quinta-feira, 10 de abril de 2014

TÉCNICAS DE SOBREVIVÊNCIA EM APS - OS MAIS IGUAIS


Com o início do regime especial de atendimentos aos advogados, Dona Conceição foi designada para a honrosa tarefa. Contribuíram para isso dois fatores importantes: um, o fato de a servidora não simpatizar com advogados e, o outro, o fato de o chefe da agência não simpatizar com Dona Conceição. Ela viu tal destino como sinal de provocação e ameaçou dar cabeçadas na parede até conseguir um traumatismo craniano. E foi às vias de fato, uma vez que o gerente não fez nada para impedi-la. Já na quarta pancada, caiu desmaiada e sem alcançar o seu objetivo, o que demonstra que ela era cabeça dura não apenas em sentido figurado. Quando se recuperou, teve de ir para o balcão...
No começo era apenas uma fila de três ou quatro engravatados senhores. Com o tempo, a notícia foi se espalhando e a fila aumentando. Os segurados comuns sustinham resignados as suas senhas e espichavam o olho para a fila dos doutores.
Em pouco tempo os honrados senhores acharam por bem que era necessário que fossem atendidos em um lugar especial porque eram pessoas de superior estirpe. O gerente, muito a contragosto, deu-lhes a sala de JA e em sua porta foi colocada uma simpática plaquinha com os desenhos de uma gravata e um sapato de salto alto, indicando que o local era reservado para pessoas elegantes. É verdade que, de vez em quando, por erro de interpretação, entrava ali alguém apressado, pensando tratar-se de um banheiro, mas, fora isso, as acomodações estavam mais ou menos ao gosto da sofisticada clientela.
Não demorou muito para os segurados se associassem aos advogados para, através deles, obter os privilégios só a eles destinados. Todos, então, compareciam à APS escoltados por determinados defensores da lei, da ordem e da justiça, sem a intervenção dos quais, acreditavam eles, sequer um extrato de pagamento era emitido pelos desleixados servidores. A carreira jurídico-previdenciária florescia a olhos vistos. As gravatas, antes discretas, tornaram-se extravagantes, com estampas coloridas e até com desenhos do Mickey Mouse. A senhoras de tailleur abusavam dos saltos altíssimos que iam do vermelho fluorescente ao dourado.
O resultado de tudo isso é que dobrou o número de pessoas na agência. E, como era de se prever, as controvérsias começaram. Damos abaixo, a título de exemplo, uma muito interessante discussão ocorrida numa tarde de sexta-feira.
- Embora o senhor tenha chegado antes de mim, por uma questão de cavalheirismo, deve ceder-me a sua vez – disse uma advogada e recebeu como resposta:
- Dar-me-ia imenso prazer, mas, como a senhora pode notar, minha cliente também é uma mulher e, portanto, também tem a mesma prerrogativa que a senhora.
- Mas eu sou mais velha do que ela...
- Pode ser, mas minha idade somada à dela é superior à sua somada a do seu cliente.
- Alto lá – soou uma voz atrás deles; era o Dr. Gravatinha, já nosso conhecido. Quem tem que entrar na frente é a minha cliente que já está quase com dez meses de gravidez!
- Dez meses?! Então o senhor tem de leva-la imediatamente a um hospital porque esta criança está encruada! – replicou a advogada.
- Ora, é mesmo? Então vamos tratar do parto imediatamente. Preparem a perícia para o evento! – exigiu Dr. Gravatinha, dirigindo-se ao gerente que se aproximara para informar-se sobre o tumulto.
Ao ouvir a explicação de que o ambiente não era propício a um parto e que os peritos não estavam ali para isso, o advogado gritou:
- Nós vamos entrar com uma ação contra o INSS por omissão de socorro!
Um tanto nervosa, a parturiente segurou o Dr. Gravatinha pelo braço e disse que estava grávida de oito meses apenas e não de quase dez, como afirmara ele. Imediatamente se ouviu uma voz atrás deles a reclamar:
- Ora, então minha cliente deve entrar na frente da sua, pois já está com oito meses e meio de gravidez e, além do mais, eu puxo da perna.
- Data venia, mas e eu tenho um calo que muito me dói e que aposto incomoda mais do que a sua perna que não está submetida ao aperto de um sapato de couro – resmungou o Dr. Gravatinha.
Depois desta histórica data foi criada, de comum acordo, uma complicadíssima tabela de critérios para o atendimento prioritário cujos itens deveriam ser combinados de modo a precisar com exatidão a necessidade ou não de ser atendido como prioritária prioridade. Vejamos um exemplo: Um segurado com 30 anos de idade, com dor de dente e acompanhado de um advogado com 50 anos e uma pasta muito pesada poderia passar à frente de um segurado de 40 anos, sem dor de dente e cujo advogado tivesse 56 anos, mas que não carregasse uma pasta tão pesada quanto à de seu colega. Porém, se a pasta do segundo for acrescida de novos documentos de forma a pesar mais do que a pasta do primeiro advogado e a dor de dente do primeiro segurado melhorar durante a espera pelo atendimento, as posições deveriam ser invertidas. Note-se que há um certo grau de subjetividade na análise de componentes da equação como, por exemplo, a intensidade de uma dor de dente,  o que resultou em ocasionais divergências e algumas altercações.
 Passado alguns meses nesse complicado processo de seleção e após uma dúzia de reuniões, chegaram os advogados ao curioso consenso de que a melhor forma de atendimento seria através da distribuição de senhas.







sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

TÉCNICAS DE SOBREVIVÊNCIA EM APS - A PROPAGANDA


Dizem que a propaganda é a alma do negócio. Evidentemente ela rende bons frutos financeiros e, portanto, deve ser utilizada abundantemente e sempre que possível. O não aproveitamento deste recurso constitui franco desperdício de oportunidades orçamentárias. É por isso que a Previdência Social está se preparando para a implantação de um programa de interação entre sistemas e segurados.
A base de teste é o correio eletrônico que, como observamos,  passou disparar alucinadamente mensagens sem sentido ou, pior ainda, com sentido um tanto equívoco, como ocorreu com nossa dedicada servidora Dona Conceição.
Sabemos que Dona Conceição é uma senhora de idade provecta e muito pudica. Qual não foi o seu constrangimento ao tomar conhecimento do fato de que um e-mail, enviado à sua revelia e com o seu nome, percorreu a lista Brasil oferecendo um kit de produtos que prometia milagrosas ampliações anatômicas para o público masculino. Ilustrado. E tornou-se ela ciente disso quando, por brincadeira, alguns colegas formaram uma comissão de interessados que a procurou com a declarada intenção de obter descontos na compra por atacado. Corou até a burca de tanta vergonha!
Ora, todos nós sabemos que o que segue pelo e-mail institucional é de fácil acesso aos representantes da alta gestão executiva nacional, de um modo geral, e pelo Barack Obama, em particular, o que pode transformar um simples teste de sistema de transmissão em um vexame internacional.
Outro novo programa a ser lançado é o Prisma Association que exibirá, tanto no protocolo do benefício como na carta de exigência ou na carta de concessão, um anúncio de todas as financeiras existentes em sua cidade de forma a bem orientar o segurado para que possa, assim que tenha seu direito reconhecido, comprometer a sua renda mensal em um espetacular empreendimento de crédito consignado.
E também a nova versão do CNIS, mediante um simples cadastramento, o CADCAT, exibirá uma listagem completa de todos os catadores de papel, autodenominados assessores previdenciários, que atuam em sua APS e adjacências.
Toda essa proeza tecnológica trará benefícios já a curto prazo, como podemos comprovar pelo sucesso financeiro de Dona Conceição que, superando os pudores iniciais, passou a comerciar sua mercadoria virtual com bastante desembaraço e, até mesmo, sem grandes preocupações a respeito da eficiência da mercadoria oferecida. O mesmo, evidentemente, ocorrerá com as demais novidades anunciadas. 

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

TÉCNICAS DE SOBREVIVÊNCIA EM APS – DECIFRANDO OS SINAIS


Verão! Férias! Nada melhor do que mudar de ares e levar a família para passear. E entre um passeio e outro, entre o café da manhã e o jantar, nada  mais agradável do que passar umas deliciosas horinhas usufruindo o ar condicionado e água gelada de uma APS. Evidentemente quando ambos os aparelhos, ar condicionado e bebedouro, funcionam. E se o banheiro não estiver interditado, pode-se até fazer um lanche nas refrescantes dependências previdenciárias. E, de quebra, pegar o CNIS, saber o dia do próximo pagamento, solicitar umas informações quaisquer e, logicamente, pedir um “papel pra viagem” para poder voltar para casa com toda a comodidade e sem pagar nada.
Esse salutar intercâmbio entre servidores de uma determinada APS e segurados de outras GEX demonstra que todos os segurados são iguais e agem da mesma maneira em todo o território nacional e os servidores devem estar atentos aos sinais que eles emitem para saber o que esperar do atendimento. Tanto o atendimento quanto os segurados podem ser classificados de diversas formas, como enumeramos a seguir.
Quanto à apresentação de documentos o atendimento pode ser:
a.      ágil – quando o segurado já vem com os documentos na mão;
b.      mais  ou menos lento – de acordo com a quantidade de embalagens em que os documentos estiverem envolvidos como, bolsa, sacola plástica, carteira, porta-documentos, enfim, achei!;
c.       complicado – quando depois de todo o trabalho acima, o segurado descobre, no meio de toda a papelada envolvida, apenas uma cópia não autenticada do documento necessário e declara que é a mesma coisa que o original, que o fulano da mesa tal sempre o atende com uma cópia e coisa e tal;
d.      agilíssimo – documento? não sabia que precisava, deixei em casa... 
              
Quanto ao nível de estresse do segurado:
a.      sociável e feliz – corresponde àquele segurado que, mesmo depois de muito tempo esperando sua vez, quando vê reluzir no monitor o seu número, vai em direção ao atendente, numa animada corridinha, senha em punho, como se tivesse tido sorte no bingo e vai buscar o seu prêmio;
b.      levemente irritado – é aquele que, exagerando um pouco o tempo de espera, diz que já estava aguardando há mais de duas horas, fato desmentido pelo horário de distribuição impresso na senha. Não é aconselhável discordar do comentário equivocado do oponente para que ele não passe subitamente ao grau “muitíssimo irritado”;
c.       muitíssimo irritado – é relativo ao segurado que,  estando sentado à frente do servidor, olhando-o com cara feia, resmungando ou falando sozinho ou, pior ainda, falando ao celular e, por tabela, distribuindo adjetivos pouco lisonjeiros  democraticamente a todos os servidores e em voz bem alta para que ninguém deixe de ouvi-lo, quando vê sua senha no monitor, transporta-se de sua cadeira para a do atendente e desaba nela com tanta vontade como se tivesses estado em pé por umas três horas e ainda dá um longo, profundo e rancoroso suspiro. Ele não menciona a demora do atendimento, mas faz questão que o servidor seja informado de seu desagrado através da pouca sutiliza de seus gestos. Convém ao servidor, em casos como este, mover-se muito pouco e falar menos ainda para acalmar o ambiente e não correr maiores riscos.

Quanto ao grau de dificuldade da solicitação:
a.      fácil – solicitação de extrato de consignação. Para tanto é necessário apenas o servidor dominar a nomenclatura do documento que pode ser chamado de hiscon, íscon, excon, skol, skate, entre outras bizarrices mais;
b.      médio – a frase chave para avaliar a dificuldade é: “eu já estive aqui hoje mais cedo”, o que significada que o problema ainda está pendente;
c.       difícil – normalmente começa com uma frase similar a “eu já estive aqui umas dez vezes”, o que revela que, muito provavelmente, irá retornar uma décima primeira vez, pois o problema não tem solução, ou melhor, o segurado é o problema.

Quanto ao estado da senha:
a.      intacta – o segurado esteve aguardando por muito pouco tempo e deve estar com um humor amigável;
b.      amassada – o cidadão esperou  mais de meia hora e já está um pouco alterado;
c.       dobrada ou rabiscada – demonstra uma certa animosidade em relação ao atendente desconhecido. Se tiver ambas as características, dobrada e rabiscada, o nível de agressividade se eleva sobremaneira;
d.      faltando um pedaço -  fome. Ofereça um biscoito para o seu cliente que seu humor há de melhorar.


quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

UM CONTO DE NATAL


Todos nós sabemos como a figura do Papai Noel mexe com o imaginário infantil. Eventualmente pode ocorrer que o mesmo aconteça com pessoas cuja idade já não enquadra mais na condição de criança. Este é o caso de Dona Conceição que, embora cada uma de suas pernas já tenha há muito ultrapassado a maioridade, continuava a sonhar em conhecer o bom velhinho.
- O de verdade – repetia ela, inocentemente, a cada fim de ano.
Todo mês de dezembro Dona Conceição era atacada por um violento espírito natalino que a fazia distribuir diversas árvores de Natal pela APS, pendurar enfeites nos computadores dos colegas e ornamentar as paredes com guirlandas coloridas. Era também a única época do ano em que ela se tornava uma servidora dócil, meiga e gentil, para deleite dos segurados. Tal transformação emocional não passava despercebida pela chefia que se aproveitava de sua inusitada boa vontade, e a colocava para atender todos os agendamentos de LOAS, para a felicidade de todos os outros colegas. Qualquer inssano medianamente normal, entraria em desespero com tal condenação, mas o grau de inssanidade de Dona Conceição atingia o clímax no período pré-natalino. 
E qual não foi o seu espanto e felicidade, às vésperas do Natal, em atender pessoalmente o Papai Noel! Vinha o bom velhinho, com sua enorme barba branca, os tradicionais gorro e traje vermelho e uma enorme bengala, acompanhado de um “assessor previdenciário”, termo científico para designar o  popular catador de papel. Dona Conceição ficou tão encantada que chegou mesmo a se levantar e olhar para fora para ver se avistava o trenó com as renas. Felizmente seu delírio a poupou dessa infame miragem.
Quando Papai Noel sentou-se à frente de Dona Conceição, ela começou tremer de emoção.
-Ho Ho Ho – fez o Papai Noel e lhe ofereceu uma bala de papel colorido, que a servidora aceitou muito emocionada.
Enquanto esclarecia que Papai Noel não pudera trabalhar de carteira assinada porque esteve sempre a serviço das crianças, o  acompanhante entregou à servidora uma carteira de identidade de estrangeiro. Os seguintes dados ali estavam impressos: Papai Noel, filho de Vovó Noel, nascido na Noruega em 1812 e com data de chegada ao Brasil em 2013.
Não havia dúvida de que o clima setentrional mantinha a cútis em belíssima forma, pois o velhinho não aparentava ter mais do que quarenta anos.
- Mas, Papai Noel, o senhor não é naturalizado brasileiro! Então, não tem direito a LOAS. – lamentou-se Dona Conceição.
- Não, não – interveio o acompanhante – ele tem essa outra identidade aqui.
A  servidora analisou os dados do novo documento, este de cidadão brasileiro.
- Essa carteira aqui diz que o senhor só tem 43 anos, então só vai ter direito ao LOAS se for deficiente.
- Não, não – interrompeu novamente o catador de papel – essa identidade é minha, a dele é esta outra aqui.
- O senhor também se chama Papai Noel? – perguntou Dona Conceição para o acompanhante, intrigada e levemente desconfiada de que havia ali alguma coisa um tanto suspeita.
- Não, não, meu nome é Pedro Manoel, a senhora se enganou ao ler.
- Hum... – fez Dona Conceição recuperando um pouco da razão e desconfiança habituais.
- Papai Noel, preciso de sua certidão de nascimento. Ou o senhor é casado?
- Non, non, meu filha, eu ser solteiro. Sempre preferir os criancinhas – respondeu ambiguamente e com sotaque carregado o bom velhinho.
E enquanto negava, virava o rosto de um lado para o outro e, com esse movimento lateral, deslocava a imensa barba branca e deixava entrever uma rala barbicha escura.
Hum... – resmungou Dona Conceição que se lembrou que conhecia este rosto há muitos Natais, mais precisamente distribuindo balas à criancinhas que visitavam o shopping que ela costumeiramente frequentava.
- O senhor precisa apresentar também um comprovante de residência em seu nome.
- Eu non ter, non, eu morar num quartinho na terreno do casa desta senhor que me acompanha. – respondeu Papai Noel, mostrando estar já bastante aclimatado aos costumes nacionais.
- Bom – disse a servidora - vou abrir exigência para o senhor apresentar todos os documentos necessários...
- A senhora non está se comportando bem,  assim non vai ganhar presente nesta Natal. Palavra de Papai Noel... – reclamou o pobre velhinho.
Ao que respondeu Dona Conceição:

- E o senhor, se não se comportar bem e apresentar a documentação exigida, não vai ganhar LOAS nenhum. Palavra de Dona Conceição.

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

TÉCNICAS DE SOBREVIVÊNCIA EM APS - O CNIS MUTANTE

Muitos colegas já tiveram a oportunidade de observar a ausência de vínculos ou contribuições que antes estavam  no CNIS e que depois, misteriosa e inexplicavelmente, desapareceram, irritando, com razão, os segurados e deixando os servidores confusos. Não se trata, entretanto, de algum problema do sistema e, sim, ao contrário, de espetacular avanço no mundo da informática previdenciária.
A Dataprev está  dando mais um importante passo em seu criativo processo de evolução criando o CNISIV (CNIS de Informações Variáveis), programa interativo que substitui parte  das informações de um segurado para o NIT de outro, tanto as de cadastro como as de vínculos e contribuições. Esse movimento divertido ocorrerá de maneira cíclica e constante, renovando dados e ampliando a insanidade para além das áreas restritas dos servidores da brava instituição, espalhando-se também para os segurados, seguindo o  princípio da igualdade de direitos. Veja a seguir as vantagens e desvantagens do novo modelo.
O CNISIV comunicar-se-á com o Prisma independentemente da interferência do servidor, alterando o resultado da contagem de tempo das aposentadorias de acordo com as novas informações  vigentes e, se o segurado, sob novo cálculo, não obtiver o tempo suficiente requerido para a concessão do benefício concedido, o mesmo será suspenso sob a rubrica ‘suspenso pela auditoria do CNIS’. Caberá, então, ao servidor apenas a simples tarefa de explicar ao cidadão, com clareza e sem delongas, que o que era já não é mais e ele, compreensivamente, irá esperar pelo tempo em que o não é mais volte a ser e aí é quem vem a boa notícia: ao voltar a ser o que não mais é e que antes era, o CNIS poderá ser generoso, reativar o benefício, talvez até com um valor superior ao precedente.
Se, por acaso, nesse intercâmbio de dados, uma aposentadoria seja cessada por óbito do titular, as  chamadas “viúvas do CNIS”, poderão entrar com um pedido de pensão por morte presumida, isso caso  a requerente ou o requerente não tenha tido a própria vida ceifada numa das fases do rodízio do excelente sistema.
De acordo com o fraterno princípio da igualdade acima citado, o servidor também estará sujeito às benesses e contrariedades do sistema. Pode acontecer de ter o  registro de seu vinculo com o INSS sumariamente retirado do CNISIV, ter sua matrícula suspensa e ir para a cadeia acusado de fraude. Por outro lado, poderá ser beneficiado com um cargo de Ministro de Estado ou Senador da República, o que ampliará bastante os seus rendimentos colaborando para que ele faça um pé de meia para os vindouros dias de penúria, quando o programa lhe oferecer dados economicamente  pouco favoráveis.
Desta forma, o democrático sistema irá propiciar uma harmoniosa e rotativa distribuição de renda com real participação de toda a população ativa, repartindo a produção total de rendimentos entre todos os trabalhadores da nação, tal qual como um Robin Wood cibernético.
        O CNIS, continuará sendo prova plena, conforme o  artigo 47 da IN, embora não seja mais definitivo nem permanente. Suas informações peregrinas nunca deixarão de existir, mudarão apenas de lugar, sofrerão pequenas alterações de conteúdo, mas, de modo algum, discordante do princípio da conservação das massas, de Lavoisier; no CNISIV, como na natureza, nada se cria, nada se perde, tudo se transforma.


Conheçam o meu livrinho, conheçam o meu livrinho...rs
olhem o post aí embaixo com o endereço.... 

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

UMA FAMÍLIA EM CRISE


Era uma vez uma família muito infeliz. Praticamente a totalidade dos filhos de papai Atendimento e mamãe Controle eram doentes ou inválidos. Os que nesta categoria não se enquadravam,  estavam, de certa forma, insatisfeitos, queriam ser eles também doentes, pois, caso contrário, seriam obrigados a trabalhar para financiar o sustento, não só dos irmãos, como também o dos pais, pois estes últimos estavam igualmente em precário estado de saúde. Era realmente uma lástima familiar.
Tanto o pai quanto a mãe eram muito possessivos e preocupados com a saúde dos rebentos e não gostavam que eles tivessem nenhuma independência. Queriam todos juntos de si, para amá-los e protegê-los.
Sempre que algum deles achava por bem mudar de casa tinha que pedir autorização paterna. A primeira providência de papai Atendimento era fingir que não era com ele e assim respondia ao pedido.
- Esse benefício não se encontra nesta base.
O que, em língua de gente, quer dizer: “Você não pertence a esta família”.
Essa simples frase já deixava o filho inseguro, soava como uma ameaça, algo como  ‘se você quer ir embora, vá, mas não conte mais conosco’. Era intimidante. Porém, mesmo assim, o filho, superando o trauma da rejeição, costumava insistir. Então papai confabulava com mamãe que ficava irritadíssima, perdia mesmo o senso do próprio nome, o que dizer que ficava completamente histérica e descontrolada. Era uma cena terrível de se ver. O filho entrava, então, em contato direto com a mãe  que não queria se comunicar. Ele insistia, atualizava o pedido, pedia perdão,  repetia a solicitação, ela ficava vermelha de raiva, criticava tudo e todos, fazia que se arrependia, o filho pensava que agora ela iria concordar com sua partida, mas outra vez ela se irritava, ele teimava e, só depois de horas de muita aflição, enfim, o rapaz ou a moça era liberado.
      Certas doenças tendem a piorar com a idade, e podemos afirmar que, após tantos anos de luta para manter a família unida e saudável, o Sr. e a Sra. Sabi estão completamente combalidos e esclerosados. O que um fala, o outro não entende. Quando um desperta, o outro adormece, isso quando não ocorre de os dois passarem o dia inteiro em total letargia. E as demandas filiais a cada dia se tornam mais difíceis de ser atendidas. 

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

              O PROCESSO REVOLTADO



Era uma vez um processo de aposentadoria por tempo de contribuição que tinha uma enorme autoestima e, embora nenhum de seus  PPPs tivesse sido enquadrado pela análise médica, ele lutava por ser reconhecido como especial. Ele não era de se entregar facilmente e mesmo tendo sido indeferido por falta de tempo de contribuição, lutava por seus direitos. E a cada tentativa, ganhava mais algumas páginas, todas elas numeradas e rubricadas, que o tornava cada vez orgulhoso.
É de conhecimento geral que os processos têm variáveis graus de personalidade. A maioria deles, entretanto, é tranquila, acata pacificamente a sua sorte e adormece em qualquer gaveta de arquivo sem criar problema para os companheiros nem para os servidores. Sabemos também que existem aqueles rebeldes, que não aceitam ouvir um não em resposta à suas demandas e que se sentem superiores aos outros processos. Este era o caso do nosso exemplo, o processo --- --- 999-9.
Ele era viajado, já tinha ido para a cidade grande, passara lá três meses  entre outros rechonchudos e experientes processos. E, ainda que tenha sido inútil a viagem, pois o parecer desfavorável de Junta de Recursos o mantinha  indeferido, ganhara no intento mais algumas páginas.
Já na viagem de volta, em pleno malote, entrou em atrito com um processo magricelo e tagarela que estava muito satisfeito porque ia ser concedido. Era um insignificante salário maternidade de poucas páginas, de tempo limitado e sem muitas pretensões e esse vangloriar verborrágico deixou 999.9 tão irritado que ele lhe deu um empurrão tão forte que lhe rasgou a capa.
- Covarde!  Em mulher não se bate! – gritou uma pensão por morte, muito exaltada.
Um auxilio reclusão com cara de poucos amigos e que parecia querer apenas um motivo para procurar briga, partiu para cima da aposentadoria agressora e quase lhe arrancou um colchete. A turma do deixa disso se aproximou e tranquilizou o ambiente. Porém, já em casa, quando todos estavam na caixa à espera de seu novo destino, 999-9 saltou para fora, com certa dificuldade porque estava um tanto gordo,  saltitou até o arquivo e entrou numa gaveta  onde os colegas aguardavam processamento. Lá não deixou ninguém dormir, ficou falando de suas experiências extra-municipais e cheio de vaidade anunciou que ia agora para Brasília, porque tinha se tornado muito importante, quando, na verdade, ia era tentar um último recurso junto à CAJ.
E falava com tal persuasão que todos ficaram admirados com a pseudo trajetória  vitoriosa de um amigo de gaveta. Nunca antes nenhum deles havia saído da APS, tampouco sido indeferido, mas isso era mero detalhe.
Na manhã seguinte, quando Dona Conceição foi organizar os processos viu que faltava um e pediu a um estagiário para procurá-lo. O pobre do rapaz revirou toda a agência até encontrar o fujão em local totalmente inapropriado e o levou para a mesa onde se acumulavam seus desafetos da Junta de Recursos onde ele aprontou outros tantos rebuliços até que seguiu viagem para Brasília onde passou seis penosos meses entre outros processos igualmente revoltados. Quando retornou estava abatido, infeliz e, ainda, indeferido, porém, não conformado e decidido a procurar a ajuda dos meios judiciais.



sexta-feira, 20 de setembro de 2013

O CASAMENTO DE HISCRE


Era uma vez uma senhorita chamada HISCRE que tinha uma união que já durava há mais de dois anos com o Dr. SABI.  Era um 31* estável que, ao gosto da moça, deveria sem demora evoluir para os laços matrimoniais de um 32* e para isso se empenhava ela. Afinal, tinham créditos em comum. E não eram poucos ao longo de todo esse tempo; a cada mês mais um fruto vingava e a família crescia. E a cada mês a cobrança de um casamento aumentava também.
Entretanto, o Dr. SABI não via com bons olhos o interesse crescente da companheira em abrigar-se em definitivo sob a sua tutela pecuniária. Tampouco aceitava que os persistentes males da coluna não tivessem uma cura, sequer uma melhora, após tantos tratamentos.
Para escapar de situação constrangedora a que vinha sendo submetido, procurou uma saída digna e correta, embora pouco benevolente.  A fim de revisar seu anterior julgamento passou a observar com um olhar clínico rigoroso a casadoira paciente; deteve-se em sua indumentária e concluiu que muitas das dores seriam sanadas se ela descesse do seu equilíbrio precário resultante de quinze centímetros de salto e alcançasse o chão com os próprios pés; que se reduzisse os dez quilos de bugigangas femininas que trazia na bolsa muito amenizaria sua escoliose e que,  por fim,  se aumentasse em cinquenta por cento o resquício de tecido que a envolvia, não teria ela a necessidade de se equilibrar dentro de tão pouco pano a fim de tentar não expor o que exposto invariavelmente estava. O conforto lhe devolveria a saúde.
E assim, após muito analisar prudencialmente a situação com um rigor de ministro de STF, certo  da retidão de seus princípios, com formulação de tese detalhada e adequada ao espirito da lei, para espanto e horror de HISCRE, indeferiu o seu  pedido de prorrogação.
Houve choradeira e ameaças, mas o Dr. SABI permaneceu impassível e não teve recurso que devolvesse a HISCRE os créditos suspensos. E nem cabiam embargos infringentes – uma total injustiça!
Após essas infrutíferas tentativas de reconciliação, a senhorita HISCRE viu-se sem noivo e sem centavo. Não sabia o que fazer. Aliás, sabia, mas não lhe agradava o fato de ter de trabalhar para manter-se. Era tão jovem e bonita, não lhe parecia justo ter de gastar tais predicados atrás de um balcão de loja ou mesa de escritório.
E saiu em busca de um novo pretendente. Para tanto, elevou a altura dos saltos, aumentou o peso da bolsa e diminuiu ainda mais o tamanho das roupas. Entrementes, para seu infortúnio, depois de um tropeção seguido de solavanco, envergou de vez. Tanto que não conseguia se aprumar nem de chinelos e pijama. Teve de recorrer novamente ao Tio INSS, porém, não tinha mais qualidade de segurado e o Dr. SABI não quis mais assunto com ela.  Entretanto o generoso Dr. SIBE dela se apiedou, depois se enamorou e ambos se uniram na harmoniosa e definitiva aliança de um 87* e foram felizes para sempre.


                       
31 auxilio doença
32 aposentadoria por invalidez
                   87 benefício assistencial ao deficiente