuosas e erráticas conexões neuronais, ou não entendia nada  do que se dizia ou entendia tudo ao pé da letra, que é a outra forma de não entender nada.
- Mas não se preocupe, Dona Lúcia, que ele já entrou com recurso – tranqüilizou Dona Conceição, tentando encerrar a conversa.
- Recurso? E que recursos a senhora acha que ele tem para a senhora o extorquir desse jeito? A senhora ainda vai acabar na cadeia!
Dona Conceição não disse mais nada, saiu correndo e se enfurnou no banheiro. No dia seguinte estreou um disfarce diferente; subitamente convertida ao islamismo em sua vertente mais conservadora, tornou-se adepta do talibã e a passou a usar burca. Dona Lúcia, depois de alguns dias, vendo-a ali acomodada em sua mesa habitual, coberta dos pés à cabeça por aquele traje azul, olhos semi-ocultos por trás de uma tela, sentou-se ao seu lado e perguntou o seu nome. – Maria, respondeu Dona Conceição, disfarçando a voz.
- Então, Dona Maria, a senhora tem visto a Dona Conceição?
- Não- respondeu a voz adulterada.
               - Pois não é que ela sumiu? A senhora, muito provavelmente, não imagina o que a Dona Conceição tem feito a essas pobres pessoas que aqui freqüentam... – e ficou meia hora a discursar lamentos nos ouvidos de Dona Conceição.
Certo dia, Dona Conceição, estando abafada por baixo de todo aquele pano, foi para a retaguarda refrescar-se um pouco. Mal levantou a burca e entrou a insistente assistente social,  que lhe gritou:
- Finalmente a senhora resolveu aparecer! Pois saiba que,  enquanto a senhora passeia por aí, o Seu Sebastião morre de fome... – e tanto falou que Dona Conceição nem se animou a responder. Irritada, vestiu outra vez a sua burca e voltou para sua mesa. Mal sentou e lá veio Dona Lúcia, que lhe disse, em voz baixa e lamentosa:
- É, Dona Maria, a senhora é a única por aqui que me compreende...
Enquanto isso o Seu Sebastião, percorria, com olhar frustrado, os quatro cantos da agência tentando encontrar a Dona Conceição...

*não contava........blog defasado.................







sexta-feira, 27 de maio de 2011

TÉCNICAS DE SOBREVIVÊNCIA EM APS – DONA CONCEIÇÃO

Acompanharemos hoje um dia na vida de Dona Conceição, servidora pública, trabalhando  há quase trinta anos  na Previdência Social, onde ocupa o cargo de técnico do seguro social. Segunda-feira, dia especialmente nefasto para todos os trabalhadores, que acordam ainda com os restos do domingo nos olhos, está Dona Conceição pronta para mais um dia de trabalho.
  -  Bom dia, seu José! – diz Dona Conceição, com habitual alegria, depois de bocejar a preguiça do fim de semana.
- Bom dia –  respondeu o segurado, mal-humorado, rosnando as palavras.
- Eita, mau-humor de segunda – imaginou  a servidora.
- O senhor veio dar entrada na aposentadoria?
- Vim, sim – responde entre-dentes.
- Aí tem – pensa Dona Conceição, com a perspicácia que sua experiência lhe imprimiu, e seu pensamento assim continuou: Ele já passou por essa cadeira, não gostou do resultado obtido, voltou, deu novamente de cara com a sua algoz e ficou mais irritado ainda. Olhou melhor para o rosto dele e não o reconheceu. Menos mal, sinal de que o primeiro encontro deve ter corrido bem pois não lhe deixou traumas, aquele pânico que se sente ao ver de novo alguém com o qual tivemos uma séria desavença.
Pediu  seus documentos:
 - Tá tudo aí....
- Não disse? – confirmou ela, em pensamento. Pegou o número do beneficio indeferido e saiu em busca das carteiras profissionais do segurado. Não encontrou. Pediu para um estagiário procurar de novo. Nada. Ligou para o arquivo, pediu que trouxessem o processo. O homem  a olhava de modo agressivo e desconfiado, ela estava temerosa, alguma aprontara, sem dúvida. Chega o processo:
 – Senhor, seus documentos lhe foram devolvidos.
- Foram, nada, só me devolveram a carteira – e a joga com arrogância sobre a mesa.
- Hum – pensou Dona Conceição – Uma única e inofensiva carteira, que mal pode haver em tão pouco espaço? – recomeça a se animar.
Pega o processo para procurar onde está o erro cometido, sim, algo de muito grave deve ter ela feito para ele a olhar com essa cara de pitbull esfaimado.
- Hum – pensou quando viu que o beneficio fora indeferido há menos de três meses. Por que ele não tinha entrado com um pedido de recurso? Agora ela ia ter que habilitar de novo, retirar os documentos que poderiam ser aproveitados no novo processo, repetir todo o procedimento anterior, e seu humor foi lentamente se alterando, olhou para o segurado com o receio transmudado em irritação. Ele manteve o olhar desafiador, entretanto, ela percebeu um quase imperceptível recuo de seus ombros. Ela ganhava terreno. Mas estava chateada, por que ele não entrara com o pedido de recurso, tinha que vir fazer tudo de novo? Folheou o processo, com gestos bruscos.
- O quê?! –  indignou-se silenciosamente -já é a quarta vez que ele dá entrada numa aposentadoria!
- O quê?! -  gritou o seu pensamento ao rever aquele PPP de cinco páginas e 85 alterações de função, ia ter que colocar, no PRISMA, cada uma daquelas oitenta e cinco frações de um único emprego. Oitenta e cinco –  subitamente se recordara deste dramático ocorrido. Prosseguiu folheando o processo.
- O quê?! – gritava com uma desesperada mudez – depois de tudo isso e ele só tinha 30 anos de contribuição, ia ter que repetir tudo aquilo inutilmente.
.         Colocou o processo sobre a mesa com uma mão pesada de enfado e impaciência. Nada amistosamente olhou para ele, que, agora, depois dos maus tratados sofridos pelo seu processo de aposentadoria, parecia amedrontado, meio encolhido, tentando disfarçar sua presença.  Ela não disse nada, mudo também ficou ele mas houve uma compreensão  tácita da inversão de atitude entre ambos e, quando Dona Conceição entregou-lhe o protocolo do benefício e dele se despediu com um seco bom dia, ele respondeu, agora, educada e gentilmente: - Para a senhora também.

                                                    ***

Quando chegou a vez de Seu João ser atendido, Dona Conceição já estava novamente de bom humor. Seu João também era muito amável e não parecia nutrir ressentimentos contra ela ou contra a instituição. Tudo corria muito bem até que Dona Conceição pediu suas carteiras profissionais enquanto tentava pesquisar seus vínculos no CNIS, que, como de costume, caía a todo momento. De relance percebeu um volume bastante inusitado sendo colocado  na mesa, olhou melhor, havia uns 10 cm de CTPS, cuidadosamente empilhadas bem na sua frente. Ficou em estado de choque. Eram doze CTPS. Uma dúzia. Confirmadas todas pelas 9 páginas de CNIS, 115 vínculos, 93 extemporâneos. Seu João era  pedreiro, seus vínculos todos de curtíssima duração. Imaginou como seria longa e árdua sua tarde dividida entre os dois processo. Engoliu o desânimo, conseguiu sorrir ao se despedir de Seu João, porém, mal conseguiu almoçar.

À tarde, Dona Conceição,  um processo em cada mão, custou a se decidir entre Seu José e Seu João, acabou optando pelo segundo, com o qual passaria as quatro horas seguintes. Iniciou pela carteira mais antiga, semi-desfeita pelo tempo e pelo mofo, veio a coceira no nariz, colocou  luvas  e uma máscara e começou, com precisão cirúrgica, ananálise dos vínculos, cuidando para que a carteira não se deteriorasse ainda mais com o manuseio. E, a seguir, dedicou-se à segunda, à terceira.... Incrível. Não é que estava tudo certinho? Poderia convalidar todos os empregos do segurado. Então, durante três horas ficou a fazer a solicitação no CNISVR Agora só faltava encontrar uma alma caridosa disposta a responder a pesquisa no HIPNET. Aproximou-se do supervisor um tanto temerosa, pediu que ele homologasse os pedidos, ele abriu o sistema, rolou a tela até o fim, viu os 93 pedidos e declarou sucintamente: -Nem morto! E devolveu-lhe o processo. Ela resolveu mudar de estratégia, foi para a retaguarda e pediu a uma colega que fizesse as homologações e foi saindo de fininho. A moça lhe disse que assim que tivesse um tempinho, cuidaria de seu pedido. “Tempinho”, repetiu Dona Conceição, já então um pouco arrependida de seu ato. Voltou para sua mesa e começou a trabalhar no processo de Seu José e já tinha incluído uma dezena de períodos de PPP no PRISMA quando ouviu um grito de horror  vindo da outra sala. Era aquela sua colega que havia encontrado um tempinho para fazer as homologações dos vínculos de Seu João...



domingo, 22 de maio de 2011

CURSO BÁSICO DE FORMAÇÃO DE LEITORES

       
Com o intuito de diminuir as divergências entre os leitores deste manual a fim de evitar fuzilamentos desnecessários, especialmente da pessoa que o escreve, é que você, colega, convidado ou não  a este espaço, foi compulsoriamente matriculado no Curso Básico de Formação de Leitores.  Aqui você irá aprender as noções básicas imprescindíveis para o correto aproveitamento da leitura das obras clássicas e populares, da alta literatura aos manuais de auto-ajuda, como é o caso deste volume que você acompanha. Vamos aos tópicos:

Introdução à leitura: O primeiro passo para uma saudável e eficaz leitura é a distinção entre ficção e realidade. Embora possa  isso parecer óbvio, e é, muitas pessoas, por variados e insondáveis motivos, não têm facilidade para esse tipo de reconhecimento. Talvez  devido à   inépcia intelectual é que muitas pessoas crêem ser as Memórias Póstumas de Brás Cubas o resultado de uma psicografia e não uma obra de ficção uma vez que o seu personagem principal, narrador da história, já se encontra morto ao contar sua trajetória de vida, o que faz de Machado de Assis  ser, nesta oportunidade, não um escritor mas um médium.

Distinção entre o escritor e sua obra: Essa confusão entre fantasia e realidade acaba por comprometer também o entendimento da distância que há entre aquele que escreve e o que é escrito, transformando todas as obras em autobiografias. É imprescindível que se perceba que um texto não é o seu autor e não o representa, é apenas um punhado de frases esculpidas pela imaginação,  criatividade e  habilidade daquele que o concebe por puro lazer, como é o caso desse manual, ou com algum outro objetivo, seja ele artístico, didático, doutrinário, panfletário etc...

Distinção entre o escritor e o leitor: Deve-se igualmente ter noção exata de que o pensamento do leitor, igualmente livre como o do autor, muitas vezes altera o sentido e a intenção daquilo que foi escrito, criando uma interpretação errônea do que se quis dizer, transformando uma brincadeira, como evidentemente é o caso desse blog, em algo sério, terrível, pintando com tintas carregadas aquilo algo que é leve e para o deleite dos colegas de profissão. E por que essa diferença de interpretação, por que a maioria dos leitores deste espaço compreende exatamente o que se quer dizer enquanto outros não alcançam o sentido do que é dito? Porque uma obra não é criada unilateralmente, grande parte dela reflete o próprio leitor.

O “politicamente correto”: O que seria exatamente esse conceito tão vago quanto difundido? A própria conjunção desses termos é algo antagônica nos tempos atuais, em que a arte da política não costuma ser feita pelos meios mais idôneos e corretos. Lançado a esmo sobre uma população despreparada para o manejo das idéias, o objetivo do termo é a estagnação do raciocínio, inibindo qualquer atividade mental que não esteja em conformidade com um catálogo de pensamentos pré-determinados por uma ordem superior, que incute no povo valores fixos, introduzindo uma rigidez mental onde se tem medo até de pensar aquilo que se julga que não deve nem ser pensado. É o tipo de censura mais eficaz pois cala a idéia em seu berço a fim de abortar a palavra. Hoje, como muito facilmente se percebe, a palavra tem mais peso do que o ato em si. Se uma pessoa comete um ato ilícito mas afirma não tê-lo cometido será julgado com mais leniência  do que aquele que simplesmente declara desejar cometer o mesmo ato condenável, ainda que nunca o faça, numa total inversão de valores. Mais do que a liberdade de expressão, deve-se almejar a liberdade de pensamento, que é este que mais corre risco atualmente.